Decodificar

Eu sou a luz,
o que não se vê,
aquilo que tem fluidez

Eu sou o livre ser,
não sei ser matéria,
que me perdoe o invólucro
meu material não cabe aqui

Sou sim, antes de tudo,
o vazio do nada, o imaterial
que escapa sem dar ciência
para a ciência, o que ainda será,
o não aberto…

O descoberto em parte
com uma pequena parcela
do verbo sentir

Que se modifica e se intensifica,
ademais, o que se pode dizer?

Não sou aquele que se pode dizer
sobre o hoje do ontem e do amanhã
dessa vida…

Eu sou luz que se encaminha
para o escuro de pequenos nós do tempo,
ainda que me sinta só no espaço,
no espaço-tempo, sou o que ainda não veio
a canto nenhum do pensar
pois, a própria energia,
do primeiro ser,
não se sabe
decodificar

Tempo de…

O pós-moderno,
o tão careta,
tão sem nexo,
tinta na caneta

Bauman com o líquido…
o século XXI tão esperado,
frágil, raso, falho…

Teoria do centro do ego,
desejo que ganhou potência de ato
para deixar sentimentos, certezas,
beleza, relações tão firmes, hoje…
incapazes de se sustentar

Não dá pra deixar pra lá,
que passe batido…
acidente de percurso
que a alma sofreu

Labirinto de sensações, o talvez;
ganhou poderes tão fantásticos, a dúvida;
tem contornos tão fortes, a água;
Tudo escorre entre os dedos,
os laços não existem mais, tão frouxos…

Saudade dos amores rígidos,
eu… falo, que erguido, tinha direção,
hoje não…

Tempo de reticências, do afeto afetado,
das paixões de ontem tão loucas, tão cegas, e fortes,
tão certas, com objetivos e metas, e com sorte, com tempo;
hoje, mero estalo.

O rio de Heráclito no pós-homem da pós-verdade,
afoga todos nós em amores líquidos evaporados…