Título abaixo

Não adianta meta na vida,
nem objetivo de vida,
não há necessidade mais
de conquistas de bens materiais

A paz não depende de mais dinheiro,
do lugar, da rotina, do meio de transporte,
do cargo no trabalho, a função em relação ao outro,
do auxílio de tarefas, da conclusão de estudos,
com a franqueza de quem olha o mundo mais afundo,
a notícia no jornal não choca mais com o caos dos fatos

Agendas cheias, compromissos inacabados, reuniões inconclusivas,
rotina que nos exige compromissos sociais, encontros, formalidades banais,
cuidados em excesso, esmero, a perfeição do corpo físico belo…

Para a alma imersa no mundo, o caos do cansaço que mais leva tudo de si
não aponta rumo algum, apenas uma vida que segue guiada sabe-se lá pelo quê.

Para alma serena é mais uma atribuição qualquer

Parando pra pensar em você, em todos nós,
experenciar a existência, perceber o convívio,
sentir o espaço temporário que nos foi atribuído
é muito mais do que tudo isso dito acima

Qual o sentido?

Qual a proposta de propósito?

De propósito

O título do poema vai abaixo
para colocar tudo isso que você pensa que é viver em outro lugar:

Poema de propósito

Fomos embora

(Para Adriel Mocellin)

Disponível fora da sua vida
irrelevante na medida certa,
depois de tantos anos dedicados,
a liberdade virou a página

Já não há mais sentido a nossa companhia,
não compartilhamos mais objetivos, nem sensações,
os quais nem sabemos se temos separadamente,
talvez perdidos em nossas individualidades

Partimos cada qual ao seu ponto
separamo-nos de nós mesmos
e não mais nos reconhecemos

Não estamos mais unidos por nada
ainda que nos reste carinho,
nem sei se um pelo outro,
ou pela nostalgia do que um dia fomos

Fomos, embora,
embora não adimitamos
nós fomos, e não, talvez não consigamos
voltar mais

Estado de epifania

(Para Cadu, pela suas lives tão alegres, por uma amizade leve, por um ano novo especial)


Tenho pressa de viver
de realizar projetos
de cuidar de mim
de progredir na vida
e melhorar a realidade

Tenho pressa de cuidar de você
de te levar alegria, e fazer sorrir
como se só me restasse empatia
para te citar em poesia e colocar
em meus versos rápidos o que de fato
a descoberta por si só não me sacia

Você é fantástico em todas as melodias
e sem saber que é, já tem sido a minha companhia

Quando dança por nós,
e se dispõe diante da vida
a depor sobre o pôr do sol
calando todos os girassóis
na madrugada melancolia

Nem todas as coreografias
ensinam os passos a serem feitos
onde o ser perfeito não ensaiaria

Porque a nota máxima
está na vida, em ser refeito
cada ato como se fosse o primeiro
estado de epifania

Pra me redimir

Pra me redimir
peço desculpas previamente

Com o passar dos anos,
abro mão de certas certezas,
Incomodo as minhas incomodações d’alma

Pra me redimir
abaixo o meu ego, reitero
que a vida é curta e o que fica são as relações completas

Quero ir embora com saldos quitados,
com conversas concluídas,
com o espírito descansado da matéria
da vida

Pra me redimir e desfazer desembaraços,
(não se trata de quem quer que seja)
estamos acima das situações e dos contextos

Pra me redimir
não quero pretextos nem definições,
nem respostas de aceites de pedidos de desculpas

Não se trata de carregar culpas pelos aprendizados da vida

Pra me redimir
não busco saídas elegantes,
nem criatividade incentivada
para contornar as iras que causei

Eu sei que pra me redimir
não devo pensar em mim
nem na outra parte como quem ganha um jogo

Pra me redimir
abro o desejo da vida
de seguir seu fluxo
de ser em um só momento
o tempo que sempre irá passar, (por nós)
e mostrar que somos
a própria redenção
do ponto final em reticências…

Diante de suas ausências

Diante de suas ausências
nem mesmo as ilusões sobrevivem
diante de suas faltas
nem mesmo os fatos coincidem
diante das inconsistências
que se agridem
existe um quê do fato
abstinências das realidades que nos oprimem

Diante das percepções distorcidas do todo,
o ontem já deixou de ser ontem e foi embora,
a ansiedade do hoje sem você sumiu
o amanhã me pertence

Não sem memória de que você existiu
e foi embora
não sem lembranças do que a gente viveu
e se evapora

Não se trata de deixar o passado pra trás,
nem de fechar a porta, nem de encerrar ciclos,
nem de acerto de contas, nem de desculpas,
nada disso se elabora

Diante de suas ausências, nem o vazio
me ocupa agora
nem um estado servil
me aflora

Diante de suas ausências
se descobriu que fui eu
que flui embora

Novo amanhecer

Esse poema é um agradecimento à vida
que me permitiu um amigo tão distante
ser perto

Esse poema é dedicado a todas as horas
que você divide comigo, mesmo brincando
são momentos da existência que não voltam mais
– nem seus, nem meus –
e nós escolhemos viver juntos

E nos divertimos juntos, rindo sempre
com a certeza e de peito aberto
de que merecemos momentos de alegria

Jonh Garcia, esse poema não retrata as fases da sua vida,
não pretende te encher de nostalgia, nem curar sofrimentos passados;
Esse poema fala que o presente se faz abençoado quando a gente se permite
ser levado a sério na nossa real maneira de ser, de ser lindo, sendo eu, sendo você

Esse poema fala que vale a pena tudo que a vida nos deixa de lição,
e por que não ser feliz sem condição?
Esse poema fala que no mundo tem gente para tudo,
inclusive, mãos que acolhem, compreensão que vem distante,
companhia que mora longe, mas, te quer bem

Esse poema fala da sorte de quem te escreve,
porque sabe te ver forte mesmo quando você não se vê
Esse poema conta uma história que nem você é capaz de conhecer

Ah, claro, esse poema é pra você
porque coloca em versos não só elogios, nem só maneiras de te enaltecer
Esse poema fala do seu futuro
fala de um homem puro que você ainda vai aprender a ver

Esse poema fala tanta coisa que ainda não pode ser dita,
mas, sobretudo, esse poema é alegria que irradia vinda de você
Esse poema, sem forma e sem métrica acerta porque a vida é autêntica
para um novo amanhecer

Fica à vontade

Fica à vontade pra ser o que você é
mesmo que ainda não saiba quem você é.
Eu gosto de descobrir junto com você
o caminho que você está seguindo
mesmo que ali na frente você volte

Fica à vontade pra pensar em voz alta,
fica à vontade pra falar em voz baixa,
fica à vontade pra manifestar a sua dúvida
fica à vontade

Eu vou interagir, não criticar (às vezes, sim)
eu vou participar da construção do seu eu
se você me der essa liberdade

Não tenho olhar terapêutico, nem clínico;
retirei dos meus olhos o vício de ver maldade.
Temos um acordo não dito de reciprocidade
pra você se sentir à vontade, e sentir o que quiser,
e poder chorar, se quiser, e rir também feito louco

Aos poucos, a gente se entende, e se entende que a gente é gente,
e muda o tempo todo, e testa novos jeitos de ser, e sonha e se frusta
de novo, de novo e de novo, sabendo ser mil de nós;
amparados pela mão que não julga, pelo olhar que compreende…
há diferentes formas de existir e de ver o mundo

Eu quero conhecer outros mundos, outros lados,
outros fatos, outras curvas, outras práticas ocultas
que só você sabe que sabe de você mesmo

Descobre comigo, numa companhia madura,
de quem tem a paz de espírito necessária
para ser de toda e qualquer ajuda

Palavras insuficientes

Para o amigo João Vitor P. Alves

Sem qualquer clichê
– nem mesmo o japonês –
eu quero agradecer a você
muito mais que os animes,
e as risadas que a sua convivência traz

Foi assim, sem querer (pra nós), que a vida
me apresentou você, sabendo o que faz
e mais, mesmo que a gente não converse sobre os nós
que levamos no coração e na alma, eu sinto,
que a nossa calma, unidos, muda todos os dias difíceis

Mesmo mudos, já te vejo – de tão longe –
mais perto de mim, e é assim que noto
na voz e na maneira de falar
quando a tristeza toma o lugar do sorriso

Mesmo assim, eu não me importo
com seus momentos inglórios,
é próprio da amizade
essa parte que ninguém vê

Para além do estado de graça,
eu quero que você saiba
durante todos os dias da sua vida
que a sua presença tão querida
suaviza a minha própria existência

É para um reencontro com o carinho,
para ocupar os vazios
e as inquietações do mundo,
que nós fizemos o nosso próprio caminho
de amor e consideração…

E porque não dizer também,
que esse poema só acaba
porque pra você não há palavras
suficientes

Estrelinha

Minha estrelinha preciosa,
que não sabe o valor do seu brilho,
se não fosse você,
como a noite seria clara?

Estaria o mundo no breu total, escuro;
Você, sempre puro, não me alegaria sorrindo,
servindo de pretexto para a minha felicidade

Quem se junta no caminho do bem,
se encontra sem saber como,
a vida não cruza os braços,
promove encontros, mesmo distante-,
entre estrela e poeta nas formas de poesia

É a sua vida valendo de obra-prima para o verso,
seu sorriso, o verbo, suas lutas que ninguém sabe,
é arte, querido, pura arte, mesmo sem entender
faz parte do espetáculo vivo,
até te chamar de amigo

É a capacidade de ser estrela,
que não seja cadente,
é o meu desejo
para a amizade

Muito há dizer

Ainda não há muito o que dizer
além do seu sorriso fácil
do seu humor solto,
de tantas curiosidades
dos meus beijos de pescoço

Ainda não há muito que dizer
além do seu corpo esguio,
além dos ritmos do seu corpo,
e do seu carinho

Não há nada a declarar
sobre as nossas trocas de olhares
dos paladares que eu vigio e cuido

Nada há a acrescentar
além da minha falta de ar,
enquanto de desnudo

E é humano te bem-dizer,
ter segundos com você
antes de começar o dia

Deveria ser regra,
mas eu não vou seguir,
não vou detalhar nada mais além
dos seus cabelos enrolados
e o fato de seus abraços,

e seu colo – postergarem a ida,
prorrogam a rima,
nem dá vontade de fechar estrofe

Eis que a vida quis,
eu e você. feliz
em rumos diferentes

Fugindo pela esquerda,
correndo à direita,
a poesia nos colocou frente a frente,
finalmente.

Falando pouco,
dizendo muito,

inconsistente ao mundo –
coerente se faz
o nosso silêncio

Se necessário fosse

Se necessário fosse
pelo seu sorriso, presente;
se necessário fosse
pelo seu sorriso, um elogio singelo;
se necessário fosse
pelo seu carinho, afago de mão;
Se necessário fosse,
pelo seu descanso, a observação;

Se fosse necessário um dia feliz,
sua companhia meramente,
seu abraço cativo,
um mínimo de música,
qualquer passeio,
qualquer filme,
qualquer história,
qualquer motivação para a sua presença

Presente mais intenso,
vida mais amiga,
a poesia mais leve e bendita,
a alma mais próxima do início,
e daí se o mundo está próximo do fim?

Sua risada é recomeço,
suas piadas com sentido exclusivo,
sua fala sobre (qualquer coisa) tem mais relevância

Minha criança (?)
Eu sou criança de novo (?)
Talvez, quem sabe, outra vez,
todo mundo me confunda;
todo mundo perceba paixão,
um novo ar, um novo brilho nos olhos,
a vida em outra direção

Com a certeza, somente, de que tudo não merece explicação,
que essa situação nos deixa à mercê um do outro, vulneráveis,
abaixamos a guarda e deixamos guardados um coração no peito do outro,
confiando que no mundo há com quem se possa contar…

De muito e de pronto, sou capaz de muito mais depois de cruzar seu caminho,
nada nesse mundo vai descrever o que a gente escreve vivendo,
amores em silêncio – no singular e no plural –
cada palavra aqui tem um referencial…

Absoluta poesia

Você, minha joia rara,
minha riqueza,
cheio de encantos e de beleza,
tão doce e tão meigo,
meu amigo e companheiro

Sendo simples e mágico no caminho,
é meu vício o seu jeitinho,
um menino tão puro,
um homem tão complexo

Te amo o dia inteiro,
mesmo com todos os seus medos,
contigo encontro coragem,
seu carinho é uma necessidade

Para um minuto de paz a mais,
seu cheiro me cativa.
É o corpo que alegra,
o sorriso que supera
– qualquer dor ação de ser –

Eu não consigo mais…
meu sorriso é mais eficaz,
minha alma desperta,
meu corpo reage,
minha pele arrepia,
tendo você na minha vida
Tudo
em absoluta poesia

Matéria-prima rara

Raras poesias que vem e vão,*
mas, você não.
Você não volta
porque sempre fica
é obra-prima,
essência,
a arte primeira

Um verso apenas você me deu,
e verso sou eu seu,
uma estrofe inteira
da sua vida, meu poema de amor

Verbo, origem do mundo.

Poesia, substância
da minha criança
que encontra a sua criança.

Duas almas lindas
procurando na rima
uma forma mínima de se reencontrar


*Com Iago Reis

Há tempos

Para Tais Freitas, atualmente Diretora da Escola de Formação e Desenvolvimento de Pessoas/Reitoria do Instituto Federal Fluminense, pela excelente profissional, de tantas qualidades, e amiga. 

Há tempos que o poeta tem observado
a sua ação, e hoje, nas horas finais do dia,
render homenagens é obrigação

Aprendi, desde que reconheci o meu ofício
ter, por oficio de trabalho, a observação.
Nesse tempo de convivência,
– perdoe-me a incongruência da cronologia exata -,
tomei nota das incertezas da chegada,
da voz trêmula das primeiras convocações

Tomei nota das iniciativas inseguras,
das indagações prematuras, da dúvida
constante, da constância da ternura,
dos posicionamentos equivocados,
da postura pura, simples e ingênua,
de quem se via pequena
tentando acertar

Vi a armadura ser trocada várias vezes,
vi aceites corajosos e a audácia
de quem aprende aceitando de presente
aquilo que não se sabia se poderia ofertar

Presenciei dias de tormenta, e percebi
com o olhar apurado de poeta –
noites de sono nem sempre dormidas

Constatei dores de renúncia,
daquela que queria tomar conta de tudo,
sendo simplesmente uma só.

A mãe tão presente dividir o presente
com o árduo trabalho.
A profissional competente reconhecendo limites,
não desapontando os amigos por consideração.
A esposa, tão cuidadosa, indo além do que as forças permitiam.
A filha que sempre atende as ligações.

Presenciei a professora de outra época
tentando aprender os rumos não-numéricos,
e descobri, que para ser o que se quer,
às vezes, é preciso ser multitarefa.

Pelo olhar da convivência,
vi as dúvidas ganharem direção,
vi a anfitriã se percebendo,
a diplomacia ganhar dimensão.

Tomei nota, em muitas reuniões,
dos olhos atentos e dos ouvidos abertos,
ensinando e aprendendo,
que falar no tempo certo,
e ouvir na hora certa
é talento lapidado

Vi, até muito recentemente,
o cansaço bater na porta
de quem tanto faz e faz,
– mais e melhor -,
achando que ainda não é suficiente

Eu vi tantas em uma só
que até achei que não fosse sempre.
Aí eu descobri o melhor:
Que a vida nos dá de presente
a capacidade de ser diferente,
de transpor os limites da mente.

Eu vi tantas em uma só
que eu preciso deixar ciente:
A acolhida foi tão compreensiva,
que o poeta ganhou amiga
pra seguir em frente.

Descartado

Primeiro foram os elogios que deixaram de vir
quando eu percebi em você uma mudança de postura
na verdade, foi minha culpa, o primeiro olhar de encantamento

Lamento, mas depois foram embora os presentes
que não faziam mais sentido, no vazio que se instalou

Partida, seguida, os encontros mais espaçados,
o palco que eu não quis montar,
a sala que eu não quis fazer,
o ego que eu não quis mais levar

Descartei planos e sonhos com atitudes,
me despindo de todas as ilusões que eu me achava imune,
não fui,
mas,
deixei você ir

Rompendo mais do que abraços, mais do que carícias,
cortei sentimentos sem sentido de duas vias
ainda te encontro em primeira linha
austeridade da poesia que se conserta
a medida que não suaviza a alma

Cala e acalma
coração que se fecha
deixa sempre outro acesso,
uma brecha de paz

Metalinguístico

Com licença,
deixa eu te falar uma coisa:
Meu querido, sinto informar
que sinto.

E, por isso mesmo,
não tenho constrangimentos.
Quando vejo seu sorriso lindo,
sendo simplesmente você mesmo,
sinto paz por dentro.

É o momento, querido
sei que a gente não tem nenhum compromisso de estar aqui,
nem eu de te dizer um punhado de palavras bonitas.

É isso que vale a pena:
Ver que a sua alma pequena se agiganta,
ver seus olhares fugitivos e o nó na garganta

Perdoe-me o silêncio que impus,
as reflexões à meia luz.

Não é conversa que eu quero,
nem seu abraço cativo,
nem esse sorriso bobo quando folheia um livro

Amigo, não é isso:
os seus sentidos extraordinários,
cheios de percepções…

Não é isso, não… amigo
não é seu choro incontido
que escorre pela face
e você não queria

Não é uma xícara de café
que nos mantém fortes por dentro

Amigo, lindo, não seja homem como os outros;
vestindo armaduras pesadas na alma e no coração,
o seu corpo não aguenta tantas aflições

Amigo, não é seu abraço condoído que me dói na alma
não é seu labirinto de dores e complicações,
nem o que te fizeram, nada disso, meu amigo,
você não merece se sentir o vilão da própria história

Amigo, querido, você é obra-prima da vida,
tão linda, sensível e sublime a criação
da sua condição humana de ser um anjo
na contramão do viver

Não são seus toques delicados que me alegram,
sendo honesto, meu amigo, esquece tudo isso
e preste atenção:

Quando você vive pleno,
quando sorri e gosta de sorrir;
quando ri e gosta de rir;
quando ama e gosta de amar;
quando chora e sente o chorar;
amigo….

Quando você vive e gosta de viver;
quando você abraça e gosta de abraçar;
quando você dança e gosta de dançar;
amigo…

Quando você beija e gosta de beijar;
quando você se entrega na cama e gosta de transar;
quando você pensa no seu amor e gosta de pensar;
amigo…

Quando você vira a inspiração e eu gosto de me inspirar;
quando você sorri e eu gosto de rimar;
quando você confidencia o mundo e eu gosto de versar;
quando você me encontra e eu me encanto por você;
Amigo…

Tá escrito o poema;
descrito o verso;
despida a estrofe;
compreendida a mensagem
metalinguística

Verdadeiro eu

Muita gente promete ser afago
e vira um fardo na alma,
quando a gente ainda não aprende a retirar
as máscaras dos falsos anjos

Não adianta a promessa de estar sempre junto,
o pra sempre é o tumulto que cabe no peito,
não tem jeito: é seu processo, sem saída

A esperança cafajeste da solução fácil
não está na mão estendida que ajuda,
a labuta própria não pode ser vendida,
é um fato filho da puta!

A roda do tempo tem girado,
a atitude é o passo que não adianta outro dar.
Pêndulo do progresso, eu te peço, guia
o corpo e a mente, o coração e o começo
de um novo fim, o recomeço

A roda do tempo tem girado,
e mostra, entre os pratos quebrados
que a cara não quebra sozinha,
é minha jornada, toda minha

Na reação há ação invertida,
investida de intenções,
suas ações revestidas de bondade
são vãs contradições

Gira a roda da vida,
e se agita, que o mundo não espera,
e grita, grita, grita
companhia bendita do verdadeiro eu…

Experiências

De manhã, quando acordo e vejo a janela aberta,
o ar entra, frio e rígido, cortante
perturbando o sonho, o sono anti-compromisso

E a escova de dentes, o olhar perdido no espelho
a pasta que escorre até o ralo, já foge de mim.
Consulto o relógio sem reação, nem sei precisar
se perdi a hora ou não, são tantos vícios

Tudo se confunde no papel
e eu nem sei direito qual é o meu
entre sorrisos fáceis, rasos e tortos
a vida tem as suas regras,
impostas ou me imponho?

É a sala de aula reproduzindo a burocracia
combinações de gente morta, vivendo uma vida vazia
a busca de um pedaço de papel

A mãe que liga e chora calada,
e eu que choro a saudade, distante,
sem me calar, e as lágrimas gritam quentes

Tudo parece ter perdido o sentido
sequer sou filho mais, direito
detesto o meio termo
entre a criança e o adulto,
finjo-me de guerreiro

E quero confundir o mundo,
sabendo que as minhas atitudes
não precisam de roteiro,
sou inteiro, o caos

Os amigos não me visitam mais,
e os círculos sociais aprofundam
o meu desespero

O meu despreparo para o mundo
que não enxergo, cria outro,
paralelo

Sem sentido, minhas emoções entornam,
consumindo até a última gota de consciência
que achava que tinha, tornando-me ilha
de dúvidas, e de líquidos intragáveis

Tudo parece convergir ao transtorno,
tudo parece se entender nessa forma louca
dos meus julgamentos

Busco não me envolver, e de afastamentos,
em separações escolhidas a dedo,
eu me perco a esmo

E não consegui ouvir o cantar dos pássaros de manhã,
nem o cachorro da rua pedindo carinho pelo caminho,
o meu vizinho, ao bom dia, que não respondi

Há pedinte de carinho de afeto quando passo na rua
e eu não meço esforços para correr, para não perder tempo
E evito quem senta ao meu lado, quem troca sorriso
querendo uma caneta emprestada

Na empreitada do viver, eu perdi a sintonia de tudo
só existe a bolha das minhas músicas e dos meus gostos,
meus filmes preferidos, e um – nem sei se tão – querido amigo
capaz de me escutar, quando eu falo pelos olhos
o que minha alma não materializou expressar

Sinto ser lindo, mas não sei se sou
há dúvida onde estou, sobretudo
quando existe o limbo
do viver sem saber quando o caminho
deixará de ser torto

Tonto, eu me mordo
buscando explicações
perdi as ligações de um recém-conhecida
que queria um livro emprestado, dito mais cedo

Certo de que olho com os olhos d’alma
fecho os ouvidos do corpo,
tranco a boca do corpo,
punhos prontos ao soco – de ira

Transcender ao metafísico,
perco o vigor do homem
porque não entendo os pedidos de criança
ainda não realizada

Não devo ser alma penada no mundo,
vagando sem rumo, sem norte,
sê forte sem ser fraco,
é o fato que gera aprendizado.

Aparte

Para Iago Reis
————————-

Fico feliz quando você me toca o corpo,
me abraça, e me beija na face,
e me faz de transbordo dos sentimentos
pelos quais não se sabe
(se existiam ainda dentro de mim)

Fico feliz quando me fala dos seus gostos,
e quando contempla, a tarde,
e eu me finjo de bobo
pra não falar da missa-metade

É tudo ainda muito novo,
ouvir a sua voz doce e suave,
ter a sua companhia simples,
seus sorrisos, sem vaidades

Não necessito visitar a utopia,
ainda não é tarde para acreditar na poesia
que vive em mim, ainda, escondida, em parte.

Você com simplicidade costura tudo,
o mundo, pelo qual eu não vejo mais encanto,
cala bem antes do começo, o meu pranto,
meu desencanto, minha enfermidade

Da alma, do espírito, da carne,
você revigora, cicatriza, energiza,
cumplicidade

Um estado de paz, de poucas palavras,
de meios gestos, de observações,
você me devolveu a capacidade…

De escrever de novo, vivo e belo,
com sentido, sentimento e serenidade
o poema-humanidade

Sonho alto e lindo, novamente,
a realidade…
de ser pleno, acima de tudo,
quando te observo, à parte

Detalhe

Para buscar o essencial
concentração, no detalhe,
no artigo, buscar o indefinido
de forma certa.

Quem acerta o mínimo, o toque mais sublime,
o fundamental, (re)conhece o coração do outro

Abre os olhos, a porta, acalma, mas, vem
aflora a alma, desperta, desabrocha,
a vida…

Afina a sua vida na minha
vida minha, essencial é tudo
o verso mudo que fala em poucas palavras,
o mundo!

Início de mim

Antes, milênios em construção,
meu espírito, novo e nobre,
ainda puro, límpido, cristalino,
mudou o tempo e o espaço;

Antes de tudo, em matéria-prima-primeira,
simples e em aprendizado, elemento-comum,
se fez a gênese da existência,
obra ainda a trabalhar, lapidar,
mudou-se para a carne, humana;

Antes do início, – emana o espírito –
a luz da vida, da consolidação do começo,
do início, eu escolhi o cosmos

Solicitei, de caso pensado e de ponto certeiro,
dividir o tempo-vácuo-espaço-momento
no mesmo instante, exato, da sua experiência
divina de vida, divina, de vida, a sua;

Divida comigo o mesmo mistério
daquilo que não sei; do que sempre soube;
do antes, do ontem, do começo, do princípio,
do tempo-espaço-momento

Contigo quero dividir a partícula do ser,
que acha que vive muitos, e muitos anos,
e não percebe, inconsciente, que participamos
da brevidade do segundo da eternidade,
que não termina aqui

Mas, começa a despontar para o além-matéria,
mas, começa a se abrir, o portal do futuro-e-passado
no momento exato da paixão, escolhida ainda no nada,
no vácuo do nada, do nada, do nada do universo;
ainda quando se preparava o elemento propício
para chamar você e eu, de nós;

Tudo começou do nó que era o projeto eu,
tudo começou do nó que era o projeto você,
nós que nunca conseguimos, a qualquer tempo, dizer não
ao outro, ao outro dessa vida, da anterior, da próxima,
agora, – e muitos antes – e muito além do início-fim;
você e eu, nós, início de mim

Ao meu tempo

Tem tempo que o tempo não me visita mais,
que a poesia não me visita mais,
que a inspiração não me visita mais

Tempo que eu não me dedico ao verso,
e, se verso, é para passar ao tempo
que eu tenho tempo pra receber qualquer afago

Afeto, ao tempo eu pedi,
e veio você, em tempo, pra me fazer refletir…
reflexo de tanto tempo sem o uso das palavras,
meu poema emudecido ficou de boca fechada
por não ter nada a dizer

Até que, mesmo assim, a vida, dona de tudo,
do tempo, inclusive, disse-me: Venha por aqui.
Há tudo no seu tempo, e eu te apresento,
o tempo de sorrir

Seu nome, eu prefiro guardar no tempo,
e com o tempo, te descobrir.
Pudera eu ter tempo, e com mais tempo,
não te deixar partir,
sigo em silêncio, dizendo tanto
que ao seu encontro, não me deixe mentir.

Tente, por todo tempo do mundo,
revelar quantos tempos eu escrevi
pra me aproveitar justamente – do tempo –
pra te dizer que eu te quero aqui.

Tempo de…

O pós-moderno,
o tão careta,
tão sem nexo,
tinta na caneta

Bauman com o líquido…
o século XXI tão esperado,
frágil, raso, falho…

Teoria do centro do ego,
desejo que ganhou potência de ato
para deixar sentimentos, certezas,
beleza, relações tão firmes, hoje…
incapazes de se sustentar

Não dá pra deixar pra lá,
que passe batido…
acidente de percurso
que a alma sofreu

Labirinto de sensações, o talvez;
ganhou poderes tão fantásticos, a dúvida;
tem contornos tão fortes, a água;
Tudo escorre entre os dedos,
os laços não existem mais, tão frouxos…

Saudade dos amores rígidos,
eu… falo, que erguido, tinha direção,
hoje não…

Tempo de reticências, do afeto afetado,
das paixões de ontem tão loucas, tão cegas, e fortes,
tão certas, com objetivos e metas, e com sorte, com tempo;
hoje, mero estalo.

O rio de Heráclito no pós-homem da pós-verdade,
afoga todos nós em amores líquidos evaporados…

Tem continuação

Aquele par de canetas que você me deu,
ou aquele DVD que não toca mais por medo,
por medo da memória que o refrão vai me lembrar,
ou aquela camisa que hoje aperta o peito,
o nosso amor azul virou esferográfico preto

Nem vou falar do nosso artista favorito,
ou da emoção de encontrar você sem combinar,
o filme que a gente não terminou de assistir,
de tão ruim nos fez rir – de chorar – o dia inteiro

São essas pequenas coisas, as grandes coisas
que me marcam tão profundamente,
os seus presentes do passado que caminham comigo,
lembrando que a gente continua unido no futuro
mesmo sem nos vermos

São fotos que a gente tirou e eu já retirei
do plano de fundo do celular para não admitir
que o pano de fundo da minha vida é você

Não tenho mais seu número na agenda,
mas, se eu tiver uma recaída,
ou uma dor forte de saudade for contraída,
eu ainda sei discar, sei falar seu nome completo,
e mesmo que não esteja perto, sei sua data de nascimento,
seu signo e ascendência, mesmo que os amigos me digam
que perdi a decência, minha consciência ainda diz
os planos que eu fiz, ainda precisam de conclusão

Esse amor é uma confusão sem sentido,
eu sei que sofro e vivo um vício
feito peça de teatro que cancelamos de última hora

É próprio de quem sente que a palavra dita da boca pra fora,
a alma não registra, que você foi embora, porque tudo ficou,
permaneceu, dilacerou

Em memória fotográfica, não adianta rasgar camisa,
guardar em caixas os enfeites de decoração,
o elefante que fica na estante me lembra:
as coisas queimam em física,
mas, a nossa história tem continuação.

Três vias

Será que você se interessa por mim
além do texto do poema, da poesia?
será que você se interessa para o além do eu,
do eu-lírico, do poeta?

Será que eu posso,
será que eu tenho autoridade pra isso…
será que eu posso  combinar a obra com o autor?
Será que os meus escritos te inspiram para a vida?

A minha rima, será bendita, será que extrapola
a beleza do texto?
Será que eu e você, tem jeito?

O verso, é pretexto para o texto
que eu desejo resposta,
será que você pode dizer agora:

Lendo meus poemas,
algo mais aflora,
será que já passou pela sua cabeça,
as mesmas perguntas?

Será que a estrofe curta
vai te fazer entender que eu quero
alongar essa história?

Será que eu envio, será que chega ao destino,
serei eu seu melhor remetente, será que a gente
não extravia?

Será que essas vidas se entendem?
a sua, a minha, a literária,
será covardia
um contato de três vias?
inteiro tremor.