Lego engano

Eu não quero ter as coisas que você passou a ser
um número na agenda que não me liga,
uma mensagem eletrônica que não me chega,
uma mensagem de voz que não aparece no alerta

É certa essa minha decisão de não ser mais
plateia para o seu espetáculo itinerante
que vem, e some quando bem entende
cansei de lhe dizer que sou gente,
mereço tratamento vip

Eu não quero ter mais as coisas que você passou a ser,
um livro, um filme, relógio, impróprio para a alma,
um ser humano que pede calma, pede tempo
eu não perco mais tempo com panos simples,
camisa, cueca  que você pediu,
papel que você escreveu,
poema que se arriscou a fazer

Risquei tudo, rasguei, não troco mais likes
é parte do meu livre arbítrio que cometeu suicídio
e queria se trancafiar nas gaiolas de um perverso amor

Seus desenhos já não me emocionam mais,
músicas já voltaram ao seu significado de origem,
não agridem mais meu coração de saudade

Reiniciei os meus pedaços, tão quebradiços, você diria;
que ironia, tenho que dar risada, meu coração não é nada disso,
não é como antigos quebra-cabeças, não tem mais problema,
meu sentimento é rima em tantos versos,
meus sentimentos foram renovados….

Agora são legos, legos que as crianças brincam e se divertem
eu me reparto, encaixo, monto e me desmonto, e hoje…
minhas peças voltam à caixa
porque eu renego, tudo e por completo
caixinha de egos, leigos, ecos, legos.

Segundo dia

Para Thaís Almeida, amiga e colega de trabalho da Gestão de Pessoas/Reitoria do IFFLUMINENSE.

Acima das futilidades mundanas
você, figura humana;
acima das tolices da matéria
pretérita de outra existência,
você, essência que apraz;

Acima do momento, escassez do ser
você sabe ser, antever o que não se pode dizer,
cansada do sou, do eu: é o meu pensamento também.

Amém ao futuro
que antes, o passado,
– antes desse futuro -,
no ontem, cê fonte
de esperança

Pequena ruptura
meus versos apontam
na alegria, na coragem,
na ousadia, cansaço de vaidade

Hoje e até agora, você não entendeu
porque a vida, ou Deus – como quiser –
te fez mulher, mãe da Ana Letícia,
pai e mãe dos seus, pai e mãe,
amiga de tantos amigos em comum

Incomum e sem pretexto,
meus versos – antes tão corriqueiros –
retornaram ao grande defeito de ser poeta:

É sentimento em alerta, que você vai dizer: Presente.
Não, presente, não. Que você sabe, mais do que ninguém:
Data nunca me obrigou a nada, sem muito motivo, é Graça, de graça,
como sempre faço.

O correto, ainda que não soubéssemos lá atrás,
é chamar mais um ano de vida, de vida corrida e corajosa,
de um imenso e inenarrável privilégio.

Como tudo que passa um dia na mente da gente,
já veio tanta história… que alegria poder narrar trajetória
que os anos propuseram e você, aceitando o mistério da vida,
mudou de rumo, de rota, de carreira, de rito, de ritmo, de rima,
amiga de consideração, que não passa, transpassa essa dificuldade do ser

Há de ser agora, e novamente, no segundo dia de maio,
um calendário para a vida toda, para toda sorte
e para qualquer missão.