Prosa íntima

E então as coisas mudaram,
cá estamos nós, sozinhos,
pensando nos planos e nos caminhos
que não seguiram em frente,
de muitas portas fechadas
que a certeza errada do nosso ser,
tão inconformado com o destino,
quis entrar…

E cá então estamos nós
com tantos nós que não se desfizeram,
com tantos cruzamentos que se impuseram
de forma inesperada

E o relógio nem sempre badalou às doze em ponto,
mas esse é o sempre o ponto: a hora passou!
E por ter passado, o futuro que se planejou, sim,
virou passado que não se concretizou

E há sempre a culpa, a lamentação, e a pergunta,
a insuportável dúvida de onde foi que eu errei…
E as portas se fecharam, dos sonhos traçados
nós acordamos, e tontos não sabíamos mais onde pisar

Porque quando tudo parece certo e perfeitamente
correto com o nosso pensamento, quando a vida,
essa sacana, está do nosso lado, é tudo maravilha
a estrada toda traçada a gente caminha com alegria

Mas quando em um pedágio é preciso desviar,
quando a estrada precisa mudar, fica muito complicado,
é muito difícil readaptar a rota, porque o humano
não sabe fechar as portas e usar as janelas da alma
nem que seja de forma intuitiva…

A vida, que era sempre uma linda rima,
vira agora totalmente penosa e desiludida
e nos resta apenas trocar o verso
por uma prosa íntima….

Poesia jovem

De todas as pessoas que de mim mereceram poema
você é a poesia mais doce e jovem, do rosto tranquilo
de uma criança nem tanto assim indefesa que, por certo,
desfaz esse sorriso simples em um olhar destemido….

Você, deste jeito tão solícito no carinho, sei bem,
e muito bem, que guarda no olhar quando preciso,
pedras muito rígidas negras como turmalina,
um presságio de seriedade na calmaria
daquele que quase nunca chove

Seus belos sorrisos dão lugar ao lábio firme,
fechado e seco, impondo respeito, mas sem morde-los,
transmitindo assim, em mim, a segurança daqueles que,
de forma alguma, na seriedade da tempestade,
quando o seu mundo lindo cai na penumbra,
pelo despeito de palavra ruim que lhe atinge,
prova a todos que não se intimida apesar da ferida
que lhe abriram no peito

Minha poesia mais jovem e doce
mesmo que eu não lhe domine,
sei muito bem da capacidade dos seus versos
nem sempre contados, nem sempre ritmados,
como quem denuncia o mistério que ronda
a sua calma e a sua sagacidade de no momento certo,
nem cedo, nem tarde, impor-se por completo…..