As vezes

Às vezes, eu me faço de idiota
mais burro que uma porta
só para você acreditar

Às vezes, eu esqueço de te falar
que o meu rir naquela piada
foi só para você não ficar sem graça

Às vezes, eu assumo uma diretriz
só para você ver o quanto eu te quis feliz
fingindo que você não disse o que eu ouvi
para preservar nossa amizade

Sabe que eu até queria um poema de humor
ah, mas nao importa se eu perder a linha
e desabafar fora da rima, nas entrelinhas

Ah, quer saber, não dá mais pra ser tolerante
nem tentar me fazer de ignorante porque tem hora
tem hora, que a gente acredita

Vale sempre aquela máxima
mentiras recontadas, e reforçadas
tornam-se verdades sufocadas…

Fênix

Vem cair ao chão
a ave mitológica
renascentista
vem da derrota
a força da vida

Em silencio morre
sem agonia, sem partida
porque a vida se refaz
no ciclo fulgaz da esperança

Que doce e pobre criança
não sorri em seus tropeços
e recebe o aconchego de ser
puxada pela mão em um novo recomeço?

Anda mais uma vez,
fênix confusa, delirante
sabe que o sol já não está radiante
percebe a hora de ir

Precisa rever conceitos
que a torto e a direito
insistem em te seguir

Entende que ser destituido
das suas defesas mais importantes
não é uma derrota anunciada
e por isso morre calada
esperando uma nova batalha

Deixe que seus inimigos,
aquilo que te confunde,
e até aquele que te consola e dá abrigo,
também te perca

Permita que na ausencia, na incerteza,
todos possam dar mais valor ao seu poder
ao seu calor, de amar o próximo

E então, quando tudo se for,
e no lugar do quente, vier o frio,
que todos percebam o que foi o amor

Mas que quando uma lágrima cair por saudade,
um ato de misericórdia, ainda que tarde,
trará você de volta

As suas asas antes acizentadas,
nessa tarde nublada, reaparecerão
vermelhas e intensas novamente

Pedindo a todos os carentes
de afeto e de luz, os descontentes,
que não percam as esperanças
Aquele que nos conduz ressurgirá

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A todos aqueles que necessitam de seus recomeços e de rever os seus ideias, em especial, ao amigo Everton Cesario, dedico este poema.

Comodismo popular

Preste atenção no que vou lhe contar
permita-me alertar que enquanto você
preocupa-se em que conta pagar
e usa seu carro para ir passear

As nossas matas sofrem
os nossos rios secam
as nossas terras desmancham
os ares jã não são puros

Desculpe-me, mas preste atenção
enquanto você se refresca na sua mansão
com ar condicionado e concreto para todos os lados
o berço do Brasil tenta defendê-lo sem sucesso

É certo, Cabral quando aqui chegou
já encontrou os soldados da natureza
índios inocentes, que triteza, veem
as nossas belezas ruirem

Desculpe-me o incomodo
talvez você ache isso papo furado
ambientalista desocupado
até coisinha de viado

Talvez essa palavra vulgar
essa única palavra baixa
chame finalmente sua atenção
para ouvir que essa canção é de lamento

Talvez você considere e pense
que dê as costas para ele
somente com a intenção de mudança

Se acha que as suas crianças vão desfrutar do que vive hoje
coitadas, meu Deus, coitadas destes novos seres
não tem ainda o poder de decisão
mas serão punidos por comodismo popular

Doe ação

Enquanto você recebe dinheiro
enquanto você recebe reconhecimento
enquanto você tem a todo momento
os olhos voltados para as suas necessidades

Eu só peço que viva o melhor que puder
se quiser, aproveita, aproveita mesmo
se você pode desfrutar, desfrute
enquanto der, faça, queira, consiga

Eu só peço que seu coração
ah, que ele bata rápido
que ele fique descompassado
em um beijo apaixonado

Que você beba quantas cervejas quiser
que fique bebado se puder, vale a pena
curtir a vida é bom, é o que se deve

Mas se vier a partir
se sua vida se cansar
dessa adrenalina
desse ir e vir

Eu peço que antes de se entregar
você possa dizer para alguém próximo
que irá me ajudar

Por favor, eu peço
já que seu corpo descansará
por favor, deixe o meu descansar

Por favor, eu imploro
sua morte será sem dor
enquanto a minha, eu vivo agora

Por favor, já que não terá mais utilidade depois que ir
por favor, entenda que para mim terá, e se puder
por favor, se não for egoísta, cesse o meu pedir
por favor, doe para mim o que ainda funciona
enquanto você estiver dormindo eternamente

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Acabe com a dor do próximo, doe órgãos!
Para ser um doador, avise a sua família.

Sem sentido

Eu vejo meninos iludidos
almas aflitas, perdidos
artilharia pesada
alma penada com o futuro entregue

Balas à venda na lachonete
tiros de ak-47, marchem!
Sim, senhor!

Matem e defendam
morte por encomenda
trajados de verde
sede de sangue

Olhos profundos,
o primeiro morimbundo não se esquece
o primeiro tiro no peito nos empalidece

Sangue frio, não cesse
falta matar mais 947

Que um corpo caia
que os olhos inimigos se fechem
que eu sinta prazer em tirar vida
brincar de capeta, brincar de tira
brincar de demonio, dar risada
de um corpo putrefato

Que eu pague pelos pecados em outra vida
porque a saida será queimar carma uma encarnação inteira
nessa já não dá mais tempo

Tenho que obedecer o sargento
ou, eu lamento, e vou para o saco
me darão veneno, câmara de gás lacrimogêneo
traidor da pátria….

Ritual feminino

É fase, chocolate e filme drámatico
ódio incensato, só porque ligo um minuto atrasado
é fase, é birra, sei que essa ira é de felina
que não se controla, é hora de se assumir

Diga pra mim que você já não cabe em si
que precisa gritar, precisa sumir
então diga pra mim
que está virando mulher

Diga que se sente um bicho qualquer
que está feia e engorda, embora a balança minta
ela mostra 53 parecendo 106

Então diga pra mim que não se suporta
é hora de se trancar em si
se descontaminar de mim
dizer que não presto
que esse amor não vale a pena

Que você merecia mais
o que eu faço ninguém faz
mesmo que eu nada tenha feito

Que jeito, senão entender,
que jeito senão entender você
mulher é meio estranha
tira folhas do calendário
em um ato lendário de tentar se conhecer

Elizabeth

Tu que és maduro, sabes bem que amor seguro é o melhor que há
para que as inexperiências das minhas jovens colegas
se homens de quarenta já sabem transar?

Sei que pretendes alegrar-te com submissão e dor
desfalecer corpos jovens, sendentos de calor
mas não sejas covarde, venha para o seu nível

Se conseguires me calar de prazer, prometo-te,
não precisarás me pagar, venha, não seja covarde
sei que minha cama arde, não tente vingança

Se vives só, que culpa têm minhas colegas de prostíbulo?
Sabes bem que elas não suportarão sua selvageria masculina
Tenha coragem, se esta arte é ousada, venha me fazer essa graça
Teste a si mesmo

Ponha seu membro firme para brigar com a minha arma firme
Quero ver quem vai ganhar, eu insisto
se quiseres um desafio, eu deixo por conta da casa

A minha maior recompensa, minha maior graça
será te derrotar no seu mundo, sou fera, tenho vida
essa dívida quero acertar, não cometa injustiça

Seu corpo, minha carniça, eu quero praguejar
eu vou diminuir sua petulancia,
de achar que comer estas pobres crianças
é motivo de se orgulhar

Só para se gabar para os seus amigos
que as prostitutas do meu prostíbulo
não conseguiram te aguentar