Poema de aniversário

Desculpe se eu não pude esperar, mas a inspiração chegou agora
Não sei se amanhã terei a mesma ternura para lhe escrever.
Se você gosta ou não de aniversários, não sei
Há quem prefira esquecer, há quem ache a experiência bem-vinda

Bem-vindo à categoria de poemas de celebrações
Junho agora eu marco no calendário
todo dia vinte e oito será esperado para lhe cumprimentar

Meus cumprimentos pelo comprimento de sua lista de qualidades
Por deixar seu registro nas inúmeras artes que compõem o espírito
São poucos aqueles que estão vivos capazes de desenhar, tocar,
pintar, escrever, encantar, sonhar e cativar as pessoas tão rapidamente

Seria quase uma ironia se eu me contentasse apenas com um poema simples
feito de palavras simples para o feiticeiro das letras que, de tão jovem, envolve,
por ser ainda menino com a firmeza no pulso digno do mago das artes.

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Pelo décimo sexto aniversário de Gustavo Stresser. Um poema cheio de palavras simples e sentimentos complexos que não se descrevem nem em prosa, nem em poesia, mas se faz presente em uma admiração respeitosa e profunda, desde o dia em que eu lhe conheci, e recebi um grande presente, que agora tento retribuir em uma dose tão pequena.

Frascos cinzas

Aroma de saudade
com fragrância que
arrepia a pele

Sem custo estimado.
Embora se conte primaveras,
nada se compara as tantas Rosas,
que partidas, deixam seu cheiro.

Em um dia do ano, a doçura prevacele,
entorpece os sentidos com a química
e o odor da solidão.

Recipiente que guarda cravos apodrecidos.
Com o passar do tempo vira apenas embalagem,
que a todo instante nos resta contemplar.

Frasco fragilizado pelos anos idos,
cheios de doces lembranças que predominam
às amargas de uma vida complicada,
após a decantação do tempo.

Conto de fadas

Se tudo o que me resta são as palavras
Eu corto, eu rasgo, eu despedaço sua alma
eu atiro, eu faço feitiço e amaldiçoo sua carne

Se tudo o que me resta são as letras e canções
não farei sequer mais um poema de amor
Estraçalho, reinvento os atalhos, quebro os pratos,
praguejo alto seu sofrimento

Se me resta apenas estas armas tão simples, tão sutis,
que eu não posso sequer lhe fazer sangrar,
Enveneno então a sua vida por dentro
só para lhe fazer chorar

Rasgue os meus bilhetes
jogue ao fogo minhas cartas
que os perfumes delas acinzentadas
possam fazer das laberadas, fogo alto

E do auge da sua dor, a minha vida, crucificada
para que eu ressurja para um novo amor, que não virou
conto de fadas

Clichês de amor

Cansei dos clichês dos poemas de amor:
A mesma ótica sofrida, o mesmo olhar maroto,
os mesmos lábios mortos, o mesmo semblante vazio

Poemas de amor sempre carregam em si, na verdade,
um sofrimento sem sentido – irracional o humano –
– que de poemas de amor chora um romance sequer vivido

A dor de querer alguém, de esquecer uma paixão,
Separações de vidas sempre geram um poema de amor
E o engraçado do poeta é que até hoje não li nada,
em absolutao, que desfaça a parceria de amar a melancolia…

Então, no ápice do sofrer aquilo que não se tem,
ou o que se tem, e não se entende, vamos chorando
em versos, em cima de cadernos, sufocando nossos sentidos

Gostaria de saber um novo sentido para poemas de amor,
cansei dos clichês do sofrer de amores, afinal,
eles não servem para nos garantir um sorriso?
Por que poemas de amor sempre são regados às lágrimas dos sofridos?

Banco dos réus

Condenem este homem se assim quiseram em pleito,
mas me cabe lembra-lhes dos feitos bons de quem um dia erra:
Da generosidade tão simples da palavra amiga quando preciso;
Cabe a mim, agora, com a palavra, defender quem na vida peca…

Quem pudera o homem não errar mais,
quantas vidas seriam salvas e quantos ancestrais
dariam graça sob o túmulo.

Quem dera a balança dos acertos fosse a mais pesada.
É com pesar que vejo no mundo condenações precipitadas
de sujeitos tão corretos em outrora.

Quem dera dessem juízo a quem tanto julga,
a quem tanto cobra, a quem tanto pune.
Não, não o deixe impune de seus erros,
mas o sentencie com cautela.

Saibam que cabe do justo recurso,
Que os habeas corpus da alma são facéis de conseguir
Porque se o homem decreta prisão daquele que nada fez
Deus age em nome de quem não deve pagar por falsos crimes.