Sem norte

Meu amigo,
tanta gente precisando de um abraço,
de um ouvido, de um tempo, de falar sem ser interrompido

Meu amigo,
tanta gente carente,
tem tudo, saúde, saudade…
cê parte, amigo,
elas ficam sem alento

Meu amigo,
oração é unguento
para o tormento d’alma

Calma, meu amigo,
que a vida é curta,
sê disponível,
abrigo pra quem precisa viver

É a angústia doendo,
é o ressentimento,
é o mal entendido,
é o coração fervendo,
o sentido que está se perdendo…

Amigo, há ponte do outro lado de nós,
são tantos, algoz, de tantos…
é tanta certeza na certeza de cada um,
é o perigo de não sermos um

Amigo, tenha tempo para os lamentos,
dos muitos que têm muito e não são nada,
vida cheia de vazios que não preenchem nada

A cada palavra que você escreve, a cada mensagem,
a cada conversa simples do que precisa ser dito,
toda vez que você mergulha no íntimo de alguém,
você tem acesso a um outro mundo que nesse mundo
poucos alcançam

Tão cheios de si, com tantas máscaras, tantas capas,
tantas marcas, subterfúgios, você, desnuda profundo,
o núcleo primeiro, a potência do ser que deixou de ser
para carregar o que não é…

Você não é daqui, ajuda quem acha que é daqui, a progredir.
Você sabe que isso passa, a vida é curta, sabe da loucura da vida…
da finitude desse tempo terreno, conhece a força de outros astros,
ajuda a criar laços que retirem os nós, ajude-nos;
a não criar mais mundos de aprendizado, como o Planeta Terra.

Tão pesado, tão denso, tormento, de dor e de imenso sofrimento,
nós não o queremos, nem você, mas deixa o recado, deixa a oração,
deixa a mão estendida, deixa a sua vida a serviço de outras vidas,
outras vidas, sem norte.