Imposto desrenda

Trabalhou o dia todo
vinte e três horas de imposto
a renda foi para o leão, literal
a mente já não aguenta o estresse
balconista de lanchonete

Não vê a casa ficar pronta
sonho que tem e não consegue
2 quartos, sala, cozinha, banheiro
nem pede cobertura

Mas o 13° não cobre nem o cimento
sonho cinzento que parece distante
vai ao banco, pede emprestimo
25 mil direto na folha de pagamento

Enforcando o futuro
corda no pescoço
já estava dificil com o pouco
a metade de pouco é quase nada

Mas do quase vai lutando
o quarto pela metade construido
a cozinha ampliada
feijão com arroz a toda hora

Vai na luta trabalhador,
segue seu destino
gastando, construindo
pagando, pagando
o pão que o governo amassou
é pouco, mas come
e segue todo dia depois
do copo de café forte
só para dar ritmo para pagar dívidas….

Mulher da noite

Eu tenho cara de bolero, de valsa, de dança?
eu tenho essa marcha nupicial no corpo
esqueça as canções as melodias, tudo isso
deixa seus olhos acompanharem meus olhos,
suas pernas fraquejarem nas minhas pernas
sua boca secar ao ver minha boca umedecida

Cantiga desenfreada, um tanto encabulado, enfeitiça
feliz ou carente, procura contente meu corpo dançante
valsante, melancólico, utópico

É o corpo servindo de copo para a sua bebida
é a fumaça ofegante da minha maquiagem a te impregnar
é o meu silencio que não desce, sólido veneno
entorpecente homem carente que quer beleza paga

Fantasia privada para ser feliz
bolero ou cigana, a dança por um triz
coloca seus sentidos e sentimentos na roda
e quando se aproxima para pedir um trocado
uma recompensa pelo serviço prestado
fascina e enche de adrenalina e esperança
um coração apaixonado

Ditadura

Eu não vou me submeter às suas regras, às suas ordens infundamentadas
não adianta excércitos armados, meu punhal de inteligencia detona
todas as bombas do destino que parece irremediavel

Só sei que de imediato não me deixo abater
nem que duzentos homens e outros tantos à cavalo
façam-me correr, não adianta, eu me vingo, eu te venço
eu não me vendo a você, nem a sua doutrina,
nem a sua mente maligna que busca poder

Eu não me intimido, quem é tímido é fraco
há de convir que eu não sou dessa classe
faço da arte meu protesto, e antes que eu caia no tédio
deixa eu fechar sem rédias de fim, as frestas da denúncia
de erros seus, de erros sociais que seguem uma cabeça só…