Conto de fadas

Se tudo o que me resta são as palavras
Eu corto, eu rasgo, eu despedaço sua alma
eu atiro, eu faço feitiço e amaldiçoo sua carne

Se tudo o que me resta são as letras e canções
não farei sequer mais um poema de amor
Estraçalho, reinvento os atalhos, quebro os pratos,
praguejo alto seu sofrimento

Se me resta apenas estas armas tão simples, tão sutis,
que eu não posso sequer lhe fazer sangrar,
Enveneno então a sua vida por dentro
só para lhe fazer chorar

Rasgue os meus bilhetes
jogue ao fogo minhas cartas
que os perfumes delas acinzentadas
possam fazer das laberadas, fogo alto

E do auge da sua dor, a minha vida, crucificada
para que eu ressurja para um novo amor, que não virou
conto de fadas

Clichês de amor

Cansei dos clichês dos poemas de amor:
A mesma ótica sofrida, o mesmo olhar maroto,
os mesmos lábios mortos, o mesmo semblante vazio

Poemas de amor sempre carregam em si, na verdade,
um sofrimento sem sentido – irracional o humano –
– que de poemas de amor chora um romance sequer vivido

A dor de querer alguém, de esquecer uma paixão,
Separações de vidas sempre geram um poema de amor
E o engraçado do poeta é que até hoje não li nada,
em absolutao, que desfaça a parceria de amar a melancolia…

Então, no ápice do sofrer aquilo que não se tem,
ou o que se tem, e não se entende, vamos chorando
em versos, em cima de cadernos, sufocando nossos sentidos

Gostaria de saber um novo sentido para poemas de amor,
cansei dos clichês do sofrer de amores, afinal,
eles não servem para nos garantir um sorriso?
Por que poemas de amor sempre são regados às lágrimas dos sofridos?