Violão

Junte-se aqui comigo, sente-se à beira-praia,
violão e areia, nos pés, nostalgia e sentimento, nas mãos,
composição sem partitura, letra sem sentido,
a boca vai muiscalizando os pensamentos
que se deixam levar pela brisa triste
de um passado distante,
não se via, nos lábios do jovem músico,
o doce paladar do beijo,
não veio, ficou a água salgada
quando mergulhava no mar da paixão passada….

A empresa

Mordiscou os lábios. 12:30. Quarenta minutos de atraso, inadimissíveis quarenta minutos. – Transito desgraçado. Um passo a cada três minutos.

– Eu lamento Jorge, mas não posso largar o carro no meio do tráfego. Por que não remarca essa reunião?
– Você só pode estar brincando! Sabe quantos milhões estão em jogo com o fim desse encontro?! Não podemos ter nem mais um dia de atraso!
– Que se dane! Vou chegar aí em 15 minutos, podem esperar. – Jogou o aparelho celular para o banco do carona.

Tomou a calçada, não queria saber das consequências. Acelerou, quase bateu em uma árvore, por pouco não atropelou os pedestres. Nada deixaria ela longe da promoção mais significativa da carreira – e já teve muitas etapas importantes na sua vida profissional.

Cinco minutos mais tarde, bem mais cedo do que esperava chegar, estacionou em frente ao monumento de vidro. Antes de sair, pegou seu batom vermelho, retocou as falhas feitas pela ansiedade do trajeto, ajeitou os belos cabelos loiros, e saiu em direção ao último andar.

– Sala da diretoria, por favor. – Mesmo anciosa sua aparencia não denunciava seu estado. Seu sorriso enigmático e a voz macia, conferiam-lhe ar sereno.

– Estou subindo Jorge, mais trinta segundos. Prepare minha cadeira.

Bateu o telefone e olhou-se no espelho do elevador. Consigo mesmo dizia nessa fração de segundos:

– Preparada minha querida?
– Não me resta dúvida da resposta – Disse baixinho.

Caminhou pelo corredor principal com a maleta na mão, com o passo mais firme que nunca. Abriu a porta rapidamente, não olhou para os lados em nenhum momento. Sentou-se na sua cadeira de costume ao lado do presidente da companhia. A vice-presidente, logo confortável em sua cadeira, disse com voz sisuda:

– Perdoem-me a demora, o tráfego estava um inferno. – Não prolongou muito as descupas – Sérgio, quais são as nossas realidades na contabilidade – Apontou a caneta dourada para o colega de equipe um pouco a frente, a sua direita.

Sérgio era experiente: 22 anos de profissão deram a ele visão de futuro, seja em qualquer mercado, estável ou instável. As moedas poderiam estar inseguras, mas ele não:

– Não vou enganar vocês, nossa situação é difícil, a perda de clientela têm nos deixado por baixo.

Viviam pareceu não dar atenção a uma das vozes mais respeitadas da empresa:

– Claudio, qual é a nossa força de trabalho? – Dirigiu-se ao rapaz mais afastado da esquerda.

– 35 mil homens, 15 mil mulheres. 3 unidades, além desta central.

Viviam não pensou muito, pediu para que todos saissem. Deixando ela e Jorge, o presidente, a sós.

– Sabe que sua decisão pode te dar o maior cargo da companhia. Diga-me o que pensa em fazer.

– Passar o pente nos meus cabelos.
– Como? – Jorge não estava impressionado, mas sorriu gostamente.
– A malha fina da companhia. Vamos tirar os gordos que comem rosquinhas de trás de suas cadeiras, tirar seus ar-condicionados e pôr todos ao trabalho. – Jorge levantou a sobrancelha direita – Tem mais, proseguiu a aspirante à presidencia – Cortaremos a força de trabalho masculina pela metade e aumentaremos a força feminina em 45%.
– Tem certeza?
– Ela o encarou seriamente nos olhos – Veja, – Viviam apontou as planilhas de levantamento – as mulheres produzem dois produtos a cada 5 minutos, os homens, levam 7 minutos para produzir o mesmo. Temos perda significativa no final do semestre.
– Certo, vamos testar seu esquema e no próximo bimestre montaremos novo encontro.
– Testar?! Você sabe o quanto suei para chegar neste posto?! Não fosse por um prefixo besta, temos os mesmos cargos. Você não me “testou” em nenhum momento.
– Vamos decidir isso de outra forma então.

Toda aquele stresse incomodou os dois cargos mais importantes de uma empresa com um futuro incerto, mas às portas fechadas, deram vazão ao que desde que se encontraram, como meros empregadinhos da mesma fábrica, desejavam fazer. Elevaram seus lucros, luxúrias e juros sexuais a uma margem de lucro fora de questionamento.

Sétimo andar

Entrou no prédio correndo. Atravessou o hall num piscar de olhos. Pegou o elevador.
– Para qual andar senhora?
– último
– Pois não
Assim que o rapaz virou-se ela foi categórica em lhe dar um beijo. Estavam a sós na cabine. Duas cameras no alto gravavam a cena. Chegou ao destino. Largou do jovem num salto e partiu para aquilo que deveria fazer. Hoje. Agora. Nesse exato momento. No corredor, avistou a sacada.

– Vamos!
– Temos razões para acreditar que ela entrou naquele edifício, vamos depressa!
– Portaria do Edificío salazar, com que morador deseja falar?
– Polícia. Precisamos entrar.
– Um momento. O porteiro olhou para o televisor que gravava as imagens da rua. Dois policiais estavam na porta exibindo suas crendencias oficiais. A porta foi destrava e aberta.
– Uma mulher ruiva, com mais ou menos 1,80 cm entrou a pouco aqui?
– Sim, a senhorita Júlia. Mora no 302.

Os policias foram correndo ao elevador mais próximo.

– Com licença, poderia me informar para que andar a senhorita Júlia do 302 desejou ir a pouco? – Esse foi o nome que ela deu aos funcionários do hotel, pensava o policial.
– Pois não, estranhamente ela foi para o último andar. Ela deveria parar no terceiro, mas não foi o que…
– Precisamos chegar até ela o mais rápido que esse elevador puder subir! AGORA!

Em questão de minutos estavam no andar desejado.

– César, mire os refletores próximo ao sétimo andar. – O colega foi avisado pelo rádio. Se estiver vendo uma pessoa na sacada, não aponte a luz diretamente para ela, entendeu?
– Certo, senhor. – Alguns segundo se passaram e então ele retornou: Sim, parece ser ela.
– Estamos perto dela também, vamos tentar uma abordagem amigável.

– Já devem estar aqui. Não vou perder tempo. Não aceito ser trancafiada, nasci livre e livre serei, nem que for na eternidade. Jogou-se.

– Não foi possível fazer nada, ela se jogou.
– Ela morreu! Tudo muito rápido, não conseguimos salvá-la.

Causa mortis: Suicídio
Motivo: Não declarado
Passagem pela polícia: Assassinato, furto, depredação de patrimonio público, perturbação à ordem e à moral pública, atentado violento ao pudor, abuso sexual, tráfico de drogas, formação de quadrilha, sequestro.

Falta de amor. Não teve vida digna, sem enterro decente. Na eternidade seria mais feliz…

Desenfreada

7:04. Acordou abruptamente. Xingou aos quatro ventos, acordara irritada. Sonhou o que não queria. Fez de tudo para não relembrar disso ao menos dormindo, queria um sono tranquilo e não o teve. Acordou frustrada.

Deu um salto, vestiu-se, pois que era de costume dormir sem amarras. Dizia a si mesma que dormir libertava a alma, e qualquer coisa que a prendesse poderia impedir que viajasse por outros mundos. Sim, queria libertar-se desse mundo, sem loucuras, mas desejava fugir.

Era uma mulher infeliz, de meia idade, esperta e vivida. Meiga, mas séria. Fria, mas encantadora. Ríspida e sedutora. Descrvê-la fisicamente não será necessário, não era espetacular, mas sabia usar suas armas quando queria, e fazia bem feito. Brincava com homens, eram previsiveis e completamente tediantes.

Saiu do quarto, bebeu seu café forte, leu a manchete do jornal local, fumou um, dois cigarros, pegou as chaves do carro e saiu. Não iria ao trabalho hoje. Ver as mesmas caras, as mesmas reclamações, ter os mesmos pedidos.

Decidiu dobrar a esquerda, e não a direita. Gostava das esquerdas da vida, davam mais graça pra continuar. Nessas esquerdas da vida, um dia, tinha se perdido, gostou de se perder. Nunca mais foi a mesma.

Fumou mais um cigarro, colocou a cabeça para fora da janela, xingou um motorista e jogou o cigarro fora. Queria ir em alta velocidade para uma vida mais dinamica, onde gostava de não dar as cartas. Toda pessoa gosta de ser guiada sem saber o próprio rumo. Ela sentia falta disso…

O ambicioso

Sou o controle, a grana e a ordem
Sou o poder, a cobiça e a sorte
Sou ego inflado que consquistou respeito

Sou a ganancia, a inveja e o insurpotavel
consigo o que quero sem quem me impeça
Sou a avalanche a cair sobre a floresta
e dissimar toda a vida, congelando-a

Sou a determinação em traço forte
Sou tudo aquilo que me ajude a chegar onde quero
Sou a morte no gatilho sombrio
Sou o desprezo em meio à dor

Eu sou apenas eu,
esqueci quem sou
Sou nada,
nada foi o que sobrou
da minha cobiça desenfreada
que me suicidou

A conversa silenciosa

Venha aqui e sente do meu lado. Quero ouvir você dizer que não está preocupado com as horas hoje. Quero que você sente e relaxe, respire fundo e aspire todas as energias que te pesam o corpo. Diga-me, além de seus conflitos sentimentais, os seus sorrisos de felicidade justificáveis por um momento inesperadamente alegre de encontrar alguém que não via há muito tempo. Quero olhar em seus olhos e ver a força do brilho intenso da sua vitalidade e garra. Do seu rosto simples, a insegura de levar poucos e brilhantes anos da vida. Não foi um roubo, foram bons momentos vividos e aprendidos em sua essencia para se tornar o que hoje você é. Mas, sentado a minha frente não é bem isso que penso em dizer para uma das pessoas que mais me fez crescer até agora. Eu não quero dizer nada, porque nada tenho a dizer, prefiro observar.

Menina-moça

Sinto falta do seu cheiro doce, do seu beijo doce, do seu sossego, moça
Sinfo falta do seu sorriso singelo, do olhar que quero, da lua nova, moça
Sinto falta do seu jeito simples, da sua fala simples, da sua roupa, oh moça
Sinto falta daquele molejo, do seu desejo de despir-se à toa,
Sinto falta da moça que um tanto boba foi me deixando tonto
e quando eu me vi perdido, sendo da moça bandido,
fui me perdendo todo pela menina moça
que lavando a louça um dia me cativou

Sinto frio

Sinto falta de te ver banhando-se nas margens de um rio límpido de águas cristalinas, completamente nua a explorar cada centimetro do seu corpo da forma mais sensual que uma mulher poderia chegar a fazer, tentando desesperadamente, através do tato, se autoconhecer ou simplesmente levar às mentes masculinas o orgasmo sem freios. Escondia-me, mas alguma coisa me dizia que você tinha conhecimento da minha presença, e acho que foi isso que te tornou um pouco mais desafiadora, vulgar e impressionantemente mais cobiçada por cada neuronio meu que desenfreadamente trabalhava na cena de ver-me deitado em cima de ti fazendo amor…. Sentia que isso seria possível se investisse nas palavras certas ao te abordar; mas esse momento jamais chegou. Voce nao saiu daquele rio. Ao mergulhar, não mais voltou à superficie. Fiquei longos dolorosos minutos esperando seu retorno, mas voce afogou a propria vida em um suicidio tentador: na sensualidade e na frustraçao de nao poder realizar tudo que planejei.

Adeus

Estou indo embora, adeus
quem sabe outra hora eu volte, adeus
adeus meu sol, adeus, adeus minha cama
adeus, adeus, meu silencio reservado, adeus
adeus ao amor de minha mãe, adeus mãe
adeus aos amigos que fiz nessa vida
adeus, estou indo embora, adeus

Cansei, adeus, lutei pra dizer, adeus
construi, persegui, venci e persisti,
mas, mais uma vez, adeus

Adeus ao pássaro que não ouvi cantar
Adeus à flor que não vi desabrochar
Adeus ao cheiro de terra molha que não pude cheirar
Adeus aos meus filhos que eu não pude ensinar
Vou indo, adeus

Adeus ao rio que eu não vi desaguar no mar
adeus aos peixes que não eu pude pescar, adeus
adeus aos parques que eu não pude observar
vou indo embora, adeus

Adeus ao dono do banco, ao dinheiro que não pude sacar
Adeus ao padeiro que eu não pude aprovar seu trabalho
Adeus ao porteiro que eu não vi o sorriso de bom dia, senhor
Senhor, adeus

A Deus eu rogo que me perdoe
vivi tão cegamente que não vi a vida passar
preocupei-me com coisas fúteis e a elas
tenho remorso de dizer: Adeus

Reencontro fluvial

Eu tava na chuva
molhando mais do que meu corpo
eu tava na chuva, chorando aos poucos
mas não pense que era choro diferente do doce da chuva,
se duvidar era o choro mais doce que eu poderia chorar

Molhavamos-nos de suor, desejo e luxúria
a água que deixava sua blusa mostrar os seios
era a mesma que molhava o enrijecido
e na tentativa de nos fazer felizes
nos consumiamos com tamanha intensidade
incrivel rapidez que se por ali alguem passasse
nao saberia mais o poder de um segundo de reencontro

E de tudo que do céu caia vinha morar em nossas bocas
a chuva que lhe banhava a boca, invadia nossa paixão louca
descontrolada, talvez tola e nos afogavamos em amor

Esconda-se, menino

Esconda-se em baixo da cadeira, menino
procure uma mesa pra se proteger, menino
o mundo está tremendo, menino
e tudo no fim das contas desaba em você, pequenino

Seus pais já são visitas na própria casa
sua mãe não te gerou, o pai não pagam
irmão, se tiveres, menino, tens sorte
pelo menos um laço de sua família
contigo vive

Quando os genitores chegam, menino
já vão todas as horas do dia
e tu, ainda menino que és
o sono derrota, não importa
se queres o beijo materno
cansas ó criança, não consegues esperar

E na falta de presença de quem lhe deu os sobrenomes
crescerá um homem que só isso levará dos antescendentes

Quando lhe caiu o primeiro dente
sua mãe dando aula
seu pai no consultório
veja que ironia, fazendo extração

Quando seu joelho ralou
sua mãe almoçava com as colegas
seu pai em reunião

Quando seu corpo evoluiu
sua mente expandiu sem controle
sua mãe continha um aluno revoltado
seu pai calado remarcava consultas

Sem se darem conta que nesses dias
você perdeu o dente
aquele que não precisou de extração
você precisou de ajuda em matemática
aquela conta que sua mãe ensinava
você precisava almoçar com sua mãe,
reunir-se com seu pai
aquele mesmo tempo rápido
E quando você precisava que alguém contivesse
sua mente de adolescente confuso
seu pai não marcou uma consulta que lhe ajudasse

Enfim, menino, você enfrenta o mundo sozinho
Esconda-se em baixo da cadeira…