Habilidade com palavras

Para Ana Poltronieri pelos seus 50 anos de vida – Professora do curso de Licenciatura em Letras/Literaturas do Instituto Federal Fluminense – Entre a pausa do quarto semestre para conclusão de Administração/EaD

=================================================
E a gente trocou a sala de aula pelos corredores,
pelas presenças em eventos, pelo olá rapidinho,
trocamos a convivência diária futura
por breves encontros corriqueiros

Um poema aqui, um verso lá
a gente se conhece e se descobre
quase sem se falar

Virtual só pra quem não sente o que a gente compreende:
que o dia a dia é de fato aniversariante porque na etimologia
é o que se repete todos os anos, mas esse dia é diferente pra você…

Entre os riscos e a beleza do cotidiano,
todos nós ficamos, um dia, cansados dos desenganos
e, como saída, o poema: Sempre nos conectando…

Bem-aventurada seja sempre cada nova estrofe, sua quinta.
Felicidade sempre desde o verso zero, ainda virão nove antes de mudar:
Assim a é vida retratada, tão breve, tão ligeira
ainda a ser aproveitada…

Não há de ser mera impressão
se a sua sensibilidade encontrar com a minha
na contramão

Mais perto de uma nova vida do que da morte,
cabe ao poema eternizá-la por pura sorte
porque não traduz nem o mínimo da relação humana…

Pra quem pensava que eu conhecia pouco
pra quem lê e pra quem escreve:
habilidade com palavras, charada:

(Si[lê]n[cio)na]
[ins(e)screve]
(mono)grafia
de inúmeras teses

Poesia menor

Amor da minha vida, como eu te amo!
Se tu soubesses disso com certeza,
faria a gentileza de não me dizer
que faço poesia de enganos,
que faço versos inverídicos,
que eu não te acompanho

Se tu soubesses, amor
o quanto o poeta aqui te guarda,
se tu soubesses, não me pediria
presença em eventos de fachada

Se tu soubesses do teor do íntimo poema,
saberia de antemão que a eternidade dos escritos não cabem,
não cabem na simples recitação!

Ah, amor de minha vida, se tu soubesses o quanto belo
é o poema que irradia a vida como o raio de sol,
não, amor da minha vida, não me pediria, nem mediria
o amor que eu tenho exposto nesse dia,
com a pequenez da natureza humana

Amorzinho meu, se tu soubesses que esses simples versos meus…
não cabem no amor que sinto por ti, nem nessas palavrinhas que escrevi,
tu saberia que de pequeno não há nada que eu disse aqui…

Oras, horas

Dentro de mim há fantasia,
e realidade também
Sei que a poesia brinca
com essas duas verdades
sem dizer porém.

Dentro de mim há
morte e vida, luz e sombra
música viva, música pronta

Dentro de mim há o tédio
há também a vibração,
além de tudo, não há nada
flutuo em contradição

Dentro de mim há transparência,
mas também mora mistério,
hora eu quero, hora renego,
ora, relógio,
ora, o tempo

Ora há Deus,
ora há inferno
ora ao céu,
ora ao inferno,
Há hora
ora, há!

Fardos ilusórios

Pai, cuida de mim
eu já não sei mais pedir,
Você tem feito por dia,
não está no céu,
não olho pra cima,
Você vive do meu lado,
vira comigo até a esquina

Pai, eu aprendi
se não fizer por onde
a vida sabe, não adianta,
não se esconde em desculpas
Mas, se há luta verdadeira
a prece não precisa ser dita,
bendita é a vida em contrapartida

Pai, Você me ensinou
e eu aprendi, antes, na prática,
o que é desejo Seu, motivo do meu clamor
Pai, quando digo: cuida de mim,
Você já cuidou…

Pai, não há como mensurar a dor do próximo,
mas, Você sabe o que é cansaço de quem luta,
e de quem reclama por capricho, mimo de filho
que não encara a vida, e acha, e finge, e vive
dizendo que sabe vencer quando não há problema,
nem motivo, nem fato certo, nada de concreto
farto de ilusões…

Apaixonado

Um caso de amor
fora dos planos,
inesperado…
desenganos já não fazem sentido
rememorar

Há de aquietar ao menos
o que não dá pra esquecer,
as feridas abertas começaram
a cicatrizar devagar

Você se aconchegou no meu caminho,
devagarzinho foi se acomodando,
incomodando a tristeza que fez morada
e sempre me acompanhou desde sempre

A mente tem mudado, é outro estado,
outro lado do pensamento, outra face
do espírito, outra fase, novo amigo,
recém apaixonado, aficionado,
o mais novo apaixonado.