Catarse de catorze

A energia do ano novo já está crescendo,
vem vibrante e lindo, límpido ao coração.
Paz que bate na porta, que brota, contemplação,
antes que eu desapegue do passado,
meu muito obrigado

Os minutos passam,
dois mil e catorze ou quatorze,
como queiram, vem pé ante pé
dizendo para ir com calma até ele

Não faça muitas expectativas primeiro,
janeiro é apenas uma criança de colo,
e antes que a vida passe e tudo se repita,
mais uma vez, até a chegada do bom velhinho,
precisamos dos trilhos, do caminho, de um futuro
que só nós expelimos, nova idade, novidade.

Pele morta

Pedido de desculpas
devo a você, pele morta,
que vai embora de mim

Que sairá de mim
pelo ralo quando eu…
Eu queria que continuasse aqui
para me que me lembrasse das coisas
de um tempo que passou,
mas permaneceu marcado

Pedido de desculpas
devo a você, pele morta
que suou comigo,
correu comigo
foi na garra agarrada,
até as vitórias,
sentindo o desespero das derrotas

Você que me fez arrepiar,
abriu e fechou seu encanto,
que sorriu comigo, um dia

Pele morta, desculpe
mas você vai embora
com o ano velho

E eu vou reconstruir
tecidos novos
para minha vida

Reconheço

Pela amizade de Igor Calil, nesses dois anos!

Eu reconheço
que tenho
grande habilidade
com a palavra

Reconheço
o apreço
por você,
imensamente

Reconheço
que com ela
posso ser inverídico,
mas não tem jeito

Assim que eu sei me expressar,
e pode até parecer enjoativo,
mas nunca será cansativo,
escrever para você, meu amigo

Reconheço
que sei bem pouco
da vida, da vida,
reconheço, bem pouco

Mas o que é a vida
senão fizer sentido
na vida de outra pessoa

Mesmo que essa segunda pessoa
seja a primeira pessoa
que virou presente de natal

E mesmo que seja contraditório,
reconheço o seu esforço em ser,
muito, muito melhor a cada dia,
mesmo que o natal seja apenas
uma simbologia

Mas eu não cansei de dizer,
e digo mais, outra vez,
pela palavra, pela palavra
eu reconheço que você
deixou de ser só palavra,
coisa bonita só da poesia

Depois que morre fica tudo aí

Depois que morre fica tudo aí,
não adianta chorar pelo defunto,
não tem nada de luto, acabou de partir

Paletó de madeira, pensou muito, deu bobeira,
a vida passou assim, pensou que era brincadeira,
caiu na besteira de achar que tinha tempo

Pra quê? Que tormento, acabou seus momentos,
a vida não é passatempo, passa rápido,
e você, que fiasco, virou muquirana, deu um de bacana,
preocupou-se com tudo, não conheceu o mundo,
mas fez a viagem, estamos aqui de passagem,
coisa curta é a vida, capricha no caixão,
seu dinheiro, levou pra onde, patrão,
sete palmos ao chão

Pensou que teria casa no subsolo?
Morreu com remorso, não tem mansão,
não tem gaveta, não tem ilusão,
a família briga pelo que sobrou
enquanto pra você acabou

Depois que morre fica tudo aí,
o carro de luxo, o telefone mudo,
deixa na caixa postal que foi ladrão

Mas o celular não é seu,
querem dividir a herança
seu tempo de bonança
ficou na lembrança
dos infortunados

E você, pobre coitado,
morreu, deitou em espuma qualquer,
economizaram um pouco o que você guardou feito louco
– e defunto precisa de conforto?! É tudo igual! –

Vai decompor, não adiantou o título de doutor
nem de barão, afinal de contas vai cair na escuridão,
depois que morre fica tudo aí, tudo aí, para usufruir

Coisa que você não fez, fazer o quê?
Depois que morre fica tudo aí,
depois que morre fica tudo aí
fica tudo aí, depois que morre!

Futuro de um presente pretérito

Se eu buscasse seus defeitos
não seria seu amigo
mas se eu os amasse,
seu namorado eu gostaria
não de ser, porque não sou seu, – ainda –
mas de estar com você, bastaria

Não caberia minhas mãos nas suas,
parecer de ironia, pareceria,
mas é que minhas mãos são grandes
para caber em você como eu permitiria

Se eu puder dizer, no futuro próximo,
o quanto essa poesia disse do futuro
do pretérito – esse que vou viver, quem sabe, um dia –
eu direi novamente que valeu a espera,
eu obviamente esperaria, esperaria, esperaria

Retratada

Estou procurando um novo amor
porque o amor dela acabou
mas o meu não morreu,
meu amor transbordou,
meu amor sobreviveu

A fonte dela secou,
mas o meu rio desaguou,
meu amor é grande, enorme
o oceano absorveu

Agora eu sou mais eu
o amor dela secou,
mas não o meu

Ando procurando
alguém que queira
mergulhar nesse oceano,
que queira ser grande
deixar de ser torneira
como um dia eu fui

Sou água que flui de prazer,
quero ser de novo eu e você,
sobrevivi como quem transpassa
água retratada pra sorver

Agora eu sou mais eu
o amor dela secou,
mas não o meu

Feliz aniversário

(Para Darci Tomellin)

Pensa que eu esqueci
do quanto você me presenteou
com seu sorriso, sua energia
essa sua poesia viva

O sorriso, a astúcia de um palhaço
candura que despertou pra vida
pra minha vida, na minha existência
você fez festa, agora, agora,
feliz aniversário

Mais feliz, aniversário, bem vinda
novidade, nova idade, o mesmo ser
se é pra você, feliz, feliz, aniversário
e de novo, repito, feliz, feliz
feliz aniversário

Aquilo que se repete,
novamente, idade diferente
a vida renascendo
pra quem sabe viver

E quem a sério não leva
quem acha palhaço pateta
não respeita o corpo pintado
não sabe o quanto tem sido vazia
uma vida sem significado

Há quanto tempo conhecemos
um a outro, outro a um;
Nós dois sozinhos vivíamos bem,
mas celebrar contigo tem um porém
capaz de multiplicar,
controvérsia de duas sensibilidades somadas

Somos mais, bem mais vivos
duas máscaras de um teatro
não opostas, duas faces sorridentes
espero ter sido convincente de fato,
feliz, feliz, feliz aniversário

Poema Público

Baseado no álbum “Público” de Adriana Calcanhotto para atividade de figuras de som proposta por Vania Bernardo. Linguística II. Letras/Literaturas/2013.2. IF Fluminense.

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Ao mundo Público de Calcanhoto
publico estes meus versos
e peço, pego, desapego,
emprego de excitação
o ritmo, o ato, um laço
visto, me calço, abotoo
soo Mais Feliz, sou assim

Intérprete, desperte,
Devolva-me esse clímax,
essa luxúria, loucura
de poeta, candura na voz
pudera, quimera da arte,
alarde tamanho, essa doçura;

O som carregado me chama
ao meu sentimento, momento,
invento, tributo e luto
comigo e com essa voz a sós,
Maresia que vem atroz
me deixa partir, inunda assim
meu coração que ama sem fim

Vambora que esse álbum
reflete, me pede na mansidão
o silêncio, o vazio
aqui eu venho e crio,
recrio, reviro, repito
e vivo, sobrevivo,
insisto agora contigo

Sem sentido eu nado,
ardo, me completo, me calo,
me armo deitado dos recados!

Que canções desse porte me afoguem
e eu não me debato, deitado, deixo
que por Esquadros, meu mundo perca a cor…

Coisas de literaturas que conversam
por um pedido, e eu, solícito à Vania Bernardo,
atividade de figura de som vai além de linguística
querida, detém, retém inspiração enquanto ouvia
com essa chuva que cai tardia, Adriana me consumia…

Grandiloquente

O universo, tão sábio,
me trouxe logo após um sábado
de descanso físico, um novo amigo,
descanso da alma

Eu, grandiloqüente inspirado,
preparei as minhas energias
para vibrarem paz e poesia

No final do dia, quem diria,
nós nos encontramos e, sem querer,
nos identificamos
com carinho, respeito e MPB

Brotou aqui alegria tamanha,
deixo pra você, minha criança,
o material de um sentimento
que não sei dizer de onde veio,
mas, sem receio, é para você