Horas depois você aparece
com um copo na mão como quem não quer nada,
cansada da vida do nada do nada do nada
que tem feito agora
Disse que mora na calçada do tédio
da vida estável e estagnada
Difícil pra mim decifrar o que isso quer conter
Talvez suas horas de análise não tenham chegado a conclusão alguma,
não que fosse necessário, eu sei
Mas, um fio condutor sempre se espera
nessa mania da existência linear
Há verdades perdidas na pia, na louça suja,
uns planos mal elaborados perdidos nas roupas,
um caos qualquer nas contas vencidas
e vitórias não vistas depois de um dia de chuva
É um amor que se desloca no vazio
do não-amor vivido no tempo querido,
e desse presente, no hoje, já não faz sentido
senão fotos velhas guardadas na memória,
senão sorrisos transmitidos errados,
senão o tempo consumido,
senão uma foto guardada no verso,
senão um amor lavado ao vivo
Poucas roupas cobrem a alma,
poucos presentes traduzidos,
poucas as frases sobrevivem ao ouvido,
poucos sentimentos permanecem vivos
Senão fragmentos de ideias perdidas,
senão reflexões interrompidas,
senão há alma guardada no corpo
senão há vida sobrevivida.
Horas depois você aparece
em outros dias, semanas ou meses
horas depois você aparece
anos depois, contam-se décadas
você aparece em desmazelo
no resquício de uma memória,
depois de anos, em meu outro leito.