De muitos desejei o corpo,
o rosto limpo, o beijo com gosto,
o estereótipo preferido,
acadêmico do adjetivo gostoso,
olhares provocativos,
pegada certeira, a força primeira,
o refinado sexo, o falo grande e grosso,
o farto ombro, colosso, imaginação completa,
a cútis ereta, a carne rígida, suor fervente,
quis tanto o corpo perfeito, construído no detalhe,
para comer com vontade, som de gemidos, igual os talhares,
mãos e pernas a se contorcerem, como comida que a gente exagera
Nada disso nem quis, nem pude provar,
mas a imaginação é sempre mais apetitosa,
de verdade, eu quero é ficar com quem não vai embora
É por isso que eu te contar,
que desse cardápio do mundo não peço ninguém,
me farto só de olhar, as vitrines de homens que não querem ninguém
É por isso que eu vou te contar,
que desses petiscos não sei me encantar,
não compro, não vendo, nem me alugo a ninguém
O que eu posso falar, se me canso nesse açougue de corpos,
de rapazes tecnológicos dos app de encontros, não busco ninguém
Eu gosto é de me apresentar,
tenho vontade de apreciar,
o caráter, o carinho que ninguém tem,
dá vontade até de voltar para a sinceridade,
a confiança que ninguém tem
Eu gosto é de repetir
aquilo que ninguém tem,
o afeto, a importância não está no lugar,
nem no que eu posso provar,
é aquilo que vem
Que está em falta na mesa do bar,
ausente na fila pão,
aquilo que eu não vou procurar,
sentado do lado de lá,
olhando a sessão
Que está em falta no shopping,
no show e na festa, na boate,
no bate estaca, na fila open bar,
quero aquilo que eu só vou encontrar
no seu coração.