Poemicídio

Eu sou um artista,
admita que você não gosta de mim.
Porque eu não me importo,
já disse isso na sua cara

Eu nasci pra incomodar,
pra transgredir, pra questionar,
para acusar e para denunciar

O imposto não me serve,
em nenhuma semântica,
a minha palavra é satânica
só pra chocar o senso comum

Minha arte incomum
não tem rabo preso,
não deve nada a ninguém

Quando eu falo e te desconcerto,
você vai me rotular de qualquer coisa:
de louco, intransigente, imaturo

Ora, a novidade sempre vem verde,
o mundo mais justo não caminha junto
com tudo aquilo que você abre mão e cede

Seus ideais, suas metas, seus sonhos e objetivos.

Em algum momento, você foi abandonando um fragmento do futuro
e, agora, se sente constrangido.

Vendeu ao capital, à sobrevivência,
ao status, à aparência, vendeu à qualidade de vida,
à estabilidade material:
vendeu para conquistar tudo,
e não ter nada

Para se dar conta na estrada
que o primeiro que questionar o seu sonho
é bravata de adolescente

Que nada,
é caráter,
é ter norte e rumo
é perseguir com clareza algo certo
e te deixar, incerto, no escuro

Não adianta mentir em hipocrisia
que defende os animais e ter um cachorro de estimação.
Não adianta se dizer contra a corrupção
e calar quando convém e ler tudo, menos a nota de rodapé.

Desculpa, não adianta manobrar a regra quando vale a pena,
a arte sincera sente pena, e não se cala.
A palavra não precisa ser dita para ter voz,
e arte ganha vida quando se percebe suicida para nós.

De já, vi

Eu tropecei dentro de mim
e caí por cima dos meus egos
sim, são múltiplos
para cada grupo.

Contudo, todos reconhecem
um mesmo eu

Incrédulo, cético,
sério, vivo,
aqueles olhos fundos
que você não tem coragem de encarar

São visões de mundo, a de todos vocês,
que já não sabem por onde olham,
e eu digo: por aqui

Porque caí dentro de mim,
mergulhei em queda livre!

Pode passar um filme na sua mente

A lua não mente no céu,
está lá forte e decidida
– para alguns recaída –
minha amiga

Dentro de mim
descobri
que consigo me ter,
consigo me ver para além,
também para fora

Sei lidar com a minha presença,
não pedi ausência, sorrio.
E me contento, contemplo
o mundo a minha volta,
e sorrio (em paz)

Minha vida não me incomoda
vi meus fantasmas e está tudo bem.
Eles me ajudam a psicografar
aquilo que eu acho que vem do lado de lá
na verdade, eu já vivi, sou o mesmo eu
déja vu

O ontem da vida passada,
repassada nessa vida,
parece futuro

E quando eu vejo o futuro de outrora
eu agradeço, já conheço minha história.