Desprezível

Quem de fato foi fiel,
sentiu prazer em acolher seu fel,
procurou você sem lua de mel

Sou muito mais que papel,
mais que literatura de cordel,
sou sua noturna de bordel

Segurei sua mão sem anel,
já rimos juntos sem carrossel,
brincadeiras de babel

Entendo sua língua invisível,
mudei de tom sem o rímel,
talvez incompreensível

Sou sua carne crível
disposição incrível
até a omissão é verossímil

Agora quero que negue o impossível,
se não estou entregue em outro nível,
sou sua compreensível,
desprezada, desprezível

Sorriso frouxo

Ficar sozinho
pensamento vizinho,
da memória, o vinho,
copo vazio.

A mente cheia
chama na lareira
queimando na veia,
alma feia

Ser imóvel, inquilino
cálido, impróprio
óbvio, impávido

Pálido, alma branca,
fechada assiste,
fachada agride, insiste

Visite um dia, o sorriso…
No rosto a lágrima
de um frouxo, vive

Você que talvez não lembre

Para Marilia Siqueira. Leituras Orientadas I e II. Licenciatura em Letras/Literaturas. Instituto Federal Fluminense

Você que talvez não lembre,
mas me disse no primeiro semestre
que um dia eu ainda iria gostar de você.
Mesmo em tom de brincadeira, você tinha razão

Você que talvez não lembre,
mas me chamou de doido
por eu ter comprado
a obra completa de Camões.
É, eu fiquei mesmo
quando recebi a nota máxima no seminário,
ficando sem recuperação por um fio.

Você que hoje se recorda vivamente
da emoção que foi A metamorfose,
que fala tão abertamente
da condição humana,
do revés da gente

Você que sabe, completamente,
o que é ser o personagem professor,
que tem três tempos com o aluno:
O agora, a lembrança e a saudade

Você que retornou minha SMS imediatamente
preocupada com a minha saúde e mudou todos os seus planos,
e eu dou valor a isso, sinceramente.

Você que me disse que minha identificação com Kafka foi tamanha,
que não poderiam falar dele sem mim, e sabe melhor que ninguém:
Estou neste curso pela literatura,
minha profissão não é licenciatura

Você que soube neste quase um ano
mexer nos cronogramas tão corretos,
sinto muito se a gente não planeja
o “eu te amo”, quando você me vem com a surpresa
que os dois livros que mais me emocionam
vão ser postos à mesa, juntos

Estou longe de fechar minha emoção,
por isso as rosas se abrem para demonstrar
que tudo feito por mim eu agradeço
com fervor e paixão

Por que o que seria de um escritor sem livros,
e sem a melhor das orientações,
sem você, querida, pra me dar a mão?

Você que talvez não lembre…
Toma, é pra você nunca se esquecer!

Poética patética

Eu tenho direito ao amor
se é por ele que eu escrevo,
pela falta dele que me impulsiono
a necessidade da sua continuidade?

Eu tenho direito ao amor
se é a busca por ele
que me faz poeta?

Eu tenho esse direito
se é pela sua ausência
a capacidade minha da poesia?

Se o amor é o meu elo perdido,
o ponto máximo da vida,
o clímax da felicidade,
será que eu tenho, de verdade?

E qual será o sentido depois,
quando eu concluir esse grande objetivo,
será que eu ainda vou ter um motivo
pra viver?

Serei, então, redundante?
Afligindo-me pela conquista,
mais tarde confirmando e, ainda,
solidificando a pessoa amada?

Será, por fim, por mim e por nós:
Eu devo mesmo encontrar a resposta do amor
se é a interrogação e a angústia por ele
a minha sede poética patética?

 

Pistas da alegria

Quero um par para dançar
na alegria, dividir comigo
esse passo, essa energia,
multiplicando a felicidade

Eu quero essa mão colada na minha,
o riso solto dos timbres, dos sons,
do batuque bom que revigora, revigorará!

Vem pra pista comigo
ser criança de novo,
balança comigo no meio do povo
sem se preocupar

Somente esta intenção de ser você,
de ser pleno, não preciso de pena,
não preciso penar pra ser feliz,
é fácil, fácil, farei!

Você e eu, hey!
Rei da alegria,
sinto muito se
pareço gay
e não me incomodo com isso!

Só abrigo o bem,
estou zeen para as críticas,
ocupado demais com as vidas
que despertaram juntas nessas vias,
pistas de felicidade na pista!

Alcunha

Para Helia Coelho de Mello.  Leitura e Produção Textual
Licenciatura em Letras Literaturas de Língua Portuguesa. Instituto Federal Fluminense

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Bom mesmo é ser fã da sua amiga,
neste dia, ser fã da vida,
sabendo que posso contar
com mais que mestra,
mais que mãe do ensino,
filha do discurso

Bom mesmo é viver de poucas palavras
porque elas são condensadas e compactas
como o coração pequeno que bate forte,
mas é o que move todo o ser
que faz toda a alma infinita
caber nessa roupa pequenina do corpo

Bom mesmo é ser sempre calouro,
ser sempre um aprendiz admirador
dos seus tantos dissabores escondidos
na face, na idade que permite o conselho,
capaz de firmar na admiração a voz
de autoridade-não-autoritária

Essa poesia é arbitrária
para confessar nas minhas lacunas poéticas
a alcunha com outro significado,
um recado de delicadeza para
Helia Coelho Mello
referência, toda minha reverencia
irreverência da palavra para te homenagear

Portaria interdisciplinar de literatura

Licenciatura em Letras/Literaturas de Língua Portuguesa – Instituto Federal Fluminense. Segundo Período.
Para Analice Martins e Marilia Siqueira
Teoria da Literatura e Leituras Orientadas (I e II)

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Italo Calvino que me perdoe,
não desmereço seu valor teórico,
mas não pretendo fundamentar
por nenhum dos seus pressupostos
o que eu mesmo posso dizer

Analice solicita
a análise de um clássico,
maravilhas que Marilia
conduziu tão bem Orientadas

Teoria da literatura convoca
A Metamorfose de Kafka,
segunda colocada vem a Ana,
a outra, Paz.

Ambos que eu lia,
Lygia que me permita,
Franz, a ousadia
de dizer:

Clássicos porque
causaram emoção,
a identificação
que comove, move o choro

É por isso que é um clássico:
Eu quero reler, ler, rever, viver,
vocês duas, memórias cruas,
sabendo que a lágrima vai cair de novo

E quem é louco de chorar com barata,
e de se identificar com escritora confusa,
não sabe se é ela própria,
uma criança, juventude ou velhice caduca

Escritora que vive e insiste
na construção de personagem
faz parte da poesia, sem vaidade

Sei que preciso de outros estilos,
a prosa sempre foi um dos meus medos.
Justamente por isso:
Não consigo descrevê-los.

Os personagens comigo também brincam,
brigam e me controlam, salvo o engano,
o poema é um dos meus enganos
que penso que controlo

Entre duas disciplinas,
disciplina alguma!
Vou dizer mais uma armadilha:

Qualquer livro que nos faça
ir além do óbvio, deixar
um estudante de Letras impactado
a não pensar em nota, prova, anota:
É um clássico

E vou além, e digo mais:

Quando a leitura nos fizer
querer negar as suas entrelinhas,
e camuflar o frio na espinha
de se deparar com nossos próprios fantasmas,
não tem o blefe da barata que não nos faça
acordar os nossos próprios monstros

Que entre em vigor nesse dia,
o vigor que a literatura tardia,
ardia escondida na alma do poeta,
mesmo que nada seja verossímil
é muito mais que isso,
poesia inacabada sem a obrigação
da explicação…

Partida de ego

Mesmo quando se tem todas as cartas na mão,
com tudo pronto pra encerrar o jogo,
levar a mesa inteira, rodada rasteira,
prefiro o blefe da verdade

Sei que posso ganhar,
mas estou retirando a aposta,
dobrei tudo até o último minuto
para perder de propósito

Pensei melhor, nem todo jogo
a gente tem a obrigação de vencer.
E vou dizer uma coisa:
Não é questão de poder

Vale a pena tanta espera,
tantos momentos de tensão,
vale a pena as incertezas certas
das cartas na mão

Vale a pena colocar quase tudo na mesa,
comprar outras tantas de naipes diferentes
sabendo que eu poderia encerrar bem antes
esse jogo que não é prêmio do coração

É por respeito que eu passo a vez
sei que mais uma vez estive perto,
mas não vou embaralhar mais a sua vida
por mais que conserte a minha
só pra te ter por perto

É então um momento de ego…
Frear o meu para não deixar o seu
ainda mais aberto, exposto, decerto
que no fim de tudo, adio minha vitória
vou te dar vitória para que em outra hora
possamos nos perder juntos, eu espero