Roda das amizades

Enquanto uns vão, outros voltam
a vida tem dessas viagens

Pessoas que pegam o expresso da ingratidão
partem sem remorso, sem deixar pistas,
mas, na contramão, vem caminhando devagar
um amigo que se perdeu alguns anos atrás

Não sei se choro pelo que partiu,
ou se sorrio ao que retornou,
ou os dois: Se choro rindo
para que o antigo-novo amigo me console

Então, eu fico aqui, sem respostas pela partida de um,
mas sem fazer perguntas ao que voltou, simplesmente,
absolutamente, aceitando-o de volta sem querer saber de mais nada

Talvez, quem hoje se foi, volte nos anos seguintes,
quando eu tiver ido e vindo aos abraços de outros amigos…

Nessa roda das amizades, alguns deixam a vaga,
para que minha alma vaga, aprenda a não depender,
a não deixar de viver do jeito que nasci, sozinho.

Nessa roda das amizades, outros tomam os lugares,
sorriem a mim, emocionam-se e partem também,
para me confirmar algumas verdades:

Apesar da dor de não ter explicações,
a dor das partidas têm me feito pensar…
Não critico a vida ou me revolto,
mas aceito as viagens dos meus irmãos

Pois tenho certeza que fiz o que pude,
caminhei com atitude, e minha mente,
não mais me pune por falsas culpas,
porque a minha conduta foi a de sempre dar benção…

Raios duplos

Raios duplos são seus olhos turvos
choros mudos, e contudo não há disturbio maior
que dois mundos recebendo essas duas descargas

Elétricos, nossos corpos se chocam, e eclodem,
dois corpos carnudos, dois seres nus que se confudem em um;
Há de vir de raios duplos, olhares que se encontram e desarmam
corações trancafiados pelas dúvidas, nas vias dúbias, das estradas úmidas
de dois pedintes, pedestres de amor, sem esperança de conquistar
o trocado, o vintém da paixão.

Mínimos detalhes

Eu posso estar sempre só, mas o mínimo pensamento em você me dá a certeza de contar com uma multidão,
não de pessoas, porque você é um só, mas de sentimentos, pois sei que são muitos os que você nutre por mim.
Eu posso parecer derrotado, mas a mínima esperança que eu tenho em reencontrá-lo me dá forças para levantar,
dizer a mim mesmo que se há alguém acreditando ainda em mim – por mais que eu não mesmo não acredite – não posso desapontá-lo

As amizades verdadeiras são assim, cheias de fé no outro, mesmo que este esteja totalmente perdido, totalmente sem destino
E digo mais: Ela tem sido o meu combustível durante tanto tempo, tanto tempo, meu amigo, que sua mínima ausência me faz pensar que corro perigo;
Porque a mínima saudade, o mínimo dia sem você, me trazem dores irreparáveis, difíceis de conter, as lágrimas descem e o coração aperta,
mas suas mínimas palavras de carinho no retorno me despertam, recolhem a lágrima e alivia o meu peito…

É não tem jeito, até seus mínimos defeitos, se houver retorno, se a saudade morrer, serão bem-vindos,
serão benditos, se eu puder te ter de novo, para em mínimos detalhes eu continuar a escrever a obra máxima,
o livro mais bonito, a poesia mais leve a canção mais harmoniosa, que é ter sua amizade para que eu possa renascer

Inimiga de infância

Se não me dirigir palavra
confesso não vou digerir mais nada
durantes longos dias,
durantes longas madrugadas
não dormirei

Mas se me dirigir palavra,
confesso que me sentirei rei
direi aos meus amigos que já é
minha conquista, meu troféu

Até que você descubra, e me condene
ao banco dos réus, por fim à tortura de,
de fato, não tê-la, não tocá-la, não senti-la

Só para confirmar às suas amigas, que não é mais criança,
que mulher adulta sabe o que quer, e despreza quem a finge de idiota
Mas em determinada hora, vai sentir o coração apertado, quando,
eu vencido, procurar viver minha vida ao lado da sua inimiga de infância

Degolando mentiras

Desce com vigor as escadas
com hobby riscado de giz
cabelos semi-molhados
em passos lentos

Escorre pela mão
o ódio, a fúria
que figura em batom
vermelho-sangue

Há de pagar aquele homem
que em meio a tantos
conseguiu ludibriar
finalmente, Lumiar

De jeitos mil sempre conseguiu
trapacear os companheiros de noite,
mas, novamente, cometeu erro de cair

Tropeçou na escada a essa sutil lembrança,
era ainda criança, na casa dos quinze,
quando, perdida de amores, foi jogada na sargeta
tratada como gorjeta de um homem pouco mais velho

Hoje, próxima aos trinta e cinco, pensava ter aprendido
suficientemente o necessário para não cair mais ao conto do vigário
Infelizmente, coração aloprado, não permitiu a ela o controle

Envolveu-se com traficante de amores, quando em viagem a Europa,
e naquele instante, embalada pelo novo ritmo de vida, deixou-se levar;
Eram jóias, perfumes, requintes restaurantes, anel de ouro, pôs a casar

De volta ao Brasil, tantos cantos a viver, ele escolheu casa luxuosa, de fato,
mas o combinado era ser de interior pois, alegava, queria vida pacata, depois de anos de trabalho.
Mal sabia Lumiar, que Euclides vinha foragido, bandido procurado, estava cercado, ameaço de morte

E então, sob a escada de olhos negros como o pano dos derrotados, viu seu amado degolado
com um bilhete escrito à sangue pelo assassino:

Sinto muito a viuvez, mas ele precisava pagar a insesatez de matar a filha de meus mandantes,
criança de quartorze anos, cheia de vida, finda por este crápula.

Lumiar, boquiaberta, via seu amado morto, e lhe matava por dentro saber
que cometera mesmo pecado que tanto lhe feriu na mocidade…

Páginas de caderno

Resolvi beber poema
porque minha alma tão pequena
não sabe mais se comportar

Mergulhei no meu mundinho
assim por tanto tempo
que não me atrevo,
não sei se tento mais rimar

Depois de muitos anos
senti saudade do poeta verde
que não saciava a sede de se eternizar

Coloquei nos trilhos
todos os meus vazios e inquietudes,
num jeito brando de me calar

Hoje não me permito as gafes da métrica desmedida,
dos sons toscos das rimas que terminam com ar.
Hoje sou cantor dos poemas e não me faltam motivos a festejar

Mas de meus tempos de poeta verde,
sinto falta do deleite de apenas escrever,
de passar para o papel palavra que nem sequer sei o que fará

Saudade dos primeiros versos, que assim despertam,
a medida que chegam e viajam na minha alma sofrida.
Um rio sem vida que eu quis reajustar.

Um curso sem rumo para minhas amigas eu dei
e, assim, não sei, quantos amigos eu fiz.
Mas dos poetas que tenho contato
assinei contrato de aprendiz

Em determinado momento, vi-me formado,
um tanto acanhado com os meus méritos,
aprendi a dominar meus impulsos,
e hoje os meus pulsos, sob o papel não mais trabalham.

Hoje são meus dedos que percorrem o teclado,
apagam frases mau feitas, versos caretas,
já não derrubo tinta na mesa, que falta me faz!

Os rabiscos no caderno, as palavras comidas,
as vírgulas não vindas, e a inspiração a me enlouquecer.
Que falta me faz a agonia voraz de escrever mais devagar
do que a minha mão pode preencher as páginas de caderno

Admiração metalinguística

Vamos admitir alguns fatos
Ser seu amigo é uma tarefa nada fácil.
Nem sempre eu me acho à altura da sua
personalidade forte, cheia de desafios.

De poeta cheio das virtudes e da caneta firme
que carrega esta alma tão densa, intensa ao agir.
Talvez um louco, aloprado, que não pensa muito.
Talvez, estes teus insanos atos tenham fundamento….

Ao apaixonado sem freios, pelas vidas e anseios
que todo garoto possui – e que a vida tomou por aprendiz
ensinando tão rápido, o que ficou marcado.

Aprendi com você que a tristeza pode ser alegre
e que nem todos seguem a mesma rota, o mesmo rumo
e que, apesar de tudo, em certas condições nós aprendemos
a aceitar o que nos vêm…

Nem tudo será como nós queremos
já aprendeu essa máxima, sem deixar
que a vida seja ácida contigo

Pablo, Poeta, enquanto houver inspiração,
e essa certeza que só você carrega, não,
não desista…

Nessas estrofes, nesses versos, escondo
o que quase nunca lhe conto, e tenho certeza,
essas palavras também não vão conseguir trasmitir

Admiração metalinguísitca
de escrever para quem escreve
em um desafio imenso de te fazer feliz
do jeito que aprendi.

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Para Pablo Rezende, o grande mestre dos poemas. Obrigado pela sua amizade tão correta, tão natural. Mais uma vez não posso deixar de dizer que com você eu aprendi a valorizar os verdadeiros amigos, principalmente àqueles que dividem comigo a responsabilidade enorme que é fazer arte com as letras. E preciso confessar que cada verso aqui representado foi chegando cheio de vigor e de propriedade, dignos e ao nível do homenageado.

Descoberta de menino

As coisas mudaram de um tempo pra cá
Eu já não grudo na cintura da minha mãe
Não sou levado de cima a baixo
enquanto ela prepara o feijão

Não vejo mais graça nos meus jogos de videogame
O que antes levava horas de meu dia, hoje não me satisfaz
e minha mente, mudada, olha ao passado cheio de verdades reformuladas.
Entretenimento, que nada! Era preciso ocupar a criança para cuidar dos afazeres.

Que fizeram comigo? Hoje meu mundo de menino
tem se desfeito, se revelado, além do véu da alegria
Minha nobre consciência, cheia de responsabilidades,
tem matado com crueldade os olhos brilhares de outros dias

Os compromissos, aos quais já não posso mais me omitir
tem me deixado assim, por vezes desiludido, mas não derrotado
Quando criança, talvez, um pobre coitado, mas hoje as coisas mudaram
Com poder adquirido, de olhar o mundo sem fantasia, não preciso, não quero,
e repito, jamais deixarei de sonhar com alguns encantos, outros mundos…

Serei o Papai Noel dos meus filhos também
Contarei que Papai do Céu é nosso amigo
Que a fada do dente te faz rico
Que o lobo mau perdeu o folego

Sou adulto, mas eu não derrubo o mundo de uma criança…

Bem-vindos ao nosso novo espaço!

Nota pública de esclarecimento pelo recomeço da marca Poeta Diferente e outras diretrizes.

Por favor, fique a vontade. Algumas coisas mudaram na nossa casa. Gostaria de explicar a todos os amigos as novidades.

Depois de 4 anos e um mês com o nosso antigo endereço, decidi que era hora de ampliar as possibilidades. Uma história de sucesso que precisava retirar as barreiras para continuar crescendo. Onde estávamos localizados não era possível aderir as novas tecnologias e já perdíamos muito do que nos era sabido poder oferecer no quesito qualidade – minha principal preocupação.

Acredito que todo esse tempo com a família WordPress.com trouxe, para mim, e para vocês, leitores, uma experencia válida e de fidelidade. Foram mais de 215 mil visitas durante esse tempo. De material, produzimos mais de 700 fatos artísticos, recebemos muitos comentários, homenageamos e emocionamos várias pessoas…

E ponho estes feitos todos no plural porque somos plurais. Inspirações só me chegam graças as suas visitas, seus diálogos, seus elogios e críticas. Somos uma equipe que trabalha no bem, pensando nas pessoas, em seus sentimentos, em suas vidas.

Recomeçar é sempre complicado, e confesso que estou sendo bastante franco com todos que, ao escrever este texto estou seguindo os meus instintos e vontades, assim que elas chegam. O fruto maduro de outros momentos já foi colhido. Hoje estamos plantando uma nova muda, e é natural esse texto ainda verde e cheio de inseguranças. É um passo grande. E eu quero caminhar junto com vocês de novo, por outra estrada.

Nosso material já está aqui, o caminhão da mudança foi ligeiro, mas ainda não dá pra chegar, chegando… É preciso colocar os móveis no lugar, dar aquela pintura na fachada, colocar os acessórios, os enfeites, conhecer os vizinhos, consertar uma coisa ou outra do imóvel, certo?

Então, paciência. Estamos trabalhando muito pra começar logo, logo. Sempre cheios de satisfação e carinho. Porque a autenticidade de uma página vai de encontro à identidade do seu autor. E eu, Jefferson de Souza, gosto das coisas bem feitas.

Minha visão enxerga dois pontos no horizonte: As pessoas e os seus anseios. Então, devo respeitá-los como sempre. Respeitar você, leitor, que procura aquele texto que se encaixe perfeitamente no seu momento de vida. Mas também, meu sincero respeito aos amigos que, nos bastidores abraçaram esse passo. Porque eu, sozinho, certamente tropeçaria.

Certo das compreensões,
Jefferson de Souza Gomes,
PD – Pessoa com Deficiência, mas, em primeiro lugar, Poeta Diferente.