No vácuo do tempo
tudo é um estado parado
que não verso mais,
nem de frente se encara
É um movimento solto no tempo-espaço,
é opaco, e sem rumo, o vazio do tempo,
um nada, um vão, é mar seco, e praia sem vento
É o vácuo do sentido literal,
da palavra que não vê fundamento,
é o eco do ethos humano,
a brecha do discurso,
da legislação e do momento
No vácuo do tempo,
sentimento confuso,
não sente nada
É uma faca de dois gumes não afiada,
é a certeza na dúvida, o marasmo,
um fantasma, é a falta de sorte,
é o contínuo não-fim da estrada
O vácuo do tempo é o horizonte no avesso
que se vê de longe, mas, não se sabe o preço.
É a chegada que a gente temia,
o não saber se chegaria… que, de fato, se concretiza
– quando se chega, e não se chega onde –
É o vazio da caneta,
o nada do homem
que nem homem sabe se é
O ego que se diluiu,
o desconforto da falta de fé,
é o vento que ganha espaço,
o nada é o combustível do pé, o nitro
Do avião quebrando a barreira do som,
e o seu som que não me chega ao ouvido.
É o vácuo do tempo,
das embalagens fechadas,
é o nada que quando aberto,
explode na cara
É o termo não descoberto,
o vácuo do significado,
é o sem nexo do movimento,
passo em falso na escada
Perder tudo que não se teve,
o verbo não rasgado, o vácuo do mundo
é o sentido ter mudado, sem rumo
É o amigo que brinca e não toca na mão,
é a sua mão que não segura mais a minha,
o princípio da contradição
O pior dos vácuos da vida,
não é o vacilo que se fez ocupar,
não é o silêncio que fala muito,
é aquele que eu não consigo mais amar…