O último operário

Das flores mortas de meu jardim
faço paisagem mesmo assim
das primaveras de ontem
o outono reflexivo e vivo de hoje

Das cinzas de fuligem das fábricas paralizadas
lembro das máquinas em funcionamento pleno
dos vapores das caldeiras que hoje vivem secas
ferrugem que um dia produziu meu sustento noutro ponto

Estradas fechadas, dominadas pelas matas
noutro ano iam e vinham completas de gente
de carros, de mentes, produtores, compradores
autores de uma vida que se foi nesta via

Tudo se foi, tudo terminou,
a ganancia de ontem nos faliu, nos humilhou, nos venceu
tudo morto, sem um porque
e eu revivendo esses lugares novamente…

A única semente que sobrou fui eu
O único operário que restou fui eu
O último trasporte que vagou fui eu

O último amor que figurou nesse mundo foi o seu
que mesmo após a guerra, permaneceu
na memória eterna que insiste em viver….

2 comentários sobre “O último operário

  1. Bela reflexão poética. As coisas mudam agora numa velocidade imensa e, ainda pior, de um modo bem mais radical. E, nós, seres humanos, nem sempre estamos preparados para acompanhar essa dinâmica. Parabéns, poeta. Um abraço.

Deixe um comentário para robmaia Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.