Atestado de utopia

Ora, se é o que brota aqui dentro
se é o que nasce aqui dentro,
se é aqui dentro que fica por horas

Ora, se é por aqui que versam os meus sentimentos
se é por você que vale o que vem sendo escrito,
se esse pensamento me é entregue por idealizar,
mesmo criando expectativas nascidas da ilusão…

Ora, mesmo que eu erre, e sofra por isso,
mesmo que a tentativa me leve ao fracasso,
ainda assim é arte, ainda assim é vida

Ora, se você me ensina a pôr o pé no chão,
e mesmo que você tire o pé da lama,
ainda assim é arte, ou não?

Será que os teóricos da poesia,
estes grandes mestres que você decora,
ora, mesmo que eu não os suporte,
será que eles negariam a minha dedicatória?

Ora, porque se está aqui comigo
é porque fez chegar até mim o apreço,
ou será que enlouqueço e fantasio?

Se é assim, que nome eu dou, que título?
Por enquanto, que me diz você do meu intento?

Se por um lado demonstro que você é digno,
e se por outro reafirmo o meu atestado de utopia
por acreditar na alegria de lhe escrever…

Dois pontos

Vou perceber mais o mundo
através das suas palavras,
vou fazer das minhas palavras
o transporte da sua visão

Na existência do seu ser,
vou caminhar na sua essência,
entendendo como pensa,
o que se passa e como age
sua consciência

Sei dos muitos perigos dessa aventura,
mergulhar também nas suas doces loucuras
para compreender as minhas próprias culpas

Mesmo que distantes, o seu ponto,
o seu instante é para mim alucinante
porque a partir de você percebo um eu
que eu jamais vivi…

Seleção natural II

As coisas mudaram
os pássaros voaram
para um lugar distante

Aquilo que era tormenta
se tornou coisa pequena,
aquietou-se

Então se entende
que o tempo da gente
tem outros significados

Que nem todo sofrimento
derrama água em vão,
muitas vezes essa é a única solução
para esvaziar aquilo que está contido

E esse rio vivo que ganhou outro percurso
quase destruiu o que era bonito,
o ambiente propício do bem-querer

Os nossos segredos trancados formaram de cada lado
a barreira que foi acumulando expectativas
e na certeza das nossas vidas
fizeram uma inundação sem medida

Matando ilusões, afogando o que era belo,
e sendo sincero foi melhor assim,
seleção natural…

Ilusões do amor

E a gente achando que o amor
era essa coisa pouca que nós vivemos,
um ciúme alucinado nos adoecendo

E a gente achando que isso é amor,
fingindo uma proteção maligna,
nem um pouco digna do verdadeiro amor

E tinha gente achando que vivíamos bem,
se nem comigo me sentia feliz
como é que com você eu posso ser
tudo o que quis, depois de tanto sofrimento?

E tinha gente achando que o nosso sorriso era verdade,
quando a realidade dizia o contrário, dois corações sofridos,
muito mais que isso, o remorso e a angústia nos consumindo

E tinha gente que chamava isso de paixão,
que grande ilusão nos consumindo
era os verdadeiros sentimentos incômodos
querendo emergir para nos permitir a verdade

E a gente sufocando os nossos erros por vaidade,
nos afogando na falsa sinceridade que só diz
o que convém, o que é mais bonito de transmitir,
quando se tem apenas dois reais fatos:

Você fugindo de mim
e eu correndo de você
abraçados pelo amor
que nunca foi amor
foi ilusão que se materializou

Sentidos da poesia

Abro meus sentidos,
mesmo que sentido
por tantos tropeços

Abro meus sentidos,
na prece sentida
que tece melhorias

Abro meus sentidos
no sentido do progresso,
mesmo que tenha vivido
na contramão, um sentir perverso

Abro meus sentidos,
no sentido da paz interior,
desqualificando qualquer outro sentido ruim

Abro meus sentidos ao novo estágio,
viver no sentido de ser operado
e um operador da paz e do amor

Vou dando sentido à vida,
uma outra direção pra minha querida,
a poesia

A última estrofe

Você que não virou a página,
rasgou por completo nossa história,
agora o amor não mais transborda,
a água que flui coloca pra fora,
jorra o que estava aqui dentro

Definitivamente, enquanto tivesse chance,
a crença no amor era a última esperança,
mas a pomba branca da paz voou alto,
bateu asas, foi para longe

Essa história que acaba
no último verso tem seu ponto,
na última estrofe começa outro ponto

Reticência de uma vida que não para,
mesmo quando o coração constata com demora
que já é hora de parar de bater por você ,
vai pulsar muito mais por mim, e pela vida plena

Sem amarras que há tanto tempo eu me prendi,
eu fujo hoje dessas correntes, não vou me limitar mais
a amar o que de fato não dá pra sustentar

Eu me liberto nessa última estrofe de você
para saber compor outra história, outro eu,
esse eu que não viveu com você a toa, é verdade,
mas sou um sujeito que não nasceu com você,
e não aceita maldades disfarçadas de amor, ex-amor

Absolvida

Cada dia é uma luta diária para a felicidade,
mas quem foi que disse, no começo da história,
ter essa necessidade de batalha toda hora?

Por que esse esforço alucinado,
por que a perseguição desenfreada,
se a felicidade pode ser camarada da razão?

Entre muitos sujeitos, a felicidade virou adjetivo
quase sempre um privilégio que poucos reconhecem…
De outra maneira, mais superficial eu diria,
felicidade tem se tornado predicado
que exige o complemento da vida

Entre muitos eus, muitos vocês,
entre muitos eles, aqueles, elas…
Aquela que não tem descanso

Proponho o descaso, o descumprimento,
proponho a liberdade, o habeas corpus,
concedo a inocência por falta de provas
de que felicidade é culpada pelo crime do sofrimento,
agravado quase sempre por uma ilusão que não se realiza

E na mente dos réus, diante do júri da consciência
muito maior é a clemencia pela justiça depois de constatada
a condenação equivocada dessa tal felicidade que não tem culpa de nada

Tempo de espera

Nunca é tarde mesmo para quem tarda a felicidade,
nunca é tarde, meu amor, para arrumar a sua casa,
pra nós juntármos nossas tralhas e talheres,
nossas escovas de dente e até as nossas preces,
mesmo que elas sejam diferentes

Nunca é tarde para a coragem, para a atitude,
e não seremos jamais imunes às críticas,
mesmo fazendo sempre o certo

Há sempre os inconformados, os incomodados do amor,
há sempre uma falha na receita da vida perfeita
que desanda as nossas mãos, mas eu espero.

Espero de mãos abertas, outras mãos abertas
que gostariam de se fecharem em terceiras e quartas mãos
que não as minhas duas promessas de carinho

E eu espero que as suas mãos encontrem outras mãos
tão macias quanto as minhas, que te afaguem com calor,
não apenas o corpo despedido de pudores, nem tão pouco
o seu rosto cheio de rubores loucos…

Por ter me negado por tanto tempo
que as minhas mãos se pusessem em seu rosto,
depositassem o sentimento nobre,
depois de tantos anos de espera…

Informe sobre hospedagem

Quem tentou acessar o site Poeta Diferente entre as 22:00 de 05/03/2013 e durante boa parte do dia seguinte, encontrou endereço indisponível e totalmente sem acesso.

Isto ocorreu em virtude da migração da página para um novo serviço de hospedagem, uma vez que a empresa pelo qual ele se manteve no ar desde 2011 encerrou suas atividades neste mês de março.

Um novo provedor já foi contratado, o que normalizou o serviço no final da tarde deste dia 06/03/2013.

Agradecido pela paciência dos leitores, e grato pelos serviços prestados pela Stonelayer até a presente data, agora sigamos aos cuidados da Prelude Hosting.

Atenciosamente,
Jefferson de Souza

Lições no caderno

Que eu exercite minha humildade
e que reconheça a minha fragilidade,
que eu desempenhe bem o meu papel
de ser um grande caderno em branco

Que as minhas poucas páginas escritas
não sejam definitivas como um livro…
Que eu possa ser passível de correção,
mesmo que eu precise reescrever partes

Que eu perceba o quanto o aprendizado
amplia meus horizontes e me abre portas
para que eu pare de olhar pelas janelas,
para que eu pare de ver pelos olhos outros

Que eu reconheça a limitude do muito que eu sei,
para assim compreender o quanto meu ego
tenta sempre dominar as minhas barreiras,
impendindo-me que as derrube

Que eu seja perseverante nesse exercício
para que eu possa ser uma pessoa melhor
sem falsas atitudes, mas com devoção à simplicidade

Porque dentro da minha complexidade,
eu preciso aprender a transparecer o físico,
transpor-me da carne e dos vícios,
transpassar-me ao melhor caminho, ao amor