Homem fobia

Vamos aos fatos
francos, profundos e aos rastros:
eu saí do armário,
no bom popular
baixo e vulgar

Mas não foi por você
e suas neuroses que eu
aprendi a amar
de alguma maneira louca

Não foi pela carência
que dizem que tive,
se tenho não sinto,
e se terei, não digo.
Sai da minha vida primeiro

Certo é que as confusões
que só você causa
deixaram de me afetar

Porque eu rasgo essa bandeira colorida
que me deram para carregar,
essa esterioptia que me aponta
o que eu não sou

Há sim o discurso homofóbico que mata,
mas também há a fala do discurso de ódio
que a vítima sempre carrega
jogando pedras em não se sabe quem

Retrógrado e culpado posso ser,
mas ainda quero te dizer
que reaprendi a pensar
nem tudo dá pra mudar,
mas eu mudei

Você eu não sei
até quando se vale,
abre o vale entre nós
com esse discurso pró-minoria
que cansa e causa apatia
porque fala, fala, fala
e agride com palavras
os iguais que você defende

A guerra dos sexos,
a luta de classes,
os homens de marte
estão livres de tanta
ladainha

Tributo às Letras

Rendo-me porque não fui capaz
de vencer as palavras,
nem os versos que me manipulam
feito joguete das emoções humanas
e me afundam na imensidão
de mares egos literários

Estou vencido e humilhado
pelo ato quase espiritual
dos fatos que se escrevem por mim

Fui nocauteado pelo desejo
supremo e incerto da tradução
da sua língua na minha língua,
da sua linguagem pela minha arte,
escrevo a palavra transformação

Condenado ao conformismo
de tentativas lindas
que não bastarão

E peço desculpa,
pela usurpação
da matéria
simbólitica
e operária
da reconstrução dos sintagmas
perdão, poeta, pois não
não é escritor de diversão

Dói também ser imortal
dando às palavras a própria vida,
e que vida seria
se não só do poeta,
é quase um pacto diabólico
de palavras pelas emoções humanas
que nem sempre se pedem permissão…