Degolando mentiras

Desce com vigor as escadas
com hobby riscado de giz
cabelos semi-molhados
em passos lentos

Escorre pela mão
o ódio, a fúria
que figura em batom
vermelho-sangue

Há de pagar aquele homem
que em meio a tantos
conseguiu ludibriar
finalmente, Lumiar

De jeitos mil sempre conseguiu
trapacear os companheiros de noite,
mas, novamente, cometeu erro de cair

Tropeçou na escada a essa sutil lembrança,
era ainda criança, na casa dos quinze,
quando, perdida de amores, foi jogada na sargeta
tratada como gorjeta de um homem pouco mais velho

Hoje, próxima aos trinta e cinco, pensava ter aprendido
suficientemente o necessário para não cair mais ao conto do vigário
Infelizmente, coração aloprado, não permitiu a ela o controle

Envolveu-se com traficante de amores, quando em viagem a Europa,
e naquele instante, embalada pelo novo ritmo de vida, deixou-se levar;
Eram jóias, perfumes, requintes restaurantes, anel de ouro, pôs a casar

De volta ao Brasil, tantos cantos a viver, ele escolheu casa luxuosa, de fato,
mas o combinado era ser de interior pois, alegava, queria vida pacata, depois de anos de trabalho.
Mal sabia Lumiar, que Euclides vinha foragido, bandido procurado, estava cercado, ameaço de morte

E então, sob a escada de olhos negros como o pano dos derrotados, viu seu amado degolado
com um bilhete escrito à sangue pelo assassino:

Sinto muito a viuvez, mas ele precisava pagar a insesatez de matar a filha de meus mandantes,
criança de quartorze anos, cheia de vida, finda por este crápula.

Lumiar, boquiaberta, via seu amado morto, e lhe matava por dentro saber
que cometera mesmo pecado que tanto lhe feriu na mocidade…

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