Acredita em polipoema?

Te amo, acredita?
Se não, pouco importa
O poema é a porta do amor,
mesmo que a campainha toque no truque,
vou abrir e sorrir feliz

Se não for assim, prefiro o exagero
de uma vida sem sentido, mas não,
eu não fui feito para alternativa,
não sei vagar sem poesia, romântico
do primeiro ao último verso
até debaixo para cima

Acima você viu o que ninguém diz,
amo até o seu não-amor, meu amor
porque transformo a dor em paixão
e pelo não, pelo sim, lê um pouco de mim,
diferente: pode ler esse verso de trás pra frente,
uma vez mais descubro outra função para poucas palavras

Te amo, acredita?
Se sim, obrigado pelo poema,
senão, pela poesia.

Tenta não amar?

Lê de qualquer forma,
como você quiser,
partindo de qualquer verso,
é só uma pequena dose de amor

Sem barreiras

Eu não tenho mais muros com a vida,
para ela me brindar eu não me blindo,
estou aberto para o universo,
já faz tempo que não tenho o comando

Não ordeno e nem me imponho,
no eterno deixar ir vou me mostrando,
me deixando levar, me entregando

Já não coloco condição para a experiência,
sou matéria pequena da existência
que vai somando e somando
sem escudo e sem guerras

Não luto com a vida, nem tudo é dolorido,
minha vida aprendeu a ver os ciclos
de outro modo, mudei de foco

Já não suporto as limitações da carne,
são correntes fracas que eu me liberto
e sem alarde, eu me jogo e me entrego
até que essa energia me diga o tempo certo
de sair do poema, de ter um lugar além
do além dos meus versos também não concretos

Casa da paralelialidade

Do tempo e do vento,
da distância ao livramento,
sensação do não-existir-momento
o nada é uma graça, reabastecimento

Do corpo, o copo vazio,
recipiente que transborda,
agora sabe que nada importa
já aconteceu o que não se queria

Mas, o hoje, mais hoje, mais um dia
o seu afago paralisa a correria
sem sentido, sem o fio da vida;
estar vivo como experiência

Não me canso das aparências,
de perceber as patéticas
impaciências humanas com o vago,
e eu aqui divago, falando o mesmo:

Quero ser o nada, o vazio que ninguém toca,
quero o que ninguém suporta de resposta,
um minuto de pausa dessa caótica visão torta do tudo,
um segundo de nada, de quatro letras que não dão conta
do que eu falo…

É o nada do outro lado da moeda,
não do tédio sufocante, mas outro;
a outra face; a outra fase do nada;
o significado escondido de muitos;
a terceira e outra realidade;
paralelialidade

Página branca

Uma página em branco
para a madrugada preenchida
com o negro dos pensamentos

Nem tudo está como o planejado;
há alguns anos eu tinha metas.
Não as cumpri

O acaso foi concreto, imprevisível
é a vida assim, que decepciona
e surpreende um lado de mim

Eu não me conheço, nunca soube
ser eu plenamente, um terceto de quebras,
algumas quedas poéticas, enfim

A noite suja o papel limpo,
a palavra me polui, e eu,
reciclo e recrio o que não fui