Obra-prima

Quando eu vi você feliz
mais uma vez, eu me vi assim também,
outra vez

Meu coração se desprendeu do seu
sem as correntes do ciúme,
eu sei que o amor é verdadeiro
quando deixa o outro impune
pelo roubo que cometeu

Coração desarmado foi assaltado sem amarras,
de mim você foi levado por terceira alma apaixonada

E eu não cumpro prisão perpétua
de desgosto, e até aceito o outro
como amigo capaz de fazer por você
coisas que eu não preciso dizer,
nem vou revelar o quanto queria juntos,
bem mais que poesia

E não me acabo de arrependimento,
o destino eu não lamento
se você aceitou outra mão antes da minha,
a minha continua aqui pra outra forma de companhia,
porque o amor mudou de foco e de tom,
mas não deixou de ser a cor da obra-prima

Réu primário

Você sabe que me tem e me esnoba
um dia a coragem vem e eu te jogo fora
mas antes disso você bem sabe que leva tempo
desprender-se de um amor que fere machuca por dentro

Você sabe que me tem na mão
e antes o que servia de afago, contradição;
Afogo-me no amor que eu pensei que tinha
sem a menor possibilidade de ser poesia

Vou definhando por maus tratos da paixão,
choro um bocado, dilacerado e ainda peço perdão
por coisas que nem de longe eu fiz
só pra me manter perto de você

E ainda tento inocentá-lo por me fazer sofrer
sou um pobre coitado me achando devedor de carinho
sou réu primário desse crime de vazios duplicados
só pra não ser condenado a ser triste sozinho

Travessia

Para o amigo e ator, Darci Tomellin

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Você é a felicidade
no sorriso, na música
que traz você, refrão

Você e seu sorriso,
prenúncio de paraíso,
fascínio no olhar

E eu quero sonho soberano,
continuo sonhando com a felicidade
que passa, mas passa por você
com maravilhosa energia

Aí que percebo toda sua alma vibrante
não sei se me perco agora aqui
ou outrora, observando novamente

Poesia por você
que me faz ansioso
com garra, com cuidado,
sou um mero acaso,
eternizando o bocado…

Oh, alma linda, longe de mim
aprisionar a sua fantasia de viver,
que beleza, como você é assim?

Veio ao mundo brincando com coisa séria,
vida que leva leve, leve, leve, minha vida, leve,
é toda sua, carregue, nessas linhas minhas,
pensadas nas suas ruas, travessa, travessia em mim,
anda em minhas palavras, sorri, ri nas minhas esquinas,
pare nas minhas vias, envio, poesia travessa,
como você, você, você, como… você!

Insônia feliz

Seja minha companhia de noite
que eu sonho com o pouco,
aquela pequena amostra
de carinho

Fica comigo nessas horas
prévias de descanso,
vem incentivar meus planos
de um dia melhor

Não peço cuidado,
mas você tem se mostrado,
sem que eu pedisse
nada em troca,
contagem para todas as horas

E eu pretendo ter você
noites seguidas,
já me acostumei
se bem ou mau,
fica a dúvida,
a pergunta profunda…

Eu não vou responder,
já troquei as palavras que eu queria,
toquei a seda macia do meu pijama
vou pra cama, cansado, bacana,
ter você do outro lado, me chama

E eu pretendo ter você
noites seguidas, é claro;
Se as madrugadas serão em claro
é uma alternativa um bocado
irritante, se eu não tivesse você
nesse instante pra me dizer

É claro, sem luz acesa,
que eu quero você acesa
para me incendiar, acessa
minha insônia feliz

Correntes da literatura

Eu sou um apaixonável
o amor é volátil
completamente aberto
a quem quiser contato

Não troco ninguém por ninguém
posso me entregar a mais de uma pessoa
e desde que, verdadeiramente, não,
eu não vejo culpa alguma

Estou disponível
– e aqui vou além do eu lírico –
cansei dessas coisas da literatura
de que autor e personagem diferem,
se a palavra não me define
por que eu estaria escrevendo?

Os meus versos agora tem correntes,
científicas ou não, estão aprisionando…
E eu que pensava, apenas escrevia
agora escrevo, pensando…

Segundo pensamento

Pensei rapidamente em você
essas coisas que não se pode dizer
em pequenas e poucas linhas

Pensei por alto e rápido,
uma lembrança do passado
ainda bastante recente

E esse flexe tem sentido
agilidade consumindo
a falta de coragem

Feito raio que vem caindo
sem direção é conduzido
caiu por compulsividade

E assim você me rouba os segundos
um momento de quase nada pro mundo,
de tão pouco, banalidade

Quem dera eu não me perdesse nesse segundo,
você não me prendesse por minutos,
e esse poema não ficasse pra eternidade

Que aí sim seria perfeito,
esse segundo preso em meu peito,
meu momento de êxtase somente,
vingaria na semente da felicidade