Vivência a dois

Você é um anjo de asas machucadas
e eu não suporto falar de anjos
que pra mim eles não existiam

E não mereciam meus devaneios poéticos
porque sempre me foi um clichê natural
esteriótipo de ser sentimental

Asa, corpo, doce, corpo, voz e expressão
beleza, inspiração, doçura, alucinação
prosa que pousa na poesia
narrativa que irradia calmaria

Anjo que não suporto traduzir
asas que se abriram pra mim
generosidade que se fez assim
sussurro surreal de inteligência
com clemência costumeira dos sábios

Que também não sabe por onde ir
voando assim, rasgando o Rio
voo rasante do amor

Direita na curva fechada
esquerda na madrugada
seriedade na calmaria
olhos sérios pensando onde voar

Espaço aéreo a invadir
coração para pedir autorização
respeito o arbítrio, anjo livre
pronto para aceitar a sua condição,
medo do divino espetáculo…

Vivência a dois

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Para Marta Vaz

Conflitante

Quero puxar na memória todos os momentos bons que passamos,
o que nos foi, a cada dia, tão bem construído para tornar tudo sólido;
Quero retomar todos os sonhos lá do começo do ano que tão difíceis
com você foram tão simples e fáceis, nem um tanto quanto árduo

Quero retomar aquela certeza e aquela energia forte que nos unia
e que tem estado entre os meus dedos escapando, e eu aqui,
tentando e tentando te segurar, – como quem sabe que não deve — ,
não se leve de mim –, eu sei que você precisa ficar um pouco mais –

Eu sei que você merece muito mais de mim
e eu não sei mais se sou capaz de investir…
Como quem amassa bola de papel e joga
assim feito um cordel mal feito que eu desisti de escrever

As minhas forças já estão se esgotando,
as minhas mãos andam escorregando, em um desgaste do destino,
do tempo que se fez ajudante, e que agora, eu arrogante, confuso
e confidente, não sei como agir;

Mas a poesia, energia tranquilizante, por mais que seja conflitante,
angustiante e duvidosa, não sai de mim….