Meio a meio

Enquanto você namora
eu sou outra história,
mas se o romance vai pra escanteio,
eu sou seu amigo do peito

Se o relacionamento é perfeito,
não me procura; mas, se entra em conflito,
sou o amigo que tira o perigo da depressão

Se reata, viro de novo sucata da contradição,
nos revezes da vida, estou lá em cima,
mas se não precisa, estou só na solidão

Enquanto sou consolo, tudo bem,
mas se eu precisar de socorro…
Sou o tempo que não existe,
você, apaixonado, vivendo de encantos…
Eu pelos cantos, esperando sua recaída,
pra quem sabe, na saída, você me dê a mão

Ombro amigo só para os problemas seus,
se forem meus… nada de mão amiga,
a paixão cuida de você, e eu, cadê,
nem compaixão…

Aos sensíveis ao espírito

Os sensíveis ao espírito
serão os mais atingidos
pela onda de ódio,
pelo grito dos revoltados,
sucumbidos pela ignorância,
atrevida e alienada

Os sensíveis ao espírito
travarão uma batalha
concorrente aos justiceiros,
aos descabidos

Aos sensíveis ao espírito
muito rigor no cento,
no que for bendito,
terão, então, a cabeça no lugar
os felizes companheiros,
adormecidos

Que espanto para a alma
acordar veementemente,
colocados à prova a honra,
pelos irados incompreendidos

Não se assustem companheiros,
meus irmãos mediúnicos,
esse clima de terror
não é culpa dos imundos

É você, que tomado pelos inoportunos,
cai na armadilha, da negativa,
descaso, e não raro, adentram energias,
aos moribundos

Não tema, companheiro constrangido,
se não entende que esses atos,
no final dos fatos, libertarão, quem sabe,
os mais astutos

Turbulência bem pensada,
de tempos em tempos necessária,
causa primária da evolução

Pelo sim ou pelo não,
aos sensíveis do espírito,
proteção

Moço bonito

Moço bonito
de outros caminhos,
de outros ritos,
de outros rumos,
moço bonito
o que tem ego,
o que tem estima,
alta rima que mereces,
ó, moço bonito
que sabes o que tens,
e o que não tens,
teus fracos pontos fortes,
para ti os holofotes,
a atenção firme,
vives, moço bonito,
bem dito encontro,
bendita rima própria,
impróprio, paro aqui;
o primeiro poema que mereces

Indolor

Investida
insistente
do amor

Não sacia a sede
e não, não cede
às regalias

Inibida
não sou mais,
falo de desejo

Daquilo que desejo,
disperto e incendeio
por baixo dos meus devaneios

Sou confusa, mas competente
tenho a alma leve sem pressa,
nada me impede o ardor

Confesso o dissabor
do amargo fato, afago
que não vingou

Vingativa
investida
insistente

Aquela que sente,
mas comporta,
comporta-se
como se nada ocorresse

Cede ao que vigorou,
o desejo transbordado,
quase irado, idolor

Comparsa do poema

Mais feliz
pela poesia
devolvida

Cara é a contrapartida
pede, agita, palavra;
bendita, mas exigente

Mais tarde
requinte
a quinta parte
de um apetite

Sabor repartido,
verso quebrado,
mas não divido

Mais feliz,
feito de energia,
palavra que rasga na medida
a vida

Mais cedo eu disse exigente
hoje, mais tarde,
não domino nem dominado,
fui recompensado

O apanhador de conchas

Ele anda sem rumo,
mas parece saber por onde ir,
o caminho pode até ser escuro,
mas o trajeto é parte de si

Caminha, antes de tudo,
primeiro por dentro,
menino do interior,
viaja em seu íntimo,
um passo é ínfimo,
precisa de luz

Mantem leve gracejo no rosto,
sorriso que dilui, sabe que,
apesar de tudo, um desejo o conduz

Coleciona ainda a brincadeira de criança
que um dia eu também fui….
Hoje, um quase adulto, também apanha,
uma dor que não flui…

Mesmo que sob o sol apronte,
aponte uma nova companhia,
guarda na caixa o presente
que a natureza fez, um dia…

Primeiro leva à mão,
delicadeza quebrante,
maneja num instante
a preciosidade, à luz

Veja só que alegria
esse dia que vai…
É manhã, tarde, à noite
é falta de sorte?

Melancolia que acolhe,
a graça que socorre,
um recomeço sufoque
e aguarde

A sutileza que comove,
resiste por muito tempo,
adereço tão pequeno,
como você, meu pequeno,
enfeita, mas não distorce

Que se assim tentar, quebra,
mas, sabendo cuidar, quem dera…
Uma porção de carinho
apanha devagarinho

Não fica concha sobre concha
igual criança depois da buscativa,
alegre pela acolhida, sorriso que descobre
quando não queria um dia sequer saber de conchas do mar

Agora ri,
agora ama,
agora rimar…

Má indole

Eu nunca te fiz nada
nenhum ato nominal
que desprestigie tua vida,
coisa e tal

Não sei porque me cansas
as tuas miudezas humanas
retrógradas sem esperança

Mas convenhamos que tuas energias,
teus mantras negativos,
castigo que não merecemos

Por pouco ou menos, nunca é demais,
ademais, pedir que se retire,
pois não careço de companhia de má índole

Qualquer mera validade do teu ego
não me inibe, nem te enobrece,
antes da prece protetora,
fecho a porta para o que ainda não me fere

Grand finale

Que eu mantenha viva
a chama da felicidade
porque qualquer problema pra mim
vale menos que a metade

Nada é eterno e doloroso,
o desconforto pode ser prazeroso
se encarado com naturalidade

Bem ou bem, tudo nessa vida muda
transforma e progride,
tolo é quem insiste nos mesmos hábitos,
transforma o ontem no hoje
e o novo hoje, vira um alarde

Sei que pra você eu sempre faço pouco,
bem menos do que eu poderia,
mas antes de ouvir a sua crítica…

Escuta a minha?

O meu passo não é o seu passo,
meu ritmo não é o seu,
se você pensa em dançar comigo,
ajusta a saia justa que você me deu

Dois movimentos sem alegria
de nada valem na harmonia,
não desenvolvem nem o grand finale

A arte da crítica construtiva será sempre bem-vinda
sem falso moralismo ou fantasia, mas também sem crueldade;
porque de falsos juízes a vida está cheia, de dedos em riste,
notas e conceitos, mas quem garante a adrenalina do sangue nas veias…

Não sabe que é o imprevisível que de fato incendeia!