Antecedentes ancestrais

Tudo que me antecede,
a sede, aceite, a prece,
o peso, o sofrimento, a tese,
a dúvida, a culpa, a pele,
os momentos, os risos,
a antiga plebe,
os meus antepassados,
arcaicos, velhos vermes,
aqueles que não entendiam
nada de nada do que acontece,
tudo que me antecede,
a ferida aberta, a dúvida,
aquilo que padece,
o que eu não consegui esquecer,
a febre, o amor perdido,
o que ficou vivo, mesmo morto,
o conforto que não acoberta,
a cobiça, a angústia, a moléstia,
a mordomia, a modéstia,
o alvo que não se acerta,
vida pacata e incompleta,
o sonho, o ano que passa depressa,
o suor que pingou da testa,
a minha história contada como quimera,
tudo que me antecede, aquilo que você desconhece,
padece no seu julgamento, no preconceito,
na palavra que rasga a fresta do tempo
e leva a lágrima a refletir algo antigo,
precede do amigo que você hoje tem,
que fortalecido está hoje
porque sobreviveu ao açoite do tempo,
e aceitou o respeito da vida,
antecessora de outras vidas,
vivas, ainda, dentro de mim

Signatários

Estou aqui para servir,
não às suas vontades,
não aos seus caprichos,
não sirvo aos seus afagos,
nem vivo de agrados,
servindo de pano de fundo,
fruto de ambições mesquinhas,
perdão

A serventia do serviçal,
colocada à prova, ao boçal,
não significa nada, apenas,
piada pronta;

É tanta a necessidade do (re)significar,
sinto-me resignar de reflexão íntima,
da utilidade pública;

Escuta, e desculpa, as minhas falhas humanas,
apresento-me ao erro, e reconheço,
meia culpa;

As pessoas inteligentes,
ditas cultas, um dia escreveram errado,
e assumiram a conduta, fizeram a meia culpa,
equívoco da labuta.

Assinaram abaixo e reiteraram:
quem muito escuta, pouco faz,
mas, acertadamente;
quem muito fala, pouco decide,
e, acidentalmente, erra.

Coloca-se nos devidos lugares,
os pares, signatários.