De manhã, quando acordo e vejo a janela aberta,
o ar entra, frio e rígido, cortante
perturbando o sonho, o sono anti-compromisso
E a escova de dentes, o olhar perdido no espelho
a pasta que escorre até o ralo, já foge de mim.
Consulto o relógio sem reação, nem sei precisar
se perdi a hora ou não, são tantos vícios
Tudo se confunde no papel
e eu nem sei direito qual é o meu
entre sorrisos fáceis, rasos e tortos
a vida tem as suas regras,
impostas ou me imponho?
É a sala de aula reproduzindo a burocracia
combinações de gente morta, vivendo uma vida vazia
a busca de um pedaço de papel
A mãe que liga e chora calada,
e eu que choro a saudade, distante,
sem me calar, e as lágrimas gritam quentes
Tudo parece ter perdido o sentido
sequer sou filho mais, direito
detesto o meio termo
entre a criança e o adulto,
finjo-me de guerreiro
E quero confundir o mundo,
sabendo que as minhas atitudes
não precisam de roteiro,
sou inteiro, o caos
Os amigos não me visitam mais,
e os círculos sociais aprofundam
o meu desespero
O meu despreparo para o mundo
que não enxergo, cria outro,
paralelo
Sem sentido, minhas emoções entornam,
consumindo até a última gota de consciência
que achava que tinha, tornando-me ilha
de dúvidas, e de líquidos intragáveis
Tudo parece convergir ao transtorno,
tudo parece se entender nessa forma louca
dos meus julgamentos
Busco não me envolver, e de afastamentos,
em separações escolhidas a dedo,
eu me perco a esmo
E não consegui ouvir o cantar dos pássaros de manhã,
nem o cachorro da rua pedindo carinho pelo caminho,
o meu vizinho, ao bom dia, que não respondi
Há pedinte de carinho de afeto quando passo na rua
e eu não meço esforços para correr, para não perder tempo
E evito quem senta ao meu lado, quem troca sorriso
querendo uma caneta emprestada
Na empreitada do viver, eu perdi a sintonia de tudo
só existe a bolha das minhas músicas e dos meus gostos,
meus filmes preferidos, e um – nem sei se tão – querido amigo
capaz de me escutar, quando eu falo pelos olhos
o que minha alma não materializou expressar
Sinto ser lindo, mas não sei se sou
há dúvida onde estou, sobretudo
quando existe o limbo
do viver sem saber quando o caminho
deixará de ser torto
Tonto, eu me mordo
buscando explicações
perdi as ligações de um recém-conhecida
que queria um livro emprestado, dito mais cedo
Certo de que olho com os olhos d’alma
fecho os ouvidos do corpo,
tranco a boca do corpo,
punhos prontos ao soco – de ira
Transcender ao metafísico,
perco o vigor do homem
porque não entendo os pedidos de criança
ainda não realizada
Não devo ser alma penada no mundo,
vagando sem rumo, sem norte,
sê forte sem ser fraco,
é o fato que gera aprendizado.