Intromissão

Desculpe a intromissão na sua vida.
Sei que não é da minha conta,
mas me conte aí o que lhe incomoda

Estou vendo esse sorriso sem graça
fazendo força pra sustentar uma cara
não muito feliz, eu percebi, desculpe

Fala pra mim, se eu puder ajudar em alguma coisa,
ou em nada, apenas ouvir, estou aqui, se quiser.
Se quiser conversar só com meus olhos
pra ter a sensação de que alguém se importa.

Eu posso começar a me importar, se você me permite.
Não, não quero nada em troca, eu só bati na porta
do seu coração e ela quase caiu.
Anda cheia de cupim.

Pare de estragar, de apodrecer só.
Não prometo grande melhoria,
mas eu posso dar uma sugestão?

Coloque algo pra escorar essa tristeza
que a sua casa está ficando sem defesa…
E antes que alguém que não valha nada invada,
deixa comigo que eu ajudo, amizade…

Música digital

Estou com a mesma música o dia inteiro.
Sei que não sou o primeiro de todos,
mas serei o verdadeiro.

Reflito nas vozes fortes,
não me chame de cara de sorte.
Sei que luto, talvez, comova.

Deixei de pentear os cabelos,
esqueci a escova lá.
É simples e banal, não faz falta.

Não guardo nada na gaveta,
o rancor eu boto à mesa,
para me livrar logo

Posso ser decente, amando, sim.
Não fico me arrastando feito inseto.
Você me esmaga longe ou perto.

Escovo, sim, você por dentro.
Remorso não dói, nem dura.
Sua candura já passou batida.

A esperança é minha amiga,
a felicidade, quase prima.
O amor é meu irmão gêmeo.

Confidencio-me com eles,
mais sinceramente do que leio.
A música se repete incansavelmente

Eu tenho um novo refrão.
Acorde, desafinado.
Sua canção já passou.

Eu me desliguei desse rádio mau sintonizado.
Vivo de música digital, de alta definição.
Meu coração merece mais qualidade.

Ressecado

Desencantei
Quando um não quer
não adianta insistir.
Sei de mim.
De você no entanto
eu não imploro um sonho…
Propus um banho nas águas do amor.
Antes de entrar você já se secou,
já se trancou no não.
O que eu senti por você, perdão.
Não vou falar mais nada!
Água trancada não vasa,
e minha boca molhada
ainda não cansou de transbordar amor
Um copo d’água ofereci.
Você virou no chão…
Colocou meu carinho na condição do não.
Disse não merecer um eu e você…
Você encheu você de você
deixando-me com um eu que não quer ser meu…
Vou me afogando em mim
enquanto você resseca em si

Mundo de escritor

(Ao amigo Lucas Borges)

Não tenho posse sobre você
nem sobre o que sinto…
Eu só queria dizer muito obrigado
pelo carinho que de longe minha alma capta

Sou como uma bússola do amor
e ela tem me apontado pra você
Obrigado, pois eu me inspiro,
mas o motivo não se explica

Minha alma nota seu talento
seu esforço, ela é atenta
a tanta energia limpa
de um sonhador da vida
pela escrita que agora rima
na minha vida

Por um breve instante percebo a sintonia…
Por favor, por amor nossas
palavras se cruzam em espaços tão diferentes…

É a sua alegria convidando o meu espírito
a manejar as palavras, transbordar luz nos olhos,
marejar na saída, uma viagem de volta
mesmo sem encontro físico

Amigos unidos em outro plano
mundo de escritor…

Beijo, depois eu volto pra te ver,
conversar sobre nosso destino de vencer
vivendo de palavra, vem ver o quanto
gosto de você e nunca disse,
cansei de me esconder

Vou partir feliz, deixando você
sabendo da minha fascinação
pela sua paixão sem fim…
Eu entendo perfeitamente

Chapéu de palha

Não preciso bater tambor
pra chamar pajé, não necessito
de um cabouco, preto velho

Energia está no mundo
dela vibra meu corpo,
protege o todo

Categórico e certeiro,
preciso e exato,
não à essência e tabaco

Fumaça não chama espírito
tão pouco os gritos evangélicos
Fogo quem apaga é bombeiro

Sensibilidade não precisa de casa,
não está em estante me esperando
Está aqui agora e eu não estou fumando

Maria padilha não me chama,
não me provoca, oferenda,
nem qualquer preto velho
José do candomblé

Está tudo solto em um mundo
com tantos níveis, não preciso de jogo
Não preciso mascar palha pra fazer milagre