Estado de epifania

(Para Cadu, pela suas lives tão alegres, por uma amizade leve, por um ano novo especial)


Tenho pressa de viver
de realizar projetos
de cuidar de mim
de progredir na vida
e melhorar a realidade

Tenho pressa de cuidar de você
de te levar alegria, e fazer sorrir
como se só me restasse empatia
para te citar em poesia e colocar
em meus versos rápidos o que de fato
a descoberta por si só não me sacia

Você é fantástico em todas as melodias
e sem saber que é, já tem sido a minha companhia

Quando dança por nós,
e se dispõe diante da vida
a depor sobre o pôr do sol
calando todos os girassóis
na madrugada melancolia

Nem todas as coreografias
ensinam os passos a serem feitos
onde o ser perfeito não ensaiaria

Porque a nota máxima
está na vida, em ser refeito
cada ato como se fosse o primeiro
estado de epifania

Encontro de empatia

(Para Nathália Sepúlveda)

Seu poema está sendo gestado
em tempo impreciso, revisitado;
em que se fez o imprevisto, revisado;
as nossas sintonias se afinaram

Nosso encontro de empatia
queria dizer das trajetórias maculadas,
das solidões d’almas machucadas
não lidas, não traduzidas, nem nada

Agruras da vida, querida
os homens não são normais

Seu passado, meu passado
separados,
tiveram motivos diferentes
para chegarem onde estão

Seu poema lapidado alterna versos,
troca estrofes, compõe-se ouvindo músicas,
busca significados refinados, vai fundo;
se faz inspiração

É o trabalho de ourives da palavra
na vida que as vezes parece incapaz
de compreensão das nossas dores mais profundas

Nossos caminhos chegaram até aqui:
diante de mim, cética, reflexo da razão,
a paixão muitas vezes vale nada, realmente

A mulher que ama muito mais que os homens
sente que a poesia não engana, não mente, nem convence;
o poema pra quem sabe ler não tolera ser simples

Os homens não sentem mais;
são todos românticos falíveis;
todas as nossas expectativas infrutíferas
criaram raízes de experiências

Todas as leituras mal interpretadas de nós
são releituras da realidade de outro alguém,
às vezes, de nós mesmos, passados sobrepostos

Porque não dizer: valeu a pena
o poema não busca a poesia,
mas, a inspiração

As agruras que nos moveram
confundem-se em contramão;
seu olhar encontra o meu
(des)vendo tudo

Palavras insuficientes

Para o amigo João Vitor P. Alves

Sem qualquer clichê
– nem mesmo o japonês –
eu quero agradecer a você
muito mais que os animes,
e as risadas que a sua convivência traz

Foi assim, sem querer (pra nós), que a vida
me apresentou você, sabendo o que faz
e mais, mesmo que a gente não converse sobre os nós
que levamos no coração e na alma, eu sinto,
que a nossa calma, unidos, muda todos os dias difíceis

Mesmo mudos, já te vejo – de tão longe –
mais perto de mim, e é assim que noto
na voz e na maneira de falar
quando a tristeza toma o lugar do sorriso

Mesmo assim, eu não me importo
com seus momentos inglórios,
é próprio da amizade
essa parte que ninguém vê

Para além do estado de graça,
eu quero que você saiba
durante todos os dias da sua vida
que a sua presença tão querida
suaviza a minha própria existência

É para um reencontro com o carinho,
para ocupar os vazios
e as inquietações do mundo,
que nós fizemos o nosso próprio caminho
de amor e consideração…

E porque não dizer também,
que esse poema só acaba
porque pra você não há palavras
suficientes

Servidor

Por que ser servidor?
Refletir, primeiro o sonho,
nosso projeto próprio, individual,
lembrar das mudanças que se fizeram distantes,
hoje, tão reais

Servir por missão coletiva,
pela capacidade de pensar além,
servir porque ninguém faz nada sozinho,
doar-se para ampliar horizontes,
renovar, buscar esperança,
mudanças de uma sociedade

Por que servir ao Estado, e não a um patrão?
Servir por opção de vida, pelo projeto de Nação
para garantir, na lida, comunhão:
Servir Educação!

Para mudar o rumo da história,
dar outra dimensão,
por acreditar nas oportunidades
e fazer do improvável, a realização

Por questão de dignidade,
pela melhor opção,
servir por igualdade,
pela qualidade da força humana…
Como pedra que cai na água
e provoca ondas,
promovemos mares de sabedoria

Servir por um passo de luta,
para não perpetuar o sofrimento,
resistir nas curvas, e nos ataques,
e nos impasses de destruição

Servir para não ficar à mercê
das inverdades (mal ditas) sobre nós,
para dar credibilidade ao que nós construímos

Um espaço multi-indivíduos que aceita, acerta e acata
o pobre, o rico, de direita, de esquerda, de raça, de religião (ou não)
o diferente:
tendo sempre um direito a alcançar pelas nossas mãos.

Servidor com sentido,
consentido,
sem servidão…

Estrelinha

Minha estrelinha preciosa,
que não sabe o valor do seu brilho,
se não fosse você,
como a noite seria clara?

Estaria o mundo no breu total, escuro;
Você, sempre puro, não me alegaria sorrindo,
servindo de pretexto para a minha felicidade

Quem se junta no caminho do bem,
se encontra sem saber como,
a vida não cruza os braços,
promove encontros, mesmo distante-,
entre estrela e poeta nas formas de poesia

É a sua vida valendo de obra-prima para o verso,
seu sorriso, o verbo, suas lutas que ninguém sabe,
é arte, querido, pura arte, mesmo sem entender
faz parte do espetáculo vivo,
até te chamar de amigo

É a capacidade de ser estrela,
que não seja cadente,
é o meu desejo
para a amizade

Muito há dizer

Ainda não há muito o que dizer
além do seu sorriso fácil
do seu humor solto,
de tantas curiosidades
dos meus beijos de pescoço

Ainda não há muito que dizer
além do seu corpo esguio,
além dos ritmos do seu corpo,
e do seu carinho

Não há nada a declarar
sobre as nossas trocas de olhares
dos paladares que eu vigio e cuido

Nada há a acrescentar
além da minha falta de ar,
enquanto de desnudo

E é humano te bem-dizer,
ter segundos com você
antes de começar o dia

Deveria ser regra,
mas eu não vou seguir,
não vou detalhar nada mais além
dos seus cabelos enrolados
e o fato de seus abraços,

e seu colo – postergarem a ida,
prorrogam a rima,
nem dá vontade de fechar estrofe

Eis que a vida quis,
eu e você. feliz
em rumos diferentes

Fugindo pela esquerda,
correndo à direita,
a poesia nos colocou frente a frente,
finalmente.

Falando pouco,
dizendo muito,

inconsistente ao mundo –
coerente se faz
o nosso silêncio

Há tempos

Para Tais Freitas, atualmente Diretora da Escola de Formação e Desenvolvimento de Pessoas/Reitoria do Instituto Federal Fluminense, pela excelente profissional, de tantas qualidades, e amiga. 

Há tempos que o poeta tem observado
a sua ação, e hoje, nas horas finais do dia,
render homenagens é obrigação

Aprendi, desde que reconheci o meu ofício
ter, por oficio de trabalho, a observação.
Nesse tempo de convivência,
– perdoe-me a incongruência da cronologia exata -,
tomei nota das incertezas da chegada,
da voz trêmula das primeiras convocações

Tomei nota das iniciativas inseguras,
das indagações prematuras, da dúvida
constante, da constância da ternura,
dos posicionamentos equivocados,
da postura pura, simples e ingênua,
de quem se via pequena
tentando acertar

Vi a armadura ser trocada várias vezes,
vi aceites corajosos e a audácia
de quem aprende aceitando de presente
aquilo que não se sabia se poderia ofertar

Presenciei dias de tormenta, e percebi
com o olhar apurado de poeta –
noites de sono nem sempre dormidas

Constatei dores de renúncia,
daquela que queria tomar conta de tudo,
sendo simplesmente uma só.

A mãe tão presente dividir o presente
com o árduo trabalho.
A profissional competente reconhecendo limites,
não desapontando os amigos por consideração.
A esposa, tão cuidadosa, indo além do que as forças permitiam.
A filha que sempre atende as ligações.

Presenciei a professora de outra época
tentando aprender os rumos não-numéricos,
e descobri, que para ser o que se quer,
às vezes, é preciso ser multitarefa.

Pelo olhar da convivência,
vi as dúvidas ganharem direção,
vi a anfitriã se percebendo,
a diplomacia ganhar dimensão.

Tomei nota, em muitas reuniões,
dos olhos atentos e dos ouvidos abertos,
ensinando e aprendendo,
que falar no tempo certo,
e ouvir na hora certa
é talento lapidado

Vi, até muito recentemente,
o cansaço bater na porta
de quem tanto faz e faz,
– mais e melhor -,
achando que ainda não é suficiente

Eu vi tantas em uma só
que até achei que não fosse sempre.
Aí eu descobri o melhor:
Que a vida nos dá de presente
a capacidade de ser diferente,
de transpor os limites da mente.

Eu vi tantas em uma só
que eu preciso deixar ciente:
A acolhida foi tão compreensiva,
que o poeta ganhou amiga
pra seguir em frente.

Aparte

Para Iago Reis
————————-

Fico feliz quando você me toca o corpo,
me abraça, e me beija na face,
e me faz de transbordo dos sentimentos
pelos quais não se sabe
(se existiam ainda dentro de mim)

Fico feliz quando me fala dos seus gostos,
e quando contempla, a tarde,
e eu me finjo de bobo
pra não falar da missa-metade

É tudo ainda muito novo,
ouvir a sua voz doce e suave,
ter a sua companhia simples,
seus sorrisos, sem vaidades

Não necessito visitar a utopia,
ainda não é tarde para acreditar na poesia
que vive em mim, ainda, escondida, em parte.

Você com simplicidade costura tudo,
o mundo, pelo qual eu não vejo mais encanto,
cala bem antes do começo, o meu pranto,
meu desencanto, minha enfermidade

Da alma, do espírito, da carne,
você revigora, cicatriza, energiza,
cumplicidade

Um estado de paz, de poucas palavras,
de meios gestos, de observações,
você me devolveu a capacidade…

De escrever de novo, vivo e belo,
com sentido, sentimento e serenidade
o poema-humanidade

Sonho alto e lindo, novamente,
a realidade…
de ser pleno, acima de tudo,
quando te observo, à parte

Segundo dia

Para Thaís Almeida, amiga e colega de trabalho da Gestão de Pessoas/Reitoria do IFFLUMINENSE.

Acima das futilidades mundanas
você, figura humana;
acima das tolices da matéria
pretérita de outra existência,
você, essência que apraz;

Acima do momento, escassez do ser
você sabe ser, antever o que não se pode dizer,
cansada do sou, do eu: é o meu pensamento também.

Amém ao futuro
que antes, o passado,
– antes desse futuro -,
no ontem, cê fonte
de esperança

Pequena ruptura
meus versos apontam
na alegria, na coragem,
na ousadia, cansaço de vaidade

Hoje e até agora, você não entendeu
porque a vida, ou Deus – como quiser –
te fez mulher, mãe da Ana Letícia,
pai e mãe dos seus, pai e mãe,
amiga de tantos amigos em comum

Incomum e sem pretexto,
meus versos – antes tão corriqueiros –
retornaram ao grande defeito de ser poeta:

É sentimento em alerta, que você vai dizer: Presente.
Não, presente, não. Que você sabe, mais do que ninguém:
Data nunca me obrigou a nada, sem muito motivo, é Graça, de graça,
como sempre faço.

O correto, ainda que não soubéssemos lá atrás,
é chamar mais um ano de vida, de vida corrida e corajosa,
de um imenso e inenarrável privilégio.

Como tudo que passa um dia na mente da gente,
já veio tanta história… que alegria poder narrar trajetória
que os anos propuseram e você, aceitando o mistério da vida,
mudou de rumo, de rota, de carreira, de rito, de ritmo, de rima,
amiga de consideração, que não passa, transpassa essa dificuldade do ser

Há de ser agora, e novamente, no segundo dia de maio,
um calendário para a vida toda, para toda sorte
e para qualquer missão.

Substitutivo de saudade

Gosto de gente que tem caráter,
que fala e sustenta a fala até o fim.
Gente que tem princípio,
quando diz sim é sim,
daqui cinco minutos ou cinco anos
 
Gosto de gente que questiona,
que rebate, que argumenta,
gosto de gente atenta e de olhos abertos,
de gente do tipo esperto, ligado,
capaz de desconfiar das intenções terceiras
 
Gosto de gente parceira
que não vai me jogar na fogueira
na primeira oportunidade
 
Gosto de gente certa por completo,
que não olha o nome do processo,
e fica fazendo média
 
Gosto de gente que erra tentando acertar,
e se assume, e se corrige, e se retrata também.
Gosto de gente que, como ninguém, sabe falar o necessário,
sem ofender, sem criticar demais por puro desprezo,
gosto de gente sem rodeios, que diz o preto no branco,
sem enfeitar, sem os floreios
 
Gosto de gente que não assina embaixo sem ler,
gosto de gente que revisa, sugere, suprime e acrescenta,
gosto de gente que ensina sem arrogância, aprende sem prepotência,
gosto de gente que pede da paciência à clemência sem perder a autoridade,
gosto de gente que fale de moralidade, praticando,
gosto de gente que comenta de impessoalidade sem olhar o sobrenome
gosto de gente, de gente, gente, que assume a figura pública
sem perder a particularidade.
 
Gosto de gente, de muita gente,
de gente que ficou insubstituível
no substantivo saudade.

Imenso amor

Eu acho que a gente já entendeu
que no nosso caso, o amor não é um acordo,
entre seu corpo e o meu, nem entre seus olhos e os meus,
nem sobre seus desejos e os meus

Eu acho que a gente já entendeu
o significado firme e forte,
o elo que nos une além da morte,
a sorte dos nossos reencontros
no tempo e no espaço,
e no estado de paz

Não é questão de falar sério,
ou, de pensar mais a frente na eternidade,
é mais simples, porém, mais sólido,
é a certeza da segurança, da grande confiança
que a minha voz não fala, que a sua timidez não deixa,
é, em certa medida, a vergonha que a gente pragueja no íntimo

A questão é que a gente tem muito a dizer
de forma leve e divertida,
são os sonhos que brilham na esquina da alma quando a gente viaja
nos nossos planos de muito tempo pra frente

A questão é que eu sou parte de você,
e você, parte de mim; sabendo,
que o que parte de mim pra você
é imenso amor

É imenso, amor
o que nos conecta,
o que nos trouxe até aqui

É o nosso aprendizado contínuo,
sabendo que a gente se merece
e que o mundo nos amadurece
para a gente se receber lá na frente
meu presente, eternamente.

É imenso, amor
o que o meu coração agitado decifra,
o que a minha mão quando aperta a sua sente,
é a fala, que quando sai, vai tão trêmula,
mas, mas, não insegura do que eu preciso

É imenso, amor
o que eu tenho confirmado, é bendito,
saber que seu abraço ainda tão pequeno, é vivo,
é imenso, eu insisto, o que a gente vem descobrindo sem pressa

Que nesse mundo, não adianta ser presa dos outros homens,
eu sou um grande homem, querendo o mais honesto dos sentimentos
com um pequeno homem, o melhor dos pares que nem milhares de caras
serão caros de significado da aliança que só você se fez – e me deu.

*Para Hiago Tavares

Poema dado

Se eu pudesse me disfarçar
de festa, de sorriso largo,
se eu pudesse dizer que me faço
de abençoado o tempo todo,
que bom seria a vida,
se eu pudesse escolher
o que eu faço e como me sinto.

Mas, na verdade, o sorrir é um mito,
o abraço de amigo tenta confortar,
mas, só eu sei o que eu quero juntar
nesse entrelaçar de carinho

O meu vazio me permite
o falso preencher de contentamento,
mas, por dentro, lamento;
é um mundo obscuro que eu entro,
e me tranco, e me lanço, e parece,
que mesmo em prece, eu não consigo voltar

Se eu falasse o que dói de verdade,
se eu soubesse identificar,
o que está por dentro do corpo,
eu não precisaria me arriscar
a perder a vida, tentando ganhá-la

Essa minha fala, tão simples,
e tão verdadeira…
me sinto a beira do silêncio,
e
vou
me
jogar

Assumo as consequências, e peço clemência
à divindade que me criou, mas, eu não consigo suportar,
que nessa vida, eu não tenho vida, e na próxima,
se houver alguma, eu também não terei,
temerei eternamente o que eu não pude aproveitar

Por isso, responsabilizo o mundo,
sou fraco, querendo ser forte,
e me sinto imundo,
mas, o poema vai me limpar…

O poema vai me benzer,
o poema vai me proteger,
o poema dado foi lançado
pra me demover do não viver,
pra reviver

Curadoria

Sua beleza incomoda a minha íris,
tão chocante é aos meus olhos
que reação não me permite,
o meu corpo te assiste

Paralisado fica todo o meu ser,
a obra de arte que a vida cedeu ao viver.
É um escândalo, que não tenho voz,
perplexidade faz os meus dedos virarem em nós.

Perdoe-me o silêncio,
a falta de palavras,
o contemplar por mero instante,
fui ultrajado pelo tempo terreno,
mas, a minha mente é eterna viajante

Sinto muito até mesmo a desculpa,
tenho que dizer que não é minha culpa,
pelo imóvel que perdeu os alicerces
e desmorona antes da reintegração de posse
consciente.

Para que você fique ciente do tudo que me causa,
quando não me faz nada, obra de arte tombada,
preservo até os escombros desse conto em verso,
conto apenas com a sorte da memória, ora revelada.

Seu corpo, seu cheiro, sua voz,
seu cabelo, seu jeito gentil e veloz,
a minha quietude, minha taquicardia,
minha fala que não saia,
inauguraria, muito antes,
o encontro das duas artes

Curadoria que não curaria
nem metade dos impactos históricos
causados em qualquer tarde.

Solzinho

É meu pequeno príncipe,
minha história infantil preferida,
meu amigo, minha companhia,
meu sincero verso, tão sutil,
tão singelo, meu guerreiro,
combatente, com você sou mais gente,
meu cuidado mais próximo, meu presente,
meu pensamento distante e próximo,
meu elo com a vida, sem solidão.
É meu sorriso mais simples,
meu brinde de fim de dia,
é minha primeira alegria na manhã,
minha ligação de cuidado,
é meu contato, meu comparsa preferido,
é meu abraço, meu abrigo, meu imprevisto,
é meu desejo mutável, meu fardo favorito,
é minha emoção, meu pequeno botão,
meu bordão, meu coração que bate feliz,
é tanto, o meu tudo, meu eco profundo,
meu viaduto para atravessar o escuro,
é passado tão recente, repito, meu presente,
enquanto eu tiver vida, meu futuro,
o amor causa esse impulso, tão parte de mim,
que me sinto seguro, mesmo tão instável,
é o meu silêncio imediato para não chorar no poema,
que diz tanto, na eternidade, sempre seu, sempre metade do Tavares

*Para Hiago Tavares

Depois da vírgula

Para o músico, o maestro;
para o aluno, o professor;
para o poeta, o firmamento;
para o doente, o médico;
para a abelha, a rainha;
para o índio, o cacique;
para o faroeste, o xerife;
para a banda, o vocalista;
para a nostalgia, o tempo;
para o bebê, a mãe;
para o órfão, a tia;
para o esporte, o técnico;
para o pintor, a tela;
para o ator, o diretor;
para o evangélico, o pastor;
para o católico, o Papa;
para o espírita, Kardec;
para stephen hawking, o nada;
para o eu, o verso;
para a vida, a eternidade;
para o escritor, o editor;
para Joelma Vieira, o RJU;
para o convidado, o anfitrião;
para o manobrista, o patrão;
para a canção, o ouvinte;
para o rádio, locutor;
para o empregado, o chefe;
para o colaborador, o líder;
para os livros, bibliotecário;
para o País, o Presidente;
para a mente, psicólogo;
para o carente, o colo;
para o bloco, o mestre-sala;
para a fala, a palavra;
para o ateu, o fim;
para o pijama, a cama;
para o artífice, o belo;
para o desejo, a ação;
para tudo, um exemplo;
desse lado, ou do outro;
para o pouco, o muito;
para o seguidor, liderança;
para os atos, segurança;
para depois da vírgula, confiança;

Luz

Seu carinho é aconchego simples sim,
de pessoa sempre jovem, sempre leve,
áurea de paz que o espírito leva,
não importa a idade que o corpo tem,
Parabéns, Silva Luz, Silvia Lúcia

Esse texto não é um poema,
é uma carta aberta em versos,
é a reverência simples, singela do poeta,
que agradece, por você, uma inteira, geração

Seu carinho, seu sorriso, seu jeito lindo
de viver a vida, de agradecer à vida,
de contemplar o belo, de acolher do jovem ao velho,
é a certeza de que o amor, o afeto, o zelo, o elo,
atemporal.

E se for chorar lendo esse cuidado com o próximo,
é óbvio que o temporal das lágrimas que estão caindo,
refizeram tudo o que foi poluído nos contratempos do caminho.

Erga-se, que Deus proteja, que conforte, ilumine, a eleve,
o ser que existe em você, exaltado porque, vou dizer,
nunca quis estar no alto.

É por isso que Deus abençoa, é por isso que o amor ecoa,
reverbera, sem berro, é por isso que o ponto de luz,
resplandece.

Canção de ninar

Conta uma história boa
para passar o dia de hoje…
conta uma história para acalmar as notícias ruins,
para cuidar da menininha…
que dorme, depois, na calmaria,
canção de ninar…

Para a mulher que não consegue parar durante o dia…
canta baixinho pra abençoar… sussurrando para proteger…
a menininha que de dia não sabe parar….
responde a tudo, coloca a mão na demanda,
para realizar…

E trabalha, e esbraveja, desbarateia,
é bravata a encorajar… a menininha que dorme…
ninguém diz… cuida de tudo, é a última, apaga a luz…
a menininha que dorme… fala baixinho pra não acordar….
porque de dia não dorme no ponto, engole os prantos…
que a alma vai gotejar…

Menininha que ri, faz graça, mas sabe se colocar,
responde doce… também responde ácido… se for o caso,
sei que ela não se cansa… enquanto estou aqui…
calado não posso ficar…
calado, não posso ficar… não posso ficar…
aquieta menininha… agora não precisa se preocupar…

Agora o poeta não brinca… fica em paz, querida…
canção de ninar…

*Para Mayahara Barcelos – Servidora do Instituto Federal Fluminense, colega de talentos fotográficos.

Dizeres

Para quem já não tem mais
cinco minutos de fama,
para quem tem nove mais uns anos de carreira,
o que fazer depois da conquista do sonho?
deixar insones expectativas,
cada um sabe das maravilhas do divã do pensamento,
da consciência tranquila.
Artilharia pesada na palavra, na rima,
o que nos une, nos nivela por cima,
você com suas vozes, seus acordes,
sua palavra até na pintura para despistar,
eu, com o poema, a palavra, crua e fria,
sem escudos, subterfúgios, sem armadura,
apenas palavra nua, sem armadilhas,
para falar, falar e falar,
o que você também sempre quis,
com as suas pirotecnologias…
para dizer, dizer e dizer

Tudo tem mistério

Farinha pouca, meu pirão primeiro,
falar de beijo, de libido é pouco,
espero mais dos seus ancestrais,
já chega de bacanais virtuais

Para os desafetos do tempo,
o avesso dos ponteiros,
quem entende dessa história,
sabe que já era, é mágoa,
é hora da virada

Para os atentos da própria sorte,
ser forte é brevidade,
seus ensaios de cores falaram mais das dores,
que as flores de rosas

Para os aventureiros, celeiro de inéditas,
prisioneiros dos misteriosos áudios, o óbvio não precisa ser dito;
é um rito se reinventar, a tecnologia não vai ajudar tanto assim,
parte de mim esse som, radinho de pilha, ainda, para os desvalidos,
fone caríssimo para os famintos de humanidade,
estúdio dentro de casa, estudo dentro de mim

Goteja

Coração nobre, puro, cheio de vida,
de alma leve, sê forte, cativa,
poesia no gesto, na palavra modesta, bendita,
tem carinho nos olhos, pedra de turmalina,
tão antigo, amigo, que analogia nenhuma
pode ser suficiente, ainda que a lua fosse entregue,
não tem símbolo poético que se preze,
nem os milhares de corpos celestes,
do firmamento de prece da palavra abriga,
que saúda, e que venera, que corteja,
a poesia que hoje goteja pelos olhos
brota no fundo do poço d’alma companheira..

 

*Para Iago Santos

Flexibilização

Diretoria de Gestão de Pessoas do Campus Campos-Centro do IFFluminense. Para Mônica Chagas. Porque no início do dia é pedinte, mas no final, expediente
————————
Às vezes sorriso,
às vezes só riso.
Às vezes enérgica,
às vezes fraterna.
Às vezes postura,
às vezes póstuma.
Às vezes litúrgica,
às vezes lírica.
Às vezes rótulo,
às vezes rotula.
Às vezes desculpa,
às vezes se culpa.
Às vezes sábia,
às vezes leiga.
Às vezes carinho,
às vezes caminho.
Às vezes doçura,
mas, às vezes, ácida.
Às vezes diferente,
de repente, indiferente.
Às vezes contagiante,
às vezes desanimada.
Às vezes cansaço,
às vezes o aço.
Às vezes relógio,
às vezes raro ócio.
Às vezes rápida,
às vezes confusa.
Às vezes há cargo,
mas, todas as vezes, humana
flexibilizada na alma
em tempo integral.
Às tantas, há tantas,
numa estrofe só.

Portaria omissa

Para Joelma Vieira, Diretoria de Gestão de Pessoas do Campus Campos-Centro do IFFluminense: o presente de honra de trabalhar com quem sabe o que fala, sabe o que faz e sabe o que ensina.

Poemas são fruto de percepções e não mero desejo do poeta
que cresceu e você viu: o privilégio daquele que se instrumentaliza,
agarra as oportunidades e se reinventa, mas agora, agradece

O que julgam de nós carece de sustentação,
são considerações de quem, não raro,
não sabe o preço que foi pago para se estar aqui

Mas, ainda que digam, os outros,
milhares de contradições a seu respeito,
o meu discurso, nunca se fez sem sentido, você sabe disso.

Tem coisas que não vão publicadas na imprensa oficial,
o respeito, a admiração, o aprendizado não são transmitidos,
escritos, assinados por nenhuma portaria de agradecimento.

Pessoalmente, quase órgão consultivo que delibera,
o postulado público da integridade e lisura,
conforme a moralidade, a honesta conduta da pessoa pública

Daquela que sabe, e sabe que sabe, refutando até a mais alta filosofia,
e nem por isso, deixa de ensinar, e nem por isso, mais ainda,
não deixa de se preocupar com os transtornos que um erro, ainda que humano, causa.

Causa estranheza há muito, diga-se de passagem, que você tenha mudado de conduta,
já não anda mais no máximo estresse, no ápice da bravura, nas falas rígidas,
e venha, sistematicamente, assumindo sorrisos e cuidados, mostrando a vaidade feminina
e ainda que poucos saibam, percebo a alegria da materna coragem.

Passa indiferente aos olhos indiferentes, mudanças sutis, mas significativas
de seu humor e temperamento; hoje, já se permite olhar mais pra si,
e ir afrouxando as amarras da labuta aguda que mais prejudica a saúde do que ajuda

Nesse novo momento, tanto tempo do servir, rendo-lhe os cuidados da palavra,
que não é simples retórica, é presente; daquele que sabe reconhecer o presente…
Na verdade, inteligente é aquele que sabe, na prática, que a prática só gera melhoria
se o aprendiz tiver a oportunidade de conhecer o trabalho de quem realmente sabe muito.

É o rascunho do tempo que vai revisando, alterando,
leia-se: o que for velado pelo tempo é caso omisso,
retifico com esse poema e publico para todos os efeitos

Multi-mulher

Tem coisa melhor na vida
que além de amiga,
ter na mesma pessoa cúmplice,
na mesma colega de trabalho,
a mãe carinhosa, a esposa dedicada,
a irmã mais velha, a tia conselheira,
a professora corajosa,
a mulher valente e determinada,

Tem coisa melhor na vida
que perceber o turbilhão do outro,
e com respeito, na mais profunda admiração,
também porque não dizer, reencontrar
alma amiga, amizade antiga de outra vida
que a vida, generosa, ah a vida,
tratou de duas alegrias com o nosso abraço!

É simples e puro, o verso mudo e calado
que diz muito, que grita a prece do ser,
ser abençoada.

Que me faz acreditar na vida pela força,
que me faz ver a vida mais feliz, sorridente,
que traz ao mundo o mais convincente,
a simplicidade humana, que aprende.

Ter tudo e não ter nada,
ser muito e não Ser nada,
ser visto como grande,
não enxergar nada,
pequenina, dita gigante,
revestida de humanidade.

Aquela que sabe muito,
mas aprende sempre
tão cheia de humildade,
e o pouco que acha que sabe,
divide, reparte em mais da metade

E de tanto se dividir em mil,
como os segundos que a vida goteja,
os minutos aflitos dos compromissos
serão sempre a eternidade

Por tudo que cativa,
por tudo que nos faz parte
multi-mulher, sem muito alarde
com ares, ares de milagre

Oração amiga

Pai, teu amigo íntimo
hoje pede por outro ser divino
que eu chamo de amiga

Restaura essa vida, que já cansada,
já sofrida e abatida, não esquece de amar.
Hoje não preciso da mulher forte, guerreira,
da destemida cheia de confiança em Você.

Quero a alma humana, que falha, que sofre,
que também merece nossos cuidados,
senhor, um instante dela e pra ela,
não me culpe se a lágrima rolar,
hoje a preocupação de carinho que paira no ar
é inteiramente minha para te abençoar.

Quero a alma humana que chora pela distância,
que se apega, agrega e se entrega a outros corações humanos

Sentimento que fala mais alto e a gente vai estudando nas atitudes e arquivado em tudo
que é feito com zelo, amor e esforço.

Declaro respeito e amor ao divino do outro,
quando se lê um coração em pensamento,
o poema vira oração, amiga
amiga, oração

Aposento

Dos requintes de uma história
cheia de memórias que merecem mais,
bem mais que cinco estrelas,
seus aposentos de emoção
escorrem nas veias, nos anos a fio

O fio do destino que nos realoca
nos cômodos da vida,
corredores da alma,
tapete vermelho do coração

Pelo sim, e pelo não
nos rincões do tempo,
nesse momento,
seu aposento merece novos hóspedes

Ainda que tantos já tenham se acomodado
nos seus abraços sempre maternos,
toda a vida se alegra pelo crescimento
desmedido nas vielas do cotidiano

Seu abençoado corpo humano,
que transcendeu os limites da matéria,
que alarga a família, ficará sempre aqui
como um prédio que se ergueu, enfim;

Matéria-prima, prova viva das cidades
que construiu em nós, cheios dos seus aposentos
de amor.