Para outra pessoa

Teu escritor favorito, exclusivo e anônimo
descreve tuas linhas, teus traços, teus pontos
reconhece em ti o outro lado do próprio sonho
percebido às claras, um incômodo

Tu, segunda pessoa do singular
do meu presente subjuntivo,
que tu saibas dos teus valores
mesmo que para o homem não
possa eu mensurar importâncias

Destas torpes ganâncias do ego,
do teu eu que não entende de mim,
desejo meu de expressar outros sentidos
porque não há a possibilidade de equivalência

Quando falo de segunda pessoa,
tu sabes, é sempre complexo,
cada ser único, individual,
indivisível, matéria indissolúvel

Por isso, não cabe qualquer métrica,
qualquer medida paliativa que sobreponha
tua melanina diferenciada, teu corte de cabelo,
teu jeito de falar, teu gosto pelo mesmo corpo

Não cabe para tu o mesmo peso, o mesmo remédio,
não cabe para tu o mesmo sentimento, isto é um…
retrocesso comparativo, não existe eu igual a fulano
até porque, o outro, seu bealtrano, não é beato nem um tanto!

Reconhecimento de saberes, competências e sentimentos

Em homenagem à Hélia Coelho de Mello Cunha pelo seu legado pela Educação. Mais do que pelos três períodos durante o curso de Licenciatura em Letras/IF Fluminense pela disciplina de Leitura e Produção Textual I, II e III, mas por toda a trajetória de dedicação, comprometimento e amor que ganha uma nova fase.

(Poema inédito: com subtítulo: Averbação para magistério)

Aí eu fiquei pensando,
depois do anúncio feito,
depois do fato concreto,
já premeditado e dito,
naquilo que foi posto:

Quanta história, meu Deus,
está descansando, desacelerando,
quanta vida, quantas vidas modificadas:
A sua, a minha, gerações abençoadas

Privilégio da sabedoria não apenas transmitida,
mas interiorizada; aquele saber que transpassa
cadernos, frascos de tinta de caneta, celulares…
carbono que roda, pó de giz, quadro branco, vidro;
máquina de escrever, transparência, slide,
aqui, não faço jus nem a mera metade…

Por enquanto, o descompasso da inacreditável
(in)finitude do magistério; egoísmo de saudade…
Daquilo que passamos, histórias para contar;
tempo também que iria vir (talvez virá)

Tempo para julgar não tive
tempo para absorver não tive,
tempo para dizer não tive,
tempo para dimensionar não tive,
nem quero ter tempo para esses serviços

Não averbam no coração
as despedidas inconsoláveis
de um ciclo de artista
e do legado da arte

Nova via de poema
de quem segue o mesmo caminho,
mas não deu conta naqueles versos,
que, para você, vão além da vaidade,
brotando em desalinho

Aprendi, caminhando para a segunda metade:
ante os meus vinte e três poucos anos,
vou continuar venerando quem iniciou nos idos dezesseis
a luta sem pesar de uma paixão

Mestres e doutores, a hierarquia da educação não comporta
o que, afinal de contas, nós dois já sabemos:
Quando o amor pelo humano se agiganta,
eu beijei a sua mão, agradecendo à moda antiga,
aquela que deixou de ser professora para virar amiga,
até depois da aposentadoria,
até depois…