Título abaixo

Não adianta meta na vida,
nem objetivo de vida,
não há necessidade mais
de conquistas de bens materiais

A paz não depende de mais dinheiro,
do lugar, da rotina, do meio de transporte,
do cargo no trabalho, a função em relação ao outro,
do auxílio de tarefas, da conclusão de estudos,
com a franqueza de quem olha o mundo mais afundo,
a notícia no jornal não choca mais com o caos dos fatos

Agendas cheias, compromissos inacabados, reuniões inconclusivas,
rotina que nos exige compromissos sociais, encontros, formalidades banais,
cuidados em excesso, esmero, a perfeição do corpo físico belo…

Para a alma imersa no mundo, o caos do cansaço que mais leva tudo de si
não aponta rumo algum, apenas uma vida que segue guiada sabe-se lá pelo quê.

Para alma serena é mais uma atribuição qualquer

Parando pra pensar em você, em todos nós,
experenciar a existência, perceber o convívio,
sentir o espaço temporário que nos foi atribuído
é muito mais do que tudo isso dito acima

Qual o sentido?

Qual a proposta de propósito?

De propósito

O título do poema vai abaixo
para colocar tudo isso que você pensa que é viver em outro lugar:

Poema de propósito

Fomos embora

(Para Adriel Mocellin)

Disponível fora da sua vida
irrelevante na medida certa,
depois de tantos anos dedicados,
a liberdade virou a página

Já não há mais sentido a nossa companhia,
não compartilhamos mais objetivos, nem sensações,
os quais nem sabemos se temos separadamente,
talvez perdidos em nossas individualidades

Partimos cada qual ao seu ponto
separamo-nos de nós mesmos
e não mais nos reconhecemos

Não estamos mais unidos por nada
ainda que nos reste carinho,
nem sei se um pelo outro,
ou pela nostalgia do que um dia fomos

Fomos, embora,
embora não adimitamos
nós fomos, e não, talvez não consigamos
voltar mais

Por escolha

Obrigado por experienciar a vida
na plenitude de quem gosta de viver,
de quem percebe a energia que comanda a existência
não obrigado,
por escolha

Pela força do movimento do espírito
pela matéria que rege o início de tudo
pelos desafios solicitados e colocados
diante daquele que tem prazer em viver

Vida nos olhos,
vida na alma,
vida passada,
vida presente vivida
no futuro que caminha dentro de mim

Todos os traumas passados,
todas as agonias vividas,
todas as causas anteriores
não impuseram tristeza de ser

Não manipula o ego
passível só de si,
daquilo que circunscreve as idas e vindas
sem desculpas

Encara tudo que veio de brinde,
e aceita: a vida permite a resposta,
autoriza a busca da solução para tudo que aflige,
assiste o próximo de todas as formas

Evapora todas as dores do caminho
recolhe remorso, ressentimento,
não é mais a trajetória do progresso
o momento de sofrer

Não se trata de autoestima pela positividade,
esse poema transcende recados
(conectados à compreensão da paz)
parou de fazer perguntas, apenas escuta,
não procura respostas, cria-as.

Estado de epifania

(Para Cadu, pela suas lives tão alegres, por uma amizade leve, por um ano novo especial)


Tenho pressa de viver
de realizar projetos
de cuidar de mim
de progredir na vida
e melhorar a realidade

Tenho pressa de cuidar de você
de te levar alegria, e fazer sorrir
como se só me restasse empatia
para te citar em poesia e colocar
em meus versos rápidos o que de fato
a descoberta por si só não me sacia

Você é fantástico em todas as melodias
e sem saber que é, já tem sido a minha companhia

Quando dança por nós,
e se dispõe diante da vida
a depor sobre o pôr do sol
calando todos os girassóis
na madrugada melancolia

Nem todas as coreografias
ensinam os passos a serem feitos
onde o ser perfeito não ensaiaria

Porque a nota máxima
está na vida, em ser refeito
cada ato como se fosse o primeiro
estado de epifania

Revogada

Não me coloque à prova
para o espetáculo
não mereço aplausos
nem sou digno de vaias

Não me desafie em tudo
não preciso comprovar nada
nem te atestar qualquer mérito
minha vida não vai ser calculada

Por nenhum erro me culpo,
por mim, até me retrato
não para me ver validado
porque há muito
aprendi a ser eu de fato

Não que meu ego domine
ou não mereça críticas,
elas são até desejadas
porque aprendi, sobretudo,
por elas evoluir
deixar marcas

Erro sim, é verdade,
não admito, com tudo, ser condenada
por falhas humanas abstratas

A minha trajetória, por fim,
autoriza apenas o eu
como sujeito da caminhada

Aprendi a corrigir sem ser avisada
e, no que eu puder resumir, serei retificada
e se não quiser assim,
ao que pensas de mim
serei sempre revogada

Sê eu

Onde buscar poesia
nessa vida atribuída
atribulada
atrapalhada

Em dias de chuva
sem a florada das flores
sem o orvalho que ressignifica

Livre-arbítrio
preso em
compromissos
de receitas
de remédios
não tomados
de diagnósticos
infundados
infecundos
infrutíferos

Em busca do que é belo
para justificar mais um
dia sem gosto, insosso
feito sopa sem tempero
sem vontade de cozinhar
ou de coser para pensar
em tempo a perder

Compartilhar a vida
em traços de compartimentos
sem buscar lamentos
para os elementos distintos
de várias personas do eu

Por onde anda os meus desejos
que já não se vocalizam mais
em minhas palavras
escritas ou faladas

Muita coisa já não passa mais
pelas minhas mãos, não produzem mais sons
O verbo transmitir – direto –
já não diz mais nada

Fragmentos de paz e de silêncio
evitando aborrecimentos
emburrecimentos
emudecimentos de reflexão

Flexões do tempo
que sabe passar
sem instrumentos
em amadurecimentos
ao longo dos meus
seres meus
em um só

Pra me redimir

Pra me redimir
peço desculpas previamente

Com o passar dos anos,
abro mão de certas certezas,
Incomodo as minhas incomodações d’alma

Pra me redimir
abaixo o meu ego, reitero
que a vida é curta e o que fica são as relações completas

Quero ir embora com saldos quitados,
com conversas concluídas,
com o espírito descansado da matéria
da vida

Pra me redimir e desfazer desembaraços,
(não se trata de quem quer que seja)
estamos acima das situações e dos contextos

Pra me redimir
não quero pretextos nem definições,
nem respostas de aceites de pedidos de desculpas

Não se trata de carregar culpas pelos aprendizados da vida

Pra me redimir
não busco saídas elegantes,
nem criatividade incentivada
para contornar as iras que causei

Eu sei que pra me redimir
não devo pensar em mim
nem na outra parte como quem ganha um jogo

Pra me redimir
abro o desejo da vida
de seguir seu fluxo
de ser em um só momento
o tempo que sempre irá passar, (por nós)
e mostrar que somos
a própria redenção
do ponto final em reticências…

Democracia estrangulada

Saindo de fininho
com receio de contato,
com cansaço de dizer o mínimo,
de falar o básico,
de explicar projetos de poder,
e das cartadas da mentira,
e do malabarismo com a informação…

Cansado de ver o povo em pesquisa de opinião
sem fundamento, e de questionamentos vazios
e o Brasil sem direção

Cansado de dizer das armações para a mídia
e da milícia da desinformação,
cansado de mentiras e de colocar no outro
as suas verdadeiras intenções…

Saudade do tempo que o Brasil pensava pra frente
e que se era discutido até a privatização
com democracia e com argumento,
sem fanatismo e sem envolver religião

Saudade do Estado laico
e do contraponto,
não essa contradição

Saudade de governo que tinha oposição,
e não opositores em cada agressão
à democracia, ao Direito, ao orçamento público,
às políticas públicas que não transferiram apenas renda,

Saudade de um projeto de política pública de inclusão
do pobre até a dignidade da comida na mesa,
do acesso à Educação, da vacina no braço
e da Constituição

Saudade de um País respeitado como Nação
que tinha voz no mundo, diálogo
e tratava bem sua população

Que desse o mínimo, é verdade, do necessário
que tinha compaixão, que não era um mártir,
nem um iluminado, ou qualquer coisa que o valha,
e não dividida religião

Saudade da civilização,
sem ódio, sem arma como solução

Faz falta é criança na escola,
jovem querendo outra visão de mundo,
mulher escolhendo a profissão que deseja
sem estar com o destino preso e sem direito,
sendo empregada doméstica por falta de opção

Não digo que o mundo era perfeito,
nem tão pouco que não havia coisa errada,
mas, não havia medo em cada calçada,
jornalismo era crível no livre exercício de imprensa

Saudade de um mundo que pensa sem medo
e do cansaço do zelo de levar comida pra casa
Saudade de uma vida em conjunto, e não separada
de gente que somava sonhos, e não críticas e ódios
com ensaios de facadas, de trocas de comandos,
de interferências generalizadas

Não tem literatura que aguente tanta moralidade torta,
tanta perversidade em nome de Deus, tanto alarde com pautas
que não levam nada a coisa alguma, tanta malandragem…

Não aguento mais desmentir alucinações,
e delírios propositais de gente perturbada,
e maldosa, e mentirosa e covarde,
que escancara o pavor, que cita denúncias inverídicas

Saudade do progresso que se almejava,
saudade eu tenho da democracia
antes de ser estrangulada

Diante de suas ausências

Diante de suas ausências
nem mesmo as ilusões sobrevivem
diante de suas faltas
nem mesmo os fatos coincidem
diante das inconsistências
que se agridem
existe um quê do fato
abstinências das realidades que nos oprimem

Diante das percepções distorcidas do todo,
o ontem já deixou de ser ontem e foi embora,
a ansiedade do hoje sem você sumiu
o amanhã me pertence

Não sem memória de que você existiu
e foi embora
não sem lembranças do que a gente viveu
e se evapora

Não se trata de deixar o passado pra trás,
nem de fechar a porta, nem de encerrar ciclos,
nem de acerto de contas, nem de desculpas,
nada disso se elabora

Diante de suas ausências, nem o vazio
me ocupa agora
nem um estado servil
me aflora

Diante de suas ausências
se descobriu que fui eu
que flui embora

Incompletudes imprecisas

Eis que sinto ausências
passadas a limpo
presentes no limbo da memória

Eis que sinto desconfortos d’alma
que a mente ainda não decifra,
sequer investiga, nem busca respostas

Eis que esse estado confunde,
ilude e decepciona sentidos,
sentimentos, semi-círculos de vivências,

Incompletudes guardadas em versos imprecisos

Necessários
Deslocados em estrofes

Eis que sinto vazios não percebidos
lacunas do tempo do eu que não sofre
sem fundamento, e sem angústias

Contemplação das incongruências
de existências não lineares

Novo amanhecer

Esse poema é um agradecimento à vida
que me permitiu um amigo tão distante
ser perto

Esse poema é dedicado a todas as horas
que você divide comigo, mesmo brincando
são momentos da existência que não voltam mais
– nem seus, nem meus –
e nós escolhemos viver juntos

E nos divertimos juntos, rindo sempre
com a certeza e de peito aberto
de que merecemos momentos de alegria

Jonh Garcia, esse poema não retrata as fases da sua vida,
não pretende te encher de nostalgia, nem curar sofrimentos passados;
Esse poema fala que o presente se faz abençoado quando a gente se permite
ser levado a sério na nossa real maneira de ser, de ser lindo, sendo eu, sendo você

Esse poema fala que vale a pena tudo que a vida nos deixa de lição,
e por que não ser feliz sem condição?
Esse poema fala que no mundo tem gente para tudo,
inclusive, mãos que acolhem, compreensão que vem distante,
companhia que mora longe, mas, te quer bem

Esse poema fala da sorte de quem te escreve,
porque sabe te ver forte mesmo quando você não se vê
Esse poema conta uma história que nem você é capaz de conhecer

Ah, claro, esse poema é pra você
porque coloca em versos não só elogios, nem só maneiras de te enaltecer
Esse poema fala do seu futuro
fala de um homem puro que você ainda vai aprender a ver

Esse poema fala tanta coisa que ainda não pode ser dita,
mas, sobretudo, esse poema é alegria que irradia vinda de você
Esse poema, sem forma e sem métrica acerta porque a vida é autêntica
para um novo amanhecer

Fica à vontade

Fica à vontade pra ser o que você é
mesmo que ainda não saiba quem você é.
Eu gosto de descobrir junto com você
o caminho que você está seguindo
mesmo que ali na frente você volte

Fica à vontade pra pensar em voz alta,
fica à vontade pra falar em voz baixa,
fica à vontade pra manifestar a sua dúvida
fica à vontade

Eu vou interagir, não criticar (às vezes, sim)
eu vou participar da construção do seu eu
se você me der essa liberdade

Não tenho olhar terapêutico, nem clínico;
retirei dos meus olhos o vício de ver maldade.
Temos um acordo não dito de reciprocidade
pra você se sentir à vontade, e sentir o que quiser,
e poder chorar, se quiser, e rir também feito louco

Aos poucos, a gente se entende, e se entende que a gente é gente,
e muda o tempo todo, e testa novos jeitos de ser, e sonha e se frusta
de novo, de novo e de novo, sabendo ser mil de nós;
amparados pela mão que não julga, pelo olhar que compreende…
há diferentes formas de existir e de ver o mundo

Eu quero conhecer outros mundos, outros lados,
outros fatos, outras curvas, outras práticas ocultas
que só você sabe que sabe de você mesmo

Descobre comigo, numa companhia madura,
de quem tem a paz de espírito necessária
para ser de toda e qualquer ajuda

Encontro de empatia

(Para Nathália Sepúlveda)

Seu poema está sendo gestado
em tempo impreciso, revisitado;
em que se fez o imprevisto, revisado;
as nossas sintonias se afinaram

Nosso encontro de empatia
queria dizer das trajetórias maculadas,
das solidões d’almas machucadas
não lidas, não traduzidas, nem nada

Agruras da vida, querida
os homens não são normais

Seu passado, meu passado
separados,
tiveram motivos diferentes
para chegarem onde estão

Seu poema lapidado alterna versos,
troca estrofes, compõe-se ouvindo músicas,
busca significados refinados, vai fundo;
se faz inspiração

É o trabalho de ourives da palavra
na vida que as vezes parece incapaz
de compreensão das nossas dores mais profundas

Nossos caminhos chegaram até aqui:
diante de mim, cética, reflexo da razão,
a paixão muitas vezes vale nada, realmente

A mulher que ama muito mais que os homens
sente que a poesia não engana, não mente, nem convence;
o poema pra quem sabe ler não tolera ser simples

Os homens não sentem mais;
são todos românticos falíveis;
todas as nossas expectativas infrutíferas
criaram raízes de experiências

Todas as leituras mal interpretadas de nós
são releituras da realidade de outro alguém,
às vezes, de nós mesmos, passados sobrepostos

Porque não dizer: valeu a pena
o poema não busca a poesia,
mas, a inspiração

As agruras que nos moveram
confundem-se em contramão;
seu olhar encontra o meu
(des)vendo tudo

Manhã de sábado

Um dia eu
me apaixonei
sem dizer pra você
o que sentia

Eu vi poesia desabrochando na manhã de sábado,
campos coloridos me acordaram na manhã de sábado
eu vi raios me cercarem pra me acordar de uma forma diferente

Um dia eu,
acordei com esperança
de ter você aqui do lado
era uma manhã de sábado

Você me veio à mente
nas primeiras horas,
e com você eu resolvi viver
pra sempre

Em nosso colorir de flores,
você fez minha manhã de sábado
valer a pena

Durante todas as manhãs da semana,
eu esperei você vir novamente
nas manhãs de sábado

Porque um dia
você me deu o significado
das manhãs de sábado

Até agora

Teus pedidos
sempre infundados

Meus anseios
sempre reprimidos

se encontraram

Tuas justificativas fugitivas
– infrutíferas em outros tempos –
semearam em oportunidade

Mudou o contexto
no meu peito
teu carinho faz sentido

Teus beijos vazios de significados – ontem –
mudaram de sabor e de forma – hoje –
marcaram a nossa história juntos

O acaso do destino encontrou pretexto
e esse meu verso é um intenso jeito
de dizer que te amo sem qualquer receio
de que a vida me surpreenda de novo
na contramão do desejo

Não busco o controle da vida
nem que siga a minha vontade,
permito-me, de corpo inteiro,
relembrar teu nome com vontade
que nunca tive
até agora

Coxia

Saí de cena
voltei para a coxia
encerrei o espetáculo
dessa temporada da vida

Recolhi o cenário
guardei os pertences
quando as palavras cessaram
esvaziei a mente

Descontinuei o projeto
fechei a bilheteria
recolhi a lista de isentos
interrompi a fila

Refiz as prioridades,
hora de mudar de história
vou contar outros versos
ler outros livros

Repensar repertório
repositório da minha alma
buscar referências alternativas
ser diferente de mim

Reescrever eu mesmo
surpreender na nova proposta
esquecer das horas e dos dias
não busco vitórias

Perdi o meu próprio roteiro
não me lembro do script
as falas não me vêm à mente
emudeci no palco

A plateia inquieta
o silêncio necessário
a compreensão da espera
na minha alma
um vácuo

Saí de cena
voltei para a coxia
encerrei o espetáculo
dessa temporada da vida

Multitalentos

É o que se espera
de todo artista
que ele domine o sentido da arte,
que saiba das palavras, das músicas,
das imagens, das obras-primas, das rimas,
cultura esculpida a la carte

Que compreenda a literatura,
a partitura, metades de tudo,
movimento do corpo e da mente,
disposição para a escrita
das várias formas de sentir a realidade

Ah, o artista, multitalentos da expressão humana,
disfarça o que é,
cria a realidade do outro,
causa empatia com a voz e com as mãos,
mimese de outras dimensões,
os traços da criação…

Horas depois você aparece

Horas depois você aparece
com um copo na mão como quem não quer nada,
cansada da vida do nada do nada do nada
que tem feito agora

Disse que mora na calçada do tédio
da vida estável e estagnada

Difícil pra mim decifrar o que isso quer conter

Talvez suas horas de análise não tenham chegado a conclusão alguma,
não que fosse necessário, eu sei
Mas, um fio condutor sempre se espera
nessa mania da existência linear

Há verdades perdidas na pia, na louça suja,
uns planos mal elaborados perdidos nas roupas,
um caos qualquer nas contas vencidas
e vitórias não vistas depois de um dia de chuva

É um amor que se desloca no vazio
do não-amor vivido no tempo querido,
e desse presente, no hoje, já não faz sentido
senão fotos velhas guardadas na memória,
senão sorrisos transmitidos errados,
senão o tempo consumido,
senão uma foto guardada no verso,
senão um amor lavado ao vivo

Poucas roupas cobrem a alma,
poucos presentes traduzidos,
poucas as frases sobrevivem ao ouvido,
poucos sentimentos permanecem vivos

Senão fragmentos de ideias perdidas,
senão reflexões interrompidas,
senão há alma guardada no corpo
senão há vida sobrevivida.

Horas depois você aparece
em outros dias, semanas ou meses
horas depois você aparece
anos depois, contam-se décadas
você aparece em desmazelo
no resquício de uma memória,
depois de anos, em meu outro leito.

(T)EU

(T)EU
sem meios termos,
sendo bem terno,
não temo, os erros,
nem tremo de êxtase aos acertos tolos,
toldos da vaidade

(T)EU
tarde da noite,
tento, acima de tudo,
ter o que se espera de um poeta a todo momento,
– tempo sublime –
tido por mim como
terço de poesia

(T)EU,
todavia, espero que não
troquem os meus versos sinceros por
três ou quatro interpretações sem sentido,
tentativas infelizes de me decifrar

(T)EU,
Terminei os rascunhos da minha vida enquanto
trocavam-se em meus olhos, lágrimas,
tocavam em meus sentimentos com farpas que a música
não traduz mais

(T)EU,
Transcrevi para outro papel a minha decisão de viver bem,
transcendi como ninguém o sofrimento da matéria para jogar, à vera, e
transfigurar para primavera, todas as estações do ano

Palavras insuficientes

Para o amigo João Vitor P. Alves

Sem qualquer clichê
– nem mesmo o japonês –
eu quero agradecer a você
muito mais que os animes,
e as risadas que a sua convivência traz

Foi assim, sem querer (pra nós), que a vida
me apresentou você, sabendo o que faz
e mais, mesmo que a gente não converse sobre os nós
que levamos no coração e na alma, eu sinto,
que a nossa calma, unidos, muda todos os dias difíceis

Mesmo mudos, já te vejo – de tão longe –
mais perto de mim, e é assim que noto
na voz e na maneira de falar
quando a tristeza toma o lugar do sorriso

Mesmo assim, eu não me importo
com seus momentos inglórios,
é próprio da amizade
essa parte que ninguém vê

Para além do estado de graça,
eu quero que você saiba
durante todos os dias da sua vida
que a sua presença tão querida
suaviza a minha própria existência

É para um reencontro com o carinho,
para ocupar os vazios
e as inquietações do mundo,
que nós fizemos o nosso próprio caminho
de amor e consideração…

E porque não dizer também,
que esse poema só acaba
porque pra você não há palavras
suficientes

Entre esperas

Diante de tantos corpos fúnebres,
do desalento da morte, não há de ser forte
nenhum homem que preserva a vida humana

Diante do projeto nefasto é fato
a falta de norte, não há sorte
para os restos mortais que ficam
em famílias desmontadas de forma precoce,
na face da vida dos ditos vivos,
nem dos espíritos, do outro lado da ponte

Parece, inclusive, que os lados coincidiram
em colidirem frontalmente, algo parece fora de rumo,
uma curva na rota da existência,
anjos também pedem clemência
ao livre-arbítrio do humano insano

Que sobrecarrega todos os lados da vida,
mudando a trajetória do tempo,
um lamento uníssono do início-fim

Fora de controle e de prerrogativas,
a vida e a morte se encontram,
para a troca de lados, aos montes,
que só a Existência Soberana entende

Não há começo de era,
nem queira, quimera,
o fracasso é um hiato
de tantas esperas
de lições nem sempre aprendidas…

A vida tem seu tempo,
para todos, em poucas dezenas de décadas;
Para nós, a espera eterna não cabe mais,
nem por isso o mundo se oblitera,
é só outro tipo de guerra
que os homens não sabem mais…

O tempo

É preciso parar o tempo,
não parar um tempo,
nem rever prioridades,
nem reaver conceitos

É preciso parar o tempo:
o tempo da culpa, o tempo que corre,
o tempo que consome, e o tempo que comove

É preciso parar o tempo:
o tempo da angústia, o tempo do passado,
o tempo do futuro, o tempo de presente

O tempo da vida não muda,
o tempo da vida não morre,
o tempo não faz curva,
o tempo não nos socorre

O tempo é o tempo,
unidade que existe, ou não
o tempo é invenção do homem
que move até constelação

O tempo não pára, nem deve caber o clichê,
o tempo não existe, o que existe é você,
o relógio não quebra, o compromisso, não cessa,
a justificativa só consome um tempo de esperas

O tempo é a falta de atitude que não se tolera,
o tempo é um reverso daquilo que não há,
o que não cabe imaginar,
o que seria da gente sem o tempo,
sem tempo para nos controlar

Servidor

Por que ser servidor?
Refletir, primeiro o sonho,
nosso projeto próprio, individual,
lembrar das mudanças que se fizeram distantes,
hoje, tão reais

Servir por missão coletiva,
pela capacidade de pensar além,
servir porque ninguém faz nada sozinho,
doar-se para ampliar horizontes,
renovar, buscar esperança,
mudanças de uma sociedade

Por que servir ao Estado, e não a um patrão?
Servir por opção de vida, pelo projeto de Nação
para garantir, na lida, comunhão:
Servir Educação!

Para mudar o rumo da história,
dar outra dimensão,
por acreditar nas oportunidades
e fazer do improvável, a realização

Por questão de dignidade,
pela melhor opção,
servir por igualdade,
pela qualidade da força humana…
Como pedra que cai na água
e provoca ondas,
promovemos mares de sabedoria

Servir por um passo de luta,
para não perpetuar o sofrimento,
resistir nas curvas, e nos ataques,
e nos impasses de destruição

Servir para não ficar à mercê
das inverdades (mal ditas) sobre nós,
para dar credibilidade ao que nós construímos

Um espaço multi-indivíduos que aceita, acerta e acata
o pobre, o rico, de direita, de esquerda, de raça, de religião (ou não)
o diferente:
tendo sempre um direito a alcançar pelas nossas mãos.

Servidor com sentido,
consentido,
sem servidão…

Estrelinha

Minha estrelinha preciosa,
que não sabe o valor do seu brilho,
se não fosse você,
como a noite seria clara?

Estaria o mundo no breu total, escuro;
Você, sempre puro, não me alegaria sorrindo,
servindo de pretexto para a minha felicidade

Quem se junta no caminho do bem,
se encontra sem saber como,
a vida não cruza os braços,
promove encontros, mesmo distante-,
entre estrela e poeta nas formas de poesia

É a sua vida valendo de obra-prima para o verso,
seu sorriso, o verbo, suas lutas que ninguém sabe,
é arte, querido, pura arte, mesmo sem entender
faz parte do espetáculo vivo,
até te chamar de amigo

É a capacidade de ser estrela,
que não seja cadente,
é o meu desejo
para a amizade

Insciência

Não deixe que te façam acreditar
não merecer tudo o que tem,
a felicidade que habita em ti
não provém de ninguém

Não deixe que te façam acreditar
na desvalia do ser,
no ato diminutivo de grande existir,
confunda-os, não se confunda com eles

Que a tua grandiosa fonte ainda é vasta,
não se gasta com pequenas castas de seres impuros,
cria teus muros, não se resgata os impuros,
cada um se transforma naquilo que quer

Saiba das tuas verdades, ciente de teu longo progresso,
reverso daquilo que foi o ontem, pronto a ressoar o amanhã,
é vã a ilusão de corrigir o todo,
é pouco o que te dão na mão

Diga não a todo o resto,
é verbo o principal
é ato o fundamento
momento precípuo,
viva, a vida é só instrumento

Cale-se no momento certo,
sê reto, probo e leal
é real o poema, não o verso;
a rima é o adorno da arte,

Arde e queima a tua insciência,
entre o núcleo e a Terra,
e o condutor do destino,
há meras experiências