Poema profundo

Debata-se
Se acaso não se importa,
meu verso abriu nova porta
no sentido de ser poeta

Não é mais assim tão romântico,
como era feito eu, de esperança, num cântico
de amor, eu diria; se platônico, não sei…
A bem da verdade, dava para realizar,
se quisesse.

Mas, agora, na casa em que essa janela se encosta,
outra fresta de luz insiste em me impulsionar.
É a profissão que me cerca, a árdua labuta de quimera,
é o suor, é o salário, é a conta paga,
é o compromisso assumido e cumprido,
palavra dita e fiel, há realidade.

Meu poema, meu bem, tem outro tom,
tem outro cheiro, outro vigor,
o calor subjetivo é concreto,
o pensamento é reto, trocou tudo:
desde o membro ereto, a língua quente

Hoje é tudo simples, e plausível,
palpável, é verdade… que não divaga mais…

Ademais, o vento mudou de rumo;
o coração mudou de prumo;
a alma, mudou de rota…

Ela agora é porta entreaberta,
nem desistiu de sonhar,
nem acordou para realidade,
mas, sabe, desde então, aceitar visita real
e da plebe, não sei de qual mundo mais bebe
– se do amor ou do mundo –
em todos, porém, afoga

Porta ora fechada, ora entreaberta,
afoga-se, sim, queimando a garganta,
inundando o corpo, rasgando as ilusões,
abrindo os olhos da paixão para o cansaço
de ser do mundo de lá – das ideias –
para ser do mundo de cá – das matérias –

Debate-se o novo poema.
Mergulha-se em estrofe.
Afunda-se em cada verso.

Provas

Diga a todos os seus, o seguinte:
adiante, não esqueçam da fé
seja no que quiser, diga a todos:
promova a fé, a esperança,
a autoestima, a confiança

Diga a todos os seus, o seguinte:
não é tempo de tristeza, ou de apatia,
não desacreditem na vida…
porque já houve tempo bom,
o melhor você já viveu e provou,
eis a prova que tanto pedem,
lembrem-se do passado

Mais feliz e mais sereno,
mais alegre e abundante,
lembrem-se dos sorrisos
e da fartura, da fortuna dos homens
não me vale um tostão, não é isso, não

A matéria é boa na matéria,
mas, é hora do espiritual,
é tempo de elevação,
da transição,
da transcendência…
paciência

Elevar-se não é simples, meu caro,
e não se compra, nem se vende,
como insistem em seus templos,
até os ditos mais humildes…
o mais simples de tudo
é compreender que é na falta de tudo
que se faz, do nada, um ser melhor

Visita seus sentimentos,
e seus defeitos, os seus traumas,
os seus medos, a sua vida inteira…
não precisa do corpo belo,
isso é passageiro,
a alma, verdadeira,
conhecerá várias matérias
afim de aprender muitos conteúdos
em várias formas, situações e frentes

Deus é onisciente porque reencarnou
em todas as experiências e viveu
a máxima da vivência, na morte plena;
e, ainda assim, se fez vivo na carne
para mostrar – aos seus olhos –
e se fez vivo – na alma eterna –
para mostrar a sua capacidade
de também ser alma eterna

Poesia de homem

Esse poema
Não é sobre o seu sorriso
nem sobre a sua aparência
não é sobre ser bonito
nem sobre coincidências

Esse poema
Não é sobre ser amigo
ou sobre ser romântico
não é sobre os mimos
nem os ritos de concordância

Esse poema
não fala da sua pele branca
ou dos reflexos trêmulos dos lábios
ou da rosa na sua boca
não é sobre o sussurro no ouvido
nem sobre a língua no pescoço

Esse poema
não é nenhum erotismo
daquele mais íntimo ou marginal,
pode ter o falo comprido,
o fardo cumprido, e coisa e tal

Esse poema não é sobre a carne
nem sobre o vício, nem meu próprio umbigo
coisa do homem-animal

Esse poema
vai além do bonito,
da arte, do poema,
da palavra, da fala,
da escuta, da escultura,
da imagem, da imaginação

Esse poema
vai além do pensamento
e da distância,
vai além da ignorância,
do sentimento, do momento
e do vácuo do tempo
que nos faz mortal

Esse poema
é a referência
do mundano mudado
é simples por si só
e complexo por nós dois
e depois, te digo mais

Esse poema
é a liberdade
sublime e adorável
da regra desnecessária
da tentativa sumária de dizer
e vou dizer, que o paradigma não é mais complicado

Esse poema
é muda, é semente,
semente que só a gente
pode ver brotar,
só a gente pode cuidar
e ver paisagem diferente

Esse poema é para nova geração
de homens que têm coragem de ser poesia,
de ser pétala delicada a cair de manhãzinha

Esse poema é para a nova geração de sentimento
do homem que tem liberdade pra dizer a outro homem
com capacidade, “amo sem medida outro homem
para além da masculinidade”

Ao meu tempo

Tem tempo que o tempo não me visita mais,
que a poesia não me visita mais,
que a inspiração não me visita mais

Tempo que eu não me dedico ao verso,
e, se verso, é para passar ao tempo
que eu tenho tempo pra receber qualquer afago

Afeto, ao tempo eu pedi,
e veio você, em tempo, pra me fazer refletir…
reflexo de tanto tempo sem o uso das palavras,
meu poema emudecido ficou de boca fechada
por não ter nada a dizer

Até que, mesmo assim, a vida, dona de tudo,
do tempo, inclusive, disse-me: Venha por aqui.
Há tudo no seu tempo, e eu te apresento,
o tempo de sorrir

Seu nome, eu prefiro guardar no tempo,
e com o tempo, te descobrir.
Pudera eu ter tempo, e com mais tempo,
não te deixar partir,
sigo em silêncio, dizendo tanto
que ao seu encontro, não me deixe mentir.

Tente, por todo tempo do mundo,
revelar quantos tempos eu escrevi
pra me aproveitar justamente – do tempo –
pra te dizer que eu te quero aqui.

Regressão

E se eu, antes de pedir ajuda da espiritualidade,
do além-matéria, me lembrasse, sobremaneira,
de que eu, hoje, sou o além-matéria, a própria espiritualidade,
de séculos atrás, antes do agora?

E se eu, antes de pedir auxílio das esferas superiores,
antes de desejar uma direção, orientação do guia,
lembrasse, que já estou em outro caminho diferente,
bem distante do que já trilhei um dia, séculos antes?

Ah, se eu regredisse no meu próprio ser,
nessa própria vida, quanto já aprendi!
Quantos percalços se fizeram dolorosos,
quanta lágrima, quanta angústia, eu venci!

Se eu me lembrasse, nessa vida mesmo – só nessa –
do quanto desejei estar aqui para me redimir de erros imperdoáveis de outrora, ah!
Eu, não me espantaria, se relembrasse o quanto já deixei a punição máxima,
por tantos irmãos que, anteriormente, eu me fiz protagonista no papel de algoz!

Como eu sou tolo! Auxiliando-me em vida, querendo a outra vida, além da matéria,
quero palavra amiga de um guia, espírito de outro lado, de qual lado?
Não existe lado para experiência!

Eu sou a própria ajuda do futuro do meu próprio ontem,
perdoem-me os outros amigos, os meus amigos espirituais,
pelas horas de lamentação, de muitas frustrações não entendidas,
ocupando-me de perturbar outras vidas, lidas de outro ângulo,
quando eu tenho a minha própria…
de ontem, de hoje, de agora, e de amanhã pra cuidar

Eu não quero regressão espiritual,
não quero regredir nessa vida para lembrar de outra,
nem quero antecipar a regressão do futuro para esse instante,
nesse instante, paz e bem, e vamos lá!

Perdão ao tempo que se perdeu no tempo
porque eu não tive tempo para me cuidar…

Resíduos da divindade

Onde mora a paz
senão dentro de mim,
pelo meu caminho,
no meu passo,
pela minha fala,
voz mansa
que alcança
a alma do outro

Onde mora a paz,
senão no meu progresso,
não é no templo,
na circunstância,
no momento

A minha paz,
conhece os nós da vida,
e se diverte,
te recepciona e te recebe
no abraço apertado,
no olhar que ilumina

Irradia o caminho,
a minha paz é um ponto de luz,
não necessita de confirmação,
a minha paz é uma situação
do estado de espírito,
Santo.

Eu sou morada de nada,
daquilo que não se vê,
eu sou morada de reflexos,
raios, feixes de ser
resíduos da divindade

Morte ao poeta servidor público

A moeda matou o poeta,
a inflação, o preço do combustível,
o índice dos alimentos, puxaram a aceleração da recaída,
a alta do padrão de desumanidade, é parte da precificação,
a morte do poeta deu uma aquecida.

A taxa de juros mesmo quando abaixa, corrói;
quando tudo está no controle absoluto do status quo,
a morte do poeta se faz necessária, nessa ancestral hipocrisia,
coisa lendária até, eu diria…

Ah, o poeta que sente e não fala,
a mordaça é um pano de fundo
para uma faca afiada, é guiso,
é rito sumário de um Estado sem rumo,
arruma o funeral do poeta

Que não vê mais graça
no griz dos processos manipulados,
no que é remendado aos fiapos
para manter o orgulho daquele que não confessa,
o fracasso. Não é do poeta, nem da poesia, não.

É do sistema, é do agente público,
do consenso mútuo daquele que não pensa,
só segue sem norte, sem sul, sem leste
farol oeste de patéticas decisões

Daqueles que se vendem por tudo,
funções, gestões sem prumo com a lei,
é morte ao poeta, ao intelecto pateta
de tantos mestres e doutores,
que rasgam seus diplomas, que adoecem:
alugando a dignidade e a honradez

Desce de vez, o caixão
Não sei ser cidadão na cidade
dos muitos sins, poucos nãos, vários talvez,
é o revés do não sei, do não desgaste,
que rasga a parte do poema que versaria sobre princípio,
mas, resolveu falar do fim.

De todos nós, para todos nós,
a se confirmar, ad referendar
a livre manifestação artística
não padece no processo administrativo disciplinar.

Vácuo

No vácuo do tempo
tudo é um estado parado
que não verso mais,
nem de frente se encara

É um movimento solto no tempo-espaço,
é opaco, e sem rumo, o vazio do tempo,
um nada, um vão, é mar seco, e praia sem vento

É o vácuo do sentido literal,
da palavra que não vê fundamento,
é o eco do ethos humano,
a brecha do discurso,
da legislação e do momento

No vácuo do tempo,
sentimento confuso,
não sente nada

É uma faca de dois gumes não afiada,
é a certeza na dúvida, o marasmo,
um fantasma, é a falta de sorte,
é o contínuo não-fim da estrada

O vácuo do tempo é o horizonte no avesso
que se vê de longe, mas, não se sabe o preço.
É a chegada que a gente temia,
o não saber se chegaria… que, de fato, se concretiza
– quando se chega, e não se chega onde –

É o vazio da caneta,
o nada do homem
que nem homem sabe se é

O ego que se diluiu,
o desconforto da falta de fé,
é o vento que ganha espaço,
o nada é o combustível do pé, o nitro
Do avião quebrando a barreira do som,
e o seu som que não me chega ao ouvido.

É o vácuo do tempo,
das embalagens fechadas,
é o nada que quando aberto,
explode na cara

É o termo não descoberto,
o vácuo do significado,
é o sem nexo do movimento,
passo em falso na escada

Perder tudo que não se teve,
o verbo não rasgado, o vácuo do mundo
é o sentido ter mudado, sem rumo

É o amigo que brinca e não toca na mão,
é a sua mão que não segura mais a minha,
o princípio da contradição

O pior dos vácuos da vida,
não é o vacilo que se fez ocupar,
não é o silêncio que fala muito,
é aquele que eu não consigo mais amar…

Lastro

Meu ouvido não é absoluto,
mas, sem dúvida, o meu silêncio fala muito,
todas as notas, todos os sons, e melodias

Na minha concentração mora uma ousadia,
mora um mergulho tão profundo e íntimo,
e qualquer vento, qualquer tempo,
assusta

Eu me jogo no lastro do abismo,
e me vigio, e me acho, mesmo
caído e em pedaços

Todos os meus sensores humanos
confundem-se com os meus sentires harmônicos,
e neste momento, paira o indivisível,
e eu saio de mim para provar que não sou
isso daqui que se vê

Não ao tom de voz,
nem essa face cretina,
nem esse tom de pele,
ou a profissão escolhida,
não sou esse nome que você convoca,
nem essa barba postiça,
é o indivisível do corpo e da mente,
o sujeito que você chama de gente,
e eu não sei classificar…

Decodificar

Eu sou a luz,
o que não se vê,
aquilo que tem fluidez

Eu sou o livre ser,
não sei ser matéria,
que me perdoe o invólucro
meu material não cabe aqui

Sou sim, antes de tudo,
o vazio do nada, o imaterial
que escapa sem dar ciência
para a ciência, o que ainda será,
o não aberto…

O descoberto em parte
com uma pequena parcela
do verbo sentir

Que se modifica e se intensifica,
ademais, o que se pode dizer?

Não sou aquele que se pode dizer
sobre o hoje do ontem e do amanhã
dessa vida…

Eu sou luz que se encaminha
para o escuro de pequenos nós do tempo,
ainda que me sinta só no espaço,
no espaço-tempo, sou o que ainda não veio
a canto nenhum do pensar
pois, a própria energia,
do primeiro ser,
não se sabe
decodificar

Tempo de…

O pós-moderno,
o tão careta,
tão sem nexo,
tinta na caneta

Bauman com o líquido…
o século XXI tão esperado,
frágil, raso, falho…

Teoria do centro do ego,
desejo que ganhou potência de ato
para deixar sentimentos, certezas,
beleza, relações tão firmes, hoje…
incapazes de se sustentar

Não dá pra deixar pra lá,
que passe batido…
acidente de percurso
que a alma sofreu

Labirinto de sensações, o talvez;
ganhou poderes tão fantásticos, a dúvida;
tem contornos tão fortes, a água;
Tudo escorre entre os dedos,
os laços não existem mais, tão frouxos…

Saudade dos amores rígidos,
eu… falo, que erguido, tinha direção,
hoje não…

Tempo de reticências, do afeto afetado,
das paixões de ontem tão loucas, tão cegas, e fortes,
tão certas, com objetivos e metas, e com sorte, com tempo;
hoje, mero estalo.

O rio de Heráclito no pós-homem da pós-verdade,
afoga todos nós em amores líquidos evaporados…

Lego engano

Eu não quero ter as coisas que você passou a ser
um número na agenda que não me liga,
uma mensagem eletrônica que não me chega,
uma mensagem de voz que não aparece no alerta

É certa essa minha decisão de não ser mais
plateia para o seu espetáculo itinerante
que vem, e some quando bem entende
cansei de lhe dizer que sou gente,
mereço tratamento vip

Eu não quero ter mais as coisas que você passou a ser,
um livro, um filme, relógio, impróprio para a alma,
um ser humano que pede calma, pede tempo
eu não perco mais tempo com panos simples,
camisa, cueca  que você pediu,
papel que você escreveu,
poema que se arriscou a fazer

Risquei tudo, rasguei, não troco mais likes
é parte do meu livre arbítrio que cometeu suicídio
e queria se trancafiar nas gaiolas de um perverso amor

Seus desenhos já não me emocionam mais,
músicas já voltaram ao seu significado de origem,
não agridem mais meu coração de saudade

Reiniciei os meus pedaços, tão quebradiços, você diria;
que ironia, tenho que dar risada, meu coração não é nada disso,
não é como antigos quebra-cabeças, não tem mais problema,
meu sentimento é rima em tantos versos,
meus sentimentos foram renovados….

Agora são legos, legos que as crianças brincam e se divertem
eu me reparto, encaixo, monto e me desmonto, e hoje…
minhas peças voltam à caixa
porque eu renego, tudo e por completo
caixinha de egos, leigos, ecos, legos.

Segundo dia

Para Thaís Almeida, amiga e colega de trabalho da Gestão de Pessoas/Reitoria do IFFLUMINENSE.

Acima das futilidades mundanas
você, figura humana;
acima das tolices da matéria
pretérita de outra existência,
você, essência que apraz;

Acima do momento, escassez do ser
você sabe ser, antever o que não se pode dizer,
cansada do sou, do eu: é o meu pensamento também.

Amém ao futuro
que antes, o passado,
– antes desse futuro -,
no ontem, cê fonte
de esperança

Pequena ruptura
meus versos apontam
na alegria, na coragem,
na ousadia, cansaço de vaidade

Hoje e até agora, você não entendeu
porque a vida, ou Deus – como quiser –
te fez mulher, mãe da Ana Letícia,
pai e mãe dos seus, pai e mãe,
amiga de tantos amigos em comum

Incomum e sem pretexto,
meus versos – antes tão corriqueiros –
retornaram ao grande defeito de ser poeta:

É sentimento em alerta, que você vai dizer: Presente.
Não, presente, não. Que você sabe, mais do que ninguém:
Data nunca me obrigou a nada, sem muito motivo, é Graça, de graça,
como sempre faço.

O correto, ainda que não soubéssemos lá atrás,
é chamar mais um ano de vida, de vida corrida e corajosa,
de um imenso e inenarrável privilégio.

Como tudo que passa um dia na mente da gente,
já veio tanta história… que alegria poder narrar trajetória
que os anos propuseram e você, aceitando o mistério da vida,
mudou de rumo, de rota, de carreira, de rito, de ritmo, de rima,
amiga de consideração, que não passa, transpassa essa dificuldade do ser

Há de ser agora, e novamente, no segundo dia de maio,
um calendário para a vida toda, para toda sorte
e para qualquer missão.

Dá paz

De vez em quando eu me dou conta
que as contas não importam tanto,
nem tantos egos que se digladiam
para ganhar mais um quinhão de mixaria,
furtando, sim, as oportunidades de quem, ainda,
nada tem.

Certo de que cada um vai se cobrar, no futuro,
os juros da própria consciência…
Não perco o meu ponto de referência, a eternidade,
a infinitude de ser um pequeno nada de muitos segundos

De vez em quando o poder humano seduz,
loucura humana de se achar acima da própria alma,
perseguindo o mínimo dos excessos,
preservando o mínimo de decência,
ainda que nada possa fazer, ou quase nada,
Paciência

Para suportar a energia pesada,
o desânimo, a falsidade e a desavença velada,
rumos que a gente não quer,
é preciso respeitar,
Paciência.

A gente só pede o embate,
o compromisso, a energia,
só nos casos em que a sua vida,
de outras vidas sem saída
estiverem sendo prejudicadas
com a última porta fechada

Fora isso, ademais, suporta,
é horda que não sabe o que faz,
nem o que quer…

Podem até ver futuro,
mas, asseguro, não percebem os impactos do caminho,
Paciência.

Para não entrar nas vielas que não valem nada,
nos atalhos do dinheiro fácil que não te compra,
mas, que te vendem.

Não entre, não vale a pena.
A sua estrada é estreita e de muitos desafios,
mas, você sabe o caminho da luz

Muitos pedem carona, não embarcam
nas suas lutas, não querem ajustar nada.
É fácil sorrir e pegar outro vagão
quando o seu desgovernar

Quem te orienta é o céu,
deixem os homens serem réus
e os seus próprios juízes,
assiste sem culpa, sepulta…

A tristeza não vem de você
quando você não intervém, não te cabe,
não é isso que se pede.

Pede, pede prece, por tanta gente,
que tristes – eles – te cobrem
com o cobre que lutaram tanto pra ter
e não reluz

É luz que supera o agora,
atravessa a sua vida,
te revigora.

É luz que se propaga, e não o som.
O que reverbera de verdade é o que você sabe fazer melhor.
Paciência

Espírito que entra no umbral não pode se deixar levar,
espírito que entra no conflito, na sombra, não pode apagar
espírito que cansa de bater as asas, não pode matar a pomba branca da paz,
dá paz, ciência do espírito.

Vambora

Quem é que te privou do sonho,
que te desanimou um tanto,
quem te fez perder o brilho,
a cor, o tom, o som, a música?

Quem ou o quê, me diga, você!
Foi capaz de esvaziar seus projetos,
parar seu entusiasmo, sua alegria…

Qual sistema, qual forma de organização
desgovernou seus objetivos, quem te fez
perseguido pelo desânimo, pelo fracasso?

Quem é te desfez o direito à felicidade,
tirou o sorriso que você tinha,
tão lindo, tão cheio de vida?

Se for a conta, pague.
Se for o relógio, pare.
Se for o ódio, ame.
Se for decepção, ampare.
Se for o dinheiro, guarde.
Se for a paixão, termine.
Se for a opinião, surdo.
Se for compaixão, muda.
Se for o cansaço, fale.
Se for trabalho, serve.
Se for oração, prece.

Quem é que te deixou de cabeça baixa, ergue!
Você não sai de casa para ser plebe,
foi-se o tempo em que o humano
comprava e vendia o humano.
Se não fisicamente, agora então, menosQ

Menos entrega, menos derrota,
menos julgamento, menos portas fechada.

Sê você e se comporta
como você foi feito pra ser
e incorpora!

O poder que você tem, e jogou fora.
Não deixa ninguém te ditar a vida torta,
você sabe a reta. Pega a reta, a minha mão
e vambora!

Oração de amor

Hoje os meus anjos da guarda
foram dispensados do seu serviço habitual
porque eu estou cercado e protegido pelas esferas superiores

Por um mero pedido do Altíssimo
meus amigos foram para uma missão especial,
atendendo aos seus pedidos de oração

Você que pediu força, paciência, pediu saúde,
pediu dinheiro, pediu clemência, pediu saída,
pediu conforto, pediu, ainda, socorro;
você que pediu compaixão, pediu consolo,
pediu carinho, pediu amigo, que cessasse o choro

Toma emprestado, toma meu cuidado,
mesmo afastado, seu próximo porto;
estou em outra dimensão, outro local,
tenho outra energia, meu guia espiritual
me fez um pedido considerável…

Que eu ficasse calado, parado,
seria eu guardado e protegido
para que os meus aliados fossem atender
a uma prece sincera que você fizera ao Pai

Não dando conta, os seus amigos de outras vidas,
aqui da Colônia, cada um cedeu o que podia,
uns energias, outros a oração, generosidade e boa-fé

Um seleto grupo que te ama, emprestou a própria energia
que o envolve e o protege agora, nada mais são – não se espante –
que anjos auxiliares, milhares, milhares!

Pararam perto, bem próximo, enquanto você ora,
enquanto você sonha, enquanto você pede,
tudo tem mudado, seu corpo, sua mente, seu espírito,
tudo ficou fluido e líquido de energia, de cuidado, de amor

Tem continuação

Aquele par de canetas que você me deu,
ou aquele DVD que não toca mais por medo,
por medo da memória que o refrão vai me lembrar,
ou aquela camisa que hoje aperta o peito,
o nosso amor azul virou esferográfico preto

Nem vou falar do nosso artista favorito,
ou da emoção de encontrar você sem combinar,
o filme que a gente não terminou de assistir,
de tão ruim nos fez rir – de chorar – o dia inteiro

São essas pequenas coisas, as grandes coisas
que me marcam tão profundamente,
os seus presentes do passado que caminham comigo,
lembrando que a gente continua unido no futuro
mesmo sem nos vermos

São fotos que a gente tirou e eu já retirei
do plano de fundo do celular para não admitir
que o pano de fundo da minha vida é você

Não tenho mais seu número na agenda,
mas, se eu tiver uma recaída,
ou uma dor forte de saudade for contraída,
eu ainda sei discar, sei falar seu nome completo,
e mesmo que não esteja perto, sei sua data de nascimento,
seu signo e ascendência, mesmo que os amigos me digam
que perdi a decência, minha consciência ainda diz
os planos que eu fiz, ainda precisam de conclusão

Esse amor é uma confusão sem sentido,
eu sei que sofro e vivo um vício
feito peça de teatro que cancelamos de última hora

É próprio de quem sente que a palavra dita da boca pra fora,
a alma não registra, que você foi embora, porque tudo ficou,
permaneceu, dilacerou

Em memória fotográfica, não adianta rasgar camisa,
guardar em caixas os enfeites de decoração,
o elefante que fica na estante me lembra:
as coisas queimam em física,
mas, a nossa história tem continuação.

Estabilidade espiritual

Não precisa testar minha fé
para ter a certeza de que eu confio em Deus.
Pare de provocar o próximo, testando a paciência
pois, Cristo também se irritava com causas injustas

Nós não vamos admitir perturbação da paz
porque isso desequilibra a energia do mundo,
não dá mais para banalizar o livre arbítrio
com seu cinismo, com a sua perseguição

Protegeremos tanto quanto for possível
o seu dito inimigo que nada te fez.
Acalma o seu pensar odioso
que um Deus glorioso anda junto com o justo
e fiel fervoroso

Porque aquele que crê em prática,
abarca a Palavra na intimidade,
mesmo que erre no conjugar dos termos,
a vida, em zelo, abençoa

Mais vale o caminho certo, duvidoso,
guiado pelos dois mundos unidos
do que aquele próspero de uma via só,
que dura pouco.

Poemicídio

Eu sou um artista,
admita que você não gosta de mim.
Porque eu não me importo,
já disse isso na sua cara

Eu nasci pra incomodar,
pra transgredir, pra questionar,
para acusar e para denunciar

O imposto não me serve,
em nenhuma semântica,
a minha palavra é satânica
só pra chocar o senso comum

Minha arte incomum
não tem rabo preso,
não deve nada a ninguém

Quando eu falo e te desconcerto,
você vai me rotular de qualquer coisa:
de louco, intransigente, imaturo

Ora, a novidade sempre vem verde,
o mundo mais justo não caminha junto
com tudo aquilo que você abre mão e cede

Seus ideais, suas metas, seus sonhos e objetivos.

Em algum momento, você foi abandonando um fragmento do futuro
e, agora, se sente constrangido.

Vendeu ao capital, à sobrevivência,
ao status, à aparência, vendeu à qualidade de vida,
à estabilidade material:
vendeu para conquistar tudo,
e não ter nada

Para se dar conta na estrada
que o primeiro que questionar o seu sonho
é bravata de adolescente

Que nada,
é caráter,
é ter norte e rumo
é perseguir com clareza algo certo
e te deixar, incerto, no escuro

Não adianta mentir em hipocrisia
que defende os animais e ter um cachorro de estimação.
Não adianta se dizer contra a corrupção
e calar quando convém e ler tudo, menos a nota de rodapé.

Desculpa, não adianta manobrar a regra quando vale a pena,
a arte sincera sente pena, e não se cala.
A palavra não precisa ser dita para ter voz,
e arte ganha vida quando se percebe suicida para nós.

De já, vi

Eu tropecei dentro de mim
e caí por cima dos meus egos
sim, são múltiplos
para cada grupo.

Contudo, todos reconhecem
um mesmo eu

Incrédulo, cético,
sério, vivo,
aqueles olhos fundos
que você não tem coragem de encarar

São visões de mundo, a de todos vocês,
que já não sabem por onde olham,
e eu digo: por aqui

Porque caí dentro de mim,
mergulhei em queda livre!

Pode passar um filme na sua mente

A lua não mente no céu,
está lá forte e decidida
– para alguns recaída –
minha amiga

Dentro de mim
descobri
que consigo me ter,
consigo me ver para além,
também para fora

Sei lidar com a minha presença,
não pedi ausência, sorrio.
E me contento, contemplo
o mundo a minha volta,
e sorrio (em paz)

Minha vida não me incomoda
vi meus fantasmas e está tudo bem.
Eles me ajudam a psicografar
aquilo que eu acho que vem do lado de lá
na verdade, eu já vivi, sou o mesmo eu
déja vu

O ontem da vida passada,
repassada nessa vida,
parece futuro

E quando eu vejo o futuro de outrora
eu agradeço, já conheço minha história.

Pra continuar

Eu estou leve como a folha que segue o vento,
estou simples como o bom dia de uma criança que aprendeu, ontem, a falar,
estou longe dos meus limites, estou livre, com muito ainda a caminhar,
eu estou doce como você sempre quis que eu fosse, gentil e delicado,
eu falo baixo para não te acordar.

Eu estou ouvindo o seu sono, e te contemplando pra te abençoar,
eu estou aqui sorrindo, pra vida e para tudo que conjugue o verbo amar,
a paz que nos une, imune ao tempo e ao destino, sou servo, sacerdote e peregrino;

Estou um menino num corpo grande, sou filho do filme com pipoca e sala,
me arrasta no meio da madrugada pra cama, e deposita um beijo leve na tez,
sou de sorte, cansei de ser viés; – do peso do amor sofrido, cansei de guerra de sentidos –
todo o amor cheio de esforço é um suplício que eu não quero mais pagar;

Sou seu algodão doce, sua bola de gude, sou seu romântico em quietude,
sinto vontade de te beijar, e que Deus nos ajude, nos ajude a não falhar,
deixa que eu falho, que eu erro para não desmerecer a paixão que eu sinto por você
e que quer continuar…

Santidade

Senhor,
esse ano eu vou
esperar os seus sinais,
vou esperar você dizer
onde eu devo ir,
que caminho,
se direita,
se esquerda.

Não me esquivo mais
a minha maneira.

Entrego o meu caminho,
entrego o meu plano,
entrego o meu sono,
e o meu cansaço

É nos seus braços
que eu vou descansar,
nem falar mais eu quero,
deixo você se pronunciar

Pisa aqui, atravessa lá,
por ali, vem por cá,
olha o perigo, desvia daqui a pouco

Quero o conforto das suas orientações,
não faço mais anotações para o futuro,
me ensina como agir, quando e como fazer,
eu vou viver segundo a sua vontade

Não há alarde, é tudo silêncio e quietude,
sou pequeno e minha incompletude
vem até você

Envolve o meu corpo de carne,
envolve o meu corpo de espírito
você é meu verdadeiro e único amigo
tem compaixão da sua metade,
vem com paixão me presentear
com santidade, com santidade, com santidade…

Três vias

Será que você se interessa por mim
além do texto do poema, da poesia?
será que você se interessa para o além do eu,
do eu-lírico, do poeta?

Será que eu posso,
será que eu tenho autoridade pra isso…
será que eu posso  combinar a obra com o autor?
Será que os meus escritos te inspiram para a vida?

A minha rima, será bendita, será que extrapola
a beleza do texto?
Será que eu e você, tem jeito?

O verso, é pretexto para o texto
que eu desejo resposta,
será que você pode dizer agora:

Lendo meus poemas,
algo mais aflora,
será que já passou pela sua cabeça,
as mesmas perguntas?

Será que a estrofe curta
vai te fazer entender que eu quero
alongar essa história?

Será que eu envio, será que chega ao destino,
serei eu seu melhor remetente, será que a gente
não extravia?

Será que essas vidas se entendem?
a sua, a minha, a literária,
será covardia
um contato de três vias?
inteiro tremor.

Discreto

Discretamente
eu não me aborreço com pouca coisa,
minha alma recolhida, não se acolheu em n’uma outra

Discretamente
vejo tudo passar
todos passam com seus egos,
seus belos rostos,
seus sorrisos frouxos,
seus corpos próprios
seus apegos falsos

Discretamente
minhas vestes não investem
em status social
tudo passa com seus perfumes,
grifes, meias, cuecas, calças,
capas, acatas os rótulos

Discretamente
a gente se sabota
com medo do sonho ser real,
e me desacata

Discretamente,
tudo ganha resignificado,
desdobrado em decepções
desajeitadas que se rasgam
dia a dia

Discretamente,
do jeito que eu te observo,
você não me olha,
não me importa se me vê

Discretamente,
eu vivo dando importância
ao que minha vida pede,
esse ser poeta
se interessa
pelo discreto da vida

Meu sorriso se completa
quando você passa por mim
e quando a gente se dá as costas
em direções opostas
discretas histórias…

Nenhuma cobrança

Você inventou muitas teorias
para se afirmar na prática,
tem muitas respostas na ponta da língua,
e doa hipocrisia de graça

Você sempre comenta que está vivendo a vida,
descobrindo o mundo, diz que está pronto pra tudo,
mas, eu sei que é só fala, fala, fala

De tudo: atitude, falta muito,
e não é nenhuma cobrança,
você insiste em se vender como adulto,
mas, se troca com criança

Faz caridade falsa e se ilude,
achando que pode ajudar o tempo inteiro,
não percebe que cercado por todos os lados,
os outros também, rasteiros, aprendem sós.

De tudo: atitude, falta muito,
e não é nenhuma cobrança,
você insiste em se vender como adulto,
e eu não compro confiança

Você inventou muitas teorias
para ter algum lugar social,
para ser aceito num grupo,
cercado de alguns perdidos teóricos,
pensando ser um achado

De tudo: atitude, falta muito,
e não é nenhuma cobrança,
tem gente que não quer sair da cela criada,
presídio de segurança máxima,
nem recebendo fiança