Mínimos detalhes

Eu posso estar sempre só, mas o mínimo pensamento em você me dá a certeza de contar com uma multidão,
não de pessoas, porque você é um só, mas de sentimentos, pois sei que são muitos os que você nutre por mim.
Eu posso parecer derrotado, mas a mínima esperança que eu tenho em reencontrá-lo me dá forças para levantar,
dizer a mim mesmo que se há alguém acreditando ainda em mim – por mais que eu não mesmo não acredite – não posso desapontá-lo

As amizades verdadeiras são assim, cheias de fé no outro, mesmo que este esteja totalmente perdido, totalmente sem destino
E digo mais: Ela tem sido o meu combustível durante tanto tempo, tanto tempo, meu amigo, que sua mínima ausência me faz pensar que corro perigo;
Porque a mínima saudade, o mínimo dia sem você, me trazem dores irreparáveis, difíceis de conter, as lágrimas descem e o coração aperta,
mas suas mínimas palavras de carinho no retorno me despertam, recolhem a lágrima e alivia o meu peito…

É não tem jeito, até seus mínimos defeitos, se houver retorno, se a saudade morrer, serão bem-vindos,
serão benditos, se eu puder te ter de novo, para em mínimos detalhes eu continuar a escrever a obra máxima,
o livro mais bonito, a poesia mais leve a canção mais harmoniosa, que é ter sua amizade para que eu possa renascer

Inimiga de infância

Se não me dirigir palavra
confesso não vou digerir mais nada
durantes longos dias,
durantes longas madrugadas
não dormirei

Mas se me dirigir palavra,
confesso que me sentirei rei
direi aos meus amigos que já é
minha conquista, meu troféu

Até que você descubra, e me condene
ao banco dos réus, por fim à tortura de,
de fato, não tê-la, não tocá-la, não senti-la

Só para confirmar às suas amigas, que não é mais criança,
que mulher adulta sabe o que quer, e despreza quem a finge de idiota
Mas em determinada hora, vai sentir o coração apertado, quando,
eu vencido, procurar viver minha vida ao lado da sua inimiga de infância

Degolando mentiras

Desce com vigor as escadas
com hobby riscado de giz
cabelos semi-molhados
em passos lentos

Escorre pela mão
o ódio, a fúria
que figura em batom
vermelho-sangue

Há de pagar aquele homem
que em meio a tantos
conseguiu ludibriar
finalmente, Lumiar

De jeitos mil sempre conseguiu
trapacear os companheiros de noite,
mas, novamente, cometeu erro de cair

Tropeçou na escada a essa sutil lembrança,
era ainda criança, na casa dos quinze,
quando, perdida de amores, foi jogada na sargeta
tratada como gorjeta de um homem pouco mais velho

Hoje, próxima aos trinta e cinco, pensava ter aprendido
suficientemente o necessário para não cair mais ao conto do vigário
Infelizmente, coração aloprado, não permitiu a ela o controle

Envolveu-se com traficante de amores, quando em viagem a Europa,
e naquele instante, embalada pelo novo ritmo de vida, deixou-se levar;
Eram jóias, perfumes, requintes restaurantes, anel de ouro, pôs a casar

De volta ao Brasil, tantos cantos a viver, ele escolheu casa luxuosa, de fato,
mas o combinado era ser de interior pois, alegava, queria vida pacata, depois de anos de trabalho.
Mal sabia Lumiar, que Euclides vinha foragido, bandido procurado, estava cercado, ameaço de morte

E então, sob a escada de olhos negros como o pano dos derrotados, viu seu amado degolado
com um bilhete escrito à sangue pelo assassino:

Sinto muito a viuvez, mas ele precisava pagar a insesatez de matar a filha de meus mandantes,
criança de quartorze anos, cheia de vida, finda por este crápula.

Lumiar, boquiaberta, via seu amado morto, e lhe matava por dentro saber
que cometera mesmo pecado que tanto lhe feriu na mocidade…