Aquele par de canetas que você me deu,
ou aquele DVD que não toca mais por medo,
por medo da memória que o refrão vai me lembrar,
ou aquela camisa que hoje aperta o peito,
o nosso amor azul virou esferográfico preto
Nem vou falar do nosso artista favorito,
ou da emoção de encontrar você sem combinar,
o filme que a gente não terminou de assistir,
de tão ruim nos fez rir – de chorar – o dia inteiro
São essas pequenas coisas, as grandes coisas
que me marcam tão profundamente,
os seus presentes do passado que caminham comigo,
lembrando que a gente continua unido no futuro
mesmo sem nos vermos
São fotos que a gente tirou e eu já retirei
do plano de fundo do celular para não admitir
que o pano de fundo da minha vida é você
Não tenho mais seu número na agenda,
mas, se eu tiver uma recaída,
ou uma dor forte de saudade for contraída,
eu ainda sei discar, sei falar seu nome completo,
e mesmo que não esteja perto, sei sua data de nascimento,
seu signo e ascendência, mesmo que os amigos me digam
que perdi a decência, minha consciência ainda diz
os planos que eu fiz, ainda precisam de conclusão
Esse amor é uma confusão sem sentido,
eu sei que sofro e vivo um vício
feito peça de teatro que cancelamos de última hora
É próprio de quem sente que a palavra dita da boca pra fora,
a alma não registra, que você foi embora, porque tudo ficou,
permaneceu, dilacerou
Em memória fotográfica, não adianta rasgar camisa,
guardar em caixas os enfeites de decoração,
o elefante que fica na estante me lembra:
as coisas queimam em física,
mas, a nossa história tem continuação.