Eu quero um passo
ritmado contigo,
entrelaçar nossas pernas
coisa simples, não fosse
isso um poema, mesmo fosco
Vou representar aqui
o fim do fim do fundo do poço,
chega de ladainhas, vamos dançar,
à tarde mesmo, não preciso da noite,
das estrelas, nem do vinho
A poesia é um ato de alegria,
grande coisa essa tal boemia,
triste, sinto muito, por aqueles
que precisam sentir muito,
sofrimento não combina mais comigo
Em dois pares de pernas que se cruzam,
cruzam-se eras, arqueologia do amor,
seu macaco por mim se apaixonou
antes sequer de aprender a acender o fogo,
só depois de milênios ele ascende sem fim,
você sente isso em mim?
Não importa se já acabou a música,
eu cantarolo contigo no olhar,
e isso aqui já não é mais uma dança,
mas uma cobrança do amor que por séculos se esquivou