Melodia lunar

Cruzo sua vida
volta e meia, rodeia
e deixo a mão aberta
fim do passo que desencadeia

Sigo em frente
dou a mão a outra gente,
rodopia à minha frente
e a mente, ziguezaguear

Fecho o passo sorrateiramente,
sorridentemente, retiro novo par
e na vida da gente, uma nova música,
toca, e gira, retoma, repete,
com pessoas diferentes
a melodia lunar

Falso passo, o improviso,
o impreciso também coreografa,
abre e fecha, e me arrasta
alastra sua alegria pro lado de cá

E quando não se espera,
o contrário do contrário
que ninguém sabe onde vai dar

Corre e sai pelas laterais,
tangencia as minhas emoções,
expressão do corpo que se joga,
acopla suas pernas na minha vida
e avisa que o número vai fechar

Gerenciamento de Pessoas

Se eu trabalho com processos de pessoal,
não é gestão de pessoas é tarefa de setor,
Se eu trabalho com recebimento de solicitações,
não é gestão de pessoas, é acolhimento de trabalho.
Se eu atendo um pedido de servidor, sou servidor,
não gestor de pessoas.

Gestão de pessoas presume mais:
é o ouvir e o falar, é o diálogo
é saber escutar sem ressalvas
com os cuidados éticos.

É mais do que palavra,
o memorando, o comunicado,
até mais que o poema,
trata-se do zelo primário
com o ser humano

É a pessoa que eu gerencio,
emoção, expectativa, ansiedade.
É o medo, o receio, a fragilidade,
o caos escondido no sorriso fácil,
a dor aguda que só o olhar demonstra,
o cansaço que só a agitação do corpo denuncia

Gestão de pessoas presume mais
são direitos não garantidos,
mas necessários, o que não está escrito,
aquilo que se faz legal por objetivo

Flexibilização

Diretoria de Gestão de Pessoas do Campus Campos-Centro do IFFluminense. Para Mônica Chagas. Porque no início do dia é pedinte, mas no final, expediente
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Às vezes sorriso,
às vezes só riso.
Às vezes enérgica,
às vezes fraterna.
Às vezes postura,
às vezes póstuma.
Às vezes litúrgica,
às vezes lírica.
Às vezes rótulo,
às vezes rotula.
Às vezes desculpa,
às vezes se culpa.
Às vezes sábia,
às vezes leiga.
Às vezes carinho,
às vezes caminho.
Às vezes doçura,
mas, às vezes, ácida.
Às vezes diferente,
de repente, indiferente.
Às vezes contagiante,
às vezes desanimada.
Às vezes cansaço,
às vezes o aço.
Às vezes relógio,
às vezes raro ócio.
Às vezes rápida,
às vezes confusa.
Às vezes há cargo,
mas, todas as vezes, humana
flexibilizada na alma
em tempo integral.
Às tantas, há tantas,
numa estrofe só.

Portaria omissa

Para Joelma Vieira, Diretoria de Gestão de Pessoas do Campus Campos-Centro do IFFluminense: o presente de honra de trabalhar com quem sabe o que fala, sabe o que faz e sabe o que ensina.

Poemas são fruto de percepções e não mero desejo do poeta
que cresceu e você viu: o privilégio daquele que se instrumentaliza,
agarra as oportunidades e se reinventa, mas agora, agradece

O que julgam de nós carece de sustentação,
são considerações de quem, não raro,
não sabe o preço que foi pago para se estar aqui

Mas, ainda que digam, os outros,
milhares de contradições a seu respeito,
o meu discurso, nunca se fez sem sentido, você sabe disso.

Tem coisas que não vão publicadas na imprensa oficial,
o respeito, a admiração, o aprendizado não são transmitidos,
escritos, assinados por nenhuma portaria de agradecimento.

Pessoalmente, quase órgão consultivo que delibera,
o postulado público da integridade e lisura,
conforme a moralidade, a honesta conduta da pessoa pública

Daquela que sabe, e sabe que sabe, refutando até a mais alta filosofia,
e nem por isso, deixa de ensinar, e nem por isso, mais ainda,
não deixa de se preocupar com os transtornos que um erro, ainda que humano, causa.

Causa estranheza há muito, diga-se de passagem, que você tenha mudado de conduta,
já não anda mais no máximo estresse, no ápice da bravura, nas falas rígidas,
e venha, sistematicamente, assumindo sorrisos e cuidados, mostrando a vaidade feminina
e ainda que poucos saibam, percebo a alegria da materna coragem.

Passa indiferente aos olhos indiferentes, mudanças sutis, mas significativas
de seu humor e temperamento; hoje, já se permite olhar mais pra si,
e ir afrouxando as amarras da labuta aguda que mais prejudica a saúde do que ajuda

Nesse novo momento, tanto tempo do servir, rendo-lhe os cuidados da palavra,
que não é simples retórica, é presente; daquele que sabe reconhecer o presente…
Na verdade, inteligente é aquele que sabe, na prática, que a prática só gera melhoria
se o aprendiz tiver a oportunidade de conhecer o trabalho de quem realmente sabe muito.

É o rascunho do tempo que vai revisando, alterando,
leia-se: o que for velado pelo tempo é caso omisso,
retifico com esse poema e publico para todos os efeitos

Multi-mulher

Tem coisa melhor na vida
que além de amiga,
ter na mesma pessoa cúmplice,
na mesma colega de trabalho,
a mãe carinhosa, a esposa dedicada,
a irmã mais velha, a tia conselheira,
a professora corajosa,
a mulher valente e determinada,

Tem coisa melhor na vida
que perceber o turbilhão do outro,
e com respeito, na mais profunda admiração,
também porque não dizer, reencontrar
alma amiga, amizade antiga de outra vida
que a vida, generosa, ah a vida,
tratou de duas alegrias com o nosso abraço!

É simples e puro, o verso mudo e calado
que diz muito, que grita a prece do ser,
ser abençoada.

Que me faz acreditar na vida pela força,
que me faz ver a vida mais feliz, sorridente,
que traz ao mundo o mais convincente,
a simplicidade humana, que aprende.

Ter tudo e não ter nada,
ser muito e não Ser nada,
ser visto como grande,
não enxergar nada,
pequenina, dita gigante,
revestida de humanidade.

Aquela que sabe muito,
mas aprende sempre
tão cheia de humildade,
e o pouco que acha que sabe,
divide, reparte em mais da metade

E de tanto se dividir em mil,
como os segundos que a vida goteja,
os minutos aflitos dos compromissos
serão sempre a eternidade

Por tudo que cativa,
por tudo que nos faz parte
multi-mulher, sem muito alarde
com ares, ares de milagre