Luz

Seu carinho é aconchego simples sim,
de pessoa sempre jovem, sempre leve,
áurea de paz que o espírito leva,
não importa a idade que o corpo tem,
Parabéns, Silva Luz, Silvia Lúcia

Esse texto não é um poema,
é uma carta aberta em versos,
é a reverência simples, singela do poeta,
que agradece, por você, uma inteira, geração

Seu carinho, seu sorriso, seu jeito lindo
de viver a vida, de agradecer à vida,
de contemplar o belo, de acolher do jovem ao velho,
é a certeza de que o amor, o afeto, o zelo, o elo,
atemporal.

E se for chorar lendo esse cuidado com o próximo,
é óbvio que o temporal das lágrimas que estão caindo,
refizeram tudo o que foi poluído nos contratempos do caminho.

Erga-se, que Deus proteja, que conforte, ilumine, a eleve,
o ser que existe em você, exaltado porque, vou dizer,
nunca quis estar no alto.

É por isso que Deus abençoa, é por isso que o amor ecoa,
reverbera, sem berro, é por isso que o ponto de luz,
resplandece.

Canção de ninar

Conta uma história boa
para passar o dia de hoje…
conta uma história para acalmar as notícias ruins,
para cuidar da menininha…
que dorme, depois, na calmaria,
canção de ninar…

Para a mulher que não consegue parar durante o dia…
canta baixinho pra abençoar… sussurrando para proteger…
a menininha que de dia não sabe parar….
responde a tudo, coloca a mão na demanda,
para realizar…

E trabalha, e esbraveja, desbarateia,
é bravata a encorajar… a menininha que dorme…
ninguém diz… cuida de tudo, é a última, apaga a luz…
a menininha que dorme… fala baixinho pra não acordar….
porque de dia não dorme no ponto, engole os prantos…
que a alma vai gotejar…

Menininha que ri, faz graça, mas sabe se colocar,
responde doce… também responde ácido… se for o caso,
sei que ela não se cansa… enquanto estou aqui…
calado não posso ficar…
calado, não posso ficar… não posso ficar…
aquieta menininha… agora não precisa se preocupar…

Agora o poeta não brinca… fica em paz, querida…
canção de ninar…

*Para Mayahara Barcelos – Servidora do Instituto Federal Fluminense, colega de talentos fotográficos.

Concórdia

Confie em Deus, e edifique
a fé, solidifique a confiança no amanhã,
reflita, que em tempos de vida sofrida,
de batalhas, de contrapartida,
não se entrega, compartilha
a força devida que foi dada,
agarra, a energia espírita,
interioriza o ponto de luz,
acenda Jesus no seu coração,
pois é tempo de união,
concórdia, comunhão de coração.

Cálido

Eu tenho sangue nos olhos,
corre quente pelas veias,
sei o que eu quero,
ninguém me presenteia
com atitude de um lutador

Corro atrás, e me calo,
não ganho no grito, não berro,
resignado, mas atento, alerto:
não mexe comigo e passa reto,
que a fé que eu tenho na vida,
é tanta, grande, completa,
pense o quanto quiser,
eu não atropelo

Eu me levo aonde eu quero chegar,
se quebro a régua, ponho outra no lugar,
sei me desculpar.

Desculpe-me, eu não vou ficar onde você deseja,
não nasci para submissão, para parar na contramão,
cálido e frígido, por opção

Depende do momento, o oposto do segredo,
depende do momento, essa filosofia,
de quem acredita na vida, e um dia ela muda,
ela vem, a vida que eu quero e ninguém tem

A minha tem garra, tem graça, tem gana, suor,
tem paixão, tem alegria, tem dança, me encanta a luta,
labuta é para a maioria, eu não penso no pior
tenho, e muito, é tesão pelo que eu faço e pelo que escrevo,
cálido, caço, caliente de desejos e,
quando convocado por eles, compareço

Já fiz o pedido

De muitos desejei o corpo,
o rosto limpo, o beijo com gosto,
o estereótipo preferido,
acadêmico do adjetivo gostoso,
olhares provocativos,
pegada certeira, a força primeira,
o refinado sexo, o falo grande e grosso,
o farto ombro, colosso, imaginação completa,
a cútis ereta, a carne rígida, suor fervente,
quis tanto o corpo perfeito, construído no detalhe,
para comer com vontade, som de gemidos, igual os talhares,
mãos e pernas a se contorcerem, como comida que a gente exagera

Nada disso nem quis, nem pude provar,
mas a imaginação é sempre mais apetitosa,
de verdade, eu quero é ficar com quem não vai embora

É por isso que eu te contar,
que desse cardápio do mundo não peço ninguém,
me farto só de olhar, as vitrines de homens que não querem ninguém

É por isso que eu vou te contar,
que desses petiscos não sei me encantar,
não compro, não vendo, nem me alugo a ninguém

O que eu posso falar, se me canso nesse açougue de corpos,
de rapazes tecnológicos dos app de encontros, não busco ninguém

Eu gosto é de me apresentar,
tenho vontade de apreciar,
o caráter, o carinho que ninguém tem,
dá vontade até de voltar para a sinceridade,
a confiança que ninguém tem

Eu gosto é de repetir
aquilo que ninguém tem,
o afeto, a importância não está no lugar,
nem no que eu posso provar,
é aquilo que vem

Que está em falta na mesa do bar,
ausente na fila pão,
aquilo que eu não vou procurar,
sentado do lado de lá,
olhando a sessão

Que está em falta no shopping,
no show e na festa, na boate,
no bate estaca, na fila open bar,
quero aquilo que eu só vou encontrar
no seu coração.

Dizeres

Para quem já não tem mais
cinco minutos de fama,
para quem tem nove mais uns anos de carreira,
o que fazer depois da conquista do sonho?
deixar insones expectativas,
cada um sabe das maravilhas do divã do pensamento,
da consciência tranquila.
Artilharia pesada na palavra, na rima,
o que nos une, nos nivela por cima,
você com suas vozes, seus acordes,
sua palavra até na pintura para despistar,
eu, com o poema, a palavra, crua e fria,
sem escudos, subterfúgios, sem armadura,
apenas palavra nua, sem armadilhas,
para falar, falar e falar,
o que você também sempre quis,
com as suas pirotecnologias…
para dizer, dizer e dizer

Tudo tem mistério

Farinha pouca, meu pirão primeiro,
falar de beijo, de libido é pouco,
espero mais dos seus ancestrais,
já chega de bacanais virtuais

Para os desafetos do tempo,
o avesso dos ponteiros,
quem entende dessa história,
sabe que já era, é mágoa,
é hora da virada

Para os atentos da própria sorte,
ser forte é brevidade,
seus ensaios de cores falaram mais das dores,
que as flores de rosas

Para os aventureiros, celeiro de inéditas,
prisioneiros dos misteriosos áudios, o óbvio não precisa ser dito;
é um rito se reinventar, a tecnologia não vai ajudar tanto assim,
parte de mim esse som, radinho de pilha, ainda, para os desvalidos,
fone caríssimo para os famintos de humanidade,
estúdio dentro de casa, estudo dentro de mim

(des)caso

Eu não sou adivinho,
mas, adivinha do que eu ri hoje?
do futuro que eu previa,
mira a minha intenção,
não, não é fazer chacota, não,
é só uma constatação…

Vou rindo, vivendo, vou vendo,
eu mesmo, não me vendo,
me envolvo no que dá agrado,
não quero mais o fardo,
só o sorriso largo,
estou farto, falho,
mas, minha alegria acerta,
aceita e se presta,
a rir também do ridículo,
sou fixo e volátil,
quando for o caso,
para o caos, o descaso.

Hoje eu tentei

Hoje eu tentei fazer diferente,
tentei te olhar nos olhos,
tentei entender o que você sente,
tentei pesquisar o que incomoda,
tentei ser a falta que você supria,
tentei ser flauta com maresia

Hoje eu tentei perceber seu mundo,
enxergar o absurdo que você me via,
eu tentei ser via, ter serventia,
ser funcionário público

Tentei olhar para as mazelas mais complexas,
eu entendi o que você dizia, porque agia.
Eu tentei ser nostalgia, tentei ouvir mais,
aproveitar mais das suas memórias.
Tentei ser hora, na hora certa,
tentei falar o que você não entendia,
eu tentei ser mais do que eu podia,
e isso, me encorajaria.

Eu tentei ser melhor,
ser mais de mim,
tentei assim, sua companhia.

Tentei não rir, e não ser sério demais.

Tentei ter paz, ser calmaria,
tentei não ver minha luta como a primazia,
tentei a conduta da alquimia.

Tentei ver o melhor onde ninguém via,
tentei acreditar quando já era, ninguém fazia.
Tentei apostar com ousadia, e te seguir em frente.
tentei acreditar, ser gente, tentei ser profundo na agonia

Tentei o problema que ninguém resolvia,
e não julgar, quando meio mundo já desistia.
Tentei cuidar daquele que eu não conhecia,
e ver mais: a frente do que se via.

Tentei alcançar de volta o que eu tinha,
a esperança na monotonia

Tentei apaixonar pelo que eu fazia,
e entregar bem mais do que suor.
Tentei o melhor, sem fantasia,
fui adiante, como eu queria.

E te digo: mais eu gostaria.

E se fiz o certo, você diria
muitas críticas para a alma minha,
mas, não tenha dúvida que eu poderia,
ficar só nesses irias

Fiz tudo, não tenha dúvida,
entreguei a minha alma, em alegria.

Quem me conheceria, um dia,
pelos corredores, não imaginaria
a saudade que eu fiz em poesia.

E se eu te escreveria?

Só pra confirmar o que já se sabia,
eu tentei, tentei e não nego,
de novo, e de novo, e de novo,
eu tentaria.

Seus fantasmas

Nem tudo nessa vida é pra você, desculpa.
Se o mundo não gira na sua linha do tempo.
Não seja assim tão suscetível ao mundo.
Não seja tão instável, por favor.

Aquela palavra não foi pra você,
nem aquela mensagem, nem o erro cometido.
Não foi pra você que eu assumi os equívocos,
não foi pra você que eu deixei de fazer de um modo, de outro.

Aquele sorriso não foi pra você,
nem aquela alegria no olhar,
nem a ira que vem me visitar, de vez em quando,
nem a palavra que eu não quis falar.

Não foi pra você o poema escrito,
nem o verso direto que eu expus,
não foi pra você que eu apaguei a luz mais cedo,
nem a falta de dinheiro que me impediu de ir a qualquer lugar

Não foi pra você, não insiste em indireta nenhuma,
não mude o que quis dizer, interpretando diferente,
não se apropria do mundo alegre para escurecer o seu,
não te desejei o breu, aprenda a conviver com os seus fantasmas,
os meus, eu chamo de espíritos de luz, e vivo em estado de graça

O convidado

Não lastime se as pessoas ao seu redor não caminharem o passo largo do progresso,
cada um tem sua missão e o tamanho daquilo que precisa enfrentar,
não cabe zombar, tripudiar, fazer piadas, é a mais alta farsa;

Se acha mesmo capaz de compreender o próximo, então aceita o limite dele.
Sabemos do desejo de progresso, por certo é nosso também, nessa esfera espiritual.
Mas, não importa a pressa, não importa se agora, daqui a pouco ou amanhã,
é o aprendizado que conta, não afronta, de nenhuma medida, a doutrina da vida.

Que é ela quem sabe, é ela quem rege o tempo,
a intensidade do firmamento, a profundidade do que toca aí dentro,
é ela – a vida – a escolhida como a mais forte experiência

Não julgue, não aponte, não critique, não deixe de olhar, de novo,
para a sua parcela de contribuição, para a sua parcela de amor,
acredite, tente, dê nova oportunidade, abrace, acalme-se,
cubra-se com a força que a vida deu, a capacidade de fazer a diferença,
entra, sem tocar nas feridas, sem tocar nas dores

Sabemos que você entende os recados, é canal de fato da nossa mensagem,
utilize toda a energia que sabemos movimentá-lo para fazer o elo, a ponte,
a costura, a ligação, para ser anfitrião do amor de Deus,
quando for convidado a participar da vida de outra pessoa

Vejam

Vejam,
eu não me importo
com o que vocês pensam sobre mim,
com os julgamentos que fazem sobre mim

Vejam,
eu os escuto, sem contestar
e concordo com muitos,
mas muitos vão atravessar
os meus ouvidos, não vão escutar

Vejam,
que se eu aceitasse tudo isso que me dizem,
ah, eu não estaria aqui agora, eu já teria desistido,
teria me impedido de muita coisa, muito avanço

Vejam,
eu não posso aceitar tudo,
mas, também não vou rebater tudo,
porque eu sei do que fui capaz de fazer,
honestamente, para me colocar onde eu quis

Vejam,
que eu já sei as minhas próprias críticas,
vejam, que sou rigoroso com os pontos que preciso superar,
é por isso que muitos de vocês me falam de superação,
sujeito deficiente, sujeito da língua de meio metro,
da fala áspera, polêmica, que diz o que não querem ouvir…

Vejam,
que se eu me calo, também incomodo,
se me olho de dentro pra fora, incomodo,
se sei meu lugar no mundo, causo falta de humildade.

Vejam,
e me perdoem, que se eu escutasse o mundo todo,
o tempo inteiro, se eu fosse volátil e vulnerável,
eu não seria esse prato cheio para as suas falas,
que não veem nada,
mas, eu vejo…

Tenta outra vez

Quando se alimenta a alma de energias renovadoras,
e se volta aos velhos ambientes corriqueiros do dia a dia,
percebe-se claramente como os locais são densos, pesados;
não notávamos, pois estávamos em sintonia.

Sinta o frescor das flores,
a vida que brota viva e doce,
o sol que te aquece,
a mais linda prece de calor

Olha para o céu,
a imensidão de Deus,
o ar que cuida da pele,
é leve, a alma que resplandece

Cuida dos seus sorrisos largos,
é seu afago primeiro,
quebra todo rancor,
toda ira, todo fardo,
todo ser humano perturbado
que tentará você

A vida te fez bem mais necessário
que os desgastes que você tem vivido,
é muito mais amplo, muito mais limpo
do que tudo isso, posto à prova,
aprova, convívio.

O céu, o ar, o mar, a vida,
vão te fortalecer, te proteger,
te abençoar, passa reto e íntegro,
o mal não te alcançará,
é o nosso segredo,
mas, vale compartilhar

Verão-luz

Não canse de ser luz,
não deixe de ser luz,
quando entrar nas sombras,
não perca a luz que Deus deu

Não se aborreça
se cegos ficarem
aqueles que se incomodarem
com a claridade, é parte
da missão

Dá missão, Senhor, aos justos de amor,
cubra com seu manto protetor, e chama
bem junto, bem perto, bem próximo

Acalma o próximo,
o óbvio também precisa ser dito,
não se canse de repetir,
nem de escrever,
não se canse de ser,
canal de Deus,
não é o ego que nos alimenta,
assenta o coração em Cristo
e nos muitos amigos que verão-luz,
estação divina

Outro olhar

Hoje eu não vou falar dos seus olhos,
nem de sua pele simples, do seu sorriso de menino,
nem dos seus sonhos, não vou falar dos seus lábios,
nem dos afagos que um dia eu sonho em dar

Hoje eu vou falar do ser que sofre,
que se cala quando a dor é grande,
que para, quando o mundo é mais forte,
vou falar das suas mazelas,
do seu choro perdido,
vou falar do seu vício de carência

Hoje eu vou falar das festas sem sentido,
vou falar dos seus falsos amigos, socialmente,
vou falar das provas que você precisa contestar sempre,
do preconceito desmedido que insiste em te colocar em qualquer nível

Vou falar da academia que te suga o corpo, e o intelecto também,
vou falar das suas roupas, dos seus trajes, vou falar dos seus hábitos,
das suas fotos, suas poses, seus caprichos, vou falar de tudo aquilo
que a gente sabe que é o humano construído para se apresentar

Vou falar do seu crachá, do nome social que você escolheu,
hoje eu vou falar da ansiedade que convenceu você de me dizer coisas estranhas,
vou falar da perturbação que não te deixa dormir, te coloca insônia,
vou falar dos homens que você beija, se oferece e cansa das velhas bocas,
dos corpos rígidos e flácidos demais, dos atos que não preenchem mais nada,
dos prazeres que te entristecem depois de vinte minutos.

Eu vou falar a realidade, o humano que sofre na carne, na alma,
eu vou falar com calma e no verso para não te machucar de frente,
eu vou falar de gente: normalmente o poema serve pra amenizar,
para a ilusão e para o utópico, mas, hoje, só hoje
o poema vai cuidar da ferida que eu tento curar
falando dos seus olhos, que não me deixam mentir,
outro olhar

Valsa

Valsa a sua angústia que cruza as pernas, irada,
valsa a sua insegurança no firme passo acima do salto,
curve-se entre a direita e a esquerda, deixe-se seguir
com seus olhares tão precisos, aterrorizantes
tão impostos, feito frieza que não se deixa fugir

Valsa a sua ira cardíaca no suor tão escorregadio,
que a guerra entre o seu tronco e o meu contato físico
sufoca o seu espartilho, como um golpe para ver quem vence,
mas, o seu leve, leve e traz não se dá por vencido,
sussurra ao meu ouvido que o seu vício é a dança erguida,
arranha a minha carne viva, do pescoço à virilha,
queima viva viúva negra, como água-viva, em azul-turquesa,
como no fundo do mar

Valsa firme, convence sem pestanejar, é dona da cena,
alimenta a própria métrica, o próprio ritmo,
quando a sua dança, não mais dança, mas…
quer matar, quer matar, quer matar
para fechar o espetáculo, que vai…
continua, continua, nua, a me descortinar…

Antecedentes ancestrais

Tudo que me antecede,
a sede, aceite, a prece,
o peso, o sofrimento, a tese,
a dúvida, a culpa, a pele,
os momentos, os risos,
a antiga plebe,
os meus antepassados,
arcaicos, velhos vermes,
aqueles que não entendiam
nada de nada do que acontece,
tudo que me antecede,
a ferida aberta, a dúvida,
aquilo que padece,
o que eu não consegui esquecer,
a febre, o amor perdido,
o que ficou vivo, mesmo morto,
o conforto que não acoberta,
a cobiça, a angústia, a moléstia,
a mordomia, a modéstia,
o alvo que não se acerta,
vida pacata e incompleta,
o sonho, o ano que passa depressa,
o suor que pingou da testa,
a minha história contada como quimera,
tudo que me antecede, aquilo que você desconhece,
padece no seu julgamento, no preconceito,
na palavra que rasga a fresta do tempo
e leva a lágrima a refletir algo antigo,
precede do amigo que você hoje tem,
que fortalecido está hoje
porque sobreviveu ao açoite do tempo,
e aceitou o respeito da vida,
antecessora de outras vidas,
vivas, ainda, dentro de mim

Signatários

Estou aqui para servir,
não às suas vontades,
não aos seus caprichos,
não sirvo aos seus afagos,
nem vivo de agrados,
servindo de pano de fundo,
fruto de ambições mesquinhas,
perdão

A serventia do serviçal,
colocada à prova, ao boçal,
não significa nada, apenas,
piada pronta;

É tanta a necessidade do (re)significar,
sinto-me resignar de reflexão íntima,
da utilidade pública;

Escuta, e desculpa, as minhas falhas humanas,
apresento-me ao erro, e reconheço,
meia culpa;

As pessoas inteligentes,
ditas cultas, um dia escreveram errado,
e assumiram a conduta, fizeram a meia culpa,
equívoco da labuta.

Assinaram abaixo e reiteraram:
quem muito escuta, pouco faz,
mas, acertadamente;
quem muito fala, pouco decide,
e, acidentalmente, erra.

Coloca-se nos devidos lugares,
os pares, signatários.

Do nosso lado

Não olhar o passado
porque ele não mudará,
não olhar o presente
porque é tempo de agir,
não olhar o futuro
porque ainda não é nossa,
olhar pra frente, nem sempre
porque objetivo a gente vive tendo,
mas a vida não é corrida no sentido de vencer,
olhar como, então?
Para o lado que precisa de você,
para a mão fechada que não consegue se estender,
olhar para aquele que não fala,
mas, às vezes, grita, e não entendemos,
olhar para o sofrimento sem pena,
e para alegria sem inveja,
olhar para o humano que nos cerca,
atender àquilo que nos chega,
sem um basta sobre a mesa,
porque pessoas, elas não terminam
como as metas, os objetivos, a própria vida;
pessoas transcendem a matéria
porque ficam, quando, um dia, a vida as leva

Goteja

Coração nobre, puro, cheio de vida,
de alma leve, sê forte, cativa,
poesia no gesto, na palavra modesta, bendita,
tem carinho nos olhos, pedra de turmalina,
tão antigo, amigo, que analogia nenhuma
pode ser suficiente, ainda que a lua fosse entregue,
não tem símbolo poético que se preze,
nem os milhares de corpos celestes,
do firmamento de prece da palavra abriga,
que saúda, e que venera, que corteja,
a poesia que hoje goteja pelos olhos
brota no fundo do poço d’alma companheira..

 

*Para Iago Santos

Há amigo

Há que se ter um amigo
guardado, escondido
no fundo do peito,
em lugar seguro
que ninguém descubra

Para que se possa contar,
mesmo quando muito tempo passar,
como se fosse o próprio confessionário particular

Há que se ter um amigo
que se possa ligar a qualquer momento,
para que se desabafe sobre as armadilhas da vida,
sobre as más companhias que a gente encontra no caminho

Há que se ter um amigo, um amigo-partilha,
que mesmo partindo, saiba onde nos encontrar
há que se ter um amigo que não me diga nada por anos,
mas que só ele saiba calar a dor de ser humano,
sem dizer palavra alguma.

Decantei de você

Desencantei de você
decantei um amor que supunha ter
descansei da dor de amar você

E sem brincadeira, sem o jogo de palavras,
você não me cala mais nos dedos,
meu desejo não proporcionado…
ao seu lado eu seria feliz
e fui, sem você

É fato que, de apenas um lado,
também existe o fardo do gostar de querer
e quer saber, valeu a pena,
mesmo que a sua alma mesquinha e pequena
não tenha notado o halo do amor mais falho,
o humano

Poesia de libra

Voltei a respirar poesia,
a transpirar poesia,
a beber poesia,
a arrepiar poesia

Voltei a ouvir poesia,
a falar poesia,
a sentir poesia,
a ver poesia com a alma

Poesia que percorre o corpo,
delira a carne, a cama,
sem hesitar, excita, poesia

Poesia que invade tudo,
que inebria, que aciona o plexo secreto da vida
e caminha na libido, inibida, ou não

Poesia que atravessa a a filosofia, a psicologia,
que atravessa a literatura, os signos
– até os do zodíaco –
poesia de libra que não tem limites

Poesia que passa por todas as teorias humanas,
que reencarna, sem deixar o ceticismo,
que conhece o céu sem deixar o inferno

Poesia do ocultismo, que conhece o princípio da criação
poesia do homem, que responde a tríade da indagação
quem eu sou, por que sou e onde vou…
poesia da criação do termo tempo
que fugiu de mim, poesia pelas mãos…

Poesia, que sem controle, uma vez perdida,
vira nova poesia, descontrolada, na primeira versão fugitiva,
tinha outros versos que a mente não registra mais,
sinais de que o mundo das ideias, às vezes,
revela o que está por vir – sem querer –

Poesia que desgoverna todos os pensamentos,
em momentos, o ápice do movimento
que une: corpo, mente e universo,
no complexo único momento de ser pleno…

Nome do meio

Eu vou fazer mais e melhor,
com mais vontade, com mais carinho,
com muito mais empenho…

Não sou gênio, nem sei de tudo,
nem a minha autoconfiança é imunde,
mas eu vou sim, partir pra cima
e, se cair, que seja na rima

Eu vou fazer mais e melhor,
na mira: melhorar ainda mais o meu trabalho,
não basta ser operário, tem que manter o alto nível,
é o padrão das relações bem-vindas, atendidas,
acima da média.

Eu vou fazer mais e melhor,
para agradar o meu eu em evolução,
para ser maior do que fui ontem,
sinto muito, podem, incomodem-se,
eu não ligo

Farei mais a frente, diferente,
convincente – não ao status –
mas, aos fatos de que quem faz bem,
e faz direito, sempre em progresso,
gera o melhor dos protestos da emoção

Com prazer, elo, zelo e pelo que eu anseio,
mais e melhor, meu apelido e nome do meio..

Sinceramente,

Esse poema não é uma indireta para ninguém,
é uma confissão, é para o próprio autor,
é o verso passado a limpo, que precisa ser escrito.

O desejo do conhecimento, do ser subjetivo,
aquela garra de trilhar caminho íntegro,
o esforço do bem sucedido profissional,
está descrito aqui na luta,
na gana, na graça, na garra, na raça, no riso

Não se pode negar a juventude,
o sonho, o objetivo traçado,
agora não cabe arrependimento,
é em um desprendimento de ego,
o poema honesto de quem atravessou os séculos espirituais
em amadurecimento condensado em tão poucos vintes e poucos anos

O emprego do verbo foi construído agarrando as oportunidades
no estalo que a vida deu, de que quem tem que buscar a melhoria sou eu…
a informação que me chega, sem tapa na mesa, aquela certeza rendeu o fruto
da sabedoria, mesmo sob a ira, a inveja, a intriga e a perseguição de impróprios,
mesmo daqueles que me tratam por desleixo, pessoa menor, de segundo plano…

Eis a minha primeira e inequívoca convicção: o sucesso se conquista pondo a mão
no trabalho; oferecendo a mão a quem soma; fechando a mão a quem atrapalha;
e dando tchau a quem ambiciona sem merecimento…
Eis a minha segunda constatação: o empoderamento do dito oprimido
incomoda, inquestionavelmente, pessoas de segunda mão…