Diante de suas ausências

Diante de suas ausências
nem mesmo as ilusões sobrevivem
diante de suas faltas
nem mesmo os fatos coincidem
diante das inconsistências
que se agridem
existe um quê do fato
abstinências das realidades que nos oprimem

Diante das percepções distorcidas do todo,
o ontem já deixou de ser ontem e foi embora,
a ansiedade do hoje sem você sumiu
o amanhã me pertence

Não sem memória de que você existiu
e foi embora
não sem lembranças do que a gente viveu
e se evapora

Não se trata de deixar o passado pra trás,
nem de fechar a porta, nem de encerrar ciclos,
nem de acerto de contas, nem de desculpas,
nada disso se elabora

Diante de suas ausências, nem o vazio
me ocupa agora
nem um estado servil
me aflora

Diante de suas ausências
se descobriu que fui eu
que flui embora

Manhã de sábado

Um dia eu
me apaixonei
sem dizer pra você
o que sentia

Eu vi poesia desabrochando na manhã de sábado,
campos coloridos me acordaram na manhã de sábado
eu vi raios me cercarem pra me acordar de uma forma diferente

Um dia eu,
acordei com esperança
de ter você aqui do lado
era uma manhã de sábado

Você me veio à mente
nas primeiras horas,
e com você eu resolvi viver
pra sempre

Em nosso colorir de flores,
você fez minha manhã de sábado
valer a pena

Durante todas as manhãs da semana,
eu esperei você vir novamente
nas manhãs de sábado

Porque um dia
você me deu o significado
das manhãs de sábado

Até agora

Teus pedidos
sempre infundados

Meus anseios
sempre reprimidos

se encontraram

Tuas justificativas fugitivas
– infrutíferas em outros tempos –
semearam em oportunidade

Mudou o contexto
no meu peito
teu carinho faz sentido

Teus beijos vazios de significados – ontem –
mudaram de sabor e de forma – hoje –
marcaram a nossa história juntos

O acaso do destino encontrou pretexto
e esse meu verso é um intenso jeito
de dizer que te amo sem qualquer receio
de que a vida me surpreenda de novo
na contramão do desejo

Não busco o controle da vida
nem que siga a minha vontade,
permito-me, de corpo inteiro,
relembrar teu nome com vontade
que nunca tive
até agora

Horas depois você aparece

Horas depois você aparece
com um copo na mão como quem não quer nada,
cansada da vida do nada do nada do nada
que tem feito agora

Disse que mora na calçada do tédio
da vida estável e estagnada

Difícil pra mim decifrar o que isso quer conter

Talvez suas horas de análise não tenham chegado a conclusão alguma,
não que fosse necessário, eu sei
Mas, um fio condutor sempre se espera
nessa mania da existência linear

Há verdades perdidas na pia, na louça suja,
uns planos mal elaborados perdidos nas roupas,
um caos qualquer nas contas vencidas
e vitórias não vistas depois de um dia de chuva

É um amor que se desloca no vazio
do não-amor vivido no tempo querido,
e desse presente, no hoje, já não faz sentido
senão fotos velhas guardadas na memória,
senão sorrisos transmitidos errados,
senão o tempo consumido,
senão uma foto guardada no verso,
senão um amor lavado ao vivo

Poucas roupas cobrem a alma,
poucos presentes traduzidos,
poucas as frases sobrevivem ao ouvido,
poucos sentimentos permanecem vivos

Senão fragmentos de ideias perdidas,
senão reflexões interrompidas,
senão há alma guardada no corpo
senão há vida sobrevivida.

Horas depois você aparece
em outros dias, semanas ou meses
horas depois você aparece
anos depois, contam-se décadas
você aparece em desmazelo
no resquício de uma memória,
depois de anos, em meu outro leito.

(T)EU

(T)EU
sem meios termos,
sendo bem terno,
não temo, os erros,
nem tremo de êxtase aos acertos tolos,
toldos da vaidade

(T)EU
tarde da noite,
tento, acima de tudo,
ter o que se espera de um poeta a todo momento,
– tempo sublime –
tido por mim como
terço de poesia

(T)EU,
todavia, espero que não
troquem os meus versos sinceros por
três ou quatro interpretações sem sentido,
tentativas infelizes de me decifrar

(T)EU,
Terminei os rascunhos da minha vida enquanto
trocavam-se em meus olhos, lágrimas,
tocavam em meus sentimentos com farpas que a música
não traduz mais

(T)EU,
Transcrevi para outro papel a minha decisão de viver bem,
transcendi como ninguém o sofrimento da matéria para jogar, à vera, e
transfigurar para primavera, todas as estações do ano

Muito há dizer

Ainda não há muito o que dizer
além do seu sorriso fácil
do seu humor solto,
de tantas curiosidades
dos meus beijos de pescoço

Ainda não há muito que dizer
além do seu corpo esguio,
além dos ritmos do seu corpo,
e do seu carinho

Não há nada a declarar
sobre as nossas trocas de olhares
dos paladares que eu vigio e cuido

Nada há a acrescentar
além da minha falta de ar,
enquanto de desnudo

E é humano te bem-dizer,
ter segundos com você
antes de começar o dia

Deveria ser regra,
mas eu não vou seguir,
não vou detalhar nada mais além
dos seus cabelos enrolados
e o fato de seus abraços,

e seu colo – postergarem a ida,
prorrogam a rima,
nem dá vontade de fechar estrofe

Eis que a vida quis,
eu e você. feliz
em rumos diferentes

Fugindo pela esquerda,
correndo à direita,
a poesia nos colocou frente a frente,
finalmente.

Falando pouco,
dizendo muito,

inconsistente ao mundo –
coerente se faz
o nosso silêncio

Se necessário fosse

Se necessário fosse
pelo seu sorriso, presente;
se necessário fosse
pelo seu sorriso, um elogio singelo;
se necessário fosse
pelo seu carinho, afago de mão;
Se necessário fosse,
pelo seu descanso, a observação;

Se fosse necessário um dia feliz,
sua companhia meramente,
seu abraço cativo,
um mínimo de música,
qualquer passeio,
qualquer filme,
qualquer história,
qualquer motivação para a sua presença

Presente mais intenso,
vida mais amiga,
a poesia mais leve e bendita,
a alma mais próxima do início,
e daí se o mundo está próximo do fim?

Sua risada é recomeço,
suas piadas com sentido exclusivo,
sua fala sobre (qualquer coisa) tem mais relevância

Minha criança (?)
Eu sou criança de novo (?)
Talvez, quem sabe, outra vez,
todo mundo me confunda;
todo mundo perceba paixão,
um novo ar, um novo brilho nos olhos,
a vida em outra direção

Com a certeza, somente, de que tudo não merece explicação,
que essa situação nos deixa à mercê um do outro, vulneráveis,
abaixamos a guarda e deixamos guardados um coração no peito do outro,
confiando que no mundo há com quem se possa contar…

De muito e de pronto, sou capaz de muito mais depois de cruzar seu caminho,
nada nesse mundo vai descrever o que a gente escreve vivendo,
amores em silêncio – no singular e no plural –
cada palavra aqui tem um referencial…

Absoluta poesia

Você, minha joia rara,
minha riqueza,
cheio de encantos e de beleza,
tão doce e tão meigo,
meu amigo e companheiro

Sendo simples e mágico no caminho,
é meu vício o seu jeitinho,
um menino tão puro,
um homem tão complexo

Te amo o dia inteiro,
mesmo com todos os seus medos,
contigo encontro coragem,
seu carinho é uma necessidade

Para um minuto de paz a mais,
seu cheiro me cativa.
É o corpo que alegra,
o sorriso que supera
– qualquer dor ação de ser –

Eu não consigo mais…
meu sorriso é mais eficaz,
minha alma desperta,
meu corpo reage,
minha pele arrepia,
tendo você na minha vida
Tudo
em absoluta poesia

Matéria-prima rara

Raras poesias que vem e vão,*
mas, você não.
Você não volta
porque sempre fica
é obra-prima,
essência,
a arte primeira

Um verso apenas você me deu,
e verso sou eu seu,
uma estrofe inteira
da sua vida, meu poema de amor

Verbo, origem do mundo.

Poesia, substância
da minha criança
que encontra a sua criança.

Duas almas lindas
procurando na rima
uma forma mínima de se reencontrar


*Com Iago Reis

Não tenho medo

Não tenho medo do toque suave de sua pele sobre a minha,
não tenho medo dos seus segredos de nostalgia, descoberta linda
não tenho medo do seu passado, que eu não conhecia
não tenho medo de compor o todo seu, entendendo muito mais do que eu gostaria
não tenho medo dos seus olhos fugitivos, nem da sua boca aflita

Não tenho medo, em absoluto
do que queira me dizer,
bem mais do que queira demonstrar
não tenho medo das estrelinhas que me causa,
nem das entrelinhas que não se desvenda em prosa

Não tenho medo das certezas dos sentimentos,
não tenho medo, não,
das suas convicções vazias

Não tenho medo da imediata dúvida,
não tenho medo de casos passados,
não tenho medo dos passos presentes,
não tenho medo de construir o futuro

Não tenho medo de olhares profundos,
não tenho medo do que as lágrimas querem dizer,
não tenho medo da voz embargada, nem dos minutos de silêncio

Não tenho medo de energias pesadas, nem de descobrir o bendito tempo
não tenho medo de esperar o momento, nem de deixar que ele se mostre
não tenho medo de ser sorte, confidente
não tenho medo da gente
e só, não temo

Não tenho medo do termo perfeito,
eu tremo inteiro de desejo,
não tenho medo…