Expoente

Eu me entreguei de mão beijada,
como quem decora tabuada
fui infeliz me subtraindo
pra somar com você, me dividindo

Fui fácil, não lhe dei nenhuma prova
– dos nove – fui incapaz de criar barreira…
Multipliquei anseios desde criança,
o amor precisa ser complexo,
fiz uma besteira

Na raiz, bem lá no fundo,
fui tapada, quadrada,
eu sei de um absurdo:
Ter a conta errada
por um sinal vagabundo

Sem trabalho algum fui zerada,
coisa que, se tem valor na matemática,
não tem peso no meu mundo

Fui infeliz na sua mira,
não contei nem um vintém,
se tive alguma serventia
não me contem

Não quero servir
como imposto nessa conta,
pagando altos juros,
sendo alíquota inútil

Nesse universo dos números
caí em negativa, expoente
suicida da paixão

Carta amante

Sou carta na tua vida
na manga, sou carta coringa.
Corto teu baralho, sou a final,
um às, de paus

Sou teu jogo mais mirrado,
coisa que cartomante
não faz fiado

Sou tua algoz
se tu não fazes por nós,
sou tua lâmina na ferida

Sou tua aposta de quebra-banca,
nem te dou um futuro bacana,
tua sorte invertida,
tua carta viés na partida

Sou tua armadilha,
passei tua vez na saída,
corto tua mão preferida

Matuto

Sou chato e sou grudento
o seu carinho eu sustento,
quero você sempre perto,
bem próximo de mim, aguento!

Fiz pra você mais de um poema
e ando prometendo um livro até,
sei que sou homem de muitas palavras,
não sei se você aceita todas as falhas,
mas eu escrevo por uma questão de fé

Para que você acredite em mim
e no quanto eu te amo, sem dúvida,
tanto, tanto, tanto, diga-me, se puder:

Eu sou enjoativo e pegajoso,
sou seu homem virtuoso,
seu príncipe valoroso,
ou, sem definição, é mais gostoso?

Sei que sou repentino e astuto,
das palavras sou um matuto hábil,
busco seu hálito quente e saboroso,
grudento sim, provando do seu gosto…

Espírito da arte

Eu vi o espírito da arte
que paralisou o corpo,
que tocou a alma

Eu vi outros olhos
concentrados no nada
e no tudo, que é a vida

Eu vi o espírito da arte
que colocou homem em outra dimensão,
que cuidou do ser nesse espaço

Eu vi o contato com o além
que ninguém lê, que quase ninguém vê,
que raros tocam, mas ela tocou

Ela estava fora de si
dentro de si, estava
dentro de mim, fora daqui,
fora de mim, eu apenas observei

Eu vi o espírito da arte,
absorvi parte dele
que ela sabe que tem

Eu vi o espírito da arte
e contei para o mundo
eu contei um segredo

Eu vi o espírito da arte,
fiz fofoca pela arte,
faz parte, parte de nós