Trincheiras

Beijai minha boca com o ardor de ser o último beijo de tua vida
sejas tu minha novamente como pela primeira vez
entregai-te, amor, sem escrúpulos, sem fronteiras
que minha estada nas trincheiras pode ser meu último ato de coragem
tenhas tu a arma de me fazer o homem bobo e infantilmente risonho mais uma vez
a finalíssima e a primeiríssima que eu deixei o tempo levar
o tempo agora permite que venhas regrassar
para que caso eu venha a suspirar, que seja por ti…

Paciência de colecionador

“Ser colecionador de histórias é um plano traçado tão minuciosamente que qualquer palavra pode colocar tudo a perder em cada etapa da operação”

Pessoas precisam se sentirem amadas, se você for capaz de amá-las será o melhor colecionador de histórias da sua região. Ao dar a sensação ao seu autor-instante de que ele é fundamental em sua vida e mais, que ouvi-lo é essencial para ele e para você, terá boa parte dos seus primeiros capítulos a colecionar.

Deixe-o seguro e confortável em sua presença, não o interrompa enquanto ele desabafa e tente entede-lo quando parar. A melhor rede de um colecionador é fazer a sua caça acreditar que você vive da melhor forma possível, entende o mundo dele de forma tão segura e espontanea que parece ser você uma cópia dele, uma imagem-espelho.

Uma vez que assim ele se sinta, chega a hora de mostrar que você também confia nele. Mostre alguns de seus pontos fracos e peça auxílio. Se ele realmente mordeu a isca anteriormente sentirá-se praticamente na obrigação de ajudá-lo.

Chegando no estágio de crença mútua poderá fazer-lhe qualquer pergunta sem medo, criticá-lo, ameaça-lo, seduzi-lo ou dizer-lhe o que lhe der vontade que será ouvido.

Eu adoro a confiança que depositam em mim.

O colecionador de histórias

A vida de algumas pessoas das quais eu tenho conhecimento dariam boas histórias, se publicadas. Não por motivos comercias, até porque para uso comercial seria muito simples fazer-se interessar por uma história. As pessoas são curiosas por natureza, e se a venda fosse o alvo de colecionar histórias, eu poderia facilmente brincar com essa arma de consumo tão natural que eu não seria acusado de nada. Mas dinheiro não é a minha prioridade em obter histórias das pessoas. Não quero vender a vida delas a ninguém, mas sei saborear bem as suas revelações.

Essas vidas formam um bom livro que me distrai sem que eu mesmo perceba, e quando paro para encarar os fatos já li bastante sobre elas, até mais do que elas já ousaram contar a alguém realmente. Mas nada disso é intencional, e por isso não me há culpa ou remorso.

Eu não leio páginas quando o livro quer ficar na sessão restrita. Mas em todos os casos de que me disponho a ler, as páginas viram sozinhas sob meus olhos; e movido pela curiosidade as leio, e me envolvo como bom leitor.

Uma vez passados os primeiros capítulos, envolvo-me a tal ponto que me torno parte da história contada por cada um. Embora em livros normais eu tenha que esperar a vontade de seu autor em me revelar os fatos e desdobrar seus mistérios, nas minhas coleções de contos pessoais posso seduzir o autor-instante a me desdobrar sua vida com tamanha liberdade que me surpreendo.

Vejo-me não em uma cronologia de enredo, mas em mundo embaralhado em que não obedece nenhuma ordem de pensamento. Para os autores de minhas coleções pessoais, os fatos que ocorreram há 10 ou 15 anos – talvez nos dias em que ela se entendeu por gente – serão interligados no hoje e até no futuro próximo que ela espera que ocorra.

Gosto dessa maneira de ler livros – e da forma inovadora em que eles se apresentam – porque não sei o que virá em seguida e não tenho nenhuma pista sequer para montar em minha mente um tipo de desfecho – se é que possui um. Não tenho as suas feições cara a cara para saber como ela demonstra que está ao me segredar pontos que não ousaria dizer nem a si mesma, mas que acaba apoiando-se em mim para assim fazer. Talvez a forma misteriosa é que as faça revelar-se tão rápida e abertamente.

Eu adoro colecionar histórias de vida.

Tentadora

Passos firmes, sorriso frio
entrou no recinto sem cerimonia
quieta como o vento que sopra em meios aos homens
de tão forte presença incomoda os sentidos

Vinha de vermelho talvez proposital, quem sabe
quisesse dispertar no homem o instinto animal
de ver o sangue da presa a escorrer pelo corpo

Enfim disse palavra e esboçou um riso diabólico
tentando o homem a não tentar agarra-la em público
seguiu em frente, rodeou a vítima, beijou-lhe a nuca
arrepiou-lhe as veias, que o sangue circulava explodindo
disse-he ao ouvido palavras que o levaram a perder a respiração
e saiu sem dizer nada, deixando-o contorcer-se de exitaçao

Andanças

Andei pelas ruas chutando latas pelo caminho
às vezes com raiva, às vezes sem sentido

Andei pelas ruas e pisava em flores murchas
que desfalecidas esperavam o golpe final
às vezes as pisotiava, às vezes as recolhia

Andei pelas ruas encontrando pessoas
às vezes sorria, às vezes não as via

Andei pelas ruas, cruzando as esquinas
às vezes olhava para os dois lados
às vezes corria, as buzinas zuniam

Andei pelas ruas lendo cartazes
às vezes pensava em seguir um curso
às vezes não gostava do preço dos sapatos

Andei pelas ruas vendo as vitrines das lojas
às vezes a quem se iluda com promoções
raras vezes me iludia; eram apenas vidros de consumo

Andei pelas ruas flagrando namorados fugidos da escola
às vezes beijando, às vezes tentados à luxuria descontrolada

Andei pelas ruas, os sapatos aquecendo, muitas coisas passavam
às vezes alguns olhares me chamavam a atenção, às vezes nada

Caminhei vagarosamente por muito tempo e o desespero vinha ao meu lado
às vezes eu deixava que ele me passasse, às vezes queria vencê-lo; em vão
Andei pelas ruas, um fato, se alguém me notou, viram-me seguindo em frente….

Traida

Aflita, as mãos no rosto descem arranhando tudo
marcas de unha na minha face, ódio de tudo isso
dessa situação: como pôde passar por mim
segurando pela cintura outra mulher, raiva
choro desenfreada no quarto fechado
eu viajo através do tempo, pensamento
das noites juntos, dos momentos juntos
todo mundo dizendo que ficariamos juntos

Rasgo travesseiros, cobertores, furo colchão
com a tesoura na mão, tremula, rasgo nossas fotos
as suas cartas coloco fogo, o seu anel jogo pela janela
a roupa que voce me deu vou queimar num ritual
abominavel praguear a sua nova relação

Traida, mulher doida que queima de remorso
por não ter aceitado o conselho da amiga que
pareceu sórdido de larga-lo enquanto fosse tempo

Xingo-me de todos os nomes possíveis
cabiveis na minha mente descontrolada
vou pegar os frascos de perfume que eu usava
em nossos encontros para estilhaçar o aroma
bom e suave, gostoso e intrigante
em que o seu desodorante se mistura
quando nos relacionavamos
apaixonadamente

Recupere-se amigo

Desculpe a emoção hoje
ao lhe ver lágrimas vêm aos meus olhos
desculpe se elas transbordam aos poucos
é inevitavel conte-las

Aprendemos tanto juntos
toda vez que eu lhe olho lembro
dos socorros que me prestou

Tenho certo receio que me veja assim
pode confundir emoção com desespero
mas entenda que você foi a base que me sustentou
durante tantos e tantos problemas
e ao lhe ver não posso apagar da memória
todos os dias que durante horas
você veio me ver e se prostar
ao lado de meu leito
a incentivar que eu lutasse
que tudo nessa vida teria jeito

E consumindo cada raio de esperança
que você ministrava com carinho
levantei-me aos poucos
fui deixando de lado a visão de inválido
porque você equipou o guerreiro em mim
com as armas de confiança
somente doadas pela amizade