Multitalentos

É o que se espera
de todo artista
que ele domine o sentido da arte,
que saiba das palavras, das músicas,
das imagens, das obras-primas, das rimas,
cultura esculpida a la carte

Que compreenda a literatura,
a partitura, metades de tudo,
movimento do corpo e da mente,
disposição para a escrita
das várias formas de sentir a realidade

Ah, o artista, multitalentos da expressão humana,
disfarça o que é,
cria a realidade do outro,
causa empatia com a voz e com as mãos,
mimese de outras dimensões,
os traços da criação…

Institucional

Ainda tenho tempo para o poema,
– como se eu precisasse de tempo –
— o poema está em mim, o tempo todo —
para alguns poucos versos nesse final de dia,
movido a aprendizado e imensa alegria do aprender

Não sei você, mas eu sei observar,
tem coisas que eu preciso considerar,
nem sempre eu digo, nem sempre se sabe por mim,
mas, é preciso registrar:

As oportunidades multifacetadas que a vida me concede,
cercado de gente que sabe que sabe,
e sabendo que eu ainda tenho a saber,
não sei você, mas, meu verbo é agradecer

É por isso que eu aproveito, como a academia diz,
para beber de muitas águas, e eu não preciso fazer referência bibliográfica,
eu não preciso citar seus nomes, mas, ainda está em voga:

Seus ensinamentos, no futuro ainda, lá na frente,
me outorga competência, entendi o objeto da ciência da Educação Profissional,
ser aprendiz, ser artífice, ser técnico, ser professor, ser – depois de tudo –
convivência humana, na excepcionalidade que não ressalva,
mas, exalta toda a trajetória, o imenso legado institucional

Tributo às Letras

Rendo-me porque não fui capaz
de vencer as palavras,
nem os versos que me manipulam
feito joguete das emoções humanas
e me afundam na imensidão
de mares egos literários

Estou vencido e humilhado
pelo ato quase espiritual
dos fatos que se escrevem por mim

Fui nocauteado pelo desejo
supremo e incerto da tradução
da sua língua na minha língua,
da sua linguagem pela minha arte,
escrevo a palavra transformação

Condenado ao conformismo
de tentativas lindas
que não bastarão

E peço desculpa,
pela usurpação
da matéria
simbólitica
e operária
da reconstrução dos sintagmas
perdão, poeta, pois não
não é escritor de diversão

Dói também ser imortal
dando às palavras a própria vida,
e que vida seria
se não só do poeta,
é quase um pacto diabólico
de palavras pelas emoções humanas
que nem sempre se pedem permissão…

Habilidade com palavras

Para Ana Poltronieri pelos seus 50 anos de vida – Professora do curso de Licenciatura em Letras/Literaturas do Instituto Federal Fluminense – Entre a pausa do quarto semestre para conclusão de Administração/EaD

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E a gente trocou a sala de aula pelos corredores,
pelas presenças em eventos, pelo olá rapidinho,
trocamos a convivência diária futura
por breves encontros corriqueiros

Um poema aqui, um verso lá
a gente se conhece e se descobre
quase sem se falar

Virtual só pra quem não sente o que a gente compreende:
que o dia a dia é de fato aniversariante porque na etimologia
é o que se repete todos os anos, mas esse dia é diferente pra você…

Entre os riscos e a beleza do cotidiano,
todos nós ficamos, um dia, cansados dos desenganos
e, como saída, o poema: Sempre nos conectando…

Bem-aventurada seja sempre cada nova estrofe, sua quinta.
Felicidade sempre desde o verso zero, ainda virão nove antes de mudar:
Assim a é vida retratada, tão breve, tão ligeira
ainda a ser aproveitada…

Não há de ser mera impressão
se a sua sensibilidade encontrar com a minha
na contramão

Mais perto de uma nova vida do que da morte,
cabe ao poema eternizá-la por pura sorte
porque não traduz nem o mínimo da relação humana…

Pra quem pensava que eu conhecia pouco
pra quem lê e pra quem escreve:
habilidade com palavras, charada:

(Si[lê]n[cio)na]
[ins(e)screve]
(mono)grafia
de inúmeras teses

Acredita em polipoema?

Te amo, acredita?
Se não, pouco importa
O poema é a porta do amor,
mesmo que a campainha toque no truque,
vou abrir e sorrir feliz

Se não for assim, prefiro o exagero
de uma vida sem sentido, mas não,
eu não fui feito para alternativa,
não sei vagar sem poesia, romântico
do primeiro ao último verso
até debaixo para cima

Acima você viu o que ninguém diz,
amo até o seu não-amor, meu amor
porque transformo a dor em paixão
e pelo não, pelo sim, lê um pouco de mim,
diferente: pode ler esse verso de trás pra frente,
uma vez mais descubro outra função para poucas palavras

Te amo, acredita?
Se sim, obrigado pelo poema,
senão, pela poesia.

Tenta não amar?

Lê de qualquer forma,
como você quiser,
partindo de qualquer verso,
é só uma pequena dose de amor

Rabisco de poema

Tudo caminhando e eu sigo me perguntando
se posso invadir a sua vida, conhecê-la mais,
quem sabe, desestruturá-lo, tirar você do eixo

Não sei se eu mexo com seus alicerces,
se a minha manobra pode desmontá-lo,
serei eu o culpado de uma alma que padece?

Serei eu o pretensioso mestre
capaz de ensinar a um aprendiz
tão bem, também, sábio?

Eu causarei esse incômodo?
Serei eu mesmo o vilão que suponho,
capaz de te tirar do conforto aparente?

Temo correr o risco,
de eu ser pra você um risco,
arrisco ou te risco?

Reconhecimento de saberes, competências e sentimentos

Em homenagem à Hélia Coelho de Mello Cunha pelo seu legado pela Educação. Mais do que pelos três períodos durante o curso de Licenciatura em Letras/IF Fluminense pela disciplina de Leitura e Produção Textual I, II e III, mas por toda a trajetória de dedicação, comprometimento e amor que ganha uma nova fase.

(Poema inédito: com subtítulo: Averbação para magistério)

Aí eu fiquei pensando,
depois do anúncio feito,
depois do fato concreto,
já premeditado e dito,
naquilo que foi posto:

Quanta história, meu Deus,
está descansando, desacelerando,
quanta vida, quantas vidas modificadas:
A sua, a minha, gerações abençoadas

Privilégio da sabedoria não apenas transmitida,
mas interiorizada; aquele saber que transpassa
cadernos, frascos de tinta de caneta, celulares…
carbono que roda, pó de giz, quadro branco, vidro;
máquina de escrever, transparência, slide,
aqui, não faço jus nem a mera metade…

Por enquanto, o descompasso da inacreditável
(in)finitude do magistério; egoísmo de saudade…
Daquilo que passamos, histórias para contar;
tempo também que iria vir (talvez virá)

Tempo para julgar não tive
tempo para absorver não tive,
tempo para dizer não tive,
tempo para dimensionar não tive,
nem quero ter tempo para esses serviços

Não averbam no coração
as despedidas inconsoláveis
de um ciclo de artista
e do legado da arte

Nova via de poema
de quem segue o mesmo caminho,
mas não deu conta naqueles versos,
que, para você, vão além da vaidade,
brotando em desalinho

Aprendi, caminhando para a segunda metade:
ante os meus vinte e três poucos anos,
vou continuar venerando quem iniciou nos idos dezesseis
a luta sem pesar de uma paixão

Mestres e doutores, a hierarquia da educação não comporta
o que, afinal de contas, nós dois já sabemos:
Quando o amor pelo humano se agiganta,
eu beijei a sua mão, agradecendo à moda antiga,
aquela que deixou de ser professora para virar amiga,
até depois da aposentadoria,
até depois…

Além do gozo

Hoje descobri que o meu desejo por você
vem de outro canto do meu ser,
não do lado animal que reproduz
orgasmo, líquido espermático,
que frui

Meu prazer constante, a sensação do gozo sem fim,
vai subindo manso e cauteloso, como o desejo pouco
de tocar seu corpo, acariciar o rosto,
descobrir o seu toque e o seu cheiro

A forma como você fica sem graça e vermelho,
o contentamento dos seus pelos fora de controle,
circulação do sangue que não te obedece,
seus olhos fechados fundamentam a tese
da maçã do rosto que, elevada de vergonha,
sabe muito bem compreender a entrega que vence

Sei que o seu personagem não queria
demonstrar a fraqueza que um dia
sua alma desdobrou, eu sei e você sabe,
e confirmo pela arte, o que pela arte você esconde:

Seu desejo viciante pela mesma carne,
pelo que você já conhece no espelho,
mas deseja em outra pessoa, o mesmo jeito
de fazer carinho

E é isso que me sustenta,
não a loucura pelo ato animalesco
que coloca dois corpos em um leito,
mas o afago do apreço
delicadeza do começo
além da carne e do beijo

Boa leitura

Que te falta senão
a despreocupação do livro,
café amargo com história forte

Que te falta, leitora avulsa,
senão o volume dos grossos livros
presos com vinco, senhora
para acabar

Que te falta o descompromisso,
a graça, leveza das interrupções,
faltas na estante que carecem de preenchimento

E ainda assim não completar teu sentido

Sem hora para fechar, tua livraria favorita
recebe hoje qualquer escritor-artista,
e teu objetivo abaixo do braço
não tem obrigação nem prazo para autografar

Boa leitura

Cruz e fixo

Para Luiz Claudio Abreu – Instituto Federal Fluminense – Licenciatura em Letras pelas disciplinas de Trabalho e Educação; Psicologia da Educação e Teorias da Aprendizagem nos três semestres iniciais desta graduação.

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Não quero a palavra
como carícia sutil,
não quero a palavra
como vilã, nem nada
arma do enunciado

Resguardo o princípio do respeito
seu credo, seu batuque, seu apelo,
suas duas mãos juntas, seus lábios
unidos em orações decoradas

Não tenho a verdade isolada,
alicerçada em qualquer único Deus
oriente, ocidente ou medieval,
nem as perguntas filosóficas
que formaram a base da ciência
puderam me responder

Recorro à mitologia
ou às palavras bíblicas?
Elas se equivalem ao desconhecido?

Sou homem esculpindo arte
com base em que tipo de sujeito
de que material é feito meu espelho,
de onde eu me olho, sou perfeito?

Nos mitos, nas cavernas,
nas indagações aristotélicas,
nas águas do rio de Heráclito,
nas ruínas do Egito, hieróglifos,
achados romanos da força,
na Palavra que atravessa os séculos,
antes ou depois de Cristo

Cruz e fixo, dono da verdade?

Fases

Licenciatura em Letras/Literaturas. Instituto Federal Fluminense. Teoria da Literatura II. Barroco, Arcadismo e Romantismo.

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I

Sou louca, louca,
oca de Deus,
pouco racional
barroca do macaco
homem ancestral

O demônio vive um Deus avesso,
os santos cedem e não intercedem
nem para um, nem para outro
sou uma rouca que grita
na poesia vendida, vadia da prosa

Sou o pouco que me basta
e sou o basta que diz muito
sou a rima rica do adjetivo pobre,
a pobre que se limita à épica

II

Sou mimética e árcade,
cálice de um eu que não bebe,
não teme, apenas vive
sou, por mérito,
uma tola qualquer
vivendo a vida que der
reequilibrando paixão e fé

Sou o banco da praça
que a praga não deixou
grama fincar, sou a cama
sem flores, sem amada,
sem pudores, sou só

Sou o agora que o tempo não cessa,
sou a vela que não se apaga,
nem derrete, sou mente sem deleites
que vive o hoje debaixo da chuva
sou a filha da prostituta
que não sabe do destino da mãe,
filha da mãe, da avó

III

Sou daquela que não se toca
o futuro certo que não vivi,
sou, por todos esse pretérito
do amanhã, vilã de mim

Sou a toca do jabuti
que sonha, alto, tamanha
que corre de si

Sou a fase da idealização,
apaixonada, por que não,
por criação igual a mim!?

Sou a criança que conhece seu destino,
o vício da morte viva, condenada, vendida
que a sociedade vai reprimir já nas cantigas,
a qualquer toque, quem dera, eu encoste na sua virilha

Sou filha do pecado, natureza do lado errado
mas se quero alguém do lado, que seja você
a fuga dessa loucura padronizada
eu, eu, eu amo quem eu quiser,
mesmo que não agora, sou o ontem
e o amanhã, esperando o lado
que não se aconchega no divã

IV

Sou de toda um clássico
ato falho dos movimentos literários,
tive e tenho minhas fases, coisa de fera
que muda, que sonha, que cruza e urge

Sou do tempo do século dezesseis:
adolescente como a rima que se fez,
que não reconhece a própria voz, louca, barroca

Sou do tempo do século dezoito: centrada,
curtida da vida, da mocidade que amadurece
da planta que floresce e borda outro momento

Sou vigente, virgem do século dezenove,
apaixonada e densa que deseja e não pensa,
cabeça de vento, sou o tormento do desejo

Sou as fases que se fundem, se completam,
sou marginal das cronologias, sensual
e irresponsável nos movimentos…

Sou clássica
na atualidade,
sou dualidade
romântica e rude,
como o cuspe
que mata, envenena

Sou aquilo que funde, entrelaça,
sou ave que sobe e voa rasteira e rápida,
sou mulher que transpassa os moldes,
confundida, vivida, predominantemente,
cheguei aos vinte e um

Você que talvez não lembre

Para Marilia Siqueira. Leituras Orientadas I e II. Licenciatura em Letras/Literaturas. Instituto Federal Fluminense

Você que talvez não lembre,
mas me disse no primeiro semestre
que um dia eu ainda iria gostar de você.
Mesmo em tom de brincadeira, você tinha razão

Você que talvez não lembre,
mas me chamou de doido
por eu ter comprado
a obra completa de Camões.
É, eu fiquei mesmo
quando recebi a nota máxima no seminário,
ficando sem recuperação por um fio.

Você que hoje se recorda vivamente
da emoção que foi A metamorfose,
que fala tão abertamente
da condição humana,
do revés da gente

Você que sabe, completamente,
o que é ser o personagem professor,
que tem três tempos com o aluno:
O agora, a lembrança e a saudade

Você que retornou minha SMS imediatamente
preocupada com a minha saúde e mudou todos os seus planos,
e eu dou valor a isso, sinceramente.

Você que me disse que minha identificação com Kafka foi tamanha,
que não poderiam falar dele sem mim, e sabe melhor que ninguém:
Estou neste curso pela literatura,
minha profissão não é licenciatura

Você que soube neste quase um ano
mexer nos cronogramas tão corretos,
sinto muito se a gente não planeja
o “eu te amo”, quando você me vem com a surpresa
que os dois livros que mais me emocionam
vão ser postos à mesa, juntos

Estou longe de fechar minha emoção,
por isso as rosas se abrem para demonstrar
que tudo feito por mim eu agradeço
com fervor e paixão

Por que o que seria de um escritor sem livros,
e sem a melhor das orientações,
sem você, querida, pra me dar a mão?

Você que talvez não lembre…
Toma, é pra você nunca se esquecer!

Alcunha

Para Helia Coelho de Mello.  Leitura e Produção Textual
Licenciatura em Letras Literaturas de Língua Portuguesa. Instituto Federal Fluminense

—————————————

Bom mesmo é ser fã da sua amiga,
neste dia, ser fã da vida,
sabendo que posso contar
com mais que mestra,
mais que mãe do ensino,
filha do discurso

Bom mesmo é viver de poucas palavras
porque elas são condensadas e compactas
como o coração pequeno que bate forte,
mas é o que move todo o ser
que faz toda a alma infinita
caber nessa roupa pequenina do corpo

Bom mesmo é ser sempre calouro,
ser sempre um aprendiz admirador
dos seus tantos dissabores escondidos
na face, na idade que permite o conselho,
capaz de firmar na admiração a voz
de autoridade-não-autoritária

Essa poesia é arbitrária
para confessar nas minhas lacunas poéticas
a alcunha com outro significado,
um recado de delicadeza para
Helia Coelho Mello
referência, toda minha reverencia
irreverência da palavra para te homenagear

Portaria interdisciplinar de literatura

Licenciatura em Letras/Literaturas de Língua Portuguesa – Instituto Federal Fluminense. Segundo Período.
Para Analice Martins e Marilia Siqueira
Teoria da Literatura e Leituras Orientadas (I e II)

———————————

Italo Calvino que me perdoe,
não desmereço seu valor teórico,
mas não pretendo fundamentar
por nenhum dos seus pressupostos
o que eu mesmo posso dizer

Analice solicita
a análise de um clássico,
maravilhas que Marilia
conduziu tão bem Orientadas

Teoria da literatura convoca
A Metamorfose de Kafka,
segunda colocada vem a Ana,
a outra, Paz.

Ambos que eu lia,
Lygia que me permita,
Franz, a ousadia
de dizer:

Clássicos porque
causaram emoção,
a identificação
que comove, move o choro

É por isso que é um clássico:
Eu quero reler, ler, rever, viver,
vocês duas, memórias cruas,
sabendo que a lágrima vai cair de novo

E quem é louco de chorar com barata,
e de se identificar com escritora confusa,
não sabe se é ela própria,
uma criança, juventude ou velhice caduca

Escritora que vive e insiste
na construção de personagem
faz parte da poesia, sem vaidade

Sei que preciso de outros estilos,
a prosa sempre foi um dos meus medos.
Justamente por isso:
Não consigo descrevê-los.

Os personagens comigo também brincam,
brigam e me controlam, salvo o engano,
o poema é um dos meus enganos
que penso que controlo

Entre duas disciplinas,
disciplina alguma!
Vou dizer mais uma armadilha:

Qualquer livro que nos faça
ir além do óbvio, deixar
um estudante de Letras impactado
a não pensar em nota, prova, anota:
É um clássico

E vou além, e digo mais:

Quando a leitura nos fizer
querer negar as suas entrelinhas,
e camuflar o frio na espinha
de se deparar com nossos próprios fantasmas,
não tem o blefe da barata que não nos faça
acordar os nossos próprios monstros

Que entre em vigor nesse dia,
o vigor que a literatura tardia,
ardia escondida na alma do poeta,
mesmo que nada seja verossímil
é muito mais que isso,
poesia inacabada sem a obrigação
da explicação…

Prévia

Tem uma poesia morando dentro de mim,
poesia não é poema, é sentimento;
tem status de amor, de esperança e amizade;
sublime até que mostre a outra metade

Esse sentimento ainda amadurece aqui dentro
para contar a qualquer momento o quanto eu gosto,
para demonstrar todo meu apreço por você

E sei que isso é só uma prévia,
um esboço do que realmente sinto
porque para a poesia final ainda
falta algum tempo, eu reconheço

Ela ordena como nunca
que seja preservada,
de uma vez por todas,
seja gerada, essa cria

Tem o tempo certo pra poesia,
para o verdadeiro sentimento
de poeta, falta tempo

Incubadora de flores
pois os buquês de rosa ainda existem
nos tempos de rosas com glitter
das postagens dessa era
informática de quimeras

Eu digito esse rabisco
no século seguinte,
mas minha alma é do século vinte
e a sua, ah, a sua, nem fez dezoito,
mas insiste em me provar e me provocar
toda noite, até às dez e vinte…

Retorno literário

É, eu vou voltar pro seus braços,
ter conhecimento do quanto você me quer.
Me faz falta esse seu apreço
que me pega de jeito,
caminha na minha alma,
quero esse desejo

Que mexe tanto comigo
bem lá no íntimo,
profundo nos meus caminhos
que eu mesmo desconheço

Aqueço o meu contato…
eu estou voltando
pra sentir de novo
a emoção que ficou parada!
Dei pausa pra minha inspiração,
mas há retorno

Respiro fundo e mergulho,
vou novamente visitar esse mundo
que ficou submerso,
só lhe peço que não tenha piedade
dessa minha capacidade de se entregar

Vou voltando com a energia que me resta,
sem festa, sem pressa, sou sua presa
me preza de novo para mais um tempo
de literatura….

Poema Público

Baseado no álbum “Público” de Adriana Calcanhotto para atividade de figuras de som proposta por Vania Bernardo. Linguística II. Letras/Literaturas/2013.2. IF Fluminense.

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Ao mundo Público de Calcanhoto
publico estes meus versos
e peço, pego, desapego,
emprego de excitação
o ritmo, o ato, um laço
visto, me calço, abotoo
soo Mais Feliz, sou assim

Intérprete, desperte,
Devolva-me esse clímax,
essa luxúria, loucura
de poeta, candura na voz
pudera, quimera da arte,
alarde tamanho, essa doçura;

O som carregado me chama
ao meu sentimento, momento,
invento, tributo e luto
comigo e com essa voz a sós,
Maresia que vem atroz
me deixa partir, inunda assim
meu coração que ama sem fim

Vambora que esse álbum
reflete, me pede na mansidão
o silêncio, o vazio
aqui eu venho e crio,
recrio, reviro, repito
e vivo, sobrevivo,
insisto agora contigo

Sem sentido eu nado,
ardo, me completo, me calo,
me armo deitado dos recados!

Que canções desse porte me afoguem
e eu não me debato, deitado, deixo
que por Esquadros, meu mundo perca a cor…

Coisas de literaturas que conversam
por um pedido, e eu, solícito à Vania Bernardo,
atividade de figura de som vai além de linguística
querida, detém, retém inspiração enquanto ouvia
com essa chuva que cai tardia, Adriana me consumia…

Correntes da literatura

Eu sou um apaixonável
o amor é volátil
completamente aberto
a quem quiser contato

Não troco ninguém por ninguém
posso me entregar a mais de uma pessoa
e desde que, verdadeiramente, não,
eu não vejo culpa alguma

Estou disponível
– e aqui vou além do eu lírico –
cansei dessas coisas da literatura
de que autor e personagem diferem,
se a palavra não me define
por que eu estaria escrevendo?

Os meus versos agora tem correntes,
científicas ou não, estão aprisionando…
E eu que pensava, apenas escrevia
agora escrevo, pensando…

Desgastes

Eu não sei nada sobre mim
penso que sei, talvez, alguma coisa
pelas coisas que fiz, o carro que tenho,
os amigos que me relaciono, penso

Pensei que sei algo de mim
porque o trabalho que tenho
diz alguma coisa, as escolas que passei,
os cursos que fiz, falam qualquer coisa

Penso, talvez, mas não sei
se isso me define, se é o bastante;
Conta na minha biografia,
cronologia de uma vida

Isso é poesia?
As sequências de fatos
de uma vida de fragmentos,
realizações, momentos…

Eu quero uma pausa
uma pausa para a poesia
a vida é poética?
Uma vida para a pausa poética
uma pausa, isso é vida
a vida é uma pausa
sem tempo, parada, é vida,
é a vida, poética…

Tercetos de devolução

Licenciatura em Letras/Literaturas, Instituto Federal Fluminense. Para alguém que ficou pelo caminho em 2013.1….
_______________________

Você foi embora,
mas eu tenho duas coisas
preciso devolver

A primeira é seu sorriso,
tímido, eu sei, mas recolhi…
Ficou preso na mente

A segunda é seu olhar,
assustado, menino,
eu compreendi

Talvez só nós dois
sabemos o que você me deu
sem chegar perto de mim

Eu guardei com carinho,
está aqui na memória,
afetiva, quando escrevo pra você

Corri demais, tentando dar conta de tudo,
agora, enquanto penso mudo, mudei coisas de lugar,
tirei a poeira do fundo, e encontrei você de novo

Em seu sorriso tímido, em seu olhar que mediu o medo,
eu que nunca fui bobo, percebi o pouco que você fez,
eu notei o muito que mexeu comigo, e a resposta chegou…

Desculpe a demora, fiquei observando o que me entregou,
e eu que queria devolver, acho que vou aceitar mesmo,
mas ainda assim, fique com esse poema, afinal, devolvi…

Tese para a Mestra

Para Marilia Siqueira da Silva, professora do Curso de Licenciatura em Letras/Literaturas do Instituto Federal Fluminense, Recesso escolar. Também estudante e futura Doutora.

E quem pra mim é soberana,
agora resolveu ter novamente
o mesmo adjetivo que eu

Comigo, quase uma dona portuguesa
daquelas que sabem bem o que diz e faz,
do olhar seguro, da voz firme,
incapaz de deixar dúvida

Lá fora, muda de figura, de papel…
Enquanto avalia, espanto-me;
Quando é avaliada, tem os mesmos medos meus

Não depende de idade, tão pouco o que já sabe
– o que para mim já é o bastante para uma devoção –
esse jogo de quem sabe o que ensina e tenta entender o que aprende
– ao mesmo tempo dona do jogo e jogadora sem privilégios –

Se comigo é quase inquestionável pelo respeito que fez merecido,
sem mim, enquanto novamente aprendiz, talvez seja só mais uma
querendo o seu espaço, o seu destaque

Ora sou ouvinte, bebo da sabedoria e das palavras;
Ora sou tratante, objetivo de estudo sendo apresentado;
Sendo avaliado por um terceiro, mostrando para segunda
onde estão os seus erros;

Fato é que ainda estou no começo da escala
– talvez sem sentido, essa dúvida me mata –
por um momento peço olhares piedosos
– será que ela faz o mesmo? –

Sou exemplificador em meio as suas citações,
e por vezes, segura de si, posso até ser riso
nas situações de sala de aula

Tenho minha tese de aluno
a preocupar a tez daquela que corrige,
mas ela, não mais minha professora,
tem um teste que também preocupa,
e ali as rugas na tez dela não são minha culpa

Página amarelada

Nada vai superar o papel envelhecido
nem a fotografia editada em preto-e-branco,
nem a folha reciclada, amarelada pelos químicos

Nada vale mais que a textura frágil,
as palavras que desmancharam naturalmente,
o cheiro empoeirado, o mofado da estante

Nada mais define que a madeira desgastada
sem a cor e o brilho de antes, a vivacidade…

Tem uma coisa que nenhuma tecnologia alcança:
O tempo, a experiência, a vida anterior
os momentos, os pensamentos durante a leitura,
a imaturidade que foi embora com o folhear das páginas…

Nem a minha própria história escrita um dia
pela leitura contínua da poesia,
uma das poucas experiências literárias
que deixaram as páginas amareladas
e vieram para o mundo real…

Segue Comigo

Para professora Vania Bernardo da disciplina de Linguística I do curso de Licenciatura em Letras/Literaturas, Instituto Federal Fluminense, primeiro período letivo de 2013.
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Eu tenho uma meta de vida que Deus guia
põe a Mão por cima e diz: Segue,
sua luta Eu acompanho,
você faz parte do Meu rebanho,
Vou proteger o meu amado filho
porque ele tem sido digno de proteção

Luta, segue adiante, não desanima,
Estou na frente, protejo você
de quem não quer nada,
sua vitória está selada
porque Eu vejo seus passos

Sei que seus atos condizem
com Meu desejo, aceito
que você descanse em meus braços
porque apesar de não ser feito de aço
coloca-se na frente quando Eu convoco

Filho amado, comigo siga,
agradeça pela vida e pelo coração,
vou segurar na sua mão, e se preciso for
Eu pego você no colo
porque enquanto perceber que você
diz: Oro com convicção, Eu sei,
no fundo só Eu sei,
a que Rei você recorre!

Para todos os meus amores

De todos os meus amores
por tantas pessoas
de todos os meus amores
por todos vocês
de todos os meus amores
evoco um a um

Na mítica da paixão
que nada explica, nada
coisa alguma define

Vocês não conhecem
a multiplicidade do amor!
Simultâneo sim, meus amores
todos os meus amores

Cada carinha carrega
a pétala, primavera
do meu coração

Querer bem não é uma escolha
por momento algum foi…
Todos os amores meus
não cabem em um, jamais

Utopia é acreditar
que mil e uma formas de amor
vão se concentrar em um ser,
desculpa, mas não dá

Pra ser multifacetado
com tantas variâncias de paixão…
Sou de um, sou por todos,
e para todos, único

Olhares procedentes

Atividade sobre parônimos para o curso de Licenciatura em Letras/Literaturas Portuguesas do Instituto Federal Fluminense – Leitura e Produção Textual I, primeiro semestre de 2013.

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Soou em meu ouvido seu desejo esbaforido
suou espavorido, delatando a paixão,
os nossos corações dilatados,
retificando o tempo perdido,
ratificando o que sempre foi vivo;

Hoje diferimos a amizade da paixão,
deferindo o nosso instinto,
fruto proibido de outros tempos

Sortir os nossos sentires
para surtir em nossas vidas
a concretude daquilo que um dia
foi partida

Olhares precedentes mostraram finalmente
que realmente eram procedentes, não apenas imaginação!

Absolvidos agora estamos, depois de tantos,
tantos anos, absorvemos um a outro
numa tentativa de ascender ao clímax,
sabendo muito mais que rimas,
acender as luzes depois do clima
não bastaria para nos satisfazer

Meus versos
parônimos tão sinônimos
de um desejo antagônico
que nos move fixos na cama

Se ainda era incerta essa relação
insipiente do que é ser casal,
esse contato incipiente não deixa dúvida

Indefessos não somos mais, não agora,
já tão entendidos das entranhas de cada um
que nos revigora, permitidos de indefesas
Perdemos horas, oras