Rendo-me porque não fui capaz
de vencer as palavras,
nem os versos que me manipulam
feito joguete das emoções humanas
e me afundam na imensidão
de mares egos literários
Estou vencido e humilhado
pelo ato quase espiritual
dos fatos que se escrevem por mim
Fui nocauteado pelo desejo
supremo e incerto da tradução
da sua língua na minha língua,
da sua linguagem pela minha arte,
escrevo a palavra transformação
Condenado ao conformismo
de tentativas lindas
que não bastarão
E peço desculpa,
pela usurpação
da matéria
simbólitica
e operária
da reconstrução dos sintagmas
perdão, poeta, pois não
não é escritor de diversão
Dói também ser imortal
dando às palavras a própria vida,
e que vida seria
se não só do poeta,
é quase um pacto diabólico
de palavras pelas emoções humanas
que nem sempre se pedem permissão…