Alta velocidade

Não me interessa seus caprichos,
coisas de um bicho bem adestrado,
destes que são mimados até para deitar no caixão

Tudo é cuidado, tudo é proteção sem sentido
não me interessa a sua orientação, não importa;
Coisa banal demais se você tem carro do ano, coisa e tal

Tomara que seja multado, reboquem o seu amuleto social,
status para publicar na rede, compartilhar no face,
tomara que curtam sua falta de postura, erro cruel

Bafômetro não respira, é bem isso que me dá inspiração,
indignação, que lhe cassem a habilitação!
Sem habilidade nenhuma, quem foi o louco,
aloprado que lhe permitiu a condução?

É recondução de tantas vidas antecipadamente
para a morte, ou para a vida mutilada…
Eu maltrato a língua, a Portuguesa que registre bem:

A revolta deste alguém que despreza compaixão
com assassinos em alta velocidade

Aventureiro das Letras

Eu tenho recebido o toque das artes,
a música que embala o meu coração,
essa sublimação, onde a alma desperta;

Acorda alma minha, acabou o descanso,
até descalço, não que seja um descaso,
eu entro em sintonia com o que vem guardado.

Eu que me julgava um frasco quebrado
tenho me juntado no perfume que fica no ar.
Na melodia, no verso arremesso o que subiu,
a dita espiritual hoje canta pra subir
– e subiu, e tomou o controle do meu destino

E nos olhos, a janela está aberta,
as portas, qualquer que seja a fresta…

Agora a minha vida adormecida
deixou o lado ancião morrer,
a criança quer crescer pé ante pé,
passo por passo quer escalar
a brincadeira de escrever

E vai ficar o sonho, de quando for gente grande,
um pouco mais velho – o corpo, não a mente –
que esta última queira viver o sonho
de transformar a brincadeira num esporte,
aventureiro das letras

Operário do destino

A vida é tão maior que uma simples posição social!
Enquanto todos se matam na cobiça de ser,
eu apenas sou, e nada mais.

Estou aqui de passagem, e perdoem o desabafo,
o meu ego não é abafado por pequenas coisas,
que para outros são o motivo da própria vida.

Ora, minha vida, não tema por mim
estou aqui para crescer na vida,
sair dessa inércia sofrida
dos muitos que pouco fazem

O meu valor vai muito além
de tudo o que você pode imaginar,
não me cabe aqui julgar os atos de ninguém,
mas, meu bem, vou te contar um segredo

Nessas tantas passagens, sei que não sou
passageiro de primeira viajem…

O corpo pode parecer frágil,
o invólucro primário pode estar debilitado,
mas a minha alma, que carrega a entidade,
e a identidade de muitas vivências,
essa vai se expandir sem vaidade alguma.

Eu preciso cumprir o que foi determinado,
estou aqui, aceitei assim ser guiado e protegido,
sendo o provador do verdadeiro Divino,
operário do destino e da vida.

Definitiva

Eu não vou criar armadilhas
nem emboscadas, se eu não tenho
sequer nenhum motivo para ser
encaminhado para as ciladas dos outros

Eu não vou julgar até que me peçam
uma postura, uma decisão sobre atos,
conflitos que se formarem comigo,
exclusivamente

Mesmo que eu não confie, e que meu santo não bata,
não sou eu quem vai se render aos caprichos de terceiros,
nem dar minha cara à tapa, sem razão aparente

Porque na vida se aprende que pão é pão, queijo é queijo;

Eu não vou me dar ao luxo de comer pão com goiabada,
mas também não espere de mim a falsidade do beijo,
se forem me dadas concretas desconfianças, somente as necessárias;

Eu não sou o tipo de pessoa que me vendo por pouco, – nem por nada! –
e não subjugue a minha inteligência… Ora, que testem minha paciência,
mas não duvidem sequer um segundo que eu estudo os dois lados
para, quando preciso, tomar a última palavra, a definitiva.

Cessar fogo

Recusem as armas em punho,
joguem as armas ao chão,
não aceitem, meus irmãos,
mirar na vida do outro,
acabar com o sonho do outro
de voltar para a própria vida,
de voltar cada um pra sua paixão

Não aceitem mais derramar sangue,
não admitam, por favor, esse joguete,
pensem na vida de vocês, cada um
com a culpa de uma partida desnecessária

Não eliminem mais uma razão de amor,
não se entreguem à insanidade cruel…
Chega, meus queridos, desse sofrimento
completamente sem sentido

Desarmem-se desta loucura,
abaixem as armas da morte,
tenham piedade do amigo hipnotizado
para ser inimigo alucinado de nós mesmos

Cessem o fogo do ódio enquanto há tempo
e um coração batendo no peito de cada um…

Sentidos da poesia

Abro meus sentidos,
mesmo que sentido
por tantos tropeços

Abro meus sentidos,
na prece sentida
que tece melhorias

Abro meus sentidos
no sentido do progresso,
mesmo que tenha vivido
na contramão, um sentir perverso

Abro meus sentidos,
no sentido da paz interior,
desqualificando qualquer outro sentido ruim

Abro meus sentidos ao novo estágio,
viver no sentido de ser operado
e um operador da paz e do amor

Vou dando sentido à vida,
uma outra direção pra minha querida,
a poesia

Absolvida

Cada dia é uma luta diária para a felicidade,
mas quem foi que disse, no começo da história,
ter essa necessidade de batalha toda hora?

Por que esse esforço alucinado,
por que a perseguição desenfreada,
se a felicidade pode ser camarada da razão?

Entre muitos sujeitos, a felicidade virou adjetivo
quase sempre um privilégio que poucos reconhecem…
De outra maneira, mais superficial eu diria,
felicidade tem se tornado predicado
que exige o complemento da vida

Entre muitos eus, muitos vocês,
entre muitos eles, aqueles, elas…
Aquela que não tem descanso

Proponho o descaso, o descumprimento,
proponho a liberdade, o habeas corpus,
concedo a inocência por falta de provas
de que felicidade é culpada pelo crime do sofrimento,
agravado quase sempre por uma ilusão que não se realiza

E na mente dos réus, diante do júri da consciência
muito maior é a clemencia pela justiça depois de constatada
a condenação equivocada dessa tal felicidade que não tem culpa de nada

Lições no caderno

Que eu exercite minha humildade
e que reconheça a minha fragilidade,
que eu desempenhe bem o meu papel
de ser um grande caderno em branco

Que as minhas poucas páginas escritas
não sejam definitivas como um livro…
Que eu possa ser passível de correção,
mesmo que eu precise reescrever partes

Que eu perceba o quanto o aprendizado
amplia meus horizontes e me abre portas
para que eu pare de olhar pelas janelas,
para que eu pare de ver pelos olhos outros

Que eu reconheça a limitude do muito que eu sei,
para assim compreender o quanto meu ego
tenta sempre dominar as minhas barreiras,
impendindo-me que as derrube

Que eu seja perseverante nesse exercício
para que eu possa ser uma pessoa melhor
sem falsas atitudes, mas com devoção à simplicidade

Porque dentro da minha complexidade,
eu preciso aprender a transparecer o físico,
transpor-me da carne e dos vícios,
transpassar-me ao melhor caminho, ao amor

Amadurecimento

Você que foge de mim,
desculpa, eu não lhe segurar
nem lhe assegurar que espero mais,
se quer seguir sua vida, não precisa voltar

Eu vou saber me virar sem sua presença
eu sempre soube do mistério da sua vinda,
e na minha vida não desperdicei esse tempo

Você segue vivendo, tendo as suas experiências
e eu não vou viver de aparentes felicidades…
Também tenho os meus outros planos a cumprir,
você talvez seja o mais importante deles;
Mas eu preciso deixar para outra oportunidade…

Eu que sempre sonhei com você,
e você que nunca pensou em mim como sonho…
Eu que sempre pensei em você outra hora do dia
e você que nunca pensou em mim além de quando estamos juntos

São aprendizados, amadurecimentos pelos enganos…
Não digo ser um erro a ilusão, porque a tristeza mata!

A ilusão, ao menos, é uma vida disfarçada de carinho…

Talvez exista só para a mente que a criou,
mas ela precisou criar para recomeçar a viver…

Autoridade da fé

Fonte: Google Imagens

Fonte: Google Imagens

E quem é você pra me dizer o que fazer da minha vida,
pra dizer o que sinto e como sou, se não pode afirmar nada sobre si?
E quem me dirá o que fazer e como agir, dedo em riste?
Senão eu mesmo, senão eu mesmo pra decidir por mim!

E que propriedade você tem para questionar os meus atos,
para me traçar o caminho, para falar por onde devo seguir?
E quem é que lhe concedeu tamanho poder para falar em nome de Deus?
Se falhos todos nós somos, o que lhe faz bem mais capaz do que eu
para determinar sobre a minha vida e a sua ao mesmo tempo?

E que palavra é essa que te entrega a decisão suprema
senão apenas suas vagas interpretações banais e vazias
daquilo que vem sendo repetido por eras?

E quem lhe disse que eu vou para o caminho errado
se ninguém sabe de fato o caminho, e apenas acredita no traçado da fé?
E quem lhe disse que eu vou para o caminho errado
se ninguém sabe o caminho de fato, e apenas acredita no traçado da fé?

E se o que eu acredito está errado, que garantia você tem do certo?
Senão argumentos costurados na linha de pensamento dos intérpretes!
E se o que eu acredito está certo, como você fica com a sua certeza?

E que prepotência é essa de nunca se questionar se é você quem falha?
E que arrogância é essa que não te permite aceitar diferença alguma?

E quem é você, a voz da razão que não pensa com razão alguma,
só vive de repetir e insistir em fundamentos que você não sabe a fundo…
E quem é você, afinal de contas, para fazer de conta que essa loucura toda tem sentido…

Zumbi, graças a que Deus?
ao seu? ao meu? ou ao dele?
graças ao homem
que amarra outros homens
pela mente

 

Às vezes, poesia

Fonte: Google Imagens

Eu nunca quis lhe comprar com a poesia
esse não é o meu intento, poesia é gratuita,
a esse texto rendo o sentimento e um lamento,
um pranto, um riso, uma preocupação, um tormento

Eu nunca quis lhe convencer de nada, pretensão alguma,
na poesia apenas um depósito do meu momento,
leitura que se faz de um sentir palpável

Eu nunca lhe escondi qualquer parte de mim,
se assim por dizer, você sempre obteve sinceridade…
Antes um blefe pra mostrar minha capacidade de fingir,
mas eu não sei mentir, e transformar em vaidade,
nem mesmo omitir certas verdades, não consigo

Eu sempre fui fiel ao que sou, à lágrima que escorre,
sempre obedeci ao coração apertado, à frustração, calado…
Resignado de minha missão de poeta, manipulador de palavras,
sem manipular sequer um significado

Eu apenas transmito, cumpro os tramites da poesia
que exigem do poeta uma entrega, uma companhia,
entre palavra, verso, sentimento e rima

Às vezes, agonia
às vezes, poesia

Pouso

pouso

Fonte: Google Imagens

Se eu enquanto autor
tenho vontade de escrever
coisas que tocariam multidões
vou negar esse meu direito agora

Porque, vejam, mesmo que faça bem
a dez mil, se machucar você,
mesmo que isso seja apenas,
uma mera probabilidade,
vou me reter ao poema
que um dia ousar lhe machucar

Não posso e não dá pra negar
que os versos que estão
amadurecendo dentro de mim
são fortes e vão alto…

Mas eu vou pousar a minha inspiração
e respeitar sua dor que ainda vai passar,
se eu realmente escrever o que desejo

Poderia me dar o luxo de ferir sua alma,
mesmo que sem a menor intenção,
só para alertar a outros uma situação?

Nunca o meu talento se colocou em dúvida,
não desta forma, de que faria bem a muitos
e mal a apenas um, aquele que mais me importa

Pouso o meu talento, calo a minha escrita,
não falem, não rimem, desculpem-me;
Escrevo para o bem, para o bem maior,
mas que esse bem não deixe absolutamente
ninguém na pior…

Decepção

A decepção carregue contigo
porque comigo se chama frustração,
Cabe-me apenas as suas expectativas
que não se concretizaram

Cabe-me apenas a sua cobrança
mas eu não sou fiador dos seus sonhos
nem cobrador dos seus atalhos

A você cabe a responsabilidade
pelos seus muitos planos
que não foram colocados em prática

E na prática sou apenas uma ilusão,
sou o fantasma do seu remorso
pelas muitas alegrias que te esperam
e se entristeceram

Não me torne seu heroi
eu não sou nada além
eu não sirvo como exemplo
e exemplo seu, só o espelho

Cabe-me apenas a sombra
carrego comigo apenas o fantasma
das farsas que você queria esconder
debaixo das minhas asas

Exercício de humildade

Quem sou eu pra ser melhor que alguém?
Aliás, quem sou eu apenas, para me comparar ao outro?
Quem sou a não ser aprendiz da vida e do amor, quem sou?

Senão uma alma que tenta acertar, errando, às vezes.
Senão um ser humano falho, mas nunca farto de aprender.
Senão um homem com um caminho incompleto, ainda longe do fim.

O exercício da humildade passa muito pelo ouvido,
e o exercício da humanidade desce ao coração

Quem sou eu senão aquele que acerta, depois de muito erro?
Quem sou eu para me vangloriar por um acerto depois de noventa e nove erros?
Quem sou eu que falando muito, não digo nada e ouvindo muito, falo tudo?

O exercício da paz de espírito não é coisa puramente divina, não.
Tem que vir junto de trabalho exaustivo, mas não há necessidade de ser árduo.
Tem de vir do coração, mas não precisa de sofrimento, não.

O exercício da humildade passa muito pelo ouvido,
e o exercício da humanidade desce ao coração.

Quem eu sou sendo assim tão arrogante, me achando dono da verdade?
Um equivocado, não mais que isso, um errante…
Quem eu sou? Nada mais que um aprendiz com ego inflado
achando que uma única lição bem feita já me dá o certificado…

O dever nunca estará cumprido, querido, ele não acaba tão cedo.
A tarefa é ouvir mais, e falar menos, é falar menos e ouvir mais, ouviu?
Não queira ensinar o que você aprendeu… Isso é tão vago e tão pouco…
É tão pequeno se achar grande com tão pouco aprendido, mesmo vivendo muito…

Conflitante

Quero puxar na memória todos os momentos bons que passamos,
o que nos foi, a cada dia, tão bem construído para tornar tudo sólido;
Quero retomar todos os sonhos lá do começo do ano que tão difíceis
com você foram tão simples e fáceis, nem um tanto quanto árduo

Quero retomar aquela certeza e aquela energia forte que nos unia
e que tem estado entre os meus dedos escapando, e eu aqui,
tentando e tentando te segurar, – como quem sabe que não deve — ,
não se leve de mim –, eu sei que você precisa ficar um pouco mais –

Eu sei que você merece muito mais de mim
e eu não sei mais se sou capaz de investir…
Como quem amassa bola de papel e joga
assim feito um cordel mal feito que eu desisti de escrever

As minhas forças já estão se esgotando,
as minhas mãos andam escorregando, em um desgaste do destino,
do tempo que se fez ajudante, e que agora, eu arrogante, confuso
e confidente, não sei como agir;

Mas a poesia, energia tranquilizante, por mais que seja conflitante,
angustiante e duvidosa, não sai de mim….

Sexo Frágil

Sexo frágil contra a brutalidade,
violência covarde, sexo frágil, que nada!
Espírito torto que da agressividade
acha que vai sair a verdade da evolução!

Homem, sem esse estereótipo
que se for homem mesmo não bate.
Ora, que mulher também sabe agredir-se

Pensa que a hipocrisia não quebra no nosso nariz,
não machuca nos olhos, e não dilata nosso corpo
em defesa daquilo que é puramente humano:
Instinto de proteção?

Ora, que diga pra mim, fundamentalmente,
– Homem, que homem, covarde!
Fazer da mulher saco de pancada, pura maldade?

Ora, que digam o quanto quiserem
mas mulheres, cá comigo, não me venham
chorar as mazelas das suas loucuras de amor!

Que apanham caladas, pensando na família,
que não querem atrapalhar a criação dos filhos
e tão pouco um casamento armado,
que já não caminha bem pra ninguém,
servindo apenas de fachada social

Ora mulheres, que tolas mulheres,
esse amor doente que vocês dizem ter
não vai consertar um animal enjaulado
não vai amenizar o leão necessitado
das gandaias, das floretas de outras mulheres

Ora que amor é esse, me digam, por favor,
que eu tento, mas não consigo entender:
Como um soco no rosto, um tapa no ego,
como uma bofetada na sua autoestima,
ora, digam, expliquem como isso rima com amor?!

O amor das coisas

Não é por pena, nem por caridade
meu bem, eu te amo de verdade
e não aceito essa dualidade
entre o bem e o mau

Eu não admito mais esse vício ancestral
de certo e errado, luz e escuridão
Eu vim para romper qualquer juízo de valor
que já não possui valor algum

É tempo do amor das coisas
e não das coisas entre o amor e ódio
É tempo de amor ao próximo
e não de ser próximo do amor

É preciso chegar mais perto da perfeição
é hora de darmos o passo da evolução
e de acertar o caminho em vez de andarmos
sozinhos na contramão

É tempo do amor das coisas
e não das coisas do amor
É tempo do amor das coisas
e não das coisas do amor

Spollier

Eu não vou viver da história
que seu preconceito escreveu pra mim
Eu não sou assim, digno da sua torpe interpretação

Eu não vou viver o destino desse personagem
esteriótipo social com final já armado
Eu não sou do tipo de que vive um spollier
condenado ao final que já se faz final na metade…

Eu não vou viver dessa forma patética
que até o mais desatento dos meus
se acha no direito de fazer comentários
vagos, rasos com risos debochados
anunciando o meu caminho, por eles, praguejado

Eu venho para surpreender, dar outro rumo
a vida destes tantos personagens de segundo plano
capazes de se autoidolatrarem por servirem
meras xícaras de café

Eu venho para corromper uma história morna
sem mistério, e sem glória,
com mais da metade da vida corrida
ainda sem perspectiva
de saída deslumbrantemente marcante

Eu venho na contramão daquilo que é imposto
partindo do pressuposto de não ser mais um,
mas também não me permitindo ser diferente
sabendo que o preconceito sendo consistente
enraizado já na mente daqueles que ainda não o tem,
seria para mim uma nova ruína, infelizmente

Eu venho para ser coerente com a mudança
sem a mínima pretensão de ser, sozinho,
o paladino da revolução…

Eu venho para reiterar apenas um momento
necessário de ser iniciado, ainda que tarde
pela literatura e também pela arte da vida
que não condena o individuo individual
mas que a sociedade tem, erroneamente,
feito cada ser único, um grupo de desigual…

Ligação

A nossa ligação gratuita de outros tempos
chamada 0800, nesse momento parece ser tarifada
nós dois tão cheios de compromisso
temos sido cobrados pelo contato,
impostos altos de uma vida corrida

Interurbano de antes era promocional
nós vivíamos horas conversando
como se o tempo parasse a nosso favor
um minuto, valendo por cinco;
Era outro consumo nos cobrando no fim do mês

Hoje não sei por qual razão
nossa ligação já se faz menos frequente
e em casos já raros de comunicação
um caso banal derruba nossa ligação

Quando um se encontra disponível
e tenta o contato, agora é muito mais rápido
deixar recado na caixa postal

É sempre um de nós ocupado
e do outro lado uma aflição
de falar com a máquina eletrônica

Quem dera ao menos você me atendesse
e me jogasse à espera, que pelo menos assim
restaria uma esperança vindo da cautela

Do cuidado com o amigo, do carinho
que antes era um vício, chamada de prioridade
afinal, tanta ligação era quase serviço de emergência
para carências emocionais, muito mais que pessoais,
um descanso, um momento de quimera

Ah, quem dera voltasse nosso interurbano
ser tão comum como chamada local
ah, quem dera nós dois pudéssemos
sermos isentos do tempo de um vício colateral
que é trabalho, trabalho, trabalho
faltando coragem até para uma simples mensagem de texto,
ou no pior dos casos, chamada à cobrar

Expediente

Então deixa acontecer primeiro,
antes de planejar os passos,
deixa a vida ir na frente, minha gente

O caminho não é você quem faz,
a sua ingenuidade ignorante
cria atalhos, desvios constantes
que a vida tem o trabalho de consertar

Deixe-se, permita-se ser orientando
a sabedoria dos humildes faz,
ainda que o humano seja triste,
um futuro mais promissor

Por saber que vivendo mais a vida
e tirando da sua responsabilidade o controle,
você deixa de fazer uma queda-de-braço…

Colocando-se a disposição de um abraço
por uma amiga lúcida e experiente
que faz da sua passagem um expediente
prazeroso, valioso e conivente
com tudo de mais tranquilo…

Homens e mulheres

Não me interessa se você pega
menino ou menina, ou os dois
isso não me importa

Ame quem você quiser
e não reclame se eu não gosto de mulher
e não reclame se eu não gosto de homem
e não reclame se eu não gosto de nenhum dos dois

Não me interessa quantos você beijou
não me interessa, sinceramente,
quantas você já enrolou dizendo mentiras de amor

Ame quem você quiser
e não tente converter ninguém
e não desmereça ninguém
e não pragueje, meu bem,
porque toda praga é reflexo próprio

Somente me deixe viver do jeito que entendo
ser o mais coerente pra minha vida
Somente me deixe viver, e por favor, respeite-se
não há mau algum em ter decência em meio
às experiências que você escolheu

Ame quem você quiser
Não me interessa se é
homem ou mulher, não importa;
Apenas se respeite e me deixe
ser como eu quiser

E não falo aqui de apologia
nem tão pouco ironia às novas liberdades
mas não tente proibir quem gosta de ser fechado
de se trancar, quando isso também for parte do amor

Finados

Hoje eu morro é de saudades,
é de amores e de vontades,
hoje eu parto para o abraço
para uma nova chance de felicidade

Eu quero ir para o outro lado, da alegria
morrer é de nostalgia de um tempo bom
faleço é para a agonia do compromisso
de fazer sala àquele que não é bem vindo
E ando tendo essa postura feito crença
que nem em missa de sétimo dia eu padeça
nem me esqueça de amar

A única morte que eu saúdo é o finado de um luto
das minhas barreiras próprias de achar que a morte
é a primeira hora para se entristecer

Eu enterro é essa crença de achar que o coração
quando para de bater, tende a desmerecer
tanta vida, tanto amor, tanto calor
que eu vi e vivi a me aquecer

Traduzindo o amor

Qualquer tentativa de dizer o tamanho do amor é frustrada.
Qualquer que seja a dimensão do amor, será frustrada
tentar achar a medida exata do que se sente

Sentimento não se mede nem em sílabas simétricas,
nem na sublimação do poeta, nem mesmo dizendo
que esse amor é o amor maior do mundo

Todo mundo ama o amor maior do mundo
todo mundo ama mais que o outro um amor inesquecível
todo mundo eterniza e pra sempre jura juras da amor

Tudo em vão, tantas e tantas músicas, tantos e tantos poemas,
tudo em vão, traduzir o tom do amor nas analogias vermelhas
das veias que chegam ao coração

Qualquer tentativa é frustrada de dimensionar, principalmente, o amor;
É um erro comum por séculos, milênios desde a criação do mundo
Capturar a paixão, tudo bem, mas o amor não, por favor, o amor não;

Gaste quantas flores quiser, serenatas se desejar, bombons,
diga quantas palavras lindas quiser, compre quantas jóias puder,
cantarole seu pudor aos afagos, aos atos carnais, aos abraços,
aos toques de pele, e aos truques nas vestes de sedução

Mas qualquer limitação do amor, é vão,
limite o amor, e não será amor, será intenção
de traduzir o amor sem sucesso

Traduza o que você quiser, a vida à dois,
os conflitos, os filhos, a relação com os parentes,
pragueje sogras e genros, o aperto no peito
por ter encontrado a felicidade, o carinho,
o chamego, mas não, o amor, o amor mesmo,
ah, isso não

Isso é traição do humano com o sentimento divino,
buscar uma limitação daquilo que é infinito,
daquilo que é expansão contínua desta e de outras vidas,
ah, o amor, isso não…

Sou lâmpada

Senhor, eu que sou pequeno
mesmo que o mundo me exalte,
sei que não sou nada sem sua orientação…

É sob seus olhos que eu quero ser guardado,
sob Sua benção, é do Seu prazer que minha alma quer beber,
nas Suas águas navegar, pelo farol do Seu conselho me dirigir

Senhor, eu que sou tão pequeno,
espelho quebrado sem Você…
Eu que não mereço nenhum elogio,
nenhuma palavra de gratidão,
eu não faço nada…

Senhor, me faça ponte da Sua missão,
me usa como instrumento, coloca Sua mão em mim,
me guia, me molda, consola meu coração, expande
com perfeição o Seu amor supremo

É por isso que me faço pequeno
porque carne nenhuma, em momento algum
tem a capacidade de receber tamanha carga
desse amor infinito que vem com o Seu santo nome

É por isso que sou apenas pequena lâmpada,
que acende para ascender em manifestação da Sua ação…

Não sou eu quem brilha, só estou a frente da Sua conduta,
como a lua a frente do sol, que sem a Sua presença escurece
em um eclipse total de perdição….

Estágios de Deus

Deus, maravilhoso na concepção de cada um de nós,
tem feito, em meio a tantas formas, seja elemento natural,
seja poeira do cosmo, figura transcendental, seja Ele
energia que nos move, sentimento de amor puro que nos enche…

Deus, de tantos nomes e faces, seja na figura dos homens,
ou dos anjos, ou representação das artes, em todos os casos…

Deus, soberano que quer o melhor, que das nossas lutas
coloca-se na frente, como escudo dos injustos e como espada
aos que de má fé O usam….

Essa figura Maior, que muitos abusam,
se apropriam da Sua força, que praguejam
em Seu nome, impondo o medo pelo amor de Deus,
invertendo Sua Essência, a todos estes ignorantes,
não de maços de papel, nem de procedimentos religiosos,
mas da própria Força presente em cada um…

A todos estes eu clamo que o verdadeiro Amor desperte
e bata no peito, respeitando o Ser Divino do outro,
Amém!