Um Deus de novo

Mais que feliz ano novo
eu quero um novo ser
porque esse que viveu
não soube dar valor ao viver

Foram tantas tragédias
foram tantos horrores
em todas as noções
os mesmos temores
eu quero saber só uma coisa

Eu quero saber se ano novo
representa recomeço
porque se for do mesmo jeito
eu não quero reviver

Se for pra virar a página do calendário
deixa eu te dizer uma coisa

Sangue eu não quero ver mais
não quero saber de filho matando pai
ou o avesso, não quero que se repita

Não quero viver a agonia de novo
ver o desespero na cara desse povo sofrido
que perdeu tudo, já não tem seu abrigo

Eu quero, sim, é um Deus novo
Meu Deus de novo, quero um ano
mais caloroso

Não desejo o calor da arma de fogo
Não quero o olho do furacão

Eu só peço um pouco mais de compaixão
pelo seu próprio irmão

Erros irreparáveis

Parece fácil que eu venha resolver tudo assim
apronto, irrito, envergonho, ofendo
desculpas venho pedir em poema
é uma pena que eu não tenha mais dignidade

Se for assim, não tenha pena de mim
eu já estou com remorso
se for assim, não me dê seu perdão
eu não mereço esse seu esforço

Dizer que foi tudo obra do destino
do sem querer, meu bem-querer, eu não vivo
Não vivo sabendo que fui perdoado
por algo irreparável

As manchas ficam negras sim
a dor é muito maior agora
porque tais palavras jamais
deveriam ser proferidas

Meu arrependimento, em vão,
momento maldito quando,
quando por um segundo te feri

As marcas ficam, você não chora
não se importa com o sangue derramado
mas eu me importo muito
porque dele eu sujei minhas mãos

O sangue da minha traição,
seu sangue em mim, não sai mais
nem da sua alma, nem da minha

Viverei a agonia eterna do assassinato
onde não houve um corpo no chão
mas a sua alma torturada pela minha ingratidão