Boa noite

Tenho cuidado com essa louca
curiosidade que desperta em mim
mais que a descoberta de um segredo

Peço passagem para o mistério,
caio nas graças do revelado,
o que foi vedado a todos,
mostrado a mim,
humildemente

Poucos me acordam do profundo sono,
desse assistir entediante da vida
que tem se repetido, repetido
repito, repetido sem mudança
totalmente previsível

Impossível não atentar
a quem quebra o ciclo
ridículo dos cálculos humanos,
daquele velho e mofado plano
de saber o que vem aos meus ouvidos

Estou cheio de palavras vazias,
farto das carícias premeditadas,
sou reflexivo e refletido na arte da palavra,
não tolero senso comum, incenso comum
que nem ao meu olfato traz cheiros novos

Fica o agradecimento final pelo arrepio da pele,
por ter acordado a epiderme, dilatado as pupilas,
as pílulas não me fizeram dormir essa noite,
e você é o mais valioso gracejo, saudação

Boa noite para quem viu o dia nascer
diferente

Versos gotejados

Careço
do teu
do meu
desejo
juntos
teu corpo
reto,
meu corpo
ereto,
sou seu
coberto
do amor
Sou feto
desenvolvido
cresci
com tuas carícias
com teus fogosos
afagos que há
de vir
de mim
pra ti
de volta
nestas
linhas curtas,
minhas rimas,
teus versos
Meus escritos
de pausa
de paixão
reinvenção
do poema
Tuas pequenas
palavras amenas
não suavizam
o teor dos grandes
sentimentos

Nós

Eco da minha mente…
divide comigo o mais difícil:
opiniões e visões de mundo

Tão somente teu carinho me espera
na ansiedade daquele que, quem dera,
pediu companhia próxima, mas não, não
acreditava na agilidade do atendimento

Agora atento fico eu, certo do que Deus me deu
se não um novo amor, amor, um amigo novo, convenceu…
E ultimamente as minhas palavras têm sido poucas,
os meus versos quase raros, mas o meu sorriso raso
escorreu pelos lábios, tamanho contentamento inesperado,
um achado desse lado para o outro lado do meu eu

Mas de nó em nó e devagar a corda de amarras se constrói,
laços de felicidades que o tempo não corrói
aos poucos e com os devidos cuidados
um bocado de nós dois

Silenciar

Tem alguma coisa aqui dentro se agitando,
que incomoda, que desloca, que não se aquieta.
Sou inquieta, penso sem palavra, sem pronúncia…

O silêncio conforta, acalenta, sou louca
pela minha mente briguenta que na maioria das vezes
cala a minha boca, a minha mão, qualquer vão de expressão

E eu ainda quero entender o que é a arte
um diálogo com o mais profundo em mim
antes de falar do outro

Que sentir é esse que provoca
o enigma maior do eu, dos nós,
que nó é esse que não desata,
sem brecha nenhuma para o desenrolar,
sufoca, convoca a novas tentativas,
mas não me liberta, não sai de mim

E nunca vai sair…

Há quem diga: cena
outros: sina
Eu: sento e me conheço
sem me conhecer
escrevo

Doçura

Deixa que eu deixo a deixa
dessas doideiras doloridas do amor.
Digo, demais, eu falo, eu sei
o desgaste do exagero desmedido

Dor não combina com o doce sorriso,
seu, meu e dos nossos doidos vícios
que buscam descaradamente confortos
eu e você, um no outro, sem contrato

Desespero, não, não me entrego…
Desacelero a ansiedade pelo seu afago,
que graça, de graça esse desejo
de te ver bem e me ver bem no seu olhar

Demasiadamente uma vontade de permitir
ser assim sem compromisso, sem amarras,
digo, sem cobrança, que desperto
decerto a espera do que você puder me dar,
doçura.