Voltei sem ir

Por confiar na vida,
no que eu sinto,
e no que sei ser verdade,
confio em mim também

Confio em você
toda vez que me diz,
com a sinceridade nos olhos,
com a expressão da verdade,
mudamos de vida

E que bom quando você me inclui no plural,
e eu penso em você em dois, em numeral,
quando a preocupação é de carinho
que a verdade do amor que cuida, conhece

E quem ama de verdade, não precisa de prece,
porque já se guia no bem, e você sempre será, meu bem,
e eu sei que sempre me quis, seu bem, mesmo sem saber como agir

Por mais que tudo mude de rumo,
nossas curvas se encontram de novo,
é um ir e vir, arrumo desculpa para partir
sabendo que ali na frente tem sempre placa de retorno

Retorno, dolorido e culposo,
voltei pra sua vida de novo,
e de novo, e de novo

Porque não há saída para o outro
que encontra o amor, não há;
é um eterno conquistar-se no outro,
e no outro se deixar ir um pouco,
de novo, de novo e de novo…

Interior

De longe eu vim,
já fui aristocrata,
já fui o estopim,
no passado, já fui querubim,
tropecei na vida, e desci

Já reencarnei escravocrata,
até mesmo a senzala, açoita-me;
já fui mulher vendida,
eu já puni nas minhas memórias
embaralhadas

Eu já vendi de frutas a furtos,
renasci, amei poucas mulheres,
mesmo rapazes, quando não escondi;
aos meus ombros, o verme dos vulgares,
já fui cálice, matei na ditadura,
fui do céu ao mais cruel das agruras,
antes de te ditar canduras para refrescar o espírito,
antes de te ditar os velhos mitos da vida,
ser seu mentor, eu vivi

E que propriedade você tem de ser ponte,
entre o que eu fui e hoje o que você é;
quanta credibilidade nessa experiência terrena,
privada de coisas tão pequenas da carne,
um ser de verdade, posto à prova,
não prove nada, abençoe, acalme-se,
refaça-se, seu interior;
interior, seu melhor, o melhor termo,
sem escalas de ser