Sincera

Sincera
minha vida
ganha outra
semente

Sincera
sou eu
com um só eu
sem, será?

Sim, cera queimada
não estou mais protegida
e lubrificada, posso queimar
de uma vez só

Sincera, abro mão da eternidade,
sim, será a minha vez de derreter
pela última vez
sem ser quimera

Sincera
minha cara
fica com as marcas
do seu tapa

Meu corpo
fica com os sulcos
que a vida secou
com tudo que foi expresso
espremido pelo tempo

Sincera
morro todo dia
não há segunda pessoa,
ninguém que possa
pisar nas poças no meu lugar

Sincera
eu me afogo
no sufoco
e no afago
de ser
sincera
senzala
sem sala
pra mim
sensata

Imperativa

Preserva
quem te inspira,
respira a alma,
arrisca a solidão
viver a confusão

Aduba o prazer
cultiva a vida curta
pula nua, se desejar

Investiga o que te faz bem,
não precisa da benção, amém!
viva sem permissão pra tudo
seja sua, dele, dela, fruto

Nem canta, nem dança,
o colorido do romance
não te cai, nem valoriza

Risca as idealizações,
apetite do que planeja,
seja, apenas, ceda sempre
as sedes do coração

Sede das contradições,
experimenta fora do posto,
inventa o seu próprio gosto

Viva a palavra nova,
o sentir é um futuro
que já foi o passado
de alguém

Cria a tua própria poesia,
chora tua própria aurora,
arrepia-se do que não se sabe,
monta a tua própria ceita
incendeia outras partes,
faça arte além da carne,
além do coração

Busca o teu próprio
ponto de fusão,
demarca onde você sentir
é ali que a vida começa
pra cada um, um devir