Braços abertos

De braços abertos
a vida nos mostra
que a qualquer hora,
quando o inesperado
se apresenta,
quem fechou uma porta
amanhã se lembra,
e espera, apesar de tudo,
seus braços abertos

Na espera equivocada
de que você se coloque com rancor,
o amor mostra que as mágoas
ficam na ilusão daquele que feriu,
em você apenas doeu, mas passou

E é por isso mesmo, por ter passado,
que o futuro tem mostrado que as coisas
reacontecem, pois a paz entre os homens,
quando cresce, evolui todos nós…

Fora de tudo

Vamos lá,
sendo bem sincero,
será que cabe em nós
o espontâneo compromisso
do bem-querer?

Será que dá pra dizer
que a gente não força nada,
só se curte, só se vive,
só se encontra
sem se encontrar só?

Será que a gente pode
confessar a alegria
que instala mansa e serena
nas nossas vidas tão corridas
com objetivo de sermos grandes,
embora tão pequenos?

Será que a gente precisa
do contrato social que
estrangula os laços
com prazos pré-determinados
de saturação?

Será que, vamos lá, basta simples,
banais conversas entre dois amigos,
generosidade de não viver buscando
o vício da carne, nem ter outros planos

Vamos lá, será que acaba aqui
um momento de alegria completa,
aquela que não se aquieta em nossos peitos,
que se vale da lembrança pra repetir o feito
constantemente o constrangimento de se perceber
fora do contexto, fora da malícia, fora do mundo,
fora de tudo que não seja os segundos nossos…

Nó de nós

Minha querida,
aqui o desabafo,
cansei de retalhos,
das conversas pela metade,
cansei da amabilidade fajuta

Ajuda, seja sincera, minha querida,
não precisa fingir o que não deseja,
nós não somos obrigados a nada disso.

Liberto, sem causa injusta alguma,
percebo, de perto, sua angústia.
Minha querida, vamos parar com isso.
As suas mentiras não cabem mais em meus ouvidos.
Estou farto disso. Perdoe, não jogo mais.

Meu querido,
não jogo, nem nunca o fiz.
Caso se sinta infeliz,
não bata a porta, não grite,
nem me culpe, não se desculpe.
Sai.

Não lhe acuso, não vou cuspir
tudo que eu sei que não existe
só pra dizer que você é imundo
pra que eu saia ilesa e sem culpa,
não faça mea-culpa de algo
que não esquenta mais a alma

Calma, e segue
Asseguro que a liberdade
vale mais que qualquer laço
que já deu nó
por nós

Interno

Quando outro homem,
apavorado, agitado,
intranquilo, eu
precisava mudar
para me permitir
o sossego daqueles que
precisam, de qualquer modo,
do silêncio que não perturba

Conturbado, sem a lucidez,
ácido, bem longe da doçura,
detectei o que me atormentava,
ataquei os males que me incomodavam,
e hoje, depois do esforço diário,
contínuo mesmo, incessante,
o alívio e a garra agora
são a coragem do tempo novo

Esse tempo novo tem sido recomeço
do amanhã, que desde então, desafia.
É um amanhã que não cobra o ontem,
que não joga na cara o quanto se deve
para a vida, que só deseja, adrenalina,
essa vida que cumpre o seu papel
e me perguntou qual o passo que eu dei
para a paz interior almejada num outro plano,
na ilusão do céu…

Olhar em festa

Seu olhar pra mim fez festa
quando eu passei e não disse nada,
seu olhar pra mim fez festa
quando meu sorriso labial
encontrou com o sorriso nos seus olhos,
seu olhar pra mim fez festa

Seu olhar pra mim fez festa
porque, sem intenção nenhuma,
eu gosto da sua presença,
eu me sinto bem na sua energia,
mesmo sabendo que o seu olhar,
ah, o seu olhar pra mim faz festa,
mas eu não o tenho, não o aprisiono
em pronome possessivo

Seu olhar merece a liberdade
que a sua alma exige,
cansada de sofrer,
decidiu viver diferente alegre
fazendo festa pro olhar triste
da gente

Indigestão de pessoas

Se eu vier a esquecer que somos humanos
e cometermos o grande engano prisional
do relógio, da hora marcada, do dia improrrogável,
da ocasião inquestionável, se preso nas vias da burocracia,
protocolo que não se retifica…

O ganho da condição humana, falha e necessitada,
que precisa não de brechas, mas do escape do imprevisto,
da flexibilidade daquilo que no processo não pode ser lido,
circunstâncias da vida, da vida de um individuo
que não cabe em matrícula, não cabe no número,
não pode ser o humano por banal identificação!

Se eu vier a ser humano de novo,
aquele que adoece, por menos ainda,
aquele que muda de planos,
em cima da hora quer fazer diferente,
não dialoga com o roteiro…
peço em nome da máquina pensante
um instante de humanoide,
por sorte, vou poder sorrir
nova mente….

Pausa da regeneração

Que todos os deuses,
todas as divindades,
todos os santos,
todos os elementos,
que todos os falares
abençoadores te protejam
que todo cântico,
toda prece,
tudo que for bendito,
cuide você, amigo,
seja capaz de te guardar,
capaz de te resguardar
feito colo de mãe,
feto da divina vida,
energia compadecida
de unção, de passe,
de coração, de todo o amor
e pela sua evolução,
pausa da regeneração

Pergunta?

Seu amor por outra pessoa
é ato desprendido de rancor,
também não lhe digo que estou satisfeito,
mas também não me causa dissabor

Sei que os loucos apaixonados me dirão fortemente
que eu não me importo com meu próprio sentimento,
podem até me acusar de falso, lunático,
mas eu sei o quanto me sinto roubado
mesmo sem causa aparente

Ora, fui eu quem omiti os fatos,
o que viam na minha cara, na minha frente,
podia estar apaixonado, estampado na testa,
mas a minha boca não abriu uma fresta
para declarar uma paixão de quimera…

Sei que acreditei e fui convidado,
comovido pela esperança de agora, e de fato,
ter achado quem mexesse com as minhas heranças

De muitos nãos ouvidos, de tantas frustrações,
de tantas acusações sem sentido, poucas realizações,
agora que pareço convencido e convicto do sim
quase certeiro… Preferi calar a minha alma
e me dar um não primeiro….

Que aí eu não corria o risco da dor que dói demais,
que machuca e incomoda por tantos dias a mais
e então, depois de muito tempo eu soube,
ser do seu desejo ouvir minha pergunta…

Fiquei sem resposta por eu ter me precipitado
numa resposta própria, imatura… Você calado
à minha porta, será que me censura?

– Sou eu quem quer indagar a quem vivia questionando…
O discurso então trocou de papel, e eu acabei respondendo:
– Aceito essa segunda chance tão repentina, tão inesperada…

Depois de quantas interrogações se espera um ponto final?

Poesia de força

Eu não estou nas suas rodas de amizade,
eu não frequento os meios aos quais você faz parte,
e até acho que me fechei num mundo particular,
com receio de encarar a realidade

Eu observo tudo de longe e meio distante,
não me declaro totalmente e não me proponho,
mas peço desculpa por tamanha covardia,
talvez eu não esteja pronto, ainda
quem sabe quando estarei…

Sinto brevemente que a minha mente,
tentada a me iludir, me convence…
De que essa paixão por você é
psicologicamente linda e maravilhosa,
mas o presente não cabe na palma da mão,
não é essa a hora

Sinto rapidamente que meu coração acelera,
mas como pode ser, quem dera…
Se isso fosse de fato verdade,
se o meu mundo encontrasse com o seu,
apesar das diferenças

O desabafo, me desculpe, não é culpa sua,
tenho que tentar quebrar as minhas próprias barreiras,
os meus próprios cadeados, ah, eu preciso destrancar
o meu coração já não aguenta, já não suporta
ficar trancafiado nessa poesia de força,
louco e perturbado, sobrevivendo de um imaginário,
uma fábula de amigos íntimos sem intimidade…

Indaga ações

Será que o meu coração invocou que te ama?
Será que ele sabe o que é amor?
Será que apenas se identificou?
Será que você vai ler meu poema tão tarde?
Será que tantas perguntas são normais?
Será que você pensa em mim enquanto se diverte?
Ou será que eu só sou um cara a mais?
Será que você me olha com olhares masculinos?
Ou só sou um querido amigo, sem malícia?
Será que eu não quero forçar a barra?
Será que você aceita a minha vida toda bagunçada?
Será que dura ou vai ser desfeito no começo?
Será que o nosso romance tem apreço?
Será que você me acompanha para além do beijo?
Ou será que nem a minha carne desperta desejo?
Será que você poderia me dar uma chance?
Ou será que isso é só um lance da minha cabeça?
Será que a esperança está tão desesperada?
Ou será que eu devo guardar mesmo a sua foto como lembrança?
Será que a mente humana pode se conectar
com outra mente humana?
De modo a se alinhar planetas, o cosmos, a alma?
Será que você vai deixar eu experimentar?
Será que eu preciso formalizar?
Será que você entende que as minhas perguntas não são dúvidas?
Será, será, será?
Que eu vou ter que dizer
eu amo você?
De novo?
de novo?
de novo?
e mais?
mais?
mais?
um pouco?

Nunca vingou

Você confunde as minhas paixões
e me deixa a dúvida mais difícil,
aquela que mexe com o íntimo
e embaralha todas as sensações

Pelo poema mais confuso,
você sabe que poetas
são homens do mundo
que manipulam palavras,
camuflam tudo

Tenho que confessar
que já me perdi
já não sei se amo A,
se me encanto por B,
se conquistei C,
se posso dizer
quero você

Desculpa a minha dúvida,
só os poetas podem suportar
tantos desvios de conduta,
mas não tente entender
os amores dos letrados
são um caso raro,
outro lado, outra face do amor
que ninguém nunca viu,
mas também nunca vingou

Para Iago Reis

Digno de sorte

Por isso vale perder noites de sono,
não só pelo fato do poema construído
pela memória que vem me consumindo,
pelo que eu descubro de mim em silêncio
quase que reflexivo, ioga do espírito

Por isso vale a pena perder noites,
porque eu sinto meu corpo transcender
os meus próprios planos, sinto a matéria,
o corpo se elevando, eu me esquivando
da verdade do sonho que vejo em frente.

Sinto por você paixão crescente,
alucinante, delirando, naquilo,
você é tudo aquilo que eu venho sonhando
e agora está diante de mim, mesmo que distante

Mesmo que seu corpo e sua mente estejam viajando,
seu corpo é real e tocante, é próximo, material vibrante,
você existente quebrou meu coração resistente
para um novo momento-poema, antes eu era digno de pena
hoje sou digno de sorte.