O jogo

O jogo

Prólogo

César é um jovem viciado em drogas que mente e manipula todos à sua volta para conseguir saciar seu vício. Mas as coisas nem sempre saem como ele planeja e o jogo fica difícil pro seu lado.

Ameaçado pela dívida que conseguira, não deseja envolver sua família nesse mundo tão sombrio e astuto: Precisava pensar, resolver as coisas do seu jeito sem que ninguém soubesse, mas muitos sabiam de seus planos e o olhavam de longe.

Para não perturbar a pouca paz que a mãe tinha, resolveu mentir, dizendo-lhe que arrumara um emprego na indústria de software. Dona Marta, sua mãe, sente-se feliz que o filho tenha tomado um rumo na vida e não percebe sua verdadeira intenção.  Mulher zelosa com os afazeres domésticos e com a família obrigou o filho que terminasse seus estudos, impondo-lhe a condição de que se assim fizesse, poderia decidir o que fazer da própria vida. César não teve outra alternativa a não ser concordar.

Assim feito, já não lhe agradando os livros e desejoso da vida fácil, rumou para o mundo sem volta, da qual ele conhecia os riscos, mas, enquanto tivesse dinheiro sem o menor esforço estava disposto a correr o risco. Afundo-se de vez nessa vida e a cada dia que passava estava mais preso a ela, dependente da paciência dos amigos que aguardavam o pagamento dos seus empréstimos, cada vez maiores, e eles, com menos vontade de aguardar.

A coisa piorou e César entrou em desespero. O serviço que dissera para mãe era seu último golpe de sorte: A verdadeira roleta-russa da vida de qualquer traficante. Seus contrabandos eram sua última esperança. Aproveitou-se do conhecimento de sua faculdade na área da tecnologia para enganar quem o pudesse deter.  Vendo que mesmo assim foi encurralado e não tendo mais saída, qualquer um que o stressasse estava marcado. Cumpriria seu contrato dando fim a duas pessoas da mais conceituada universidade da cidade, e assim cometeria suicídio, já que os negócios não lhe rendiam.

Mas, alguns anos depois, a história tomou outro rumo, em uma emocionante história que irá lhe envolver como nunca!

Capítulo Um

Em uma das universidades mais concorridas do país, César passou por uma seleção difícil.

Especialista em desenvolvimento de software, ele já tem seu emprego garantido e só decide passar pela faculdade de novo porque deseja se atualizar.

Decide vadiar em outras aulas que ele sempre gostou e vai parar em uma de história que nem queria participar, mas, como não pode ficar pelos corredores, entra na sala, e se senta na primeira carteira que vê.

A sala está lotada, o professor anda de um lado para o outro explicando o que ocasionou a guerra fria.

César entra, pede licença e vai se sentar rapidamente.

Nos fundos da sala, na sétima e última fileira a contar da porta para a janela, ele senta. Abre um caderno pequeno já com bastante coisa escrita e começa a fazer rabiscos ao invés de escrever o que estava no quadro.

Entre um código e outro, César olha a sua volta e pra frente para não ser inconveniente. O professor percebe e pára um segundo, olhando fixamente o garoto. César depois de desviar o olhar e voltar ao caderno percebe que o professor retoma seus pensamentos e segue com a aula.

César não percebe que a aula acabou e quando nota já há poucos alunos na sala. Ele fecha o caderno e segue até a porta.

Quando chega próximo à mesa do professor é interrompido e questionado por Augusto:

– Por que estava fazendo algo que não era da aula, não notou meu olhar para que acompanhasse o que eu dizia?

– Sim, notei. Não me importo. Depois recupero essa matéria, mentiu.

E assim deixa o local, agora só com o professor que arrumava seus papéis.

Em casa César liga o computador e abre programas complexos para uma pessoa operar sem conhecimento técnico.

Nos campos em branco na tela ele insere vários códigos e realiza comandos rápidos. O personagem no monitor se move, e César deixa transparecer certa felicidade num sorriso amarelo que logo deixa seu rosto.

A mãe grita para que o rapaz desça pois o almoço já está pronto. César desce as escadas, coloca pouca comida no prato e nem dá atenção às reclamações de Marta.

Depois de comer César volta à aparelhagem do game e faz novas tentativas. Após horas revendo os erros ele decide parar por hoje.

Assim que deita na cama ele pensa sobre seu projeto, um jogo de tiro anarquista, mas sabe que ainda tem muito que fazer…

Depois de alguns meses desenvolvendo, reparando falhas e aprimorar muito o game, César decide que está na hora de lançar uma versão beta do produto e assim ter opiniões para melhorá-lo.

César faz então um DVD com o arquivo do jogo, desliga o computador central e o maquinário decidido a entregar o jogo a um amigo.

Então ele vai à casa de Renato, um visinho próximo e entrega a cópia, pedindo que o garoto teste seu jogo. Diz que volta em três dias para saber o que o amigo achou.

A mãe entra no quarto do filho e assustada com a situação que vê, pergunta:

– O que são todos esses mapas e cadernos?

– Nada, coisa do trabalho.

– Sei…

– Como é esse novo projeto?

– É um jogo de tiro, por isso estou cursando a faculdade de novo. Preciso estar lá vendo como é o ambiente porque o cenário do jogo é baseado em um campus de universidade.

– Precisava se matricular?

– A empresa não quer que esse projeto vaze, precisava entrar lá sem levantar suspeitas, por isso eles pagam as mensalidades.

– Seu pai ligou. Disse que não vem pro jantar. Vai fazer o teste pra subir de nível na polícia hoje.

O plano já estava todo arquitetado. Renato entregou o DVD dizendo que o jogo estava bom, que por se passar em uma universidade cheia de alunos, e o fato de ter que matar alguns para completar missões, deixava o jogo mais divertido.

Só falta meu pai passar, pensava o garoto…

Pedro chega com a boa notícia, radiante por ter passado para atirador de elite, e leva a família para jantar fora.

Cansei de esperar, já fiz todo o percurso virtual, agora é com a cara e coragem!

E nessa determinação César vagarosamente vai ao quarto dois pais. Em cima do guarda-roupa encontrava-se a arma de serviço que o pai acabara de receber da corporação.

– Dona Marta, o César está?

– Não Renato. Trabalhar sei que não foi porque me disse hoje cedo que iria resolver uns problemas… Desde então não o vejo.

– Sabe onde ele pode ter ido?

– Não… Ele só disse que iria deixar a faculdade hoje.

– Tudo bem então, obrigado.

Renato sai da casa e entra em desespero:

– Tenho que correr, se ele foi mesmo para a faculdade vai acontecer uma tragédia imensa!

Com uniforme da instituição César passa pela segurança do portão sem problema, ninguém percebe a arma escondida em baixo da sua camisa.

Ele sabe que pra cancelar a matrícula deveria ir ao segundo andar, mas fica no térreo mesmo e vai ao banheiro.

Como arquitetado, às 14:00 não havia ninguém usando o local. Ele então vai até o Box 4 e abre a passagem secreta.

Dento de um túnel ele veste sua roupa e luvas pretas.

César ao entrar na sala percebe o diretor sozinho em meio a papéis e mais papéis.

Rende o homem e coloca a arma na nuca, um disparo já é o suficiente. Nenhuma voz no lugar se ouve depois disso.

Como planejado ninguém sequer ouviu o tiro porque as salas estavam três andares a cima e César voltou ao túnel, pegou seu material e foi assistir normalmente às aulas do dia.

Renato invade a instituição com um grupo de policias e é barrado pela segurança.

César espera que todos na sala saiam e pede para Augusto ficar porque precisa falar algo sobre a aula de hoje.

Sem ninguém no local ouvem-se dois disparos.

Renato mostra a identificação de policial federal e entra com o resto da tropa na universidade.

Alunos avisam ao policial que dois tiros foram ouvidos nos andares seguintes.

Sem esperar mais nem uma palavra, a tropa corre e chega ao local do crime.

Assim que entram na sala os policiais dão voz de prisão a César que já estava abrindo um alçapão para escapar.

Espantado com a situação ele se dirige a Renato:

– O que é isso?

– Eu que pergunto… Você acabou de matar esse homem, não foi?

– Como sabia?

– Eu sei de todo o seu plano. Fiz uma cópia extra daquele DVD que você me deu. Os erros do jogo, que você disse que poderiam ocorrer por ser uma versão beta, eram na verdade dados criptografados que atrapalhavam o jogo.

Nosso serviço de inteligência fez o resto.

Sabemos que você é usuário de drogas e está matando essas pessoas como pagamento.

Agora é melhor se render…

– Agora que já paguei o que devia não vou pra cadeia… Só queria pagar para eles não perturbarem minha família.

Já que está tudo certo…

– Seu filho se matou senhora. E a arma do seu marido está conosco. Só viemos comunicá-lo que ele será afastado da corporação pela falta de cuidado com a arma.

Seu filho era usuário de drogas, encontramos com ele os cadernos com os nomes das vítimas e quem mandou executá-las e faremos uma investigação.

Não sou amigo do seu filho. Era um disfarce. A polícia federal vem investigando os movimentos do criminoso desde que vocês se mudaram. Sabemos que ele fugiu da outra cidade porque devia dinheiro aos chefes daquela área.

Descobrimos que a empresa que ele dizia trabalhar era apenas uma maneira de despistar a atenção da polícia.

Já que ele se matou vamos fazer investigações com o que ele nos forneceu e assim solucionaremos o caso.

Capítulo Dois

Parei imediatamente. Cansei daquela história, falar dos problemas da sociedade moderna que trouxe facilidade para o domínio das drogas mais rapidamente, usufruindo das mais altas tecnologias que levaram anos para que desenvolvessem com objetivo de ajudar a melhorar a vida das pessoas, mas que tinha também seus efeitos colaterais.

Cansei definitivamente de tentar rabiscar meu nome na história desesperadamente através de um livro. Não que eu não queira palavras minhas em papel de seda com letras grandes, numa capa flexível recheada de páginas que detalhadamente desdobra algo a ser apreciado até pelos críticos. Mas eu não queria que tais palavras fossem da realidade atual. De uma realidade que todos estavam cansados de saber, de ler nas bancas dos jornais todos os dias e de ver quando ligam seus aparelhos que com o suor do trabalho pagaram. Realidade assombrosa, medonha, por vezes, inacreditável pelos requintes de barbaridade. Não, não era isso que eu queria. Só porque esse assunto, apesar de surrado, vendia, apesar de decorado ainda despertava curiosidade. Curiosidade essa agora, não para saber o que aconteceu ou com quem, mas como ocorreu, o que usaram e como usaram. Apenas um velho, mas um pouco recente, hábito da sociedade.

Gostaria de saber por que de ter que de descrever com capricho e enfeite nas palavras o que todo mundo já sabe, só para ter um nome nas listas dos livros mais vendidos. Queria saber por que tinha que seguir o jogo, o verdadeiro jogo. Não estava com vontade de escrever sobre um traficante de drogas que se apaixona pela filha do policial que o prendeu, mas o jogo da sociedade que ditou as regras de quando, como eu deveria escrever, e o que deveria contar para ser aceito. Não era bem isso que eu queria. Estava cansado de ter que seguir regras literárias. Já não era o primeiro livro que tentava escrever e até rezava para ser aceito. Definitivamente escrever do jeito que gostavam era impossível pra mim. Chegava a me perguntar se aquele lixo que sujava as mentes das crianças ainda pequenas que não sabiam nem ler ou escrever merecia as páginas de seda.  Cheguei à conclusão que não.

Fiz uma pausa naquele conto. Se o joguei fora a resposta é não. Naquele tempo pensava que fosse um lixo, mas a história implora por pergaminhos velhos que fale qual era a realidade de tempos atrás.  Eu continue, reciclei aquele lixo, mas nunca tive coragem de colocar aquilo em papel de seda, ele morreu mesmo na gaveta com um fim, sem dúvida que teve. Mas mesmo depois de tanto tempo o assunto não saia das páginas pretas e brancas dos jornais pelo mundo afora, e eu não vi graça nenhuma em jogar a mesma matéria, com palavras mais pomposas, nas páginas coloridas e delicadas de um livro. Nunca fui um grande escritor nomeado por belos e reveladores escritos. Devo apenas ter sido o primeiro a não ter me rendido ao verdadeiro jogo pelo dinheiro. Se após a minha morte aquele lixo teve valor já não garanto, mas em vida não passou de um simples conto…