Poema dado

Se eu pudesse me disfarçar
de festa, de sorriso largo,
se eu pudesse dizer que me faço
de abençoado o tempo todo,
que bom seria a vida,
se eu pudesse escolher
o que eu faço e como me sinto.

Mas, na verdade, o sorrir é um mito,
o abraço de amigo tenta confortar,
mas, só eu sei o que eu quero juntar
nesse entrelaçar de carinho

O meu vazio me permite
o falso preencher de contentamento,
mas, por dentro, lamento;
é um mundo obscuro que eu entro,
e me tranco, e me lanço, e parece,
que mesmo em prece, eu não consigo voltar

Se eu falasse o que dói de verdade,
se eu soubesse identificar,
o que está por dentro do corpo,
eu não precisaria me arriscar
a perder a vida, tentando ganhá-la

Essa minha fala, tão simples,
e tão verdadeira…
me sinto a beira do silêncio,
e
vou
me
jogar

Assumo as consequências, e peço clemência
à divindade que me criou, mas, eu não consigo suportar,
que nessa vida, eu não tenho vida, e na próxima,
se houver alguma, eu também não terei,
temerei eternamente o que eu não pude aproveitar

Por isso, responsabilizo o mundo,
sou fraco, querendo ser forte,
e me sinto imundo,
mas, o poema vai me limpar…

O poema vai me benzer,
o poema vai me proteger,
o poema dado foi lançado
pra me demover do não viver,
pra reviver

Oração de abre caminhos

Deus contigo vai,
e ninguém mais te atinge,
pode vir pedra, pode vir ódio,
não desiste, e segue

Palavras de ódio não te abatem,
o corpo agredido não dói,
o cansaço faz parte,
segue sem alarde

Ladeado por todos os anjos,
você está no centro,
cabisbaixo e derrotado,
o mundo assim percebe

Mas, você sabe que o semblante engana,
a oração humana ainda é uma parcela,
você sabe o que completa o seu ser,
forte e recompensado, sensato,
o invisível para os outros,
não pára você

Confia e aguarda,
o guardião máximo alarga a estrada
por onde você nunca pensou passar

Ele vai na frente enquanto na madrugada,
você ainda dorme protegido e cercado,
segue seu caminho com o passo pequeno,
que quem pensa estar na frente, na estrada,
seus algozes, gente indisciplinada,
ainda vai voltar, pegou rumo errado

Na trilha do silêncio, o passo posto em dúvida,
não há angústia, segue na quietude, isso é virtude,
não importa quantas vezes você caia, é por aqui.

Desvia de um e de outros, os deixe ir,
sei o quanto você chora de dor,
enquanto muitos riem no passo fácil,
o machucado da queda será curado,
porque a oração que abre caminhos turbulentos,
não veja os lamentos, na oração que abre caminhos,
são os melhores, os melhores caminhos se abrem,
por dentro.

Separado

O mundo vive há eras
sob tentativa e erro,
e, por isso, sofre,
sofre, erra, erra,
e se rebela,
entre tentativa e erro

Poucos são aqueles
que passam entre a direita e a esquerda,
o caminho reto, renegando a lágrima,
negando o falso, resistindo à dor,
preservados na segurança da paz de espírito,
e em alegria, em humildade, aparente solidão,
deslocados da multidão que erra, chora, sofre,
delibera entre mil caminhos perdidos

Enquanto o mundo estiver em ebulição,
fervendo em ódio, em guerra, em discussão,
em inveja, em intriga, na contramão

Segue sozinho, ouvindo a oração,
que Deus preserva, cuida, abençoa,
protege, elege, liberta e livra,
caminha mesmo que não souber o destino,
escuta e observa o convívio

Quantos se doem, e choram, e se calam,
e não sabem o que fizeram de errado,
e, calado, você passou por tanta coisa,
quieto e humilhado, desconsiderado,
foi colocado à parte,
evidência de Deus

Sem norte

Meu amigo,
tanta gente precisando de um abraço,
de um ouvido, de um tempo, de falar sem ser interrompido

Meu amigo,
tanta gente carente,
tem tudo, saúde, saudade…
cê parte, amigo,
elas ficam sem alento

Meu amigo,
oração é unguento
para o tormento d’alma

Calma, meu amigo,
que a vida é curta,
sê disponível,
abrigo pra quem precisa viver

É a angústia doendo,
é o ressentimento,
é o mal entendido,
é o coração fervendo,
o sentido que está se perdendo…

Amigo, há ponte do outro lado de nós,
são tantos, algoz, de tantos…
é tanta certeza na certeza de cada um,
é o perigo de não sermos um

Amigo, tenha tempo para os lamentos,
dos muitos que têm muito e não são nada,
vida cheia de vazios que não preenchem nada

A cada palavra que você escreve, a cada mensagem,
a cada conversa simples do que precisa ser dito,
toda vez que você mergulha no íntimo de alguém,
você tem acesso a um outro mundo que nesse mundo
poucos alcançam

Tão cheios de si, com tantas máscaras, tantas capas,
tantas marcas, subterfúgios, você, desnuda profundo,
o núcleo primeiro, a potência do ser que deixou de ser
para carregar o que não é…

Você não é daqui, ajuda quem acha que é daqui, a progredir.
Você sabe que isso passa, a vida é curta, sabe da loucura da vida…
da finitude desse tempo terreno, conhece a força de outros astros,
ajuda a criar laços que retirem os nós, ajude-nos;
a não criar mais mundos de aprendizado, como o Planeta Terra.

Tão pesado, tão denso, tormento, de dor e de imenso sofrimento,
nós não o queremos, nem você, mas deixa o recado, deixa a oração,
deixa a mão estendida, deixa a sua vida a serviço de outras vidas,
outras vidas, sem norte.

Renúncia

Eu não tenho tempo de falar de coisas tristes,
porque a minha ocupação é com o outro,
não tenho tempo para falar de sofrimento,
porque a minha finitude me lembra diariamente
o quanto eu ainda devo manter a mão estendida.
A grandeza da vida não está no quanto eu posso carregar de dor,
mas, quantos sorrisos eu sou capaz de abrir, tendo eu, tudo que preciso.
Uma luta ou outra – para alguns – é tarefa árdua, um peso a mais,
mas, pra quem faz disso a oportunidade, trata-se de crescimento, aprendizado.
Os fardos e os fartos do Eu, ditos em poema não amenizam coisa alguma,
mas, tornam a vida mais simples, mais bela, mais oportuna.
O poema, o ritmo, a rima, a palavra cadenciada,
tem o mesmo fardo da prosa, tão pesada, tão penúria.
Eu peço renúncia do peso da batalha,
eu peço renúncia da dor aguda,
eu peço renúncia da primeira lágrima,
eu peço, renúncia.
De tudo o que me cansa,
de tudo o que me causa gastura,
de tudo o que eu quero de fato,
eu peço renúncia.
Deixo para a vida o cuidado,
o toque do belo,
deixo para a vida o zelo,
o que for abençoado,
nessa vida tão simples, e tão singela,
eu quero o básico, o extremo necessário,
a catarse da quimera.

Luz

Seu carinho é aconchego simples sim,
de pessoa sempre jovem, sempre leve,
áurea de paz que o espírito leva,
não importa a idade que o corpo tem,
Parabéns, Silva Luz, Silvia Lúcia

Esse texto não é um poema,
é uma carta aberta em versos,
é a reverência simples, singela do poeta,
que agradece, por você, uma inteira, geração

Seu carinho, seu sorriso, seu jeito lindo
de viver a vida, de agradecer à vida,
de contemplar o belo, de acolher do jovem ao velho,
é a certeza de que o amor, o afeto, o zelo, o elo,
atemporal.

E se for chorar lendo esse cuidado com o próximo,
é óbvio que o temporal das lágrimas que estão caindo,
refizeram tudo o que foi poluído nos contratempos do caminho.

Erga-se, que Deus proteja, que conforte, ilumine, a eleve,
o ser que existe em você, exaltado porque, vou dizer,
nunca quis estar no alto.

É por isso que Deus abençoa, é por isso que o amor ecoa,
reverbera, sem berro, é por isso que o ponto de luz,
resplandece.

Canção de ninar

Conta uma história boa
para passar o dia de hoje…
conta uma história para acalmar as notícias ruins,
para cuidar da menininha…
que dorme, depois, na calmaria,
canção de ninar…

Para a mulher que não consegue parar durante o dia…
canta baixinho pra abençoar… sussurrando para proteger…
a menininha que de dia não sabe parar….
responde a tudo, coloca a mão na demanda,
para realizar…

E trabalha, e esbraveja, desbarateia,
é bravata a encorajar… a menininha que dorme…
ninguém diz… cuida de tudo, é a última, apaga a luz…
a menininha que dorme… fala baixinho pra não acordar….
porque de dia não dorme no ponto, engole os prantos…
que a alma vai gotejar…

Menininha que ri, faz graça, mas sabe se colocar,
responde doce… também responde ácido… se for o caso,
sei que ela não se cansa… enquanto estou aqui…
calado não posso ficar…
calado, não posso ficar… não posso ficar…
aquieta menininha… agora não precisa se preocupar…

Agora o poeta não brinca… fica em paz, querida…
canção de ninar…

*Para Mayahara Barcelos – Servidora do Instituto Federal Fluminense, colega de talentos fotográficos.

Concórdia

Confie em Deus, e edifique
a fé, solidifique a confiança no amanhã,
reflita, que em tempos de vida sofrida,
de batalhas, de contrapartida,
não se entrega, compartilha
a força devida que foi dada,
agarra, a energia espírita,
interioriza o ponto de luz,
acenda Jesus no seu coração,
pois é tempo de união,
concórdia, comunhão de coração.

Seus fantasmas

Nem tudo nessa vida é pra você, desculpa.
Se o mundo não gira na sua linha do tempo.
Não seja assim tão suscetível ao mundo.
Não seja tão instável, por favor.

Aquela palavra não foi pra você,
nem aquela mensagem, nem o erro cometido.
Não foi pra você que eu assumi os equívocos,
não foi pra você que eu deixei de fazer de um modo, de outro.

Aquele sorriso não foi pra você,
nem aquela alegria no olhar,
nem a ira que vem me visitar, de vez em quando,
nem a palavra que eu não quis falar.

Não foi pra você o poema escrito,
nem o verso direto que eu expus,
não foi pra você que eu apaguei a luz mais cedo,
nem a falta de dinheiro que me impediu de ir a qualquer lugar

Não foi pra você, não insiste em indireta nenhuma,
não mude o que quis dizer, interpretando diferente,
não se apropria do mundo alegre para escurecer o seu,
não te desejei o breu, aprenda a conviver com os seus fantasmas,
os meus, eu chamo de espíritos de luz, e vivo em estado de graça

Tenta outra vez

Quando se alimenta a alma de energias renovadoras,
e se volta aos velhos ambientes corriqueiros do dia a dia,
percebe-se claramente como os locais são densos, pesados;
não notávamos, pois estávamos em sintonia.

Sinta o frescor das flores,
a vida que brota viva e doce,
o sol que te aquece,
a mais linda prece de calor

Olha para o céu,
a imensidão de Deus,
o ar que cuida da pele,
é leve, a alma que resplandece

Cuida dos seus sorrisos largos,
é seu afago primeiro,
quebra todo rancor,
toda ira, todo fardo,
todo ser humano perturbado
que tentará você

A vida te fez bem mais necessário
que os desgastes que você tem vivido,
é muito mais amplo, muito mais limpo
do que tudo isso, posto à prova,
aprova, convívio.

O céu, o ar, o mar, a vida,
vão te fortalecer, te proteger,
te abençoar, passa reto e íntegro,
o mal não te alcançará,
é o nosso segredo,
mas, vale compartilhar

Verão-luz

Não canse de ser luz,
não deixe de ser luz,
quando entrar nas sombras,
não perca a luz que Deus deu

Não se aborreça
se cegos ficarem
aqueles que se incomodarem
com a claridade, é parte
da missão

Dá missão, Senhor, aos justos de amor,
cubra com seu manto protetor, e chama
bem junto, bem perto, bem próximo

Acalma o próximo,
o óbvio também precisa ser dito,
não se canse de repetir,
nem de escrever,
não se canse de ser,
canal de Deus,
não é o ego que nos alimenta,
assenta o coração em Cristo
e nos muitos amigos que verão-luz,
estação divina

Antecedentes ancestrais

Tudo que me antecede,
a sede, aceite, a prece,
o peso, o sofrimento, a tese,
a dúvida, a culpa, a pele,
os momentos, os risos,
a antiga plebe,
os meus antepassados,
arcaicos, velhos vermes,
aqueles que não entendiam
nada de nada do que acontece,
tudo que me antecede,
a ferida aberta, a dúvida,
aquilo que padece,
o que eu não consegui esquecer,
a febre, o amor perdido,
o que ficou vivo, mesmo morto,
o conforto que não acoberta,
a cobiça, a angústia, a moléstia,
a mordomia, a modéstia,
o alvo que não se acerta,
vida pacata e incompleta,
o sonho, o ano que passa depressa,
o suor que pingou da testa,
a minha história contada como quimera,
tudo que me antecede, aquilo que você desconhece,
padece no seu julgamento, no preconceito,
na palavra que rasga a fresta do tempo
e leva a lágrima a refletir algo antigo,
precede do amigo que você hoje tem,
que fortalecido está hoje
porque sobreviveu ao açoite do tempo,
e aceitou o respeito da vida,
antecessora de outras vidas,
vivas, ainda, dentro de mim

Do nosso lado

Não olhar o passado
porque ele não mudará,
não olhar o presente
porque é tempo de agir,
não olhar o futuro
porque ainda não é nossa,
olhar pra frente, nem sempre
porque objetivo a gente vive tendo,
mas a vida não é corrida no sentido de vencer,
olhar como, então?
Para o lado que precisa de você,
para a mão fechada que não consegue se estender,
olhar para aquele que não fala,
mas, às vezes, grita, e não entendemos,
olhar para o sofrimento sem pena,
e para alegria sem inveja,
olhar para o humano que nos cerca,
atender àquilo que nos chega,
sem um basta sobre a mesa,
porque pessoas, elas não terminam
como as metas, os objetivos, a própria vida;
pessoas transcendem a matéria
porque ficam, quando, um dia, a vida as leva

Poesia de libra

Voltei a respirar poesia,
a transpirar poesia,
a beber poesia,
a arrepiar poesia

Voltei a ouvir poesia,
a falar poesia,
a sentir poesia,
a ver poesia com a alma

Poesia que percorre o corpo,
delira a carne, a cama,
sem hesitar, excita, poesia

Poesia que invade tudo,
que inebria, que aciona o plexo secreto da vida
e caminha na libido, inibida, ou não

Poesia que atravessa a a filosofia, a psicologia,
que atravessa a literatura, os signos
– até os do zodíaco –
poesia de libra que não tem limites

Poesia que passa por todas as teorias humanas,
que reencarna, sem deixar o ceticismo,
que conhece o céu sem deixar o inferno

Poesia do ocultismo, que conhece o princípio da criação
poesia do homem, que responde a tríade da indagação
quem eu sou, por que sou e onde vou…
poesia da criação do termo tempo
que fugiu de mim, poesia pelas mãos…

Poesia, que sem controle, uma vez perdida,
vira nova poesia, descontrolada, na primeira versão fugitiva,
tinha outros versos que a mente não registra mais,
sinais de que o mundo das ideias, às vezes,
revela o que está por vir – sem querer –

Poesia que desgoverna todos os pensamentos,
em momentos, o ápice do movimento
que une: corpo, mente e universo,
no complexo único momento de ser pleno…

Sinceramente,

Esse poema não é uma indireta para ninguém,
é uma confissão, é para o próprio autor,
é o verso passado a limpo, que precisa ser escrito.

O desejo do conhecimento, do ser subjetivo,
aquela garra de trilhar caminho íntegro,
o esforço do bem sucedido profissional,
está descrito aqui na luta,
na gana, na graça, na garra, na raça, no riso

Não se pode negar a juventude,
o sonho, o objetivo traçado,
agora não cabe arrependimento,
é em um desprendimento de ego,
o poema honesto de quem atravessou os séculos espirituais
em amadurecimento condensado em tão poucos vintes e poucos anos

O emprego do verbo foi construído agarrando as oportunidades
no estalo que a vida deu, de que quem tem que buscar a melhoria sou eu…
a informação que me chega, sem tapa na mesa, aquela certeza rendeu o fruto
da sabedoria, mesmo sob a ira, a inveja, a intriga e a perseguição de impróprios,
mesmo daqueles que me tratam por desleixo, pessoa menor, de segundo plano…

Eis a minha primeira e inequívoca convicção: o sucesso se conquista pondo a mão
no trabalho; oferecendo a mão a quem soma; fechando a mão a quem atrapalha;
e dando tchau a quem ambiciona sem merecimento…
Eis a minha segunda constatação: o empoderamento do dito oprimido
incomoda, inquestionavelmente, pessoas de segunda mão…

Paciente

É o poema o remédio da alma,
na expressão da arte da dose certa,
que alivia em prece reta
entre a vida e a experiência do poeta

São ampolas do tempo que se maneja,
e se manipula a palavra que escorre na veia,
são as correntes de energia capazes, sempre,
de aquecer o corpo e animar a alma

O poema pede calma, cama e repouso;
pede reflexão, paixão, mas repouso;
pede cuidado, pede zelo, mas repouso;
e por pouco, de pouso em pouso,
vai cicatrizando o que era sofrido

E no rito não atesta alta alguma,
nem permite afastamento algum,
mesmo em dias comuns, incubadora das letras,
vai recolocando na alma que escreve e que lê,
o parto e o renascer de um novo
paciente.

Estado de graça

A vida que você leva
é leve ou te leva?

É preciso ter prazer quando se vive
seja no trabalho, em casa, na roda de amigos,
viver bem ajuda a encarar os desafios da matéria

E em matéria de desafios fortes,
viver é uma gama de sortes e sortes
quando você se sabe forte e leve

Quando se aceita o caminho que se escolhe,
a gente anda com mais segurança no desconhecido.
Tem sempre a surpresa do caminho a ser vivido,
mas, não cabe pavor ou angústia quando a gente entra na sombra,
no breu da escolha que vai se rompendo nos passos

Viver bem, ainda que nem sempre otimista,
quando a gente entende o motivo da partida,
ajuda a ser luz, mesmo sem ser espiritualista

Quantos são aqueles que mesmo na descrença do divino
sabem, não raras as vezes, honrar as oportunidades da vida?
Valorizam o que têm em vez de ambicionar um pouco mais,
e se caem, não desistem, podem até não tentar de novo;
buscam outra meta mais ajustada ao que podem fazer.

O que fazer quando não se sabe o que fazer?

Parar o passo, agradecer o discernimento,
o pensamento e a reflexão, a primeira atitude da razão.
Se é que a vida não anda nada bem, se está valendo pouca coisa,
não é essa a sua trajetória, volta e se refaz.

Encontre-se e tome para si um outro rumo,
crie o mundo! você é parte dele, não assiste!
Se auto-admite! Ser vivo, vive! Até chegar onde?
No seu estado de graça.

Interior

De longe eu vim,
já fui aristocrata,
já fui o estopim,
no passado, já fui querubim,
tropecei na vida, e desci

Já reencarnei escravocrata,
até mesmo a senzala, açoita-me;
já fui mulher vendida,
eu já puni nas minhas memórias
embaralhadas

Eu já vendi de frutas a furtos,
renasci, amei poucas mulheres,
mesmo rapazes, quando não escondi;
aos meus ombros, o verme dos vulgares,
já fui cálice, matei na ditadura,
fui do céu ao mais cruel das agruras,
antes de te ditar canduras para refrescar o espírito,
antes de te ditar os velhos mitos da vida,
ser seu mentor, eu vivi

E que propriedade você tem de ser ponte,
entre o que eu fui e hoje o que você é;
quanta credibilidade nessa experiência terrena,
privada de coisas tão pequenas da carne,
um ser de verdade, posto à prova,
não prove nada, abençoe, acalme-se,
refaça-se, seu interior;
interior, seu melhor, o melhor termo,
sem escalas de ser

Em tramitação

Estou em processo
de construção da vida,
de desapego do ego,
de desprendimento de vaidade

Em processo de saber viver,
aprender e aprender ser,
ser melhor, menor,
mas, sem falsa humildade

Estou em processo de metades,
relativizando o que vale a pena.
De verdade, muita coisa já não vale mais,
mais nada, sem curiosidade, sem entrega,
desapega, desencosta, agora e com sinceridade

Estou em processo de verdades
que não foram fabricadas pra machucar,
são só constatações de resultados parciais,
uma vez mais

Estou em processo,
dinheiro não me compra,
situações não me obrigam,
o afeto não me pressiona,
a grita não me cala

Em processo de ser eu mesmo,
de me colocar a par do meu próprio eu,
descobrir onde está a outra parte de mim,
que não cedeu ao mundo de outro,
ao amor de outro, ao calor de outro,
desejo, outro, expectativa do outro,
serei inteiramente meu

Oração amiga

Pai, teu amigo íntimo
hoje pede por outro ser divino
que eu chamo de amiga

Restaura essa vida, que já cansada,
já sofrida e abatida, não esquece de amar.
Hoje não preciso da mulher forte, guerreira,
da destemida cheia de confiança em Você.

Quero a alma humana, que falha, que sofre,
que também merece nossos cuidados,
senhor, um instante dela e pra ela,
não me culpe se a lágrima rolar,
hoje a preocupação de carinho que paira no ar
é inteiramente minha para te abençoar.

Quero a alma humana que chora pela distância,
que se apega, agrega e se entrega a outros corações humanos

Sentimento que fala mais alto e a gente vai estudando nas atitudes e arquivado em tudo
que é feito com zelo, amor e esforço.

Declaro respeito e amor ao divino do outro,
quando se lê um coração em pensamento,
o poema vira oração, amiga
amiga, oração

Presente divino

Eu estou falando com um ser de fé,
eu estou falando com um ser de luz,
estou falando com um amigo que me conduz

Estou falando de igual pra igual,
ainda não há semântica para o imaterial,
o pós homem, o sobrenatural, o divido,
o divino que me diverte em você,
que me enche e me alegra

Estou falando de um encontro
muito mais evoluído, que explora,
expande os sentidos, além da matéria

O que é ser, ser de luz?
o que é ser, o ser você?
o que é ser, se alegrar por mim?
o que é ser, transformar-se?
e mais ainda, aos outros?

Por amor, por cuidado, pelas atitudes,
os abraços apertados que não cabem no mundo,
a presença que emociona a alma,
a voz que vibra a eternidade,
a segurança na fraternidade

O que é ser presente na distância?
o que é ser perseverante no difícil?
o que é ser descanso no impossível?
o que é ser seguro do que eu digo?

Presente do divino,
presente do divino,
presente, tá me ouvindo?

Fonte de mudança do mundo,
caminho de luz e amor,
esperança aos sofridos,
esperança aos pequenos de espírito
e aos pequenos espíritos de luz,
formando-os no bem sem indiferenças

Presente do divino,
presente do divino,
presente, tá me ouvindo?

Agora você sabe,
agora você acredita
na infinita bondade da vida…

Transições

Não me incomoda nenhuma transição,
nenhuma mudança acomete mais o meu espírito,
aprendi com a vida que as passagens são rotina,
nada é estático, nada é partida sofrida

O meu coração só ganha ponto fixo no coração de quem amo,
só ganha o meu respeito e admiração quem merece,
coisa simples é o meu ser humano, que não se compra, nem se vende

O meu trabalho é macro existencial,
não está nesse espaço, nem no aqui, nem no agora,
por ora, eu só digo algumas coisas,
de alguns lugares eu já fui embora

Não deixei saudade, não deixei problema,
não deixei sequer ressalva alguma,
porque eu fiquei pra posteridade e a priori
em vidas amigas, não em matrículas confusas

Não me abalo, nem mais anseio o prever futuro meu,
o hoje, entrego a Deus, todos, inclusive,
os verdadeiros tesouros que a vida me concedeu a convivência

E com anuência do divino, eu garanto,
que de pouco a pouco o tempo passa,
a cadeira gira, o amigo fica
e a alma fala.

Agradecer

Você, filha do Divino Ser
você, mãe do Divino Ser
você, amiga de Divino Ser,
você, esposa de Divido Ser,
você, alegria em ato do Divino Ser
você, o fato do Divino Ser
Namastê

Você, Ser que vai transcender
Você, Ser que já progrediu,
Você, Ser que obedeceu, desceu
Você, Ser que ajuda o mundo a crescer
Você, feliz Acontecer,
Agradecer
Gratitudine

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Para Sabrina Bonzi, amiga de trabalho do Instituto Federal Fluminense, Diretoria de Gestão de Pessoas.

Perfeitamente presente

Chega um momento na vida
em que você para de pensar em você,
e se preocupa mais com o outro

Chega um momento na vida
que a sabedoria te proporciona
ver que o que você tem não é muito,
mas é muito mais do que o suficiente

Chega a hora em que você deixa de lado
os seus pedidos e clama por outra pessoa,
você vence a inveja, a ingratidão,
você derrota o egoísmo e põe os pés no chão

E cuida do próximo, e reflete a sua evolução,
e solicita amparo não pro carro caro,
ou o telefone último tipo,
ou a calça cara com a etiqueta colorida,
nem a joia reluzente no braço

Chega o dia m que a mão de outro é mais importante,
que a amizade de outro é que tem valor,
chega a hora que resguardar quem está próximo de você
também é a sua própria defesa

Chega a hora da mais sutil gentileza,
a benção, a grandeza de se sentir suficientemente presente,
presente de Deus que dá tranquilidade para ir ao outro
para se fazer presente, presente de mudança,
perfeitamente presente da presença de Deus

O Eu que mora em Mim

Eu
sou o cara
da piada pronta
do raciocínio rápido
do humor do improviso
e do ato imprevisto

Eu
sou o cara que não procura,
mas se acha a cena certa,
acerta e vai em frente
com coragem e de peito aberto
aquele que não mente

Eu
sou o cara que observa
sou mera leva daqueles que se importam,
assumo a culpa daquilo não feito,
desse jeito que mata no peito o problema,
o lema da coragem, que dá a cara, as duas faces

Eu
sou a fase que segura a oportunidade,
fruto da confiança na espiritualidade,
aquele que abre caminho, fortalece o próximo
o lógico que encurta o problema,
e resolve

Eu
sou o abraço inesperado,
a outra cara da moeda que vira
no tapa que a vida dá no pulso

Eu
sou o impulso do que será o amanhã,
sou o divã do passado, o silêncio que responde,
sou o bonde esquecido, o mais charmoso coletivo,
não deixou o sorriso antigo ser morto,
o representante dos esquecidos sem voz

Eu
sou aquele que desamarra mais nós
que as orações sem atitude,
o fugitivo das escrituras inúteis,
a ação que desilude e desperta,
a peça que ninguém toca

Eu
sou o medo da mudança,
aquele que toma a frente,
o primeiro dos loucos
que todos depois seguem

Eu
sou a Dimensão que se expande, o big-bang,
aquele que tomou ciência da amplitude de ser
Eu